𝚜𝚒𝚡

Seus olhos estavam pesados e a pequena claridade do quarto não foi o suficiente para fazer você se lembrar de que não tinha dormido em casa. Mesmo assim, você sentia sua cintura ser rodeada por braços que te seguravam de maneira firme.

Nem por um segundo se passou pela sua cabeça que era Kisaki ali, afinal, a lembrança de que vocês tinham terminado ainda estava fresca na sua mente. Além disso, o loiro não gostava de dormir com muito contato com você, sempre preferindo ficar do lado dele da cama.

Devagar, você se virou, tomando todo o cuidado para não acordar a pessoa ao seu lado. Inevitavelmente, um sorriso brotou nos seus lábios quando você viu o rosto sonolento de Keisuke assim que os seus olhos se acostumaram com a meia escuridão.

— Bom dia — Ele disse, com a voz rouca, ainda lutando para manter os olhos abertos.

— Bom dia — Você respondeu, sentindo os pelos do seu corpo se arrepiarem quando ele usou os braços para lhe trazer para mais perto e começou a fazer um carinho suave na lateral da sua coxa — Não quis te acordar — Continuou a falar, tentando não gaguejar.

— Não se preocupa, eu já tinha acordado antes.

Assim qua acabou de falar, o moreno esboçou um sorriso casto, que mostrava os caninos pontudos que você sempre admirou. Logo depois, ele deu um beijo rápido no topo da sua cabeça e tirou os braços de você, se sentando na cama de casal.

Ele ainda estava usando apenas a calça moletom cinza e o rabo de cavalo de antes estava bagunçado, mas de um jeito completamente adorável. Olhando desse ângulo, ele até parecia um felino, principalmente enquanto bocejava.

— A gente devia tomar banho e descer — A voz dele lhe tirou de seus pensamentos, fazendo você piscar algumas vezes antes de perceber que as íris douradas estavam lhe encarando — Os meninos já devem 'tá lá em baixo tomando café da manhã.

— Eu... — Você arqueou levemente as sobrancelhas quando pensou na possibilidade de os outros meninos descobrirem que você dormiu com Baji ontem. Além disso, teria que explicar tudo para Kazutora e se sentia mais patética ainda.

— Não precisa explicar nada pra eles, se não quiser — Keisuke disse, depois de soltar uma risada divertida ao ver a sua expressão — Eles também não vão fazer perguntas sobre o que aconteceu entre a gente.

Você assentiu levemente com a cabeça. Mesmo que Draken, Mikey e Mitsuya não fossem falar nada sobre o que aconteceu, você ainda queria conversar com Kazutora sobre isso. Ainda, também tinha que falar sobre a possibilidade de morar com ele por algumas semanas, só até a poeira baixar com Kisaki.

— Quer tomar banho primeiro? — A pergunta de Baji fez você se virar novamente na direção dele — Posso pegar outra cueca nova pra você.

— Não precisa — Você se apressou em falar, não querendo que ele gastasse outra roupa íntima novinha com você.

Por isso, você se levantou da cama e foi até a sua bolsa, tirando de lá um absorvente noturno. Sem saber se encarava Keisuke no momento, você resolveu ir logo para o banheiro, onde ainda estavam suas roupas da noite anterior e a toalha que você tinha usado.

Tentou ao máximo não demorar no banho, não querendo que Baji tivesse que esperar muito para tomar o dele. Por isso, em poucos minutos, você já estava trocando de roupa e saindo do banheiro, deixando que o moreno entrasse depois.

Enquanto Keisuke tomava banho, você foi até o seu celular ver se tinha alguma mensagem pendente, mas, assim que pegou o aparelho e tentou ligar, percebeu que estava descarregado. Com um suspiro frustado, você o jogou de volta dentro da bolsa e se sentou na cama de casal. Fez até uma nota mental para pedir o carregador do moreno emprestado, quando ele saísse do banho.

— Vamos? — Baji perguntou, assim que a porta do banheiro se abriu, fazendo você olhar na direção dele, com um pequeno sorriso involuntário.

— Me empresta o seu carregador?

— Eu acho que ele 'tá com o Mikey, mas assim que a gente descer eu peço a ele.

Você assentiu com a cabeça e se levantou da cama, indo na direção dele quando Baji estendeu a mão para você. Assim que a segurou, o moreno te puxou repentinamente para mais perto dele.

Quando os seus corpos colaram, antes que você tivesse tempo para reagir, ele selou os seus lábios em um beijo casto e calmo.

— Imaginei que você não fosse querer fazer isso na frente dos meninos — Ele disse, assim que suas bocas se afastaram — Então queria aproveitar mais uma vez.

