04. Annoying girl
O sangue fervia em minhas veias enquanto eu caminhava para longe do grupo que acabávamos de cruzar. Lauren. Sempre ela. Parecia que toda vez que nossas trajetórias se cruzavam, eu acabava saindo derrotado de alguma forma. Era como se ela carregasse um dom particular para me irritar e me desarmar com aquelas palavras afiadas e olhares de desprezo.
Sim, eu sabia que, talvez, minhas ações há alguns dias atrás não fossem exatamente brilhantes. Tentativas mal calculadas de impressionar, piadas que não aterrissaram bem, e a tentativa de usá-la como distração para Miguel ter um tempo com Jean... Ok, talvez eu merecesse uma parte do desprezo dela. Mas, por que ela tinha que ser tão... Agressiva?
E o mais frustrante era como ela conseguia essa combinação absurda de ser incrivelmente irritante e ainda assim, de alguma forma, impossível de ignorar. Pequena, com o rosto esculpido como se tivesse saído de uma pintura renascentista, mas sempre com uma expressão que mais parecia uma ameaça silenciosa. Um anjo com punhos cerrados. E o jeito que ela me olhou hoje, como se eu fosse algo sujo grudado na sola do sapato dela... Meu maxilar ainda estava travado só de lembrar.
Mas não era só ela. A garota russa que estava ao lado, a amiga, aparentemente, também tinha algo perturbador. O olhar dela, frio e afiado, parecia atravessar cada um de nós como se estivesse calculando pontos fracos. Aquilo me deixou desconfortável. Eu estava acostumado a adversários no tatame, mas elas... Lauren e aquela amiga, pareciam ser predadoras fora dele também.
Eles eram do tal Fierce Dragons. Já tinha ouvido falar deles, mas ver de perto era diferente. Havia algo no jeito que se moviam, no jeito que olhavam. Como se tivessem sido treinados para destruir qualquer um que se colocasse no caminho, e não só nos tatames.
Eu respirei fundo, tentando afastar esses pensamentos da cabeça. Não podia deixar isso me consumir. Era só mais uma equipe rival, certo? Nada que não pudéssemos lidar.
— Mano, tá na Terra ainda ou já tá no inferno pensando na garota do gelo? — A voz de Demetri me puxou de volta à realidade.
— Do que você tá falando? — Rebati, tentando disfarçar a irritação enquanto passava a mão pelo moicano, um hábito nervoso que eu tinha quando as coisas me incomodavam.
Demetri soltou uma risada.
— Só tô dizendo que você tava com aquela cara de quem levou um soco na boca do estômago. Aposto que ela te deixou abalado de novo.
Miguel, que estava andando ao lado, olhou para mim com um sorriso de canto.
— Elas são meio assustadoras, né? Não vou mentir.
Franzi o cenho, lançando um olhar rápido para ele.
— Você tá falando da Lauren ou da amiga dela?
— As duas. — Ele riu, levantando as mãos. — A Lauren parece que vai te matar com palavras, e a outra... Sei lá, parece que ela nem precisa falar. Só olha e pronto. Ela parece mesmo um soldado russo, tipo coisa de filme.
Eu bufei, mas ele não estava errado.
— Elas podem parecer assustadoras, mas não são nada que eu não possa lidar. — Menti, tentando soar mais confiante do que realmente estava.
Demetri revirou os olhos.
— Ah, claro. Porque você tá indo tão bem até agora.
O comentário dele fez Miguel soltar uma gargalhada, e eu bufei de novo, irritado.
— Vocês dois podem calar a boca?
Eles riram ainda mais, mas eu não liguei. Minha mente estava em outro lugar. Eu ainda me sentia humilhado pela pista de patinação, pelo jeito que ela me fez parecer impotente na frente de todo mundo. E agora, de novo, com aquele olhar condescendente e palavras cortantes...
Eu não ia deixar isso passar. Não ia deixar ela ter a última palavra.
Enquanto seguimos para o cinema, tentei me concentrar no filme, na competição que estava por vir, em qualquer coisa que me distraísse. Mas, no fundo, eu sabia que aquela garota estava sob a minha pele. E isso só me deixava ainda mais irritado.
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Estávamos finalmente saindo da sala de cinema, talvez aliviados por não termos pego a mesma sessão que o trio diabólico do Fierce Dragons, mas antes mesmo que pudessemos comentar sobre os efeitos gráficos absuramente ruins do filme, o som do grito ressoou pelo corredor, carregado de fúria e ofensas, chamando alguém de vadia. Imediatamente, todos nós paramos, trocando olhares curiosos e cautelosos. A voz era familiar, algo que não conseguíamos ignorar. Decidimos nos aproximar para ver o que estava acontecendo.
