05. I'll get you
Saímos do shopping às pressas, praticamente correndo, com Mikan tagarelando atrás de mim e Yelena mantendo a típica expressão de frieza, mesmo depois de termos escapado por pouco de uma enrascada. O som de nossos passos apressados ecoava pelo estacionamento, e eu ainda sentia o coração acelerado, não pelo esforço, mas pela confusão de pensamentos que giravam como um tornado na minha cabeça.
O que, exatamente, tinha acontecido lá dentro? Honestamente, eu mal lembrava do motivo inicial da briga com o Cobra Kai. Só sabia que tinha algo estranho acontecendo entre Mikan, Yelena e aquele tal de Keene. Desde que nos mudamos para cá, Mikan parecia agir de um jeito diferente quando Yelena estava por perto, ainda mais do que o normal. Eu sempre soube que ele era afim dela, mesmo com as tentativas patéticas de esconder. Mas, claro, só Yelena parecia não perceber. Ou talvez ela percebesse e decidisse ignorar.
De qualquer forma, o que começou como uma discussão qualquer virou uma pancadaria generalizada quando o idiota do moicano e os dois patetas que sempre o acompanham apareceram. Eles completaram o caos, como se tivessem o talento especial de me tirar do sério em questão de segundos.
Eu apertava o passo, tentando afastar da mente aquela cena que insistia em voltar, Eli. Em cima de mim.
Só de lembrar, senti o rosto esquentar. Passei a mão pelos braços, como se pudesse apagar a sensação incômoda que aquilo causava. Certamente, ele estava com as mãos onde não deveria estar, mas a questão não era só essa. Era a forma como ele me olhou naquele momento, aquele segundo em que ele parecia tão desconcertado quanto eu.
Mikan, que nunca perdia a chance de me provocar, percebeu a mudança no meu semblante.
— Ei, Lauren, tá aí? — Ele chamou, com aquele tom zombeteiro que me irritava.
Não respondi. Continuei andando, tentando afastar os pensamentos, mas ele claramente continuou.
— Me diz uma coisa, eu estou alucinando ou por um acaso você perdeu a postura por causa daquele carinha do moicano?
Parei de andar, cerrando os punhos, mas Mikan parecia se divertir ainda mais.
— Eu sabia! Você tava toda confusa, parecendo uma adolescente apaixonada quando ele tava em cima de você.
Respirei fundo, virei para ele e dei um soco no ombro dele, forte o suficiente para fazê-lo recuar um passo. Apaixonada? Que coisa mais estranha de se dizer quando eu e o garoto estávamos tentando matar um ao outro.
— Cala essa boca, Mikan. — Murmurei, a voz baixa, mas carregada de irritação.
Yelena, como sempre, apenas observava com um ar de indiferença, como se estivesse acima desse tipo de discussão.
— Você não deveria deixar isso te afetar. — Ela disse, finalmente quebrando o silêncio, mas de um jeito direto. — Ele é só um idiota com cabelo feio, e você merece alguém melhor, digo, um oponente melhor.
— Sei disso. — Resmunguei, voltando a andar.
Mas, por mais que eu dissesse isso, parecia impossível tirar a lembrança da cabeça. Não era só a cena em si. Era o fato de que, por um momento, senti algo que não queria admitir. Algo que fazia minha mente brigar contra meu próprio orgulho. E isso, mais do que qualquer chute ou golpe, era o que mais me incomodava.
⋆౨ৎ˚ ⟡˖ ࣪
No dia seguinte, chegamos cedo ao dojô, como de costume. O ambiente ainda estava quieto, apenas o som das portas deslizantes e os passos cuidadosos sobre o tatame quebravam o silêncio. Vestimos nossos uniformes azul-escuro com o dragão detalhado em prata nas costas. Aquela marca carregava um peso que não era apenas estético, era uma lembrança constante da disciplina, dos treinos exaustivos e da responsabilidade de representar o nome do dojô no regional.
