04.ㅤ⛸️ ... AMBITIONS

⛸️ … TRUST ME, THEN FALL
04. ‘ AMBITIONS
© pizzastri, 2024.

OS DIAS PASSARAM COMO UM SOPRO. Tão rápido, que Cassandra mal deu tempo de analisar o que fez. Perdeu-se na rapidez dos ponteiros do relógio, passando raiva constante com os familiares que tanto odiava. Chegava até mesmo a ser crime chamá-los de família.

Os Kennington eram bem sucedidos. De seis irmãos, dois eram médicos, dois advogados, um empresário e Cassandra uma das atletas mais novas já premiadas no país. Poderia dizer o que fosse sobre a má reputação que carregavam, seja por falas problemáticas, apoio a partidos republicanos de extrema direita ou vínculo a políticos envolvidos com crimes hediondos. Mas de talento? Todos se garantem em suas profissões.

Porém, ela odiava usar o termo família para  se referir a eles, já que nunca foram uma verdadeira família. Nunca houve jantares, comemorações de aniversário em conjunto e programas de uma família normal. Era tudo separado, monótono. Como forma de suprir essa ausência de amor dentro de casa, lhe deram uma mesada mais cara que o salário de várias profissões, e um passe livre para que praticasse o esporte que desejasse.

E por incrível que pareça, mesmo com todos esses empecilhos, por anos Cassandra não foi a vadia que ela era hoje em dia.

Neste exato momento, ela estava dentro de seu lamborghini Diablo, retocando o batom de vermelho escuro antes de entrar no restaurante para assinar o acordo que ia nomear Nicholas Alexander Chávez seu parceiro oficial. Ela não entendeu muito bem o porquê Irina insistiu que aquele contrato fosse selado com classe, sendo que poderiam fazer muito bem sem que precisassem se encontrar.

Cassandra esfrega os lábios um contra o outro, terminando de espalhar a cor neles e finalmente se vê pronta para acabar com aquela palhaçada. A patinadora se agarra ao casaco felpudo que usava, mas antes que pudesse deixar seu carro, estagna no lugar ao encarar com atenção as duas figuras que tinham acabado de chegar no restaurante: Ansel e Nicholas.

Aos poucos ela começava a entender o porquê Nicholas Chavez era conhecido como o cisne negro.

Suas roupas eram sempre escuras; apertadas e que pudessem realçar perfeitamente seu corpo. Os cabelos levemente bagunçados, mas ainda sim com um toque que o diferencia de outros caras brancos. E, acima de tudo, aquela maldita informação que Irina disse na semana passada; a expressão.

Nicholas Alexander Chavez andava com uma feição séria, decidida e potente. Quem o encarasse de longe, facilmente diria que aquele cara não tem problemas na vida, e que era muito bem resolvido. Até ela mesma cogitou pensar na possibilidade, mas rapidamente chacoalhou a cabeça porque a ideia de pensar no texano era tenebrosa.

── Ew. ─ finge gorfar.

Mesmo com o nariz empinado, expressando todo seu orgulho quando o assunto era o patinador que ela ao menos conhecia, seus olhos acompanham cada mísero movimento de Nicholas, desde ele passando na frente de seu carro, até entrando dentro do estabelecimento refinado. Cassandra não sabe quanto tempo permaneceu ali esperando os minutos passarem, mas quando o tédio dominou, pegou sua bolsa e finalmente deixou o veículo.

Seus passos até a entrada foram rápidos, influenciados pela brisa gélida de Sun Valley que ameaçava congelar suas pernas. Porém, assim que a porta é aberta para si e um funcionário gentilmente pega seu casaco para guardá-lo, Cassandra diminui a caminhada. Os saltos batem contra piso amadeirado com certa classe, e seus olhos esverdeados escaneiam tudo ao seu redor; as pessoas, o bar, as roupas caríssimas. Tudo. Cassandra era amante de detalhes.

Não demora muito até que ela encontre a mesa onde Nicholas, Ansel e Irina já estavam sentados, todos em silêncio. O texano parecia entediado, seus dedos batucavam contra a estrutura de madeira e constantemente ele soltava lufadas de ar. Não precisava pensar muito para saber que Nicholas não queria estar ali.

Quando Cassandra para, pensando se deveria correr para seu carro e fugir para bem longe dali, os olhos de Nicholas a capturam de surpresa. Na mesma hora, a expressão usual de orgulho surge no rosto da nova-iorquina, parecendo como se tivesse apertado um botão para ativar aquela funcionalidade. Ele a encara sem expressão alguma. Não se mexe, não fala nada.

Ele apenas a encara.

E ela faz o mesmo.

Aquela troca de olhares dura tempo o suficiente até que Cassandra respire fundo para se convencer a ter coragem o suficiente, e comece a andar decidida até a mesa. Milhares de pensamentos tomam conta da cabeça barulhenta da patinadora, mas eles parecem sumir quando ela recebe atenção dos três que lhe aguardavam.