Quando viramos o corredor, a cena que se desenrolava era quase surreal. Lá estavam eles, Tory Nichols e Robby Keene, junto com alguns outros do Cobra Kai, em plena luta contra ninguém menos que o trio dos Fierce Dragons.
No centro da confusão estava Lauren, que parecia ser o foco da ira de Tory. Ao lado dela, o cara asiático — Mikan, se bem me lembrava do nome — parecia manter dois adversários ocupados ao mesmo tempo, enquanto a garota russa, Yelena, exibia uma técnica tão precisa e brutal que até Tory, que sempre considerei uma das lutadoras mais agressivas, estava tendo dificuldades.
Eu não pude evitar dar uma risada quase indignada. Ver Tory sendo desafiada naquele nível não era algo que acontecia com frequência.
— É sério isso? — Murmurei, cruzando os braços por um instante enquanto assistia.
Demetri colocou as mãos nos ombros de Miguel e em mim, puxando-nos ligeiramente para trás.
— Agora seria uma boa hora para irmos embora, né? — Sugeriu ele, a voz carregada de nervosismo.
Miguel concordou com um aceno rápido.
— Concordo totalmente. Isso não é problema nosso, e eu definitivamente não quero entrar nessa confusão.
Mas, enquanto eles estavam prontos para recuar, eu não conseguia tirar os olhos da cena. O sangue subiu à minha cabeça. Lá estava Lauren, como sempre, parecendo intocável, mas também... Irritante demais para ignorar. E Robby? Só de olhar para ele, eu sentia minha raiva crescer.
Cerrei os punhos, trocando olhares entre Lauren e Robby. Algo dentro de mim gritou que era a minha chance de acabar com a frustração que vinha acumulando nos últimos dias.
— Quer saber? Eu tô sedento por uma boa briga faz tempo. — Declarei, rindo e avançando antes que qualquer um dos meus amigos pudesse me segurar.
Sem hesitar, gritei um "aí" que ecoou pelo corredor, chamando a atenção de alguns caras do Cobra Kai. Dois deles vieram na minha direção imediatamente.
O primeiro tentou me acertar com um soco direto, mas eu bloqueei com facilidade, agarrando o braço dele e torcendo para o lado. Ele gritou de dor enquanto eu o puxava para frente e o derrubava com um chute giratório direto nas costelas. O segundo veio logo em seguida, tentando me pegar de surpresa com uma rasteira baixa. Pulei para evitá-la, girando no ar e acertando um chute com o calcanhar bem no rosto dele. Ele caiu no chão, grogue, enquanto eu sorria, sentindo a adrenalina correr nas veias.
— Isso é tudo que vocês têm? — Zombei, ajustando a postura enquanto esperava o próximo.
Enquanto isso, Demetri estava atrás de mim, murmurando algo que soava como um "droga" abafado. Ele não teve escolha senão entrar na briga quando mais caras vieram para cima dele e de Miguel.
Miguel se defendeu com maestria, desviando de um soco e contra-atacando com um chute lateral que pegou seu oponente no peito, fazendo-o recuar. Ele girou no próprio eixo, acertando um soco forte na lateral do rosto de outro cara que tentou atacá-lo pela esquerda.
Demetri, por outro lado, parecia mais relutante, mas mesmo assim conseguiu se virar. Um dos caras avançou contra ele com os braços estendidos, tentando agarrá-lo. Demetri desviou para o lado no último momento e usou o peso do adversário contra ele, empurrando-o para frente e o fazendo tropeçar. Antes que o cara pudesse se recuperar, Demetri acertou um chute direto na lateral das pernas dele, derrubando-o de vez.
Eu não pude deixar de sorrir ao ver meus amigos se virando tão bem, mas minha atenção foi rapidamente puxada de volta quando Robby avançou na minha direção.
— Ah, então você resolveu entrar nessa, Falcão? — Ele provocou, com aquele sorriso presunçoso que sempre me irritava.
— Não poderia perder a festa... — Respondi, ajustando minha postura de combate.
Ele tentou me acertar com um chute alto, mas eu me abaixei a tempo, girando e contra-atacando com um chute baixo que pegou a perna dele. Robby cambaleou, mas recuperou o equilíbrio rápido demais para meu gosto. Ele avançou de novo, dessa vez com uma combinação de socos rápidos que consegui bloquear, mas senti o impacto em meus antebraços.
— Você tá lento hoje, Keene. — Zombei, mas ele apenas riu.
Nos engajamos em uma sequência intensa, trocando golpes e bloqueios enquanto o caos continuava ao nosso redor. E de relance, vi Lauren derrubar mais um oponente com um golpe giratório impecável, o olhar dela ainda carregado de raiva. Meu sangue ferveu mais uma vez. Eu não sabia dizer se era admiração ou pura irritação, mas algo nela me fazia querer lutar ainda mais forte.