Eu respirei fundo, tentando me concentrar. Mas, como uma agulha cutucando o fundo da mente, a lembrança do shopping ainda me incomodava. Por mais que eu quisesse me convencer de que não era nada, os flashes da briga e, principalmente, a cena constrangedora com Eli, apareciam de novo. Sacudi a cabeça discretamente, como se pudesse espantar os pensamentos.
O sensei Yama, como sempre, estava impassível e severo. Ele parecia especialmente empenhado em nos forçar até o limite hoje.
— Formem fileiras! — Ele ordenou com sua voz firme, e imediatamente nos posicionamos.
Yama começou com exercícios de resistência. Agachamentos intermináveis, seguidos de flexões, depois uma série de chutes altos e rápidos, que ele corrigia com precisão. "Mais alto, Lauren!" ele gritava, e eu esticava a perna até sentir os músculos queimarem.
Depois de uma hora extenuante, ele mudou o foco para combates de resistência. Yama andava pelo tatame como um predador, analisando cada movimento nosso. Ele parava ocasionalmente para corrigir um golpe, ajustar uma postura ou, em alguns casos, criticar abertamente a falta de intensidade.
Kumiko, por outro lado, estava com outro plano. Assim que a parte física chegou ao fim, ela entrou no dojô com sua habitual serenidade.
— Agora, vamos trabalhar as armas — Ela anunciou, segurando um bastão longo e elegante.
Ela nos dividiu em dois grupos, um para o treinamento com bastões e outro para espadas de madeira. Eu fui para o grupo das espadas, enquanto Yelena e Mikan ficaram com os bastões.
Kumiko era meticulosa no ensino das armas. Cada golpe, cada giro tinha que ser perfeito. Ela andava pelo tatame, corrigindo nossa pegada, postura e ângulo do corte.
— Lauren, mantenha o foco no centro da lâmina. O equilíbrio está na precisão. — Disse ela enquanto ajustava minha posição.
Eu respirei fundo, tentando absorver cada instrução. A espada de madeira tinha um peso diferente, exigia mais controle e força. Mesmo assim, eu me esforçava para não demonstrar cansaço ou fraqueza, mantendo meus movimentos precisos e fluidos.
Do outro lado do tatame, Yelena estava numa troca intensa com Mikan. Apesar de ele ser mais forte, ela compensava com velocidade e técnica. A cada ataque, o som dos bastões ecoava pelo dojô, quase como um ritmo de combate.
Kumiko e Yama observavam tudo, suas expressões avaliando cada detalhe.
O treino avançava, e o suor escorria pelo meu rosto, grudando os fios do cabelo na minha testa. Mas, mesmo com o corpo gritando por descanso, eu continuava. O regional estava próximo demais para que qualquer distração ou fraqueza interferisse.
Eu empunhei a espada novamente, o olhar fixo no boneco de madeira à minha frente. Ali, pelo menos por algumas horas, consegui esquecer os pensamentos inconvenientes e focar apenas em um objetivo, vencer.
Durante o treino, enquanto todos estavam focados em seus exercícios, Kumiko chamou meu nome. Levantei o olhar, surpresa, mas obedeci imediatamente. Ela acenou para que eu a seguisse até um canto do dojô, longe dos outros.
— Lauren — Começou ela, com aquele tom sereno, mas firme que sempre me fazia prestar atenção. —, está tudo bem?
Franzi o cenho, confusa.
— Claro, sensei. Por que não estaria?
Ela cruzou os braços, analisando meu rosto como se pudesse ler os pensamentos que eu mesma estava tentando ignorar.
— Você parece desequilibrada hoje. Algo está te incomodando. É a pressão da competição? Ou... O coração?
Senti um arrepio de irritação com a menção do coração. Endireitei a postura, respondendo rapidamente.
— Não, sensei. Não tem nada a ver com isso. É só... Um garoto. Ele anda me irritando. Mas não é nada importante.
Kumiko arqueou uma sobrancelha, como se não estivesse totalmente convencida, mas manteve o tom calmo.
— Raiva pode ser uma distração perigosa... Mas também pode ser uma arma poderosa. Canalize isso. Use ao seu favor. Sentimentos como amor ou ódio são passageiros, Lauren. Eles vêm e vão, mas o karatê... O karatê é para sempre.
