Diferente de como você estava quando foi falar com o seu pai, seus passos não vacilavam enquanto você passava com determinação pelos portões da casa dos Ackerman. Talvez fosse justamente pela sua conversa com Erwin ter sido tão boa que você não se sentia mais nervosa em resolver o resto das pendências.

O problema era que, com Mikasa, você não teria que falar apenas sobre ter escondido seu relacionamento com o primo dela, mas também sobre ter escondo seu antigo relacionamento com o namorado dela.

Assim que começou a perceber o rumo em que seus pensamentos estavam lhe levando, você rapidamente balançou a cabeça e bateu na enorme porta de entrada do casarão, ouvindo rapidamente o som de passos vindo na sua direção. Não demorou nem um pouco para que a porta fosse aberta e você encontrasse com os olhos monótonos da governanta da casa, que particularmente nunca gostou muito de você.

— Boa tarde, Senhora Okotu — Você tentou colocar o sorriso mais simplético que conseguiu, mas não arrancou nenhuma gentileza dela — Mika está em casa?

— No quarto — Foi a resposta simples e áspera dela, que apenas abriu ainda mais a porta para você passar.

Nem se preocupando mais em ser educada, você apenas assentiu e seguiu o caminho, que você conhecia muito bem, até o último quarto no corredor da esquerda no primeiro andar da casa. Subir as escadas foi bem mais fácil do que você achou que seria, e você não hesitou nenhum segundo antes de bater na porta da Ackerman.

— Pode entrar — Ouviu ela gritando de dentro do cômodo e, depois de um suspiro longo, abriu a porta — [Nome]..?

O jeito como ela falou seu nome, em confusão e arrastado, fez você se lembrar de que ela não fazia ideia de que você viria até a casa dela. Mas, antes que ela pudesse protestar, você já começou falando:

— Olha, eu sei que você 'tá puta, e eu entendo perfeitamente. Eu devia ter te falado sobre o Levi e também sobre o que tinha acontecido com o Eren. Sinceramente, eu não contei sobre o seu primo porque nem eu mesma sabia o que 'tava rolando e, por muito tempo, a gente tentou se afastar e não se envolver mais, mas obviamente não deu certo. Quando eu me dei conta, eu já 'tava completamente apaixonada por ele e com medo que as pessoas descobrissem e começassem a falar merda por eu ser filha de Erwin e ele o novo sócio. Sobre a história com o Eren, eu realmente achei que você sabia. Eu descobri que você não tinha ideia faz pouco tempo e achei melhor não falar nada sobre porque o que aconteceu entre mim e o Yeager não significou nada pra mim e já faz um século. Fiquei com medo de perder a sua amizade e escolhi não contar nada — Só quando os seus pulmões começaram a implorar por exigência, você percebeu que não tinha parado para respirar ainda — Me desculpa, de verdade, Mika.

Os olhos da Ackerman estavam arregalados e as sobrancelhas dela arqueadas. Obviamente ela não esperava sua visita ali, muito menos que fosse bombardeada de informações como estava sendo agora.

Você já estava articulando um novo discurso na sua mente, preparada para fazer o possível para que ela aceitasse suas desculpas, mas, antes mesmo que você pudesse abrir a boca para falar mais, ela começou a rir.

O seu cérebro parou de funcionar por alguns segundos, que pareceram mais longos do que realmente eram. Diversas possibilidades de como ela reagiria à sua conversa se passaram na sua mente nos últimos dias, mas uma risada alta e estridente com certeza não era uma delas.

Por isso, você apenas ficou parada, com as sobrancelhas erguidas, tentando entender o que estava acontecendo, enquanto via Mikasa gradualmente parar de rir e enxugar as lágrimas que tinham escapados dos olhos dela, de quando ela gargalhou.

— Eu sabia que uma hora você ia acabar vindo na minha casa — Ela começou a falar e o tom calmo fez todo o seu corpo relaxar — Mas não imaginava que eu ia ser bombardeada desse jeito.

— Me... desculpa.

— Olha, eu realmente fiquei muito chateada por você ter me escondido essas coisas e, principalmente, por eu ter descoberto isso no meio de um discurso, na frente de todo muito, feito pelo Floch — Mikasa fez uma pausa, agora franzindo levemente as sobrancelhas — Inclusive, como foi que ele descobriu tudo isso?

— Sinceramente, eu não faço ideia — Você respondeu, depois de um suspiro longo — Aquele cara é tão filho da puta que eu não duvido nada que ele tenha se escondido atrás da porta, enquanto eu falava com Jean, Connie e Sasha naquela festa.

— É bem a cara dele mesmo.