Instantaneamente, você ficou vermelha, sem saber ao certo como reagir. Mas, mesmo que você não soubesse, Keisuke simplesmente adorava quando você ficava vermelha. Para ele, era a coisa mais fofa do mundo.

Quando vocês saíram do quarto, foram andando pelo corredor sem pressa. A medida que iam indo, você percebia que todos os quartos estavam com as portas abertas e vazios, provavelmente porque todos os outros já estavam acordados.

Por um segundo, se passou pela sua cabeça que Kazutora talvez já tivesse ido embora, mas, assim que você ouviu a voz dele, ainda sem entrar na cozinha, esse pensamento foi embora.

— [Nome] não me atende.

— Ela deve 'tá dormindo, cara — Você conseguiu reconhecer a voz de Draken.

— Pois é — Dessa vez, foi Mitsuya quem falou — Não deve ter acontecido nada demais.

— Eu devia ter deixado ela em casa — Um pequeno sorriso se formou nos seus lábios, como sempre acontecia quando você via o Hanemiya preocupado com você — Se aquele filho da puta tiver feito alguma coisa com ela...

— Ô, Kazutora — Mikey interrompeu ele, assim que você entrou na cozinha, com Baji atrás.

Somente agora, todos os outros três olharam na sua direção, fazendo suas bochechas corarem mais uma vez. Na noite anterior o álcool tinha lhe ajudado a se soltar e conseguir conversar mais com eles. Mas, agora, sóbria, e com todos esses olhares espantados não sua direção, sem sabia o que falar.

Caralho — Foi Kazutora quem quebrou o silêncio, ainda parecendo perplexo — Por essa eu não esperava.

— Cala a boca — Baji respondeu, revirando os olhos e entrando mais ainda na cozinha, pegando no seu braço e o puxando levemente, apenas para que você também entrasse — Fizeram o café?

— A gente ouviu a campainha tocando ontem e você indo direto 'pro quarto — Mikey explicou, dando de ombros — Imaginei que você 'tava com uma garota lá, só não sabia que era a namorada de Kisaki.

Ex namorada — Você disse baixinho, achando que nenhum deles ia ouvir. Mas, ao olhar para cima de novo, viu que, mais uma vez, todos os olhares estavam fixos em você.

— Vocês terminaram? — Draken perguntou, também com os olhos arregalados, fazendo suas bochechas corarem mais ainda.

Mesmo com toda a vergonha que estava sentindo, você concordou com a cabeça, vendo de relance um sorrisinho satisfeito nos lábios de Keisuke, mostrando os caninos pontudos.

Puta que pariu! — O grito que Kazutora deu não só assustou você, como a todos os outros meninos. Ele veio correndo na sua direção e lhe abraçou, tão forte que quase lhe sufocou. Além disso, ele depositou um beijo muito demorado na sua bochecha — Eu te amo, [Nome]. Já disse isso hoje? — Ainda estético, ele olhou para cima, como se estivesse falando com o além — Obrigado, Deus! — Gritou, arrancando risadas divertidas dos outros, inclusive sua.

— Mas, como foi que isso rolou? — Mitsuya perguntou, quando vocês já estavam todos sentados na mesa, tomando o café da manhã.

Depois de alguns minutos, Kazutora finalmente te largou e parou de gritar, mas só depois de sair da casa e começar a gritar de felicidade para as pessoas que passavam na rua.

— Eu cheguei em casa ontem e ele 'tava lá — Você respondeu, assim que acabou de dar um gole no chá que estava tomando — A gente discutiu e ele disse que eu devia parar de ser amiga do Kazu.

— Coitado — O Hanemiya disse, irônico, colocando mais duas panquecas no prato, logo em seguida — E você fez o que?

— Terminei com ele — Você respondeu, dando de ombros.

— E como foi que você veio parar aqui? — Foi a vez de Mikey perguntar.

— Ele ficou com raiva de uma coisa que eu falei — Preferiu não especificar que tinha dito que havia traído Kisaki com Baji e, por isso, ele ficou muito puto — Aí meu vizinho perguntou se eu podia ir pra a casa de alguém.

— Por que não me ligou?

— Eu achava que você ainda 'tava aqui — Respondeu a Kazutora, que verificou o celular mais uma vez, para ver se tinha alguma chamada ou mensagem sua— Aí eu vim pra cá e Keisuke abriu a porta.

Keisuke? — Draken perguntou, olhando especificamente para Baji, que apenas deu de ombros.