Aquelas palavras ficaram ecoando na minha mente enquanto eu fazia uma reverência.
— Vou dar o meu melhor, sensei.
Ela assentiu, um leve sorriso em seu rosto, antes de me mandar voltar ao centro do tatame.
Caminhei de volta para o treino com a espada de madeira em mãos, o peso dela parecendo mais familiar agora. Respirei fundo e posicionei os pés, sentindo o equilíbrio se ajustar.
O boneco de madeira estava à minha frente, inerte, mas na minha mente, ele assumia outra forma. Um adversário, um obstáculo, ou talvez até o rosto de alguém que me irritava mais do que eu estava disposta a admitir.
Girei o corpo com precisão, a espada cortando o ar em movimentos hábeis. Desferi um golpe forte contra o boneco, seguido de um giro que utilizava todo o peso do meu corpo, transformando a raiva em força. Os olhos de Kumiko e Yama estavam sobre mim, mas dessa vez, eu não me importava.
Cada golpe tinha propósito. Cada movimento, uma intenção clara.
Aos poucos, o mundo ao meu redor parecia desaparecer. Tudo o que importava era o som da madeira contra madeira e a sensação do controle fluindo pelo meu corpo. Naquele momento, percebi que Kumiko estava certa. A raiva poderia ser moldada, transformada em algo útil, algo poderoso.
E eu precisava dessa vitória. Não apenas pela competição, mas por mim mesma. E estava disposta a tudo para consegui-la.
O dia já estava se despedindo, e o dojô começava a esvaziar. O ar cheirava a madeira polida e suor. O som dos passos de outros alunos ecoava enquanto se retiravam, deixando para trás o silêncio quebrado apenas pelo som rítmico dos golpes da minha espada contra o boneco de treino.
Minhas mãos estavam em chamas, a pele áspera começando a reclamar do esforço contínuo. Sentia os dedos resvalarem no cabo da espada, úmidos de suor, e imaginava que bolhas começavam a se formar. Mas eu não ia parar. Não podia parar.
Olhei ao redor e percebi que, além de mim, só restavam Yelena, Mikan e os senseis. Yelena parecia distraída em outro canto do tatame, e Mikan estava guardando os equipamentos. Achei que Yelena viria me chamar para irmos embora, mas, ao escutar passos, percebi que não era ela.
Era Yama.
Engoli em seco, o coração disparando levemente ao vê-lo se aproximar. Havia algo em sua presença que parecia preencher o ambiente, o ar ficando mais pesado. Ele parou a poucos passos de mim, a postura ereta e as mãos cruzadas atrás do corpo.
— Lauren. — A voz dele era grave, firme. — Ouvi sua conversa com Kumiko. Sobre sua raiva.
Ergui a cabeça, tentando manter a compostura, mas o olhar dele era como uma lâmina cortando minha confiança.
— Sim, sensei. — Respondi, com uma voz controlada. — Mas eu não vou deixar que isso me atrapalhe.
Yama não respondeu imediatamente. Em vez disso, avançou mais um passo, pegou minha mão e a apertou. Ele forçou meus dedos a se cerrarem em um punho firme, a pressão dele firme, mas sem machucar.
O olhar frio dele encontrou o meu e eu senti meu corpo inteiro tenso.
— Use essa raiva. Não para atrapalhar, mas como motor. Deixe que ela te leve à vitória. Destrua seu oponente. Mesmo que isso exija derramar sangue.
Suas palavras me fizeram franzir o cenho. Eu recuei ligeiramente, confusa.
— Mas... — Comecei, hesitante. — Isso me desclassificaria.
Ele soltou minha mão e deu um passo para trás, cruzando as mãos novamente atrás do corpo.
— Não estou falando apenas da competição. — Disse ele, com um tom quase sombrio. — Você precisa dar uma lição a quem te tira do sério. Machuque seu oponente antes que ele pise no tatame e continue a destruir você aos poucos.
As palavras dele me atingiram como um golpe.
