𝚝𝚠𝚎𝚗𝚝𝚢 𝚏𝚘𝚞𝚛
— [Nome]? — Ele perguntou, mais uma vez, ao ver sua expressão de assustada, mas, logo depois, colocou um sorrisinho no rosto que fez todo o seu corpo tremer. Não tremer de uma forma boa, como o sorriso mostrando os caninos de Keisuke fazia, mas tremer de puro pavor — Ficou sem palavras em me ver?
Claro que você tinha ficado. Sabia que Kisaki e os seus amigos não se davam bem um pouco bem. Além disso, estavam longe da cidade. O que caralhos ele estava fazendo ali?
— Precisamos conversar — O loiro falou, mas, quando ele deu um passo na sua direção, seu corpo instintivamente deu um para trás, fazendo com que ele franzisse as sobrancelhas — Vai ficar nessa de novo? Qual é. Deixa de ser criança e vamo lá fora conversar.
Mais um passo para frente. Mais um passo para trás.
Você nem sabia direito o que estava fazendo. Seu corpo não respondia mais ao seu cérebro. Queria ser forte. Queria poder só tirar essa expressão de medo do rosto e falar, de uma vez por todas, que acabou; que você não queria mais ver ele; que você estava feliz; que esperava que ele fosse feliz e lhe esquecesse de vez.
Mas, ao invés disso, seus passos foram indo cada vez mais para trás, até o ponto em que você deu as costas para ele e atravessou a multidão, não se importando em esbarrar nas pessoas ao seu redor. Alguns deles ainda gritavam um "ei", mas, ao virem a namorada de Baji chorando, calavam a boca e fingiam que nada estava acontecendo.
Você ainda ouviu Kisaki gritar o seu nome mais uma vez, mas continuou atravessando o mar de pessoas sem olhar para trás. Somente quando conseguiu alcançar as escadas, respirou mais uma vez, nem percebendo que tinha ficado todo aquele tempo prendendo a respiração. Disparou escadas a cima e não mediu esforços para literalmente correr pelo corredor do segundo andar.
Quando chegou ao seu quarto, rapidamente entrou lá dentro, trancou a porta e deixou que seu corpo desabasse no chão. Suas mãos tremiam e seu peito doía. As lágrimas já lhe impediam de conseguir enxergar direito. Toda a maquiagem que Emma tinha feito em você foi por água abaixo.
Agarrou suas próprias pernas contra o corpo, em uma tentativa frustrante de se acalmar.
Uma sensação ruim começou a tomar conta da sua garganta, mas, no momento em que percebeu o que era, forçou suas próprias pernas a voltarem a funcionar e disparou em direção ao banheiro. Conseguiu chegar a tempo no vaso sanitário e colocou tudo para fora. Você ainda não tinha comido nada o dia inteiro, nem sabia o que estava saindo do seu corpo, mas não se importou.
Continuou jogada no chão do banheiro, com os braços apoiados na bacia. Sua cabeça estava tão cheia que você nem conseguia organizar os próprios pensamentos.
Kisaki estava ali. Naquela casa. Ele sabia que você estava namorando agora com Keisuke. Era claro que sabia. Todo mundo sabia. Ele não estava nada feliz. Era claro que não estava. Ele tinha ficado muito irritado quando você disse que tinha ficado com outra pessoa, na noite em que vocês terminaram. Não precisava ser um gênio para descobrir que aquela pessoa era o próprio Baji.
Na cabeça de Kisaki, você nunca iria conseguir superar. Para o loiro, era como se todo o seu mundo girasse ao redor dele. E isso poderia até ser verdade antes. Mas, agora, todo o seu mundo capota quando você pensa nele, e de uma forma nem um pouco agradável.
Queria sumir. Queria se enterrar em algum lugar e só voltar para a vida real no outro dia, quando ele já estivesse bem longe daquela casa.
Kisaki representava a personificação de todas as suas maiores inseguranças. Todos os seus medos afloram quando você pensa nele. Olhar para ele era insuportável. Fazia você se lembrar de que aquele era um capítulo na sua vida que você estava tentando desesperadamente esquecer, mas que nunca teve um fim de verdade.
Pensou nos meninos e em Emma. O que eles estavam fazendo agora? Será que sabiam que Kisaki estava lá? Será que ainda não tinham percebido e continuaram se divertindo? Ou, pior, será que tinham percebido e alguma coisa aconteceu?
Você sabia que Kazutora só precisava de uma oportunidade para sair na mão com seu ex namorado. Imaginava que Keisuke também não precisasse de muito para fazer isso.