Por alguns segundos, vocês riram, como se nada tivesse acontecido e vocês ainda fossem amigas como antes. Mas, então, você lembrou da situação e o sorriso saiu do seu rosto.

— De verdade, me desculpa — Você continuou a falar, olhando para o chão porque não conseguia encarar os olhos dela — Eu queria ter te contado sobre o Levi, queria mesmo. Mas as coisas aconteceram tão rápido que eu acabei não contando.

— Eu até entendo vocês não terem contado nada — Mikasa falou, depois de um suspiro cansado — Meu primo sempre foi muito fechado e eu imagino que, agora que o namoro de vocês virou público, vão ter algumas complicações — Você apenas assentiu, sabendo que ainda tinham mais coisas que ela gostaria de falar — Eu fiquei mais chateada por você não ter me falado nada sobre o Eren — Ela fez uma pausa e franziu levemente as sobrancelhas — E acho que sobre o Armin também.

— O que rolou com o Armin foi um surto — Você disse, rapidamente, o que acabou arrancando uma risada alta dela — E, sobre o Eren... foi o que eu falei antes. Eu realmente achava que você sabia o que tinha acontecido e, quando eu descobri que você não sabia, fiquei com medo de contar e de perder sua amizade.

— Porque eu sou uma namorada louca e ciumenta?

— Isso também — Você brincou e ela riu em resposta — Mas eu fiquei pensando se as coisas não ficariam estranhas depois que você soubesse.

Houve um breve momento de silêncio, mas não do tipo desconfortável. Era como se Mikasa estivesse arranjando forças para perguntar algo e, por mais que você soubesse disso, não pretendia pressiona-la para falar.

— O que... — Ela começou, hesitando por um breve segundo — O que realmente aconteceu entre você e ele?

— Ficamos algumas vezes muitos anos atrás — Deu de ombros, tentando mostrar ao máximo a indiferença que você sentia — Éramos amigos e a gente ficava no mesmo ciclo de amigos. Mas era só isso.

— Não parece que foi só isso pra ele.

— Outra informação que eu não sabia — Você disse e, por mais que as coisas tivessem ficado mais sérias, isso acabou arrancando uma risada baixa e fraca da Ackerman — Mas o que aconteceu foi só um lance de dois adolescentes solteiros e sem nada melhor para fazer.

— Foi ele quem te pediu para não contar, não foi?

Você parou e respirou fundo. Não queria entregar o Yeager, mas também não queria mais mentir para Mikasa. Eren era um dos seus melhores amigos e você ainda tinha que se resolver com ele, mas não aguentava mais a quantidade de segredos e mentiras que vinha acumulando nesses últimos meses.

— Acho que ele só ficou desesperado com a ideia de te perder — Você falou, dando de ombros mais uma vez — Por mais que ele tenha gostado de mim no passado, ele te ama muito, Mika — O pequeno sorriso que brotou nos lábios dela fez você perceber que estava indo no caminho certo — E, concordamos e convenhamos, você nunca foi muito boa em lidar com as ex-boyzinhas dele.

— Ei! — Ela gritou e vocês duas caíram na gargalhada.

Uma sensação boa preencheu o seu peito. As coisas estavam fluindo bem. Bem melhor do que você imaginava. Toda a tensão e preocupação que você estava sentindo antes iam, gradualmente, indo embora da sua mente. Você só conseguia se concentrar na risada divertida e facilmente reconhecível de uma das suas melhores amigas.

Estava tudo bem e agora, finalmente, você poderia relaxar.

— Isso significa que você me perdoa? — Você perguntou, se fazendo de tímida.

Mikasa estreitou os olhos por um momento, como se estivesse pensando na resposta, mas ela logo abriu um sorriso enorme e abriu os braços.

— É claro que eu perdoo, sua idiota. Vem cá.

Você sorriu e praticamente se jogou nos braços dela, o que acabou fazendo vocês duas caírem na cama, uma em cima da outra, envolvidas em um abraço estabanado, mas exatamente caloroso e reconfortante.

O cheiro dela era familiar. Você nem sabe quantas vezes na vida sentiu o cheiro desse perfume, que ela usava desde que você a conheceu.

Teria sido trágico perder a amizade dela, já que você a valorizava tanto. Mas, agora, seu coração relaxou como não fazia a muito tempo. Seu corpo estava leve e toda a tensão tinha ido embora, pelo menos até a porta ser aberta bruscamente, de uma vez.

— Mikasa, olha... — Mas Levi parou de falar assim que viu vocês duas na cama, com você por cima da prima dele, abraçadas e o encarando, com os olhos arregalados e rostos assustados — Eu...

— Oi, primo — Mikasa disse, com um sorriso divertido nos lábios.