— Sensei, eu... — Tentei responder, mas ele ergueu a mão, me silenciando.
— Não hesite. — Ele disse, com uma firmeza que parecia inabalável. — Você não é idiota o suficiente para sentir piedade. Ataque primeiro. Sempre. Não deixe seu oponente respirar.
Com isso, ele deu meia-volta e se afastou, deixando-me sozinha no tatame.
Soltei o ar que nem percebi que estava prendendo, meus punhos relaxando enquanto sentia o peso das palavras dele pairar sobre mim. Algo dentro de mim se revirava em confusão.
A ideia de machucar alguém fora do tatame me incomodava, mas, ao mesmo tempo, havia uma verdade desconfortável no que ele disse. Eu precisava encontrar um jeito de usar a raiva, de canalizar tudo isso para minha vantagem, mas... Até que ponto?
Olhei para a espada em minhas mãos, respirando fundo. Independentemente do que aquilo significasse, eu sabia de uma coisa, não podia falhar. A vitória era minha única opção.
A voz de Yelena me tirou do torpor, cortando o fio dos meus pensamentos como uma espada afiada.
— Lauren, vamos. Mikan já está no carro, reclamando que vai morrer de fome se demorarmos mais. — Ela disse, cruzando os braços e olhando para mim com um ar de impaciência.
Pisquei algumas vezes, voltando à realidade. Meus dedos ainda seguravam o cabo da espada com força desnecessária, como se fosse a única coisa que me ancorava. Soltei um suspiro profundo e deixei o equipamento no suporte, acenando com a cabeça.
— Estou indo.
Segui Yelena pelo dojô, os passos ecoando no chão de madeira. Lá fora, a noite já havia caído completamente, e a luz dos postes iluminava o estacionamento com uma tonalidade amarelada. Mikan estava encostado no carro, os braços cruzados e um olhar impaciente que logo se dissolveu quando ele abriu um sorriso zombeteiro.
— Até que enfim. Achei que estava considerando morar no dojô. — Disse ele, enquanto eu abria a porta traseira do carro e me acomodava sem responder.
O motor roncou e o carro ganhou vida, Yelena assumindo o banco do passageiro enquanto Mikan dirigia. O som deles discutindo trivialidades preencheu o interior do veículo quase instantaneamente, como um rádio ajustado na frequência de suas provocações intermináveis.
— Eu juro que, se você errar outra curva, Mikan, eu mesma vou dirigir e te deixar a pé. — Disse Yelena, a voz carregada de sarcasmo.
— Relaxe, minha linda bonequinha russa. Se alguém sabe dirigir aqui, sou eu. — Ele retrucou, rindo enquanto fingia girar o volante de forma exagerada.
— Isso explica por que quase bateu em um poste na semana passada. — Ela rebateu, os olhos semicerrados.
Eu estava ali, entre eles, mas ao mesmo tempo não estava. Mantive os olhos fixos na janela, observando a cidade desfilar em sombras e luzes do lado de fora. O vidro refletia minha expressão pensativa, e, por um momento, me vi diferente, como se estivesse encarando uma versão de mim mesma que não reconhecia.
As palavras de Yama ainda ecoavam na minha mente, reverberando como um tambor distante. Ataque primeiro. Não deixe seu oponente respirar. Destrua.
Era isso que eu queria? Ou era apenas o que eu precisava ouvir para justificar o que estava sentindo?
O carro fez uma curva suave, e a conversa animada entre Mikan e Yelena continuava, mas eu me mantinha em silêncio. Estava em guerra comigo mesma, uma batalha silenciosa que parecia mais exaustiva do que qualquer treino.
Parte de mim queria acreditar que essa raiva, esse combustível que me queimava por dentro, era algo que eu podia controlar. Mas outra parte – uma parte que me assustava – sussurrava que talvez já tivesse perdido o controle.
Olhei de relance para Yelena e Mikan. Eles pareciam tão... Livres. Mesmo com as constantes provocações, havia algo leve entre eles, algo que me escapava.
