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☆彡彡 νσтєм є ¢σмєηтємミミ☆

O vestiário do Camp Nou estava particularmente barulhento naquela manhã. Era o terceiro dia sob o comando de Hansi Flick, e todos ainda tentavam se ajustar ao novo ritmo de trabalho. Uns diziam que ele era metódico demais, outros que era exatamente o que precisávamos. Eu estava em silêncio, sentado no banco com as mãos ocupadas, ajeitando as ataduras. Tentava não demonstrar, mas ainda sentia um leve desconforto na coxa direita por conta de um chute mal dado no treino anterior.

Marc Guiu, meu amigo mais próximo no time, estava ao meu lado, como de costume. Ele amarrava as chuteiras com a precisão de um relojoeiro, enquanto mantinha aquela expressão séria que nunca o abandonava. Resolvi puxar assunto para distrair a cabeça.

- E aí, o que você acha do novo técnico? - perguntei, sem muito entusiasmo.

Marc parou por um segundo, como se estivesse avaliando minhas intenções, e depois deu de ombros.

- Parece bom. Sabe o que está fazendo, pelo menos.

- Só isso? Nenhuma crítica?

- O que importa é o que a gente vai mostrar no campo, não? Se jogarmos como jogamos contra o Real Madrid, não vai ter técnico que nos salve.

Senti a cutucada, mas ele tinha razão. Nosso desempenho no último jogo havia sido decepcionante, e isso tinha culminado na demissão de Xavi. Agora, com Flick no comando, tínhamos uma chance de recomeçar, mas o peso das expectativas era enorme.

- Você sempre tão otimista... - provoquei, mas sem convicção.

Marc riu baixinho e balançou a cabeça, enquanto o preparador físico entrava no vestiário, nos chamando para o treino.

///

Os treinos com Flick eram uma montanha-russa. Ele parava constantemente, gesticulava, explicava, exigia mais intensidade, mas nunca perdia a calma. Era como se cada palavra dele tivesse um propósito claro, um objetivo bem definido. Eu, que costumava brilhar nos treinos, me sentia pressionado a dar ainda mais de mim.

Naquela manhã, ele focou em jogadas de transição rápida. A ideia era tornar nosso ataque menos previsível. Tudo fazia sentido, mas implementar isso na prática era outra história. Algumas jogadas davam certo, outras nem tanto, e Flick não hesitava em corrigir na hora.

- Hector, você precisa antecipar a jogada! Não espere a bola chegar até você! - ele gritou em um momento, me pegando de surpresa.

Assenti rapidamente e me posicionei melhor. Marc, que estava perto, riu.

- Parece que o brilho leonino está ofuscado hoje.

- Cala a boca e joga, Guiu.

Apesar da brincadeira, eu estava frustrado. Não gostava de errar, ainda mais quando sabia que podia fazer melhor.

Depois de quase duas horas de treino intenso, Flick finalmente apitou, sinalizando o fim da sessão. Alguns jogadores caíram no gramado, exaustos, enquanto outros se dirigiam ao banco para tomar água. Fiquei no campo por mais alguns minutos, tentando recuperar o fôlego.

Foi então que a vi.

Na arquibancada, sentada casualmente com um sorriso que parecia brincar com o mundo, estava Leonie Flick.

Meu coração deu um salto, e não foi por conta do esforço físico. Eu sabia quem ela era, obviamente. Tinha visto fotos dela em algumas reportagens sobre o técnico, mas vê-la pessoalmente era outra coisa. Ela parecia... diferente. Não sei explicar, mas havia algo nela que capturava minha atenção de um jeito desconcertante.

- Hector, o que foi?

A voz de Marc me trouxe de volta à realidade.

- Nada. Só... estou cansado.

Marc seguiu meu olhar e, quando viu Leonie, soltou um assobio baixo.

- Ah, a filha do chefe. Interessante.

- Nem começa.

Ele riu, mas eu sabia que a situação não era tão engraçada assim. E ficou ainda menos engraçada quando, ao final do treino, Leonie desceu das arquibancadas e veio diretamente na minha direção.

///

- Oi, Hector.

A voz dela era suave, quase melodiosa, mas havia algo mais ali. Uma confiança, talvez?

- Oi.

Tentei soar educado, mas frio. Não queria passar a mensagem errada.

- Gostei do treino. Você se destacou.

- Obrigado.

Ela sorriu de um jeito que me deixou desconcertado. Não era só um elogio. Havia algo mais nas palavras dela, algo que me fazia sentir como se estivesse sendo avaliado.

- Só queria me apresentar. Sou Leonie, mas imagino que você já saiba disso.

Ela estendeu a mão, e, por educação, aceitei o gesto.

- Hector Fort. Mas imagino que você também já saiba disso.

Ela riu, e o som foi mais leve do que eu esperava.

- Justo. Então, acho que estamos quites.

Antes que a conversa pudesse ir mais longe, Hansi Flick apareceu.

- Leonie, vamos?

Ela virou para o pai, ainda sorrindo.

- Claro, papai. Estava só conhecendo um dos seus jogadores.

Flick olhou para mim por um segundo, como se quisesse medir minha reação, mas não disse nada. Assim que os dois se afastaram, Marc apareceu ao meu lado, com um sorriso malicioso no rosto.

- Você está encrencado, Fort.

Suspirei, sentindo o peso da situação.

- Nem começa, Marc. Nem começa.

///

Naquela noite, enquanto estava deitado na cama, tentei afastar Leonie dos meus pensamentos, mas foi inútil. Algo nela me intrigava, algo que ia além do fato de ser filha do nosso técnico. E, no fundo, eu sabia que aquilo era só o começo.

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