── Espero que eu não tenha os feito esperar tanto assim ── murmura ao se dirigir para a cadeira vazia ao lado de Irina, consequentemente a frente de Nicholas ──, perdi algo importante?

── Seu respeito, talvez? ── o texano responde com certo sarcasmo, esfregando a mão nos próprios lábios ── Vinte minutos de atraso não me parece muito gentil de sua parte.

── Eu estava pensando se gostaria de ver ou não sua cara, por isso a demora ── ela tinha um sorriso ganancioso estampado no rosto.

── Pelo visto você queria, já que está aqui, Kennington.

Cassandra não sabe apontar o que mais a enfureceu naquela resposta ácida de Nicholas; se fora o jeito que as palavras saíram tão lentamente da boca dele, ou se deu pelo modo que seu sobrenome foi pronunciado, com um certo desgosto que ela conseguiu perceber de primeira. Embora não seja fã número um dele, os únicos que poderiam julgar a índole dos Kennington eram os próprios Kennington, não um palhaço qualquer que portava um sorriso enjoativo no rosto.

── Por que você não vai…

── Vocês dois, chega! ── a velha toma as rédeas, sem paciência alguma ── Eu não vim aqui tolerar essa baboseira.

Nicholas e Cassandra cruzam os braços de maneira sincronizada, tal qual duas crianças briguentas pegas no flagra.

── Ótimo! ── Irina volta a se ajeitar no encosto da cadeira ── Viemos falar de negócios. Quais suas cláusulas, Ansel? Imagino que tenham várias.

── São poucas, na verdade. Uma, única.

No fundo, tendo em vista a última conversa que teve com a russa, Cassandra parecia saber o que era essa tal cláusula. E como Irina não era nenhuma idiota, com muita experiência em acordos como aqueles, uma carta ja estava na manga, pronta para ser urilizada como defesa ── as duas se encaram brevemente.

── Deixa eu adivinhar, apenas uma temporada  para Nicholas?

Ansel ajusta seu óculos.

── Isso.

── Só isso? ── continua a pressionar ── Dinheiro? Contatos? Nada mais?

── Você sabe, né? ── o patinador entrelaça as próprias mãos, sorrindo um tanto quanto confiante ── Eu só quero ter certeza que posso pular fora se ela fracassar.

── Eu fracassar? ── Cassandra gargalha ── Vem cá, quem tem o título mundial e  uma medalha das Olimpíadas ainda continua sendo eu, não você.

Nicholas não sabia exatamente o que usar de argumento para se defender de uma campeã mundial. Ele não gostava nem um pouco de manter papo com Cassandra, porque parecia que, em algum momento, tudo iria girar  em torno da grana que ela tinha, ou sobre as dezenas de troféus que ela guardava em sua estante. Aquele era o único argumento que ela conseguia usar.

Ele passa por cima do olhar sério que ela carregava, não se deixando levar pelos insultos e pela língua afiada que a acompanhava por onde fosse. Volta a encarar a figura mais velha.

── Você disse que tenho futuro.

── Talvez ── Irina suspira ── futuro que você não quis saber antes. O que te fez mudar de ideia?

── Eu quero as Olimpíadas. ── ele é direto, e muito bem decidido ── Se não conseguir, estou fora. Quero saber se posso apostar tudo de mim nesse teatro, ou se devo apenas saber como segurar as pontas para quando passarmos vergonha em público.

── Eu que lhe pergunto ── Irina faz uma pausa em suas palavras, soltando um suspiro teatral antes de voltar a falar ── eu posso apostar tudo em você, Nicholas? Conheço o nível de Cassandra. Mas o seu? Não tenho ideia. Quero te prometer a Olimpíadas, mas antes preciso saber se você é eficiente o suficiente para que eu te leve até lá.

Desde pequeno, Nicholas aprendeu a ter pés no chão. Tinha conhecimento de sua realidade, e do quão difícil seria o caminho até a única competição que mais lhe importava. Desse modo, sonhar era um ato perigoso; lhe dava esperanças. Um jovem texano de família pobre não deve sonhar. Um jovem texano de família pobre deveria aprender com o pai e seguir os passos para se tornar o próximo homem da família.

Diante de uma, ou melhor, talvez da única oportunidade de chegar até o patamar que ele queria, tinha plena noção de que deveria ceder certas coisas para alcançar seu objetivo. Entre passar fome, apanhar de garotos de sua idade por ter um sonho feminino demais e conseguir ajudar sua família, Nicholas Alexander tinha total certeza que aturar uma mimada socialite seria fichinha. Ele era capaz.

Então, respirando bem fundo ele toma uma decisão.

── Eu sou capaz. Faço o que for necessário para chegar lá ── repete baixo, quase inaudível aos ouvidos de Cassandra ── Aposte em mim que ainda irei surpreendê-la. Mas, se der errado, eu não quero ficar preso a isso… a ela.

