05.ㅤ⛸️ ... GROTESQUE WORDS

⛸️ … TRUST ME, THEN FALL
05. ‘ GROTESQUE WORDS
© pizzastri, 2024.

── Se aproximem mais! Afastados desse jeito, estão parecendo dois idiotas que não se suportam. Ah, espere, isso é verdade. Então façam o favor de agir que nem gente. Eu não tenho o dia todo! 

Embora Irina estivesse sentada na arquibancada, bem longe de onde  Cassandra estava posicionada ── ao lado de Nicholas ──  ela desejou que um meteoro gigantesco caísse sobre a cabeça da russa para que pudesse a calar por ao menos cinco minutos. Só que aquilo não era o possível, uma alternativa difícil de se acontecer em uma terça-feira insuportável como aquela. 

De canto de olhos, analisando brevemente a figura do patinador que mantinha uma postura semelhante à sua, ela dá um passo tímido para mais perto dele. O aperto das mãos entrelaçadas se intensifica, gerando um rio de suor que aos poucos pingava sobre o gelo. Mais uma vez, Cassandra força um sorriso na direção do fotógrafo que tentava fazer milagres. 

Aquilo tudo era um circo. A nova-iorquina reflete no fundo da mente. Mesmo que tenha assinado o contrato na noite anterior, já estava sentindo que pagava por todos os pecados de sua vida, até mesmo aqueles que nem havia cometido ainda. Como foi capaz de dispensar rapazes menos insuportáveis que Nicholas? Por que foi tão estúpida? 

── Conseguiu algo, Herbert? ── a russa volta a gritar, sem paciência alguma. 

O fotógrafo solta um suspiro pesado, o qual Cassandra não gostou nadinha, e virou-se o suficiente até encarar a figura da treinadora da nova dupla ── Quer que eu seja sincero? 

── Tanto faz. 

── Vocês não parecem uma dupla. ── O homem acusa, dessa vez olhando para os patinadores que estavam à beira de ter um colapso ── Eu nem revelei as fotos e já sei que perdi metade do filme com vocês dois não sabendo como agir. 

── Como assim não parecemos uma dupla? Eu ‘tô segurando a porra da mão dele faz quase duas horas! 

── A propósito ── Nicholas puxa a própria mão esboçando uma careta de nojo ──, você soa pra caralho. 

── Quem está soando é você, babaca. ── ela também esfrega a mão na barra da meia calça, querendo vomitar só de sentir a textura estranha que se formou após tanta umidade. Nem estava tão quente para soarem de forma tão nojenta, parecia até mesmo dois porcos ── Irina, o que você quer que eu faça? Eu segurei a porra da mão. Já não está bom? 

── Quer mesmo que eu responda? 

── Quero, ué. 

A velha suspira. 

── Sabe esses sitcoms de investimento barato que tentam montar a narrativa de um casal que se ama? ── Cassandra pisca um tanto confusa com o exemplo, unindo ambas as sobrancelhas numa linha reta ── Vocês estão parecendo um casal de sitcom de baixo investimento. Patéticos que estão mostrando tudo, menos a porra do amor. 

Nicholas não consegue segurar a risada, porque se parar para pensar, é engraçado para caralho porque é verdade. Desde o momento que pisou na Arena que seria seu lar pelas próximas semanas, de longe sentiu a tensão que Cassandra exalava como se fosse feromônio. Ela estava tensa, inquieta, apertando suas mãos constantemente em um punho que, inclusive, ele pensou que fosse para soca-lo na cara. 

Estavam ali para fazer um breve ensaio para a Vanity Fair, uma matéria curta para avisar aos cidadãos americanos que a queridinha dos Estados Unidos resolveu voltar às suas origens. Tinha tudo para ser incrivelmente rápido, se não fosse pelo fato de que Cassandra e Nicholas estavam tão irritados com a presença um do outro, que ao menos conseguiam se encarar. 

── Você acha isso engraçado? ── ela o confronta, finalmente se aproximando da distância que Irina queria desde o começo. 

── Eu acho, Kennington. Para uma profissional você não parece tão boa assim, não é? Nem segurar minha mão consegue. 

O ódio se acende dentro dela como um vulcão que por pouco não entra em erupção. Seus lábios rosados chegam a ser maltratados de tanta força que ela coloca para não abri-los para desferir palavras extremamente grotescas. Se tinha uma coisa que Cassandra Kennington era campeã além da patinação artística, era em seu dom de falar palavras extremamente horrorosas sem precisar pensar. Saiam com naturalidade porque ela era um ser humano azedo. 