Eu sabia que essa briga ia deixar marcas, físicas e talvez, mentais. Mas, no fundo, não conseguia evitar. Era nisso que eu era bom, lutar e provalmente, arrumar brigas que sequer são minhas também. E, se Lauren ou qualquer outra pessoa quisesse me enfrentar, eu estaria pronto.
Keene conseguiu me acertar um golpe na lateral do rosto, me fazendo cambalear para trás. A dor subiu quente e latejante, mas o que mais me irritava era o sorriso satisfeito dele, aquele típico de alguém que acha que está no controle.
Minha raiva explodiu, e sem pensar duas vezes, avancei com tudo, empurrando-o com força no peito. Ele tropeçou e caiu para trás, se levantando quase no mesmo instante, mas eu já tinha outros planos. Minhas pernas se moviam automaticamente, guiadas pela fúria acumulada enquanto eu ignorava Keene e seguia direto na direção de Lauren.
Ela estava ali, parada, as mãos cruzadas atrás do corpo. O olhar dela era uma mistura de desdém e desafio, e aquele sorriso cínico... Aquilo me queimava mais do que qualquer soco ou chute.
— Sabe, eu acho covardia bater em mulher — Comecei, sem tirar os olhos dela, ajustando minha postura de luta. —, mas você é diferente. Você é mais cruel que muitos caras que eu já enfrentei. Então, que tal mostrar do que o tal de Fierce Dragons é feito?
Ela não respondeu imediatamente, apenas descruzou os braços, inclinando a cabeça ligeiramente para o lado. O sorriso dela cresceu, como se estivesse se divertindo.
— Vamos ver então. — Disse ela, com um tom quase preguiçoso.
Eu ajustei minha postura, determinado. Não queria machucá-la, não realmente. Mas, se pudesse derrubá-la, fazê-la provar o gosto da derrota, isso bastaria.
Avancei com um soco direto, mirando o ombro dela, mas ela desviou com facilidade, movendo-se como se estivesse dançando. Tentei um chute giratório logo em seguida, mas ela inclinou o corpo para trás, me deixando acertar apenas o ar.
— Esse moicano ridículo só te deixa mais patético agora que está claramente perdendo para uma garota! — Ela zombou, com um sorriso sarcástico que quase me fez perder o controle.
Senti a raiva subir ao peito como fogo, queimando cada pedaço de sanidade que me restava. Gritei algo entre os dentes e avancei novamente, dessa vez mais rápido e agressivo. Foi aí que consegui acertar um golpe direto no braço dela.
Ela deu um passo para trás, levando a mão ao local como se estivesse sentindo dor. Seu rosto mudou, como se o impacto tivesse sido pior do que parecia. Eu me senti estranhamente culpado. Não era minha intenção machucá-la assim, e por um momento hesitei. Dei um passo à frente, tentando me aproximar para ver se estava tudo bem.
Então ela riu.
A risada dela foi alta, quase cruel, e antes que eu pudesse reagir, ela girou o corpo e me acertou um chute certeiro na boca do estômago. A dor foi como um soco de ferro, me fazendo dobrar o corpo e cambalear para trás.
— Você é ainda mais idiota do que parece. — Ela disse, o tom carregado de desprezo. — Depois de me usar como uma isca barata naquela lanchonete, ainda tem a audácia de sentir empatia por mim? Me poupe, Moskowitz.
Minha visão ficou turva por um segundo, mas, em vez de recuar, usei o momento a meu favor. Estava no chão, mas deslizei ligeiramente, desequilibrando-a com uma rasteira. Ela caiu de costas com um impacto que ecoou na minha cabeça. Eu me levantei num impulso e me joguei sobre ela, levantando o punho no ar, como se estivesse disposto a dar o golpe final.
Lauren arregalou os olhos por um breve segundo. Era a primeira vez que eu via algo próximo de surpresa ou, talvez, vulnerabilidade neles. Mas antes que eu pudesse sequer comemorar o momento, ela abaixou o olhar, e o meu seguiu.
Meu outro braço estava apoiado no peito dela, um contato que eu nem tinha notado antes. O calor subiu ao meu rosto como uma onda instantânea, me fazendo recuar rapidamente, quase tropeçando ao me afastar.
— Droga... — Murmurei, sentindo um desconforto inexplicável.
Ela se levantou devagar, o olhar fixo em mim enquanto cruzava os braços na frente do corpo, como se tentasse se proteger de algo invisível. Pela primeira vez, ela parecia tão desconcertada quanto eu. Porém, o silêncio entre nós foi quebrado pelo som de alguém gritando no fundo. Virei a cabeça e vi Keene e Mikan ainda em combate, os movimentos rápidos e ferozes como se estivessem dispostos a se matar. Não muito longe, Tory e a garota russa trocavam golpes igualmente brutais, cada uma tentando superar a outra.