Quando Irina ergue sua mão, impedindo com que a nova-iorquina o respondesse dominada pela revolta que sente ao escutar as palavras do patinador, ela o encara da mesma forma que encarava todo mundo; sem expressão alguma. As palavras de Nicholas foram o suficiente para que procurasse pelo monte de papéis organizados dentro de sua bolsa de grife. Cassandra observa em silêncio, atenta e querendo ou não, com uma pitada de ansiedade por sentir que o acordo estava finalmente acontecendo. Seu estômago borbulha.

── Eu te levarei até as Olimpíadas ── ela garante, empurrando o contrato na direção de ambos os homens ── se você falhar, pode pular fora a vontade. Só terá que pagar uma multa de vinte mil dólares pela rescisão do acordo.

── O que?

── Você pediu algo e irei cumprir, mas acha mesmo que vou deixá-lo sair tão fácil? Da mesma forma que Abigail escapou, lhe deixando com fama de idiota, não vou deixar que faça o mesmo com Cassandra. Quer pular fora? Pule, mas pague.

O único som que se fez presente após a fala de Irina, foi do violoncelo em contraste com o piano, harmonizando suavemente em uma sintonia agradável que se adequava perfeitamente ao ambiente. Cassandra até mesmo chega a fechar seus olhos, aproveitando a harmonia gostosa, mas os abre abruptamente ao escutar a resposta que faltava.

── Me dá a caneta. ── Nicholas estende a mão, pegando o objeto e rapidamente assinando os diversos papéis empilhados e grampeados. Ele ao menos lê os termos, o que deixa Ansel com falta de ar pela possibilidade de haver uma cláusula que possa prejudicá-lo no futuro.

O texano empurra os mesmos papéis para Cassandra, que após encarar por uma curta fração de segundos seu olhar sombrio, pega a mesma caneta e assina.

Nicholas Alexander Chavez era oficialmente o novo parceiro de Cassandra Claire Kennington.

Ela não consegue esconder o embrulho que sentiu na boca do estômago ao raciocinar a informação. Ingeriu toda a água presente na taça em sua frente, numa falha tentativa de melhora, mas mesmo assim não foi o suficiente. Não alivia o incômodo, mas sim a piora. Cassandra se põe de pé aos tropeços, enfia sua bolsa embaixo dos ombros e praticamente marcha até o banheiro mais próximo de si, deixando as três figuras com enormes pontos de interrogação perante a cabeça.

Por sorte estava vazio, sem ninguém para julgar a expressão completamente distante que ela carregava. Não se assemelhava a tristeza, ou raiva, mas sim a algo que, de alguma forma, a aproximava de seu passado. A aproximava de Daniel, daquele que ferrou consigo, aquele que deixou-a vulnerável. Cassandra o odiava. O odiava fortemente.

E quando ela encarava a própria figura no espelho, analisando as orbes vazias, era  difícil enxergar sua antiga eu. Tudo o que via era um amontoado de decepções, uma fumaça altamente radioativa.

Distraiu-se tanto naquela encarada, que ao menos notou uma figura adentrando ao recinto e se encostando diante a porta. Cassandra somente saiu do devaneio quando o  sujeito limpou a garganta, chamando sua atenção.

── O que quer? Isso é um  banheiro feminino. ── responde ríspida, tratando de passar a mão pelo rosto para limpar os filetes da maquiagem borrada.

── Não precisa chorar porque eu aceitei isso. Da mesma forma que você tem ambições, eu também tenho. ── Nicholas murmura tranquilo, acompanhando os movimentos da nova-iorquina.

── Eu não estou chorando por você.

── Olhe, não é o que parece… jóia rara.

── Eu não gosto de você, não estou a fim de saber quem é, e o que tem a oferecer como pessoa. Por favor, só faça a droga de seu trabalho sem que precise trocar mais de duas palavras comigo, certo?

── Não se sinta especial, eu também  não gosto de você.

── Então está aqui, enchendo a porra do meu saco, por que?

A postura que Nicholas faz causa ainda mais incômodo na patinadora. Ele ergue os ombros ao puxar o ar, e solta tudo de uma vez ao exibir um sorrisinho de vitória.

── Porque ou você coopera e tenta não ser uma insuportável, ou você cai. As duas coisas não dá ── ele pisca lentamente, tateando a porta até encontrar a maçaneta ── E espero que não caia, Cassandra Kennington. Tenho uma Olimpíadas para ganhar.

⛸️ . . .ᐟ muito queridos eles, meio que se amam já, olha como são gentis!!!!

⛸️ . . .ᐟ boa sexta, irmãs e irmãos! Finalmente agora começando uma interação deles, e a tendência é piorar pq eles não tem ódio um da cara do outro, eles tem RANÇO!

⛸️ . . .ᐟ se eu conseguir finalizar o próximo capítulo, amanhã eu posto.

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