𝚏𝚒𝚏𝚝𝚎𝚎𝚗
— [Nome], pega um saco de ração fechado, por favor? — A voz de Emma atingiu os seus tímpanos, fazendo com que você largasse a lista de contas da loja e olhasse na direção da loira.
— Outro?
— Pois é — Ela respondeu, dando de ombros, enquanto você saia de trás do balcão e ia rapidamente até o depósito, pegando o que ela tinha pedido mais cedo — Tem muitos gatos aqui. A gente podia pensar em algum jeito de divulgar o pet shop 'pra mais pessoas virem adotar.
— Acho que podemos fazer uma campanha de publicidade nas redes sociais deles — Você não teve nenhuma dificuldade em pegar o saco enorme de ração e entregar para Emma, que acabou soltando um suspiro cansado por causa do peso — Vou anotar isso e podemos falar com o chefe na próxima semana.
— É uma boa.
Eram raras as vezes em que você e Emma trabalhavam juntas no mesmo turno. Geralmente, a loja não era tão movimentada, então apenas uma de vocês era o suficiente para realizar todas as tarefas. Mas, ultimamente, várias pessoas tinham vindo na loja para fazer compras para os seus pets. Nessa última semana, vocês basicamente trabalharam juntas todos os dias.
Isso era extraordinário para você. Emma era uma companhia incrível e você realmente estava começando a sentir que ela era, de fato, alguém que você pudesse chamar de amiga. Além de poder dividir o trabalho, as vezes árduo, as conversas entre vocês nunca cessavam.
Provavelmente pelo fato de você namorar um dos melhores amigos o cara com quem ela está ficando, mas os assuntos e as fofocas pareciam não ter fim.
Além disso, você pôde conhecer um pouco mais sobre a loira. Assim como você, ela também estava de férias da faculdade e trabalhava meio período apenas para ter uma renda extra. De início ela parecia uma daquelas patricinhas enjoadas que você não suportaria, mas acabou que ela era uma pessoa extraordinária e sempre lhe deixava o mais confortável possível.
Você já tinha falado com ela sobre suas inseguranças e crises de ansiedade. Ela não compartilhava dos mesmos sentimentos, o que fez você cogitar que seria difícil para ela lidar com isso. Mas, assim como no aniversário de Mitsuya e todas as outras vezes que vocês saíram juntas depois disso, ela soube controlar extraordinariamente bem a situação.
Emma era perita em lhe deixar calma e menos ansiosa, principalmente em interações sociais. Ela nunca lhe deixava sozinha e sempre era o mais prestativa possível. Você nem conseguia contar quantas vezes já tinha agradecido a loira por causa disso, e ela sempre respondia da mesma maneira, dizendo que, já que vocês eram amigas, você nunca teria que agradecer a ela por isso.
— Você vai 'pra casa de praia do Mikey no final de semana? — A pergunta dela fez suas sobrancelhas se franziram um pouco.
— Eu nem 'tava sabendo disso — Sua resposta veio com uma risada sincera.
— Acho que eu posso ter estragado uma surpresa então — Agora, sua risada estava mais alta, mas a loira deu de ombros — O Kazutora ou o Baji devem falar com você sobre isso ainda esses dias.
— Próxima semana vai ter um feriado na terça, né? — Você esperou ela responder com um "uhum" antes de continuar. Com o feriado, vocês passariam uns seis dias na casa de praia. Talvez fosse bom sair um pouco da rotina e passar um tempo com outras pessoas que não fossem Kazutora, Baji e Emma — Você vai?
— Draken me chamou ontem — Ela respondeu, dando de ombros — As vezes eu realmente não sei qual é a dele. Até onde eu entendi, vai ser uma viagem só 'pros próximos.
— Mas vocês ficam a bastante tempo — Foi a sua vez de dar de ombros — Faz sentido ele te chamar.
— É, talvez.
