23| ᴛʀᴇᴍ ᴅᴀꜱ ᴏɴᴢᴇ.
CAPÍTULO VINTE E DOIS.
"Não posso ficar nem mais um minuto com você. Sinto muito amor, mas não pode ser."
O AEROPORTO DE SANTOS DUMONT era enorme. Ana Carolina se encontrava com a boca entreaberta surpresa com o lugar pois era sua primeira vez em um aeroporto. O movimento de pessoas e gringos prendeu sua atenção juntamente do barulho das malas sendo puxadas em suas rodinhas. E Gabriel não calando a boca quando avistava alguma mulher bonita a distraiu rapidamente.
Maria Eduarda, não tão diferente de Gabriel, comentava a cada segundo de algum homem gostoso — nas palavras dela, — causando risadas de Carol que concordava, deixando Shoyo enciumado do lado.
Pedro ria de qualquer coisa que saia da boca de Ana Carolina já que naquele dia, ela estava mais piadista que o comum, e quando Pedro se envolvia nas brincadeiras, ele intensificava a piada deixando em um nivel aburdo.
Eles estavam parados em uma roda de conversa enquanto o embarque de Shoyo ainda não era chamado. O japonês fazia um carinho nas costas de Ana Carolina que mantia um abraço gostoso e já cheio de saudade em torno do abdômen dele. Escutavam Heitor falar do planejamento que tinha com Nice sobre a nova casa fazendo os amigos presentes abrirem grandes sorrisos felizes pela conquista do casal.
— E você Biel? Como estão indo as coisas com a lojinha? — questionou Heitor fazendo com que o foco se tornasse no garoto que arrumava o cabelo antes de colocar o boné. Ele revirou os olhos bufando.
— Muito trampo. Jogar no tigrinho tá valendo mais a pena. — os amigos riram, porém Gabriel continuava sério.
— Desencana Gabriel. A lojinha tá tão linda, e o pessoal do bairro já te disse que iria te dar uma força. — Carol diz sincera. Ele sorriu para a morena apenas acenando.
O garoto estava focado em empreender sua própria lojinha de roupas masculinas e esportes. Já que era estiloso e gostava de se exercitar, ele não encontrou outra solução senão fazer aquilo que tinha conhecimento e gosto.
A loja estava no início, ainda não havia tanta coisa no lugar, porém mantia muito bem organizado e acolhedor. E mesmo falando aquilo, Biel já amava o seu cantinho.
— Amigos vão ter descontos nas camisetas? — Carol perguntou causando uma risada cínica dele.
— Amigos vão ter que pagar mais 20% de juros.
— Péssimo. Vou falar para os meus seguidores não irem. — comenta Madu ajeitando as tranças pretas.
— Seus dez seguidores você quis dizer.
— Vai se foder, Pedro. — ele riu da cara fechada da garota enquanto fazia um toca aqui com Ana Carolina. — Carol!
— O que? Essa foi muito boa. — a morena deu de ombros voltando a rir com o amigo brasileiro.
Shoyo sorriu das palhaçadas deles sentindo seu peito vibrar com a risada alta da namorada. A agarrou ainda mais forte em seu abraço beijando o topo de sua cabeça sentindo o cheiro do cabelo perfumado. Cheiro de brasileira perfumada.
Ergueu a cabeça respirando fundo sentindo-se ansioso. Tinha menos de uma hora para passar o tempo com Ana Carolina, e o pingente de cacau em seu peito começava a queimar. A dor da despedida o incomodava, mas ele não queria focar tanto naquilo enquanto ainda escuatava a risada dela.
Hinata olha para o grande painel eletrônico que mostrava as informações do voo, onde seu número já aparecia com o aviso de "embarque próximo". Fez uma careta desviando o olhar para Maria Eduarda que comentava sobre o seu trabalho no escritório de advocacia.
— Bom saber que tá assim Madu. Pode deixar que eu conto pro Felipe que você está gostando. — diz Ana Carolina despretensiosamente fazendo a trançada revirar os olhos.
— Dizer o que pro Felipe sua maluca?
— Que você está gostando bastante do trabalho que ele te recomendou.
— Homem apaixonado é outra história, né? Arruma até emprego para a garota que gosta. — Heitor profere causando risadas altas do grupo.
— Na área em que ela está estudando ainda por cima. — completa Nice recebendo um beijinho na bochecha do marido em forma de concordância.
Gabriel ficou calado naquele assunto observando atentamente o rosto da garota. Ela mexia nervosamente em uma de suas tranças e evitava de olhar em direção à ele. Percebendo isso, Carol franze o cenho intercalando o olhar entre Madu e Biel.
Eles...?
Carol negou com a cabeça rindo consigo mesma. Aquilo não era possível.
Ou era?
— Tô morrendo de sono. — diz Pedro trocando o foco do assunto fazendo com que Ana Carolina se esquece rapidamente no que estava pensando antes.
— A festa de despedida do Shoyo rendeu. Sorte de vocês que foi na minha casa senão a dona Aparecida iria aparecer por lá. — comenta Gabriel causando uma careta de Pedro e Hinata.