A vaca da sua mãe provavelmente não acha isso”. Ela pensa de forma maldosa, precisando fechar seus olhos e respirar bem fundo para que aquele pensamento continue apenas como um pensamento. Cassandra permanece mais alguns segundos quieta, até finalmente abrir os olhos novamente, cravando o olhar de Nicholas que parecia já sentir uma resposta bem ácida vindo. 

── O que sugere? Que eu beije essa sua boca nojenta ou que eu transe com você bem aqui no meio da pista para tentar provar que somos uma dupla? ── pergunta calmamente, sorrindo como se as opções fossem realmente válidas. 

Pela primeira vez naquela manhã, Nicholas fica sem palavras. Sua mente entra em um breu completo, a ponto dele permanecer perplexo por longos minutos, não acreditando ter escutado uma resposta daquela logo da boca de Cassandra Kennington. 

── Você é estranha. ── É tudo o que ele consegue dizer antes de revirar os olhos. 

── Me dá a droga da mão ── ela a puxa com força, entrelaçando a sua novamente. Entretanto, antes que pudessem retornar à mesma pose ridícula inicial, uma lâmpada se acende acima da cabeça da nova-iorquina. Nicholas não entende a mudança de expressões que ela mostra, mas não demora para entender quando o corpo da patinadora gruda ao seu sem aviso prévio. ── Olhe para mim. 

Sentindo vontade de xingar Cassandra Kennington por lhe proferir uma ordem ── ele odiava receber ordens ── Nicholas força um sorriso tão falso, que quem visse de longe, facilmente definiria os dois como idiotas que estavam tentando vender uma imagem nada condizente à realidade. Só que o que os salvou disso, foi o outro braço de Nicholas Chavez contornando a fina cintura da nova-iorquina com certa pressão. Um clique fora ouvido, seguido do flash capaz de cegar qualquer um. 

── Isso deve bastar ── Herbert murmura satisfeito. 

── Maravilha! ── Cassandra se solta no mesmo momento, estapeando a mão do texano que ainda segurava sua cintura ── quem é a anti profissional agora? 

( . . . ) 

Nicholas sentia saudades do clima quente predominante no Texas. Adorava sair pela cidade aos fins de semana, quando a população costumava ir à loucura pelas datas de novas vaquejadas. Era uma rotina que, até seus dezesseis anos de idade, nunca se quer enjoou. Não faz sentido enjoar de algo que amava. 

Quando ele encarava o cenário morto e sem graça de Sun Valley, sua maior vontade era fazer as malas e ir embora para sua cidade natal, talvez o lugar que ele nunca deveria ter saído. Idaho estava parado. Ele tinha plena noção que Sun Valley, embora seja estupidamente pequena e se quisesse ir a algum bar interessante teria que ir para a cidade mais próxima, era uma cidade importante para atletas de gelo. E por essa razão ele estava ali. Porque era um astro no gelo. Tinha um propósito. 

Agora, quando o sol já havia caído pelas montanhas e o relógio marcava um pouco mais das oito e meia, Nicholas sentou-se na pequena varanda de seu quarto de hotel com o telefone fixo posto sobre seu colo. Ele disca o número já gravado em sua mente, e solta um suspiro cansado quando a pequena melodia passa a ecoar em seu ouvido, sinalizando que estava realizando uma ligação para outro Estado. Seus dedos tocam o chão gélido, sua mente tenta simular o que deveria falar na ligação, mas ele trava quando a música irritante para. 

── Alô? ── a voz infantil fez o sorriso de Nicholas crescer. ── Nick? 

── Oi, abelhinha. 

── Nick! ── ele gargalha com o grito extasiado que sua irmã mais nova deu ── Mama, Nick está en telefono! Nick, eu perdi um dente ontem. Não sei como falar em espanhol, mas eu perdi o último dente de leite! 

── Não acredito nisso ── ele finge surpresa ── Me recuso acreditar que minha irmãzinha está crescendo. Guardou para a fada do dente trocar por dinheiro? 

── Eu sei que é o papai que coloca moeda embaixo do travesseiro. 

── Oh! ── ele pisca ── Na minha época era a mamãe, pelo visto ela se aposentou. 

── Ele não sabe que eu sei disso, por favor não conta, Nick. Ele fica muito, mas muito feliz quando eu acordo e digo que tem um dólar embaixo do travesseiro. 

── Seu segredo está seguro comigo, abelhinha. 