Emma tentava não parecer triste, mas você sabia que ela estava. Esse relacionamento entre ela e Draken já rolava durante mais de um ano. Eles já nem ficavam com outras pessoas, mas ele ainda não decidiu oficializar nada. Você sabia que tudo o que ela queria era um pedido de namoro e que eles fossem, finalmente, um casal oficialmente. Era até triste pensar que você e Baji começaram a namorar tão cedo e ela e Draken ainda estivessem nesse rolo eternamente sem oficializações. Você até já tinha cogitado conversar com Kazutora sobre isso, mas chegou à conclusão de que esse não era um assunto seu e não seria legal você se meter nele assim.
O máximo que você conseguia fazer por ela era ser a melhor ouvinte que conseguisse. Sempre que podia, você estava lá para ouvir ela falando sobre as frustrações de não ter sido pedida em namoro ainda pelo loiro. E, todas as vezes, você não sabia bem o que responder, o que acabava arrancando risadas divertidas dela. Geralmente, você levava isso como uma vitória.
— Se realmente for acontecer, podemos ir juntas — Você falou, tentando tirar aquele ar triste do rosto bonito dela — E vai ser divertido passar uns dias na praia.
— Com certeza — Finalmente, aquele sorriso encantador voltou ao rosto dela — Mas, eu só vou se você for.
— Por que?
— Eu não vou ser a única mulher em uma casa com meia dúzia de homens — A resposta dela arrancou uma risada alta e divertida sua. No final das contas, aquele clima triste tinha ido embora de vez e vocês já estavam falando sobre o que levariam para a suposta viagem que você nem sabia se iria mesmo acontecer.
Mesmo o movimento tendo sido bem agitado nos últimos dias, você e a loira conseguiram fechar a loja mais cedo. Já que estavam largando no mesmo horário nos últimos dias, se tornou muito comum vocês andaram até casa juntas. Emma morava um pouco mais longe que Kazutora, mas pegava um ônibus em uma parada perto da casa dele. Por isso, vocês iam andando juntas até mais da metade do caminho, nunca parando suas bocas, que conversavam sem parar.
Parecia que vocês eram amigas à anos, não só à alguns meses, mas isso era bem mais confortável do que você imaginou que seria. Além disso, tudo ficava ainda melhor pelo fato de os pares românticos de vocês serem do mesmo grupo de amigos. As vezes, você questionava se ela continuaria sendo sua amiga se as coisas entre você e Baji não dessem certo, mas você lutava arduamente para não deixar esse sentimento de insegurança atingir a sua mente.
Nas últimas semanas, você estava conseguindo controlar extraordinariamente bem sua insegurança. Claro que as vezes você se olhava no espelho e encontrava mais defeitos do que gostaria. Também acontecia de as vezes você se perguntar o porquê de um cara tão incrível quanto Kazutora ter uma melhor amiga que nem você ou o porquê de um cara tão cobiçado quanto Baji lhe escolher para ser a namorada dele.
Mas, mesmo que você ainda não tivesse superado 100% esses pensamentos, gostava de se parabenizar pelas pequenas conquistas. O que antes afligia sua mente todo o tempo, agora aparece em pensamentos espaços.
— Se algum dos meninos te falar sobre a viagem hoje, me manda mensagem, 'tá? — A voz de Emma lhe tirou de seus pensamentos, fazendo você perceber que já haviam chegado na parada de ônibus dela — E, se você for, a gente pode arrumar nossas malas juntas.
Você sorriu, genuinamente entusiasmada, e assentiu com a cabeça, enquanto via a loira acenar, entrando no ônibus que já tinha chegado. Seu coração se aqueceu com a ideia de vocês passarem mais tempo juntas fora do trabalho. Essa amizade fazia bem para você, e você sabia muito bem disso.