A verdade era que raras garotas com quem o moreno saia o chamavam pelo primeiro nome. Mas, por algum motivo que o loiro alto ainda não soube explicar, ele já tinha pedido para você o chamar desse jeito.

— Eu te liguei umas vinte vezes de manhã e você não atendeu — Kazutora disse, não prestando atenção no que tinha acontecido com Draken e Baji.

— Meu celular descarregou.

— Eu vou lá em cima pegar o carregador de Baji — Mikey disse e se levantou da cadeira logo em seguida, saindo da cozinha.

Você soltou um suspiro fundo quando se lembrou de que, provavelmente, Kisaki já teria mandado alguma mensagem para você a essa hora. A ideia de que o término de ontem não foi algo tão concreto quanto você queria, até porque ele estava bêbado, lhe deixava receosa de que você tivesse que, de fato, encarar ele mais uma vez e terminar com tudo de uma vez.

— Mas e aí? — A voz do seu melhor amigo lhe tirou de seus pensamentos, fazendo você se virar na direção dele — O que você quer fazer?

— Eu... — Você queria pedir para passar um tempo na casa dele, só até a poeira com Kisaki baixar, mas já se sentia mal com a ideia de ser um peso a mais na vida de Kazutora.

De relance, você olhou para Baji, que não precisou de mais de um segundo para entender o que estava acontecendo.

— Seria melhor se ela não voltasse pra casa agora — Ele disse, no seu lugar — Ela podia ficar no seu apartamento enquanto as coisas com Kisaki ainda 'tão mais tensas.

— É uma boa ideia — Kazutora respondeu, com aquele sorriso empolgado e infantil de sempre — Vai ser uma boa ter você lá em casa.

— Tem certeza? — Você perguntou, quase que imediatamente — Eu não quero atrapalhar...

— Que atrapalhar o que? — Ele lhe interrompeu, se levantando da cadeira e recolhendo os pratos em cima da mesa — Você é minha irmã, [Nome]. É claro que você não vai atrapalhar em nada.

Antes que você pudesse responder, ele se virou e foi até a pia, deixando toda a louça em cima do balcão.

Eu te avisei — O sussurro de Keisuke, perto do seu ouvido, quase fez você dar um pulo de susto. Mas, ao olhar para o lado e ver aqueles caninos à mostra em um sorriso perfeito, todo o seu corpo relaxou.

— Era bom vocês irem lá no seu apartamento pegar suas coisas — Draken disse, também se levantando — Eu e Mikey temos umas coisas pra resolver.

— E eu tenho que ir na faculdade concertar uma merda que fizeram na minha matrícula — Foi a vez de Mitsuya falar, indo atrás do mais alto, que caminhava em direção à saída.

— Tudo bem — Kazutora respondeu, chegando perto de vocês novamente — Eu e Baji ajudamos ela.

— Não precisam se preocupar... — Você começou a falar, mas foi interrompida pelo moreno ao seu lado.

— Você dirige? — Ele perguntou, apontando para Kazutora.

— Dirijo.

— Então eu vou pegar as chaves.

E foi assim que os dois lhe ignoraram completamente e saíram da cozinha, deixando você sozinha, com as sobrancelhas arqueadas. Uma risada fraca escapou dos seus lábios quando você se tocou que eles fizeram isso porque você estava, mais uma vez, se preocupando demais em ser um incômodo.

Por mais que Kazutora já tivesse deixado bem claro inúmeras vezes que você não era incômodo nenhum, você sempre insistia em ficar insegura em pedir ou aceitar algo dele. E a mesma coisa estava acontecendo agora com Keisuke.

— Você vem? — Pensando nele, Baji apareceu na cozinha, com aquele sorriso encantador de sempre.

Você concordou com a cabeça e se levantou da cadeira, o seguindo até fora da casa. Kazutora já estava dentro do carro, no banco do motorista. Já estava indo abrir a porta do banco de trás, quando Keisuke abriu a porta do passageiro da frente, mas não entrou.

— Não é melhor você ir na frente? — Quando ele perguntou isso, suas sobrancelhas se arquearam levemente.

— Você pode ir.

— Relaxe — O moreno respondeu, indo até onde você estava e abrindo a porta do banco de trás — Vai na frente com o Kazutora — Com uma piscadela, ele entrou no carro e fechou a porta, deixando você sem opção do lado de fora.

Depois de soltar uma risada fraca, mas divertida, você foi até a porta da frente e se sentou no banco ao lado do seu melhor amigo.

Não demorou muito até o Hanemiya arrancar com o carro e começar a dirigir em direção ao seu apartamento. Basicamente durante todo o trajeto, ele e Baji ficaram discutindo sobre um jogo de futebol que tinha acontecido na noite anterior.