Um curto período de silêncio invade a ligação, o texano parece sentir a tensão da pequena Chavez quando ela profere a seguinte pergunta;

── Quando você vem nos visitar? 

Aquela pergunta passou a ser evitada há pouco mais de seis anos atrás, quando Nicholas tomou a firme decisão de se mudar fixamente para Boston, para seguir carreira como patinador profissional. Inicialmente, ele recusou a ideia. Sentia-se ingrato de deixar seus pais sozinhos em Houston, enquanto ele estaria em uma grande capital, vivendo ao redor de riquinhos e mimados. Um sonho que, até então, parecia impossível para alguém como ele. 

Nicholas ainda não era um patinador completamente profissional, de nível elite como Cassandra Kennington era, mas também não era nenhum amador. Ele somente não teve oportunidade de mostrar seu verdadeiro talento, mostrar que ele realmente era capaz de conquistar todo o reconhecimento que merecia. 

Ele suspira nervoso, sentindo o peso da culpa ── Ah, eu… 

── ¿Eres Nick? ── ele escuta Nina murmurar baixinho em confirmação, e logo um pequeno chiado ── Nick, mi bebezito! Ah, a quanto tempo não escuto sua voz, meu filho. 

── Hola, mamá. 

── Seu sotaque continua o mesmo ── parecia que ele conseguia ter vislumbre do sorriso iluminado dela ── Então, me conte tudo. Como foi o teste com a patinadora famosa? Deu tudo certo? 

── Assinei ontem o acordo ── ele conta tentando não pesar a voz com o show de horrores que havia sido a reunião ── Hoje tiramos algumas fotos para uma revista muito famosa. Quando sair a matéria, vou enviar uma edição para Nina. Ela ainda coleciona essas revistas, não é? 

── Tudo que te envolve, a abelhinha faz questão de guardar. Acredita que ela fez uma colagem de fotos para o ‘herói do mês’? Seu rosto está estampado na sala de aula dela, cheio desses brilhinhos e corações. 

──  Ah, é? ── ele solta uma risada nasalada, só de imaginar a  cena ── Vou enviar outras revistas, então. 

── Nick… como ela é? 

── Cassandra? 

── É… ── ela murmura um pouco reclusa, claramente um tanto preocupada ── Ela te trata bem, Nicholas? A filha da Charlotte disse que recentemente essa chica teve um ataque de raiva em uma competição. 

Nicholas pensa. Como era Cassandra? 

Cassandra era uma vaca insuportável. 

Ele pisca perplexo com a frase que surge como primeira sugestão, torcendo os lábios porque claramente não iria falar aquele absurdo para sua mãe. Então pensa de novo, puxa todos os  adjetivos existentes em seu vocabulário para não formar uma frase tão violenta. 

── Ela é… intrigante

Intrigantemente chata. 

── Aye! ── Sua mãe ri ── Mi bebezito gostou da nova parceira, hum? Eu gostava de Abigail, mas se ela te largou assim do nada, já não gosto dela. 

Gostar é uma palavra forte, ele quase diz em voz alta, mas em resposta apenas ri sem humor. 

── Traga sua amiga nova para casa, quero conhecê-la! 

── Mama, Cassandra é só uma colega de trabalho. 

── “Solo una compañera de trabajo”? Nicholas Alexander Chavez, pare de ser tão careta. Se vão ser uma dupla daqui para frente, eu gostaria de conhecer quem essa jovem realmente é, e não o que esses jornalistas chatos vendem dela ── a fala de Rosa, sua mãe, não o surpreende. Ela tinha opiniões fortes e bastante positivas quando o assunto era o trabalho de seu filho mais velho. Rosa-Diaz é uma das maiores apoiadoras ── Se diz que ela é intrigante, acredito em você. 

── Ela é ── ele diz sem emoção ── Mama, vou desligar. Amanhã cedo eu e a va… Cassandra vamos ter o primeiro ensaio. 

── Certo, certo ── a voz dela carregava tristeza, mas entendia bem os motivos da despedida ── Não demore para nos ligar de novo. Sinto muitas saudades de você, Nick. Não vejo a hora de te ver de novo. 

── Eu também… eu também… 

⛸️ . . .ᐟ Viu irmãs, ele não é tão insuportável assim!  É só fachada pra aturar o cenário da patinação artística.

⛸️ . . .ᐟ Aí, tô muito irritada porque sinto que essa história iria combinar melhor com a narração em primeira pessoa. O que vocês acham? Parece que estou sentindo dificuldade de conectar ambos os personagens e os leitores... bateu uma dúvida.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top