Já que estava sozinha, colocou seus fones de ouvido e deixou que a música afastasse todos os seus pensamentos conflitantes e fizesse você se concentrar apenas nas coisas boas. Tudo estava indo muito bem. Desde que você foi morar com Kazutora, a amizade de vocês estava mais forte do que nunca. Seu relacionamento com Baji evoluía de uma forma relativamente rápida, mas nada que lhe deixasse desconfortável ou nervosa. Você estava se acostumando a conviver com as duas versões completamente diferentes dele e já conseguia distinguir qual era qual apenas pela forma como ele olhava para você. Você também tinha se aproximado mais de Draken, Mikey e Mitsuya, que vivam na casa de Kazu e, quando ele ia para a casa de algum deles, lhe arrastava junto. E, por fim, tinha sua amizade com Emma, que vinha crescendo a cada dia.
Fazia muito tempo que você não pensava em Kisaki. Nunca se passou pela sua cabeça que você sentiria saudades dele, e realmente nunca sentiu. No início, estava com medo de ele vir atrás de você de alguma forma. O ego do loiro era gigantesco. Grande o suficiente para ele não deixar barato você ter terminado com ele, e ainda dito na cara dele que havia o traído. Você achava que ele tentaria se vingar, mas já fazia meses que você não o via e nem tinha notícias sobre o paradeiro dele. Não era de se estranhar, já que ele nunca fez questão de lhe apresentar para os amigos dele. Você nem sequer sabia com quem ele andava. E, sinceramente, nunca achou que agradeceria por isso.
— Como foi o trabalho hoje, mana? — A voz do Hanemiya atingiu seus tímpanos, fazendo um sorriso involuntário brotar nos seus lábios, como sempre.
Obviamente, ele tinha acabado de sair do banho. Estava usando apenas uma bermuda moletom e tinha uma toalha de rosto pendurada na nuca dele. Os cabelos relativamente longos ainda estavam úmidos, mas, por mais que o corpo de Kazutora conseguisse prender o olhar de qualquer mulher com uma facilidade assustadora, era para o sorriso fofo que olhava. Você sempre amou aquele sorriso.
— Passei o dia conversando com Emma — Respondeu, colocando sua bolsa em cima do sofá e indo na direção da cozinha, preparada para ver o que tinha para o jantar.
— Vou mandar uma mensagem 'pro seu chefe dizendo que vocês duas fofocam mais do que trabalham — Uma risada divertida escapou dos seus lábios, mas seu rosto ficou relativamente sério quando percebeu que não tinha nada para comer. Talvez fosse melhor vocês pedirem alguma coisa — Não vamos jantar em casa — Como se pudesse ler os seus pensamentos, o Hanemiya falou.
— Vamos sair?
— Eu vou 'pra casa do Draken, comer por lá, e você vai sair com o Baji.
— Vou? — Suas sobrancelhas se franziram no mesmo momento e você pegou seu celular para ver se tinha alguma mensagem do moreno. Acabou arregalando um pouco os olhos quando percebeu que tinham 17 mensagens perdidas dele — Porra — Sussurrou, se apressando em escrever um pequeno pedido de desculpas.
— Não precisa se preocupar — Kazutora disse, depois de soltar uma risada estridente por causa do seu leve desespero — A gente imaginou que você não fosse responder por causa do trabalho. Eu 'tava com ele quando ele mandou essas mensagens.
— Sabe que horas ele vem?
— Daqui a umas duas horas — De forma relaxada, ele se jogou no sofá, batendo no lugar ao lado dele, fazendo um gesto para que você também se sentasse — Você tem tempo de escolher uma roupa; tomar banho; depois surtar porque acha que a roupa não 'tá boa; aí escolher outra; depois começar a chorar porque essa roupa também não serve; e, finalmente, perceber que você fica muito gata com qualquer coisa.
Você revirou os olhos, mas tinha um sorriso estampado nos seus lábios enquanto você se sentava ao lado dele no sofá. Sua cabeça estava apoiada no peito nu dele, ao mesmo tempo em que ele fazia um carinho suave nos seus cabelos. Kazutora era seu porto seguro. A única pessoa que jamais, em momento algum, fizesse você se sentir insegura sobre si mesma. Ele era a única família que lhe restava e você não saberia o que teria feito se ele não estivesse na sua vida. O calor do corpo dele fez com que você relaxasse ainda mais, se deixando fechar os olhos por causa do conforto e da segurança que você sentia. Poderia passar o resto da vida assim e nunca reclamaria.