Talvez você devesse apenas ficar ali, no banheiro, sem ter mais nada no seu estômago para colocar para fora ou lágrimas para chorar. Esperaria que a festa acabasse. Eventualmente, Baji voltaria para o quarto e você se sentiria segura de novo.
Seu celular tinha ficado no andar de baixo, então nem conseguiria ligar para o Hanemiya ir lhe salvar.
Mas, mesmo que ficasse ali até o fim dos tempos, nada impediria que, quando você eventualmente saísse, Kisaki fosse atrás de você para conversarem de novo. Além disso, Keisuke e Kazutora não estariam ao seu lado em todos os segundos da sua vida. Por mais que amasse eles, não poderia ficar dependendo deles para sempre. Precisava resolver seus próprios conflitos, que ainda faziam o seu peito doer. Precisava colocar um fim nessa história, que tanto lhe machucava. Precisava finalmente seguir em frente.
Ainda com as pernas fracas, você se levantou.
Precisava tomar uma atitude, agora mais do que nunca. Não queria ser aquela garotinha fraca e frágil que todos tratavam como se fosse de vidro. Queria finalmente poder se olhar no espelho e ver uma mulher forte e destemida.
Por isso, lavou o rosto na pia, tentando não reparar no estrago que suas lágrimas fizeram na belíssima maquiagem que Emma tinha feito. Tirou todos os produtos e apenas passou hidratante por cima. Seus olhos estavam meio inchados, mas você não poderia ligar menos para aquilo. Escovou os dentes para tirar o gosto ruim da boca.
Finalmente, se olhou no espelho.
Não precisava ser um gênio para saber que você não era a mesma de antes. Você tinha mudado. Não estaria ali, em pé, se não tivesse.
Sabia que não precisava ter medo de Kisaki, pelo menos não ali. Mesmo que as coisas dessem errado, você teria seus amigos para lhe proteger. Você, pelo menos, deveria tentar. Devia isso a eles e, especialmente, a você mesma.
Por isso, respirou fundo e saiu daquele quarto, mantendo a cabeça erguida.
Desceu as escadas e começou a procurar pelos seus amigos ou por Kisaki. Estava que encontrasse o grupo antes, mas se desse logo de cara com o loiro, não ia fugir dessa vez.
— [Nome]! — Era a voz de Mikey. Você se virou na direção do som e, assim que viu o loiro, foi andando em direção a ele — A gente tava te procurando. Kisaki tá aqui e...
— É, eu sei — Respondeu, fazendo com que os olhos dele se arregalassem — Onde ele tá agora?
— Lá fora — Ele respondeu, levemente receoso — Kazutora e Baji foram atrás dele. A gente já vai expulsar ele da casa e você não precisa mais olhar pra cara dele.
— Eu vou lá falar com ele.
Você se virou para começar a andar em direção à saída, mas o seu braço foi segurado por uma mão firme. Olhou para trás e se encontrou com os olhos preocupados de Mitsuya, que tinha acabado de chegar.
— [Nome], não precisa ir.
— Eu preciso, sim — Respondeu, com a maior firmeza que conseguiu — Eu preciso resolver as coisas de uma vez por todas. Eu amo muito todos vocês, mas não posso ficar dependendo da proteção de alguém pelo resto da minha vida.
Por um momento, você achou que o platinado não fosse lhe soltar. Até que ele soltou um suspiro cansado e largou o seu braço.
— Vou chamar Draken e Emma — Ele respondeu, sério — A gente vai ficar perto da saída esperando. Qualquer coisa, qualquer mesmo, a gente vai intervir.
Você assentiu e disparou. Andava pela multidão sem se importar com mais nada. Talvez as pessoas tivessem percebido que algo estava acontecendo, já que davam espaço para você passar quando lhe notavam.
Seu corpo estremeceu quando você segurou a maçaneta da porta, mas ignorou todos os instintos do seu corpo que mandavam você fugir. Abriu a porta e saiu da casa. Não tinha mais volta. Principalmente quando você viu os três homens no jardim de trás da casa.
— O que você tá fazendo aqui, Kisaki? — Baji perguntou, ainda não notando a sua presença.
— Vim conversar com minha namorada.
— Sua ex namorada — Keisuke corrigiu, o que só fez com que o loiro aparentasse ficar ainda mais irritado.
— Qual foi, Baji? — Mesmo assim, o sorrisinho irritante estava de volta aos lábios dele — Pegou ela pra você porque tava entediado?