Enquanto isso, os seus pensamentos se voltavam para a questão do término com Kisaki. O medo de ele ter realmente ficado puto por você ter dito que havia traído ele começava a assolar a sua mente. E se ele realmente tentasse fazer algum mal a você por causa disso?

Além disso, a conversa de vocês teve vários furos que deveriam ser tapados. A verdade é que o ideal seria vocês se encontrarem de novo apenas para finalizar de uma vez toda essa situação. Mas, só de imaginar ter que ficar cara a cara com ele agora seu estômago já embrulhava.

As coisas estavam boas até agora.

Você tinha conseguido sair de um relacionamento tóxico; tinha ficado com o cara que você sempre teve um tipo de interesse oculto; e ainda ia morar com o seu melhor amigo por um tempo.

Tirando a parte de o seu ex ser um completo louco que, com certeza, não vai deixar isso barato e vai vir atrás de você, tudo parecia até que bem.

— A gente bem que podia ir naquela sorveteria nova que abriu no bairro do lado, né? — Kazutora perguntou, assim que acabou de estacionar.

— A gente pode ir quando acabar de levar as coisas 'pro seu apartamento — Keisuke respondeu, já descendo do carro.

Vocês subiram as escadas até o primeiro andar e, assim que chegaram na frente da porta, você a abriu. Eles tentavam disfarçar, mas você conseguia ver claramente os dois olhando ao redor, procurando qualquer evidência de que Kisaki tinha voltado ali.

— Ele tem alguma cópia da chave? — Baji perguntou, no momento em que vocês entraram no apartamento.

— Tem — Respondeu, deixando a bolsa em cima da mesa — Vou ligar 'pro chaveiro vir tricar a fechadura essa semana ainda.

Agora que vocês três estavam dentro do apartamento, você pensava no que realmente seria necessário levar. Estava considerando que iria passar apenas poucas semanas na casa de Kazutora, então não precisaria de muita coisa.

— É bom a gente levar as comidas pra não estragarem — O Hanemiya disse, já caminhando na direção da cozinha.

— Não tem muito, mas pode pegar tudo o que tem aí. As sacolas ficam no armário da esquerda.

Assim que acabou de falar, você entrou no corredor e foi na direção do seu quarto. Chegando lá, se apressou em pegar uma mala média que tinha e colocar suas principais roupas lá dentro. Também separou alguns sapatos e bolsas, além de ter pegado os seus ítens de higiene pessoal.

Não demorou mais do que alguns minutos para que tudo estivesse dentro da mala, que já estava fechada. Olhando ao redor, você foi obrigada a soltar um suspiro de cansaço quando percebeu que ainda teria que deixar muita coisa para trás, pelo menos durante esse período.

Pelo menos, isso tudo estava acontecendo por um bem maior.

Você tinha, finalmente, se livrado do seu namorado tóxico. Sair da sua casa por um tempo era um preço pequeno a se pagar.

— Caralho, quarto bonito — Mais uma vez no dia, a voz de Baji tirou você dos pensamentos.

— Obrigada — Respondeu, não conseguindo evitar de esboçar um sorriso tímido, tentando não manter o contato visual com ele.

— Vai levar só essa mala?

— É — Mesmo que meio sem jeito, você respondeu — Não quero levar muita coisa, já que eu não vou passar muito tempo lá.

— Não sei em quanto tempo Kisaki vai parar de correr atrás de você — Keisuke foi até a mala e a pegou com uma das mãos, começando a arrastar ela para fora do quarto — Mas, qualquer coisa, a gente volta aqui e pega o resto das suas roupas.

— Obrigada — Seu tom firme fez com que ele parasse de andar e lhe encarasse. Desde que se conheceram, foram raras as vezes em que você falou sem ser em um tom tímido e baixo — De verdade, obrigada por ter me ajudado ontem e por continuar me ajudando até agora.

— Não precisa agradecer — Agora, ele soltou a mala e começou a andar na sua direção — Foi um prazer te ajudar ontem e continua sendo um prazer te ajudar até agora.

Devagar, Baji segurou as laterais do seu rosto com ambas as mãos, deixando seus rostos bem próximos. Uma estranha calmaria tomou conta do seu corpo, enquanto ele encostava a testa na sua, fazendo o calor da pele dele radiar por você inteira.

Estar com Keisuke lhe deixava leve e fazia você acreditar que, de alguma forma, até poderia acabar confiando mais em si mesma. Estar com ele fazia você perceber que sempre mereceu que te tratassem melhor do que seu ex tratava.

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