— Inclusive, preciso falar um negócio com você — O tom dele não era sério, então você não se mexeu, mas ficou um pouco irritada quando ele sessou o carinho no seu cabelo — No final de semana, os meninos 'tão planejando ir 'pra casa de praia do Mikey.
— Hm — Foi tudo o que saiu dos seus lábios, enquanto você pegava a mão dele e colocava de novo no topo da sua cabeça, em um sinal para ele voltar a fazer o carinho. Sinceramente, você nem tinha processado direito o que ele tinha falado antes.
— E eu achei que seria uma boa você ir também.
— Tudo bem — Respondeu, ainda com os olhos fechados, aproveitando o carinho que ele voltou a fazer.
— Sério? Não vai colocar nenhum problema, nem falar que vai ter muita gente que você não conhece?
— Quem vai?
— Eu, Baji, Draken, Mikey e Mitsuya.
— Então não vai ter ninguém que eu conheço — Disse, de forma simples, ainda jogada no peitoral dele.
— E Emma também vai, parece.
— Eu também conheço ela — Finalmente, você saiu da posição que estava e se sentou direito, olhando diretamente nos olhos do seu melhor amigo — Eu quero ir com vocês e agradeço por terem me convidado também.
De início, Kazutora passou alguns segundos lhe encarando, com os olhos levemente arregados e sobrancelhas erguidas. Você sabia que ele estava assim porque, se fosse a você de alguns meses atrás, colocaria todo tipo de defeito na situação e arrumaria mil e uma desculpas para não ir. Mas você não queria mais ser assim. Estar com aquelas pessoas lhe deixava extremamente confortável e você gostava muito de cada um deles. Queria explorar os limites da sua zona de conforto e sair dela um pouquinho. Além disso, seria bom ir para a praia e sair um pouco da cidade. Estava precisando espairecer faz um tempo e essa era a melhor oportunidade.
— Quem é você e o que fez com minha irmã?
A expressão no rosto dele não era mais de surpresa. O Hanemiya tinha um sorriso orgulhoso no rosto, o que fez suas bochechas corarem um pouco, mas não ousou desviar o olhar.
— Sou alguém que não quer mais viver com medo do que os outros vão pensar de mim — Respondeu, com um sorriso meio triste, mas esperançoso — E você me ajudou a chegar até aqui, então obrigada.
Sem falar mais nada, Kazutora lhe envolveu com os braços dele e lhe puxou para o mais perto possível. Ele lhe apertava de forma firme, mas não forte o suficiente para lhe machucar. Você rapidamente retribuiu o gesto, enterrando o rosto na curvatura do pescoço dele, deixando que o cheiro familiar invadisse as suas narinas, fazendo você se lembrar de como é ter uma família.
— Eu te amo muito, sabia disso? — Ele perguntou e você teve que usar toda a sua força para não chorar.
— Eu também te amo, Kazu.
Passaram alguns longos segundo assim, sem falarem absolutamente nada. Só aproveitando o calor do corpo um do outro; o sentimento de segurança e conforto; as batidas de seus corações, que podiam ser sentidas já que seus corpos estavam colados; o cheiro familiar que vocês sentiam um no outro. Tudo.
— Eu não quero estragar o clima — A fala dele arrancou um grunhido irritado seu, que estava gostando muito da posição em que estavam — Mas se você não for se arrumar agora, não vai dar tempo de surtar por causa da roupa antes que o Baji chegue.
O jantar com Keisuke. Você tinha se esquecido completamente.