— Cala a boca, seu filho da puta — Foi o Hanemiya quem respondeu.
— Você não entenderia, Kazutora — Kisaki deu de ombros, com aquele ar de superioridade e deboche estampados no rosto dele — Você trata [Nome] como se fosse sua irmã. Se tivesse levado ela pra cama, ia entender.
— Eu vou te matar, seu arrombado.
Você nunca tinha visto seu irmão tão irritado assim. Sabia que ele tinha um pavio bem curto, mas Kazutora sempre tentava se controlar na sua frente. Esse era um lado dele que o Hanemiya não queria que você visse.
Ele partiu para cima de Kisaki, que estava um pouco longe deles. Baji parecia ter ficado na dúvida se iria intervir ou não, mas acabou não fazendo nada.
— Kazu! — Você gritou e, no mesmo momento, as pernas dele pararam de se mover.
— [Nome]? Tá fazendo o que aqui?
— Vim conversar com ele.
— Volta lá pra dentro — Foi Keisuke quem disse, sem olhar na sua direção.
— Não — Respondeu, simples, agora atraindo a atenção dos três — Eu não vou voltar lá pra dentro. Isso é um assunto que eu preciso resolver sozinha. Muito obrigada a vocês dois por cuidarem tanto de mim, mas se eu não for a pessoa que vai colocar um ponto final nisso, nada faz sentido — As íris bronze de Baji continuavam lhe encarando, como de ele estivesse desesperadamente pensando no que fazer. Ele não queria lhe deixar sozinha com aquele homem, mas também não queria lhe privar do direito de resolver seus próprios conflitos sozinha — Por favor — A última parte você falou baixo, mas foi o suficiente para que ele escutasse.
Ao invés de responder para você, ele olhou na direção de Kisaki.
— A gente vai ficar olhando da janela de dentro da casa — Aquilo foi um aviso — Uma gracinha e a gente pula a parte do diálogo.
— Nada mais justo — Kisaki respondeu, dando de ombros, ainda com um sorrisinho nos lábios.
Keisuke foi caminhando até você e depositou um beijo silencioso no topo de sua cabeça. Com o canto do olho, você conseguiu ver os punhos do loiro se cerrando. Kazutora obviamente não tinha gostado da ideia, mas não contrariou e apenas seguiu o moreno para dentro da casa.
Você respirou bem fundo antes de encarar o loiro e falar:
— Sobre o que você quer conversar?
— Não vai ficar fugindo como sempre? — O tom debochado dele já não estava lhe afetando mais.
— Não — Respondeu, simples, com uma expressão séria no rosto — Vai me dizer o que você tem pra falar ou eu já posso voltar lá pra dentro?
— Tá tá — Ele usou uma das mãos para coçar a nuca — Eu errei em ter falado todas aquelas coisas pra você. Queria pedir desculpas.
— Tá certo — Deu de ombros — Perdoado.
Ele finalmente tirou o sorrisinho do rosto e piscou umas cinco vezes seguidas.
— Então você vai largar aquele cara pra voltar comigo?
— Não foi isso o que eu disse. Eu só falei que te perdoava, não que eu ia voltar com você.
Ele riu. Uma risada que antes faria todos os pelos do seu corpo se arrepiarem, mas você apenas esperou que ele continuasse a falar.
— [Nome], você é muito burra mesmo — Mais uma risada divertida — Acha que aquele cara sente alguma coisa por você? Baji já pegou metade das mulheres da cidade, muitas delas bem mais impressionantes que você, inclusive. Por que ele largaria isso por alguém que nem você?
— Sinceramente, eu não tenho ideia — Você cruzou os braços em cima dos seios. Sua roupa era curta e a noite estava mais fria do que você pensava. Até que combinava com o clima da conversa — Eu ainda tô trabalhando nisso de me sentir suficiente.
— Ele vai te largar uma hora.
— Muita gente já me disse isso — Mais uma vez, você deu de ombros — Mas, eu confio nele e também acho que ele vale a pena arriscar.
Kisaki ficou em silêncio por alguns segundos. Ele desviou o olhar de você para a casa, provavelmente vendo se os seus amigos realmente estavam espiando a conversa. Talvez ele tivesse pensado em fazer algo com você, mas a ideia sumiu no momento em que ele olhou para a janela. Deveriam estar todos lá.
— Então você realmente vai me trocar por ele?
— Eu não troquei você por ele. A gente terminou antes.