— Oi, amor — Você completou, pouco antes de você e a Ackerman caírem no riso de novo.

— Isso significa que já está tudo resolvido? — Ele perguntou, entrando no quarto e fechando a porta atrás de si.

— Sim, já nos resolvemos — Foi a prima dele quem respondeu.

— Ótimo. Isso poupa o discurso que eu tinha preparado para fazer.

— Ah não — Ela disse, com uma voz manhosa — Agora eu quero ouvir.

— Fica para a próxima — Levi respondeu, olhando para o celular, que tinha acabado de apitar, notificando uma nova mensagem — [Nome], temos que ir à empresa.

Mikasa bufou, levemente brincalhona, como se estivesse com raiva.

— Eu posso vir aqui mais tarde com Sasha e fazemos uma girls night — Você disse, antes que ela pudesse protestar, e acabou ganhando um sorriso extremamente empolgado em resposta.

— Tudo bem, podem ir agora, então.

Você riu e Levi revirou os olhos.

Depois de se despedir da Ackerman e prometer que voltaria aqui de noite para elas colocarem o papo em dia e comer pizza, enquanto faziam skin care e viam alguma série de suspense policial, você e Levi saíram da casa dos Ackerman e foram em direção ao carro dele.

Um pequeno silêncio se instaurou entre vocês, enquanto ele dirigia tranquilamente pelas suas de Tokyo, no caminho que você conhecia muito bem até a empresa do seu pai. Uma música tocava baixa no fundo, mas você não conseguiu reconhecer qual era. Nem tinha perguntado para o Ackerman o porquê de vocês precisarem ir até lá agora, mas você nem se importou. Estava feliz demais que as coisas estavam dando certo. Não queria mais se preocupar com nada.

— Então... — A voz dele fez você abrir os olhos, que tinham se fechado involuntariamente pelas poucas horas de sono nos últimos dias — Eu falei com o seu pai.

— Eu sei.

Levi franziu levemente as sobrancelhas, enquanto parava o carro no estacionamento da empresa, e virou para você, que tinha um sorriso bobo nos lábios.

— Ele te contou?

— Não exatamente — Você disse, se aproximando mais dele, até que seus rostos estivessem a poucos centímetros de distância — Falando nisso... — Sussurrou, conta os lábios dele — Eu também te amo.

As sobrancelhas dele se arquearam levemente, mas só o suficiente para você perceber a expressão de surpresa no rosto dele.

— Você ouviu a conversa? — Ele perguntou, mas não com raiva.

— Só uma parte — Respondeu, ainda o encarando nos olhos, sem afastar seus rostos — Eu conversei com ele depois disso e resolvemos tudo.

— E o que você quer fazer agora?

A pergunta dele lhe pegou meio desprevenida. De fato, você estava tão empenhada em pedir desculpas a todas as pessoas de quem vocês esconderam esse relacionamento que nem se preocupou no passo seguinte.

O que isso significaria para você e Levi agora? Isso fazia de vocês um casal oficial? Agora, vocês poderiam finalmente namorar abertamente, sem se preocuparem em manterem isso às escondidas?

— Eu quero ficar com você — Foi sua resposta e, por mais que ele tentasse disfarçar, você percebeu o pequeno sorrisinho que se formou no canto dos lábios dele.

— Ainda temos algumas coisas para resolver com a imprensa — Ele disse, suspirando, como se não dormisse a dias — E várias pessoas vão especular...

— Eu não ligo — Você o interrompeu — Não dou a mínima para o que os outros vão falar sobre nós. Agora, podemos finalmente ficar juntos de verdade. Qualquer coisa que tivermos que resolver, vamos fazer isso. Juntos.

Ele sorriu. Não aquele sorriso discreto e pequeno de sempre. Levi realmente sorriu. Os dentes dele estavam a amostra, algo que você viu apenas poucas vezes. Era como se ele tivesse baixado a guarda por um momento, apenas para você ver o quanto ele estava feliz.

— Tem certeza disso?

— Acho que nunca tive tanta certeza de alguma coisa na vida — Você respondeu, o que arrancou uma risada baixa e fraca dele, que ainda não tinha afastado o rosto do seu.

— Então vamos fazer isso — Devagar, ele colocou uma das mãos na lateral do seu rosto, o segurando como se fosse a coisa mais delicada que ele já tocou — Juntos.

Você fechou os olhos, sentindo os lábios de Levi pressionarem os seus. Sem nem pensar duas vezes, você retribuiu o beijo.

Aquilo era uma promessa. De que, não importa quais dificuldades vocês tivessem que enfrentar agora, vocês passariam por elas. Juntos.