— Puta que pariu! — Você gritou, antes de desfazer o abraço com o Hanemiya e depositar um beijo forte na bochecha dele, saindo correndo logo em seguida e se trancando no quarto que você passou a chamar de seu. Mesmo de dentro do cômodo, ainda conseguiu ouvir a risada divertida de Kazutora acoando pela sala.
Por mais que você já tivesse sumido do campo de visão dele, o Hanemiya ainda tinha um sorriso orgulhoso no rosto. Para ele, não existia facilidade maior no mundo do que ver você feliz. Só o seu sorriso sincero já era o suficiente para fazer ele sorrir também.
Só quando as bochechas dele começaram a doer de tanto sorrir, ele pegou o celular em cima do centro na frente dele e abriu algumas conversas no WhatsApp. Tinham mensagens de Draken perguntando se ele tinha um carregador extra de controle do PlayStation. Também tinha algumas de Mikey dizendo que podia passar na casa dele para buscar Kazutora daqui a uma hora. E Mitsuya perguntando se tinha alguma bermuda dele na casa do Hanemiya. Ele decidiu responder todas depois. Tinha algo mais importante que ele queria resolver.
Kazutora:
Ela vai.
Não demorou mais do que alguns poucos segundos para a resposta chegar.
Baji:
Beleza. Vou conversar
sobre isso com ela mais
tarde.
Kazutora:
Só não força a barra.
Baji:
Não vou.
Pode deixar.
O Hanemiya esboçou um sorriso fraco. Ele já estava planejando te chamar para ir à casa de Mikey no feriado, mas não esperava que Keisuke fosse pedir para ele fazer isso. Baji queria, mais do que tudo, que você fosse com eles, mas como ele também sabia que era um assunto meio delicado para você, pediu para o Hanemiya conversar sobre isso com você, até porque, ninguém te conhecia melhor do que o seu irmão.
Já tinha se passado mais de uma hora desde que você foi voando até o seu quarto. Kazutora já tinha assistido três episódios da temporada nova de Demon Slayer e nada de você aparecer. Ele estava começando a cogitar a ideia de invadir o seu quarto e ver se você estava viva, quando ouviu o som de uma das portas se abrindo. Só então, ele pausou o anime e olhou na sua direção, não conseguindo evitar de arquear as sobrancelhas.
— Se você não fosse minha irmã, eu com certeza daria em cima de você.
Ele riu quando você revirou os olhos.
— Muito obrigada, maninho — Respondeu, levemente sarcástica — Mas prefiro não imaginar um universo paralelo em que você dá em cima de mim.
— Acho que em todos os universos paralelos eu sou seu irmão, maninha — Ele deu uma piscadela na sua direção, o que acabou arrancando uma risada alta sua, que já ia na direção dele e se jogava no sofá novamente — Mas, sério, você 'tá linda — Você apenas sorriu de lado e desviou o olhar do dele, envergonhada — E você ainda não sabe reagir a elogios.
— 'Tá na minha lista de coisas pra fazer.
O Hanemiya soltou uma risada alta, bem no momento em que a campainha tocou. Você já sabia quem era e, por mais que já estivessem namorando, não conseguia evitar de se sentir levemente nervosa, mas não era uma sensação ruim. Se levantou do sofá e foi abrir a porta, dando de cara com o moreno de cabelos longos que dominava os seus pensamentos desde que vocês se conheceram.
— Uau — Baji disse, enquanto olhava para você por inteiro — Sinceramente, eu não tenho nem palavras.
— Ainda bem — Você respondeu, indo um pouco mais para perto e depositando um selinho rápido nos lábios dele — Assim eu não tenho que pensar como responder a outro elogio.
— Se divirtam, crianças! — Kazutora gritou, de dentro da casa, ainda jogado no sofá — Vai dormir em casa hoje, [Nome]?
— Uhum — O murmuro saiu dos seus lábios, alto o suficiente para que ele ouvisse, enquanto você saia do apartamento — Te amo.
— Também te amo.