E então, havia meu pai. Uma figura tão presente na minha mente, mas tão ausente na minha vida. Por que eu ainda buscava aprovação de alguém que parecia incapaz de dar isso?
Fechei os olhos por um momento, deixando o som do carro e das vozes se misturarem em um zumbido indistinto. Eu estava decidida. A vitória era o único caminho, e se isso significava abraçar essa raiva, que assim fosse.
Mas, no fundo, uma pequena voz questionava, e depois da vitória, o que sobra?
O silêncio que preenchia o carro parecia um reflexo perfeito do que se passava dentro de mim. Não falei nada durante o trajeto de volta para o apartamento, ignorando as tentativas de Yelena e Mikan de puxar conversa ou me envolver em suas piadas de sempre. Assim que estacionamos, Yelena sugeriu animadamente que pedíssemos pizza para o jantar, mas balancei a cabeça, recusando.
— Podem pedir. Não estou com fome. — Disse, enquanto já caminhava em direção ao meu quarto, fechando a porta antes que qualquer um dos dois pudesse insistir.
A escuridão do cômodo parecia me engolir quando me joguei na cama, sentindo o colchão ceder sob o peso do meu corpo. Passei as mãos no rosto, tentando organizar os pensamentos, mas eles vinham em uma enxurrada, cada um mais caótico que o outro.
Tudo parecia uma bagunça. A briga no shopping, o treino exaustivo, as palavras de Yama, o olhar duro de Kumiko... E, acima de tudo, a cena no chão do shopping. Eli sobre mim. Seu olhar hesitante, o rubor em suas bochechas, e, ao mesmo tempo, a irritante sensação de impotência que aquilo me causava.
Por que ele mexe tanto comigo?
Cerrei os punhos, os dedos tremendo. Eu queria ser forte. Queria tomar as rédeas da minha vida, ser dona das minhas próprias decisões. Mas quanto mais tentava me convencer disso, mais percebia que não estava no controle de nada.
Quando estava com meu pai, tudo girava em torno de suas expectativas sufocantes, do peso de ser "boa o suficiente" para ele. E quando saí de casa, achando que estava me libertando, caí em outra armadilha. Agora, eram os meus senseis que guiavam cada passo que eu dava. Yama, com sua autoridade imponente e palavras cortantes, Kumiko, com sua sabedoria que parecia tão inalcançável.
Levantei uma mão diante do rosto, observando-a à luz fraca que entrava pelas frestas da janela. Era uma mão forte, calejada, mas por que tremia agora? Fechei os olhos, tentando afastar a lembrança de Eli, mas ela voltava como uma maré alta. A sensação do corpo dele próximo ao meu, a posição desconfortável, suas mãos, uma delas pousando onde não devia.
— Droga. — Murmurei, cerrando os olhos com força e enfiando o rosto no travesseiro.
Queria gritar. Sentia o peito pesado, como se houvesse uma pedra esmagando meu coração. Peguei o travesseiro e pressionei-o contra a cara, soltando um grito abafado que fez meus pulmões arderem.
Quando finalmente tirei o travesseiro, meus olhos estavam marejados, mas a raiva era ainda mais intensa.
— Eu vou matar aquele idiota. — Murmurei entre os dentes cerrados, a voz baixa e carregada de veneno.
A imagem de Eli veio à minha mente novamente, desta vez caída, submissa, como se eu pudesse esmagá-lo com um único golpe. Apertei o travesseiro com força, tentando conter o turbilhão que crescia dentro de mim.
Não era apenas sobre ele. Era sobre tudo. Sobre minha falta de controle, minha impotência, a constante sensação de que estava sendo moldada pelas mãos de outras pessoas.
Deixei o travesseiro cair no chão, sentindo o peso da exaustão me alcançar. Me virei para o lado, encarando a parede, mas sem nenhuma vontade de dormir.
Se Yama estava certo, eu precisava canalizar essa raiva, usá-la a meu favor. Mas agora, naquele instante, parecia que ela me dominava, me consumia. E eu não sabia ao certo como, mas algo estava claro, Eli Moskowitz não sairia impune.
Obra autoral ©
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