00.ㅤ⛸️ ... THE PROLOGUE

⛸️ ... TRUST ME, THEN FALL
00. 'THE PROLOGUE'
© pizzastri, 2024.

── Sai da porra da minha frente! ── Cassandra gritou de forma estridente assim que saiu da área de recebimento de notas, empurrando quem estivesse em sua frente e pouco ligando para o cameraman que a seguia para qualquer lugar que fosse. Não queriam perder a feição desgostosa que ela exibia ao encarar com sangue nos olhos a performance cativante de Tonya Harding ── SAI! Inferno, inferno... INFERNO!

Sem dúvidas, aquele era o dia mais humilhante na vida de Cassandra Kennington. Nem quando foi feita de trouxa por aquele que mais confiava, batia de frente com o show de horrores que estava sendo aquela situação. Era humilhante. Humilhante para um caralho. Ela pensou possessa.

Seus passos eram pesados, e chamava atenção de todos que estavam ao seu redor, observando-se ter um ataque de raiva antes nunca visto por nenhuma outra patinadora. As lágrimas raivosas já banhavam o rosto jovial da americana, espalhando resquícios da maquiagem pelas bochechas, consequentemente lhe dando uma aura de perdedora. Mas quem se importa?

Quando chegou ao vestiário, a primeira coisa que fez foi jogar com violência o ursinho que segurava desde o momento que deixou a pista, na parede mais próxima de si. Suas mãos nervosas foram para o zíper do vestido, tentando abri-lo para que pudesse respirar, mas quando percebeu que havia emperrado, Cassandra solta outro grito, de decepção, e dessa vez chuta uma lixeira ao seu lado para tentar liberar pelo menos um pouco daquela onda de sentimentos desgostosos que sentia.

Olhar no espelho não era uma solução, definitivamente o quebraria se o fizesse. Então Cassandra se senta no banco e encara uma mancha falha na parede branca. Os pensamentos explosivos ainda estavam a mil, tentando de todas as formas obrigar a patinadora a descontar em qualquer coisa, pessoa, algo que aparecesse em sua gerente. E céus, era tentador demais a ideia de dar um tapa na cara de alguém, mas se tinha uma pessoa que merecia um belo tapa na cara, era ela mesma.

Cassandra Kennington não era uma completa fracassada. Nem sempre foi assim, explosiva a ponto de deixar uma competição por pura raiva e sair xingando as competidoras. Mas, agora ela era, e ela odiava essa nova versão de si mesma. Odiava essa versão horrenda que teve de se adaptar para que não desistisse completamente de seus sonhos. Odiava sair das competições humilhada por sua nota patética, e ter de se trancar no vestiário para chorar de raiva.

A 'jóia rara' que por quase dez anos foi a carinha mais amada dos Estados Unidos, no ramo da patinação artística, hoje era uma patinadora pateticamente fraca. A aura de campeã, as medalhas e troféus, hoje não eram de porra nenhuma a não ser memórias de um tempo de dominância. Hoje em dia Cassandra Kennington era patética.

── Você sabe que gritar, quebrar coisas e xingar aquelas magrelas não vai mudar nada na sua vida, não é? ── a voz de sua treinadora ecoa pelo ambiente, mas a mulher ao menos se mexe ── Que showzinho, Cassandra.

── Aquela vaca vai ganhar por fazer algo que eu fazia em todas as competições ── ela se segura para não elevar o tom de voz, piscando seus olhos sem parar e apertando o banco de madeira a qual estava sentada ── isso... isso não é justo, porra.

── Você realmente quer falar sobre justiça? ── a de cabelos castanhos revira os olhos ao escutar a frase ser proferida em tom de sarcasmo, mas naquele momento não conseguia reagir. Por dentro, seu coração batia tão acelerado, que poderia se assemelhar ao som estridente e corriqueiro de um tambor. E consequentemente, aquela ação gerava falta de ar que aos poucos interrompia suas vias respiratórias. Era desesperador em níveis avassaladores, mas mesmo quase sentindo que a qualquer momento pudesse desmaiar de tanto nervoso, finalmente levantou seu rosto na direção de Irina.

Diferentemente de Cassandra, Irina não demonstrava absolutamente nada. Sua postura era perfeita, nem um pouco abalada pela derrota que sua aluna acabara de sofrer em rede nacional.