Você fechou a porta atrás de si, pegando a mão que Keisuke havia estendido na sua direção. Suas sobrancelhas franziram levemente quando percebeu que não estavam indo em direção ao carro dele, que estava estacionado na calçada. Ao invés disso, Baji puxava levemente a sua mão, lhe guiando pelo entardecer. Se agradeceu mentalmente por ter trazido um casaco e o vestiu. A noite estava fria e você não sabia que iriam caminhando até o restaurante, que, inclusive, era ridiculamente perto da sua casa, mas você nunca tinha o visto.
Era meio que um bar, só que muito organizado. Ele era uma gracinha e tinha bastante gente lá dentro. Você imagino que aquele lugar fosse novo, já que nunca tinha ouvido falar da existência dele até agora. Ao ver sua reação de surpresa, o moreno esboçou um sorriso satisfeito, mostrando os caninos que você tanto gostava.
— Abriu semana passada — Ele disse, como se conseguisse ler os seus pensamentos — Achei que seria legal a gente jantar por aqui hoje.
— Eu adorei — Você tinha um sorriso bobo no rosto, enquanto entravam no estabelecimento e um garçom levava vocês até uma mesa no canto interno do lugar, perto da parede de vidro.
Já tinha se passado algumas semanas quando você percebeu que sempre se sentia 100% confortável ao lado de Keisuke. Parte do mérito - talvez a maior parte - era dele. O moreno sempre fez questão de prestar atenção quando você ficava ansiosa e fazia de tudo para impedir isso. Mesmo que ele tivesse sido precipitado com toda aquela conversa de vocês estarem namorando, Baji estava indo com bastante calma depois disso, sempre prestando atenção em você e indo no seu ritmo, que, por incrível que pareça, estava mais acelerado do que de costume.
— Kazutora me disse que você ia 'pra praia com a gente — Ele esperava que você ficasse levemente nervosa com o início dessa conversa, mas você apenas assentiu com a cabeça murmurou um "uhum", enquanto engolia um pedaço da torta que vocês tinham pedido de sobremesa — E você 'tá bem com isso?
— É claro que eu 'tô um pouco nervosa — Respondeu, de forma simples, dando de ombros — Mas não é como se Kazu tivesse me obrigado a ir e eu conheço todo mundo que vai, então acho que vai ser de boa.
Um sorriso genuíno tomou conta dos lábios dele, como se estivesse orgulhoso do que você acabou de falar, e isso foi o suficiente para fazer suas bochechas ficarem levemente vermelhas e você desviar o olhar do moreno.
— Se alguma hora lá você se sentir meio ansiosa, eu e Kazutora vamos estar lá 'pra te ajudar com qualquer coisa, 'tá legal?
— Eu sei — Mais uma vez, seus olhos se voltaram para as íris cor de bronze, que faziam um calor aconchegante e instigante percorrer por todo o seu corpo — E eu amo muito vocês por isso.
Baji arqueou uma das sobrancelhas, mas você nem teve tempo de raciocinar o porquê. Pela sua visão panorâmica, achou que tivesse visto alguém conhecido, ou melhor, alguém que você desejava não ter conhecido.
Kisaki estava parado do outro lado da rua, com uma sacola na mão. O loiro olhava fixamente para você, atrás da enorme parede de vidro do bar. Todo o seu corpo congelou e sua mente travou. Estava sentindo mais frio do que era possível naquele lugar. Nem percebeu quando sua mão começou a tremer, só em sustentar o olhar com aquele homem. As íris dele exalavam ódio, enquanto observava você em um jantar com outro homem que não fosse ele. Talvez Kisaki já soubesse que você e Baji estavam namorando. As notícias correm rápido e Hanma estava em uma das festas na casa de Keisuke, o que fez você presumir que, no mínimo, eles tinham conhecidos em comum. Além disso, Baji tinha lhe apresentado para todo mundo como namorada dele. Por algum motivo, você se sentiu apavorada. O que Kisaki poderia fazer se descobrisse? Será que ele já descobriu? E se ele viesse tirar algum tipo de satisfação com você? Ele lhe ameaçaria? Tentaria partir para a violência como quando vocês terminaram? Keisuke ficaria ao seu lado caso alguma coisa acontecesse?