— Nem me fale daquela velha. Puta merda.
Shoyo sorri tristemente. Mesmo não gostando nem um pouco da dona Aparecida, ele sentiria falta dela. A festa foi uma surpresa feita pelos amigos e conhecidos do ruivo que quando foi na casa de Gabriel com a intenção de ser mais um dia onde eles ficavam na calçada conversando, se surpreendeu quando encontrou as pessoas que fizeram parte da sua vida naqueles dois incríveis anos.
Teve bastante funks antigos, cerveja e lanchinhos a vontade, e Ana Carolina toda soltinha para ele foi um ótimo último momento para se recordar. Eles dando uns amassos na areia da praia enquanto escutava o barulho das ondas, e as confissões e segredos sendo guardados por eles.
A despedida acabou quando o sol apareceu e eles tiveram que ir embora pois naquele mesmo dia Shoyo pegaria seu voo.
Estavam todos com cara de cansaços, porém permaneciam com o humor estampados na face.
— Nunca vou superar a Maria Eduarda tropeçando e quase derrubando o bolo. — lembra Carol arrancando umas risadas.
— Eu gravei bem na hora, o melhor foi os gritos de desespero. — Pedro voltou a rir alto fazendo a trançada arquear a sobrancelha.
— Ai, vocês tiraram o dia para me pertubarem né? Puta que pariu.
— Todo dia é dia de te pertubar Maria Eduarda. — Pedro sorri cinicamente
— Você não pode falar tanto não Pepo, tava até às três da manhã tocando e cantando modão no violão.
Pedro parou de sorrir na hora enquanto sentia as bochechas arderem. Fez uma careta de arrependimento antes de todos começarem a tocar nesse assunto.
— Desde quando sabe tocar!? — Shoyo foi o primeiro a questionar com essa pergunta mal respondida desde a noite passada.
— Fiz umas aulas naquelas escolinhas de música do governo quando era criança. Aí o meu primo tava doando o violão dele e ele me escolheu, nesse meio tempo fiquei pesquisando no youtube algumas músicas... — explicou em um murmuro mexendo oa cachos constrangido.
— Algumas? Você sabia música pra caralho!
— Eu peguei as cifras, né? — respondeu o óbvio para Gabriel que apenas aceitou.
— Aiai Pedro, você pode ter gravado a Madu quase caindo com o bolo... mas eu gravei algo melhor. Você cantando Boate Azul super alterado.
Pedro respirou fundo antes de mostrar o dedo do meio para Ana Carolina que não se sentia nada ofendida. Gabriel observava a cena divertindo quando se lembrou de algo.
— E vocês Carol e Shoyo? Onde foram com a minha moto sem a minha permissão!?
Shoyo sorriu minimamente grudando-se ainda mais em Carol que tinha um sorriso infantil nos lábios. Olhou para Biel com seus olhos grandes brilhando fazendo o moreno arquear a sobrancelha.
— Nem vem com esses olhinhos. — diz, Ana desfez o rosto de boa samaritana abrindo um sorriso cínico.
— Fui dar um rolê com o Shoyo.
— Com a minha moto, sem a minha permissão e habilitação.
— Ai Gabriel, você sempre deixa eu dirigir.
— Quando eu estou com você, anta. — ele respirou fundo. O garoto surtou quando viu os dois saindo de sua casa com a moto. Ficou gritando na rua que nem um louco, sua vizinha até saiu para ver o que estava acontecendo. — Não faça mais isso Carol.
Ana Carolina apenas acenou não dando tanta importância. Com certeza ela faria mais vezes e Gabriel sabia disso. A morena não se sentia nada arrependida de pegar emprestado por algumas horas a moto do amigo. Foi algo que ela achou necessário, fazer uma última memória com Shoyo.
— Pelo menos foi a Carol quem dirigiu Biel. — diz Hinata arrancando uma careta do mencionado.
— Caralho, é mesmo! — Pedro explodiu em uma gargalhada lembrando do tombo do japonês.
Ele já havia tentado pilotar uma vez, mas não se saiu tão bem...
O grupo que estava animado cheio de conversas e lembranças, foi cortado rapidamente com o alto-falante anuncindo que o embarque para o voo de Shoyo havia começado. O som era como uma sentença, ecoando no silêncio que fucou entre eles.
Hinata se separara lentamente de Carol ainda segurando a mão dela, como se qualquer movimento pudesse quebrar algo o que restou entre os dois. Ele sentia o peso da despedida se aproximando.
— Chegou o meu momento pesssoal. — disse sereno sorrindo calmamente para os presentes. Não tinha o do porquê ficar triste quando esperou dois anos por isso.
Os amigos sorriram para ele da mesma maneira, porém alguns tinham os olhos brilhando pelas lágrimas. Shoyo abraçou um por um com tanto carinho que até ele se sentia mal por ir embora, coisa que não deveria sentir.
Heitor o ajudou bastante no mundo do vôlei de praia, e ele era grato imensamente por ele e pela Nice. Madu e Gabriel que o ajudou a conhecer as festas e em como um brasileiro se divertiam. Pedro, seu melhor amigo que teve paciência em dividir um apartamento com ele — mesmo o brasileiro sendo um babaca no início. E Ana Carolina que o fez sentir tantas sensações pela primeira vez na vida, ele era grato por ela gostar dele na mesma intensidade que ele.