— Você terminou comigo.
— Você foi um filha da puta comigo.
Ele estava impressionado e não conseguia esconder isso. A você de antigamente jamais bateu boca com ele antes, muito menos xingou o loiro na frente dele. Você tinha mudado e não tinha mais como Kisaki não admitir isso.
— E qual é exatamente a diferença de como ele te trata pra como eu te tratava? — O sorriso voltou, mas dessa vez mais afiado — Ou vai me dizer que ele é a porra de um príncipe encantado?
— Ele não é. Keisuke tem seus defeitos como todo mundo — Ele estremeceu ao ouvir você chamando o moreno pelo primeiro nome — Mas, diferente de você, ele me faz sentir que eu valho a pena; me faz sentir que eu sou suficiente. Ele faz questão de me incluir, de fazer com que eu não me sinta ansiosa só com a ideia de existir. Ele nota as pequenas coisas; faz com que eu me sinta bem comigo mesma — Dessa vez, era você quem estava sorrindo, mas não era um sorriso irônico e debochado que nem o dele, mas sim um verdadeiramente feliz — Nosso relacionamento sempre foi fadado ao fracasso, Kisaki. Eu só precisava achar alguém que me tratasse melhor.
— Você vai se arrepender.
— Talvez — Se virou de costas para ele e começou a andar em direção à casa — Eu realmente espero que você melhore e ache alguém. Quem sabe assim você finalmente me esquece.
— E se eu disser que eu não desisti?
— Eu diria que já tá na hora de você arrumar alguma coisa pra fazer — Se virou na direção dele novamente, já na metade do caminho — Nosso relacionamento foi péssimo, Kisaki. Eu assumo minha parcela de culpa por ter te acostumado mal. Eu deveria ter sido mais firme, mas não fui. Você me machucou de formas que você nunca vai ser capaz de entender. Mas, finalmente, eu achei alguém que está disposto a me curar aos poucos.
Ele não respondeu, nem tentou ir na sua direção, por mais que ele quisesse.
— Não menti quando disse que espero que você também ache alguém que esteja disposta a lhe ajudar — Mais uma vez, se virou de costas para ele e voltou a andar em direção aos seus amigos — Fica bem, mas espero que a gente nunca mais se encontre.
Não ouviu mais nenhuma palavra saindo da boca dele, mas conseguiu escutar o som dos passos dele se afastando. Talvez um dia ele voltasse a lhe procurar, mas você estava preparada. Saberia lidar com a situação de agora em diante.
Assim que você abriu a porta da casa, foi atacada por uma Emma chorosa. A loira lhe envolveu com os braços, em um abraço apertado.
— Eu tô tão orgulhosa — Ela disse, ainda deixando que algumas lágrimas pesadas borrassem o rímel dela.
Você devolveu o abraço e também deixou que algumas lágrimas escorressem pela sua bochecha. Não eram lágrimas de tristeza, mas sim de felicidade. Finalmente você fechou esse capítulo da sua vida que estava em aberto e que lhe machucava tanto.
Não demorou para os outros meninos virem lhe cumprimentar com olhares orgulhosos e falas cativantes. Estava tão feliz que nem conseguia descrever isso nos seus próprios pensamentos.
Aqueles eram seus amigos. Sua família. As pessoas que estavam com você não só nos momentos bons, como também nos ruins. Foram eles que lhe ajudaram a perceber que você era forte, que era suficiente.
E lá, bem na sua frente, você encontrou com aquela olhos cor de bronze. Aquele homem que sorria para você como nunca tinha sorrido antes. Aquele homem que era requisitado por muitas, mas tinha escolhido ficar ao seu lado.
Keisuke Baji, a pessoa que fez com que você percebesse que merecia ser tratada melhor.
* nota da autora *
Eu queria agradecer a todo mundo que acompanhou a história até aqui. De verdade, como eu sempre falo, nada disso teria acontecido sem vocês.
Essa era uma das histórias que eu mais gostava de escrever no início, mas depois acabou me perdendo em uma fase complicada da minha vida. Mesmo assim, eu nunca quis deixar ela para trás e, graças a vocês, eu conseguir dar um final para ela.
Essa não é a minha fanfic favorita que eu escrevi, mas ela representa algo muito imperante para mim. Nunca passei por um relacionamento abusivo, mas gosto de escrever histórias assim (que nem Flashlight de Eren), justamente para as pessoas que já passaram ou passam por isso saberem que não estão sozinhas.
Mais uma vez, muito obrigada!
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top