Antes que mais caos pudesse acontecer, um segurança surgiu no corredor, a voz grave e irritada ecoando.
— CHEGA! Eu vou chamar a polícia!
Foi como um balde de água fria. Todos pararam no mesmo instante, trocando olhares rápidos. Sem dizer uma palavra, começamos a correr, cada grupo em uma direção diferente.
Corri com Demetri e Miguel, sentindo meu coração bater no ritmo de um tambor. Olhei uma última vez para trás e vi Lauren. Os olhos dela encontraram os meus por um breve momento, cheios de algo que eu não conseguia decifrar. Talvez fosse a mesma confusão que eu sentia.
Demetri quebrou o silêncio quando estávamos a uma distância segura.
— Eu disse que era melhor termos ido embora! — Ele estava quase sem fôlego, mas a indignação na voz dele era inconfundível.
Miguel riu nervosamente, limpando o suor da testa.
— Por favor, me lembrem de nunca mais sair com vocês dois.
Mas eu mal os ouvi. Minha cabeça ainda estava presa naquele momento. Na confusão de golpes, olhares e algo que parecia ser muito mais do que apenas raiva.
Demetri me olhou com aquele misto de incredulidade e reprovação que ele dominava tão bem. Estávamos caminhando para longe do caos, mas ele não parecia conseguir engolir o que tinha acabado de ver.
— Eli... Sério mesmo? Você teve coragem de bater na Lauren? — Ele enfatizou o nome dela como se estivesse falando de algum tipo de entidade sagrada. — Ela é uma garota, cara!
Abri a boca para responder, mas Miguel foi mais rápido.
— Bater? — Perguntou ele, com uma risadinha debochada. — Quem apanhou foi ele.
Ele riu ainda mais alto, provavelmente se lembrando do chute certeiro que Lauren me deu no estômago. A imagem provavelmente parecia engraçada de fora, mas eu estava longe de achar graça. Eu apenas revirei os olhos, mostrando o dedo do meio para ele, sem nem me importar com o nível de infantilidade disso.
— Vai se ferrar, Miguel. — Resmunguei, mas ele apenas riu ainda mais, como se minha irritação fosse combustível para a diversão dele.
Mas, enquanto eles continuavam com o teatro, rindo e fazendo comentários que eu mal ouvia, minha mente estava presa em outro lugar.
Aquela cena na pista ainda ecoava na minha cabeça como um filme sendo repetido no volume máximo. Não era só o fato de termos brigado, de novo, ou o fato de eu ter, tecnicamente, conseguido derrubá-la, mesmo que por alguns segundos. Era o jeito como tudo terminou.
A expressão dela quando me viu em cima dela, o olhar que mudou de surpresa para... Algo que eu não conseguia decifrar. E o pior, o que me deixava mais desconcertado, era que eu sabia que minha própria reação não tinha sido muito diferente. Por mais que eu tentasse apagar aquilo da memória, o rubor no meu rosto e a forma como eu quase tropecei ao me afastar dela me faziam sentir... Vulnerável. Eu? Vulnerável? Isso era ridículo.
Mas eu sabia de uma coisa, Lauren não era do tipo que deixava as coisas passarem. Ela não só lembraria dessa cena como, provavelmente, já estaria planejando como me destruir por completo. Ela parecia ser exatamente esse tipo de pessoa. E, no fundo, por mais que eu não quisesse admitir, havia outra possibilidade que me incomodava mais. Não era só o medo de que ela quisesse se vingar. Era o constrangimento. Porque eu sabia que, se a visse de novo, não teria coragem de encará-la.
Não por medo de uma surra, disso, eu podia lidar. Era outra coisa. Algo que eu não queria nomear, porque admitir seria pior do que levar qualquer golpe dela.
— Cara, você tá calado demais. — Disse Miguel, cutucando meu ombro. — Ainda pensando no chute que levou?
Revirei os olhos, balançando a cabeça para tentar espantar os pensamentos.
— Não enche, Miguel.
Mas ele apenas riu de novo, e eu sabia que a zombaria toda não ia parar tão cedo. O problema era que, dessa vez, eu não conseguia revidar com a mesma intensidade de sempre. Minha mente ainda parecia perdida, como se repetisse aquela cena constrangedora em um looping, e isso me irritava, ao mesmo tempo que me deixava completamente desconcertado, e eu simplesmente odeio essa sensação.
Oh imagenzinha véia podi, mas foi a melhor que eu conseguir gerar 😭.
Obra autoral ©
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