Porra... você já estava quase chorando.
Eram tantas inseguranças trazias à tona de uma só vez. Você estava indo tão bem. Todas aquelas perguntas e mais um zilhão delas começaram a se passar pela sua cabeça, até que uma mão quente repousou delicadamente sobre a sua.
Você tomou um susto, mas não quebrou o contato. Olhou na direção do toque e percebeu que era Keisuke. De repente, se lembrou de onde estavam e o que faziam ali. Ele tinha um sorriso leve no rosto, mas você sabia que ele sabia. Você não estava nada bem.
— O que aconteceu? — A voz dele era calma e branda, do mesmo jeito que ficava toda vez que ele falava com você durante uma crise de ansiedade.
Você teve que piscar algumas vezes, antes de sair do transe e olhar na direção da janela mais uma vez. Kisaki não estava lá. Aquilo tudo tinha sido coisa da sua cabeça? Fazia um tempo desde que você não pensava mais no seu ex-namorado - se é que ele poderia ser chamado assim -, mas talvez você ainda estivesse aquele resquício de medo de que um dia ele volte para acertar as contas. O loiro não tinha gostado nem um pouco de como as coisas tinham acabado, e você sabia muito bem disso.
Foi somente quando Baji se virou na direção em que você estava olhando que você parou de encarar a parade de vidro, onde achou que Kisaki estivesse segundos atrás. Fez o seu melhor para tenta disfarçar. Sabia que podia confiar em Keisuke para qualquer coisa, mas realmente não queria falar sobre isso, pelo menos não agora.
— Não foi nada — Respondeu, tendo que fazer um grande esforço para sua voz não sair chorosa — Achei que tivesse visto um colega da faculdade.
Ele não acreditou nem um pouco e você sabia muito bem disso. Mesmo assim, o moreno lhe lançou um olhar reconfortante e esboçou um sorriso entristecido, mas caridoso.
— Vou pedir a conta — Ele disse.
— Não precisa — Se apressou em falar, não querendo que a noite acabasse por sua causa — Ainda podemos ficar mais um pouco e conversar — Eram essas as palavras que saiam da sua boca, mas você só queira ir para casa e tentar esquecer o que acabou de acontecer.
— Me desculpa, mas eu 'tô um pouco cansado — Baji disse, mas você sabia que era mentira, principalmente quando ele forçou um bocejo claramente falso, pouco antes de chamar a atenção de um garçom e fazer um sinal para que ele lhes trouxesse a conta — Podemos ir 'pra sua casa e assistir algum filme?
— Obrigada — O sorriso que você esboçou no seu rosto era sincero e agradecido, mas isso só fez com que os caninos de Keisuke ficassem ainda mais à mostra.
— Não sei por que você 'tá me agradecendo. Sou eu quem 'tô cansado demais — Devagar, ele pegou na sua mão mais uma vez, a segurando com um pouco mais de força, como se falasse que estaria ali para qualquer coisa que você precisasse — Então eu que devia 'tá agradecendo.
Seu sorriso ficou um pouco maior do que antes e Keisuke só quebrou o contato visual com você depois que o garçom chegou com a conta. Depois de saírem alguma vezes, você desistiu de tentar pagar, pelo menos, a sua parte do jantar.
Enquanto o moreno pegava o cartão para passar na maquininha, você olhou vagamente para a janela mais uma vez, para o exato local onde achou ter visto Kisaki mais cedo. Podia ter até sido coisa da sua cabeça, como se as inseguranças, que você tanto estava tentando reprimir, voltassem para lhe assombrar. Mas, mesmo assim, você ainda não conseguia tirar da cabeça aquele olhar. Podia até ser que ele não estivesse ali naquela hora, mas o olhar de raiva dele era tão real que fariam seu corpo tremer de medo durante a noite.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top