── Acho que chegou a hora de termos aquela conversa ── ela anunciou de repente, retirando de seu bolso uma cartela de cigarro. Cassandra não pensou duas vezes antes de estender sua mão ── Já está sendo humilhante meu nome ser associado com suas derrotas.

── Minha treinadora é você ── Cassandra alfineta.

── Eu não sou a patética que nem consegue dar um Triplo Toe Loop sozinha ── ela cospe as palavras ainda seria, pesando a atmosfera do local que em breve se tornaria abafado pelos cigarros que iriam acender ── Enfim, espero que já tenha notado que seu nome já era dentro da indústria.

Cassandra estava num nível de esgotamento tão grande, que aquela enxurrada de palavras ao menos fez cócegas perto do seu ego já corrompido. No máximo riu, inclinando seu corpo para frente, para que Irina acendesse o cigarro já posicionado entre seus lábios.

── Eu tenho grana o suficiente para te manter me treinando, Irina. Não é como se eu fosse desistir agora porque uma caipira descobriu que sabe dar giros sozinha ── o mau humor era evidente ── Eu só preciso aprender a me localizar melhor.

── Faz três anos que você fala essa mesma merda, e faz três anos que você continua pagando papel de ridícula na frente de todo mundo. Ter grana não garante vaga nas Olimpíadas. Não agora com Tonya.

Aquela conversa, pelo tom, já foi o suficiente para que a mesma expressão de sempre retornasse ao rosto da antiga campeã, seguido da sensação de vergonha acumulada de todos esses anos de falsa expectativa de uma possível melhora. Cassandra pode nunca ter sido boa na categoria individual, mas em dupla, ela brilhava mais do que todas as estrelas do vasto universo.

Mas que irônico, não? Precisar de alguém para se destacar, porque sozinha era tão insignificante que ninguém lembrava de seu nome.

── O que sugere? ── responde sem forças, ainda sentindo aquele maldito incômodo martelar dentro de sua cabeça. Se continuasse dando voz a ele, provavelmente tomaria uma garrafa inteira de whisky para tentar se livrar de uma vez do peso do fracasso que lidava.

── Volte para as duplas.

Cassandra não consegue nem medir o tamanho da raiva que sentiu ao escutar aquela frase. Não raiva de Irina, mas sim da porra da dupla. Ódio de Daniel. O filho da puta que a condenou para o fracasso que ela era hoje em dia.

── O que?

── Sua nota geral vem diminuindo a ponto de que eu não consiga te enfiar em mais nenhuma competição pelos próximos anos. Agora se você voltar para as duplas, tem chances daquela antiga jóia rara retornar para o público. É isso o que você quer, não é?

E ela não mentiu em nada. No fundo, Cassandra tinha plena consciência de que se permanecesse no individual, sua carreira ── ou o que restará dela ── estava fadada ao fracasso. Porque cá em nós, dinheiro compra o lado bom da vida, mas dinheiro não compra talento. E no individual, Cassandra Kennington era uma sem talento. A jóia rara a que todos se referiam, precisava de alguém para que ela brilhasse.

Jóias não brilham sozinhas, tem alguém por trás que faz todo o trabalho para ela ficar daquele jeito deslumbrante. E Cassandra precisava de alguém para deixá-la brilhante novamente. Cassandra precisava de alguém para fazer com que ela se sentisse a verdadeira jóia que ela era.

Mas, não. Não eram várias pessoas que tomavam conta de jóias raras. Precisava de um treinamento e vínculo específico para aquilo. Deixar outro alguém, desconhecido, cuidar da jóia que ela era, não parecia uma ideia tão agradável assim.

── Consigo ouvir todos seus pensamentos. Eles falam alto, garota ── ela se encolheu no banco, praguejando por deixar sua vulnerabilidade escapar tão facilmente somente com uma pergunta ── Eu poderia dizer várias coisas, mas se você não quer continuar pagando papel de idiota, volte para a categoria que você nasceu para brilhar.

⛸️ ... Oi irmãos e irmãs, espero que tenham gostado do prólogo. Acredito que só por esse pequeno gostinho, já deu de perceber que a relação dela e do Nicholas não vai lá ser mil maravilhas. Imagina juntar dois orgulhosos em uma sala e obrigá-los a fingir que se dão super bem? Cheirinho de inimigos.

⛸️ ... Apesar de por agora, nos primeiros capítulos, vocês forem vendo uma visão bem... rigorosa do Nicholas e da Cassandra, aos poucos vocês vão entendendo o porquê eles são assim. Uma moeda tem dois lados.

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