— Muito obrigado por esses dois anos. — ele se curvou fazendo com que quem estivesse com lágrimas nos olhos, chorassem ainda mais.
— Boa sorte japonês. Vou torcer por você. — Pedro deu batidinhas nas costas do ruivo.
— Vê se usa as minhas dicas de roupa em Shoyo.
— Pode deixar Madu. — ele riu a abraçando.
— Vai com tudo Shoyo. — diz Heitor sorrindo grandemente com Nice ao seu lado.
— Faça o seu melhor Shoyo. Estarei assistindo suas partidas online. — Pedro abraçou Hinata com força enquanto lágrimas grossas escorriam pelo seu rosto. Querendo ou não, o japonês era o seu companheiro naquela casa vazia.
— Sim. Vou ligar sempre que puder.
Se afastou do abraço restando apenas uma pesso para se despedir.
Carol havia se afastado do ruivo dando espaço para todos abraçarem ele. Ela observava tudo com uma certa alegria no peito por tê-lo conhecido. E quando ele se aproximou, Carol apenas sorriu dizendo:
— Boa sorte, japinha.
Shoyo acariciou as bochechas da garota beijando cuidadosamente o rosto. Voltou seus braços ao redor da cintura dela a abraçando e sentindo sua temperatura tão próxima dele uma última vez.
Carol segurava o choro sentindo um aperto no coração pois não era fácil ver o seu primeiro amor partir e não ter previsão de voltar.
— Eu vou sentir tanto a sua falta, japinha. — disse a brasileira olhando nos olhos dele que estavam iguais aos seus, molhados.
— Eu já sinto a sua falta mesmo você estando aqui Ana. — respondeu rindo tristemente, sentindo a pressão no peito.
Ela revirou os olhos brincalhona dando um selinho na bochecha com sardas do ruivo que sorriu pelo afeto.
— Eu vou torcer por você em todos os seus jogos. — prometeu, com a voz embargada. Shoyo abriu seu grande sorriso acariciando os cabelos castanhos ondulados.
— Obrigado Ana. Porra... Obrigado por tudo.
Shoyo colocou ambas as mãos ao redor do rosto dela cuidadosamente. Aproximou devagar sentindo as respirações se misturarem, e quando apenas encostou os seus lábios nos dela, eles sentiram uma onda de choque percorrerem todo o corpo.
Abaixou o olhar selando novamente suas bocas, só que diferente da primeira vez, foi algo prolongado, como se aquele beijo fosse para matar a saudade que já sentiam um do outro.
Aprofundando ainda mais o beijo e deixando mais lento, profundo, ele fez um carinho nos cabelos de Carol não querendo se separar dela tão cedo.
Mas era preciso.
Carol desgrudou os labios inchados dos dele tentando recuperar o ar que lhes faltou, focou sua boca na bochecha dando selares longos e calmos por todas as pintinhas.
— Eu te amo, Ana. — Shoyo soltou com os olhos fechados enquanto apreciava o último carinho da morena.
Não se aguentando, Ana Carolina começou a chorar por ouvir aquelas palavras. Porra. E vendo a situação da brasileira, Shoyo a acompanhou no choro.
— Eu também te amo, Shoyo. — respondeu entre soluços.
Com um ultimo sorriso, Hinata pegou sua mala se afastando lentamente dos brasileiros que gritavam energias positivas para ele com lágrimas pelo rosto. Acenou várias vezes dando tchau e os encarando com várias emoções explodindo no seu peito. E quando os perdeu de vista, ele sentiu um nó na garganta.
O peso da despedida o atingiu como um soco, sentia tristeza, mas também alegria de voltar ao Japão. Cada passo que dava em direção ao portão de embarque era uma luta interna entre a felicidade e a dor da saudade.
Enquanto caminhava, as lembranças de momentos passados com Ana Carolina e seus amigos o inundaram. Ele se lembrou das risadas compartilhadas, dos abraços calorosos e dos planos que fizeram juntos. A imagem do sorriso dela ainda estava em sua mente. Principalmente os olhos jabuticabas.
Ao se aproximar da segurança, ele parou por um momento e olhou para trás mais uma vez. O grupo de brasileiros, agora um pequeno borrão na multidão, continuava a acenar. Ele riu pois certeza que eram Gabriel e Carol.
Fechou os olhos respirando fundo, sentindo o cheiro do aeroporto, do povo e da temperatura que o cercava.
Quando finalmente atravessou o portão, uma mistura de determinação e nostalgia tomou conta dele.
E assim, enquanto se afastava, Hinata carregava consigo não apenas as lembranças, mas também o amor e o apoio de todos que ficaram para trás. O futuro no Japão estava à sua frente, e Shoyo sentia-se pronto para enfrentá-lo.
Sabia que a distância não poderia apagar o que sentia. Pois, mesmo estando do outro lado do mundo, ele se lembraria de cada mínimo detalhe da morena tropicana.
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