𝚝𝚑𝚒𝚛𝚝𝚢 𝚏𝚒𝚟𝚎
Seus ombros já estavam doendo de ficar na mesma posição, sustentando o seu corpo, já que você estava de bruços. Ao mesmo tempo, seus olhos e garganta ardiam das longas horas seguidas que você passou chorando. A imagem do que aconteceu e a voz de Floch discursando ainda martelavam na sua cabeça, lhe impedindo de ter um minuto sequer de paz.
— Eu quero me matar-
— Não brinca com essas coisas — Sasha falou, trazendo uma bandeja em mãos, pegando um dos copos de água que tinha em cima dela e colocando na cabeceira ao seu lado — Bebe água, vai te fazer bem.
— Você devia comer alguma coisa também — Jean, que estava sentado ao seu lado na cama, fazendo cafuné nos seus cabelos, falou, enquanto aceitava um copo de água que a morena estava oferecendo para ele.
— Eu posso pedir alguma coisa — Foi Connie quem disse, já pegando o celular, que estava em cima da cabeceira ao seu lado, e entrando no aplicativo de delivery.
Você não respondeu, apenas enfiou o rosto de novo no travesseiro, deixando que as lágrimas, agora mais silenciosas, rolassem pelo seu rosto. Pelo menos, sentir a mão de Jean fazendo carinho na sua cabeça lhe acalmava um pouco.
Os outros três se entreolharam por um momento e não precisarem falar uma palavra para saberem o que deveriam fazer. Jean se aconchegou mais ao seu lado na cama, lhe abraçando de lado. Connie procurou rapidamente o seu restaurante preferido e logo fez o pedido, sabendo que você não tinha comido nada desde a festa e a hora do almoço já estava chegando. Sasha saiu do quarto, indo até a cozinha e colocando um pouco de água para ferver, pegando um sachê de chá de camomila dentro da despensa. Além disso, a morena pegou o celular e começou a fuçar as redes sociais, lendo cada manchete com o seu nome e o do Ackerman.
Não existiam nem palavras para descrever o quão abalada você estava. Você sabia do perigo em manter tantos segredos ao mesmo tempo, de pessoas que você se importa tanto, mas nunca passou pela sua cabeça que eles viriam à tona desse jeito.
Você já tinha perdido as contas de quantas vezes tentou ligar para Erwin. Mas, depois de dezenas de tentativas, resolveu que não deixaria nenhuma mensagem, tendo consciência de que ele também precisava do tempo dele para raciocinar tudo. Obviamente que a vida era sua e você podia ficar com quem quisesse, mas esconder um relacionamento com o sócio dele era motivo justo o suficiente para ele ficar chateado. No fundo, você sabia que ele iria te perdoar uma hora, mas, nesse exato momento, o único pensamento que vinha na sua mente era que ele nunca mais iria querer olhar para você de novo.
Além dele, também tinha Mikasa, que não atendeu nenhuma das suas ligações e nem sequer visualizou as suas mensagens. Você realmente tinha vacilado com ela e sabia disso. Você não devia ter dado ouvidos para Eren e devia ter contado logo o que aconteceu para ela de uma vez. Na sua cabeça, não era nada demais. O que você e o Yeager tiveram foi a muitos anos atrás e por pouquíssimo tempo. Mesmo assim, você sabia que, por mais que para você parecesse bobagem, para Mikasa era algo importante e, mesmo assim, você escondeu. Mas, agora, a única coisa que você conseguia fazer era rezar para ela, pelo menos, lhe escutar.
— Você falou com o Levi? — Você estava tão imersa em seus pensamentos que quase tomou um susto com a voz baixa de Jean ao seu lado.
Devagar, você levantou a cabeça e encarou o moreno, que tinha um semblante extremamente preocupado.
— Ele disse que já tava chegando — Respondeu, fungando uma última vez e se sentando na cama, desfazendo delicadamente o abraço que o Kirstein estava lhe dando antes — Eu vou tomar um banho — Disse, se levantando da cama e começando a andar em direção ao banheiro — Não vou conseguir resolver nada se eu ficar chorando na minha cama a tarde inteira.
— É assim que se fala — Connie falou, animado, se levantando da poltrona em que estava sentado — E eu vou ajudar Sasha a arrumar a cozinha, porque já já o nosso almoço chega.
Você assentiu com a cabeça, colocando, pela primeira vez, um sorriso sincero no rosto, por menor que fosse. A verdade era que, sem aqueles três, você provavelmente não iria conseguir passar por isso.
A água do chuveiro estava mais quente do que o normal, mas você tinha feito isso justamente porque precisava sentir o seu corpo relaxar minimamente. Depois de passar a madrugada inteira acordada, chorando, a última coisa que você precisava era um banho gelado.
Enquanto lavava todo o seu corpo e o seu cabelo, na esperança de se livrar do sentimento de sujeira que estava empregando em você, tentou não pensar sobre o que aconteceu ontem, se concentrando apenas em sentir o contato da água quente na sua pele.
Era como se você estivesse revigorada. Ainda estava se sentindo péssima pelo que aconteceu, mas, ao invés de querer ir para a cama chorar, sua vontade era que traçar um plano para como você iria resolver tudo. Por mais que parecesse que nada ia dar certo, você tinha certeza de que conseguiria dar um jeito.
Depois de decidir colocar roupas, você pegou um pijama de shortinho no seu closet e o vestiu. Ainda penteou o cabelo e fez os restos das higienes antes de sair do cômodo, lentamente.
Antes mesmo de chegar na sala, você conseguiu ouvir as vozes dos seus amigos conversando, mas tinha mais alguém além dos três. Um sorriso fraco, mas feliz, tomou conta de seus lábios quando você percebeu que se tratava do Ackerman.
Não tão lentamente quanto antes, você andou em direção à sala, alargando o sorriso assim que o viu, vestido com o terno que ele sempre usava na empresa.
— Eu não vou perguntar como você está, porque seria uma pergunta idiota — Ele disse, assim que você chegou perto, passando um dos braços pelas suas costas e o usando para lhe puxar para um abraço — Mas eu posso dizer que tudo vai se resolver.
— Eu sei que vai — Você respondeu, com a voz meio falha, se segurando para não voltar a chorar — E você, conseguiu falar com meu pai?
— Ainda não, mas pretendo fazer isso logo — Devagar, ele foi lhe soltando, mas não deixou você ir para muito longe, só o suficiente para conseguir lhe encarar nos olhos — Jean me contou que você passou a madrugada inteira acordada — Assim que ele acabou de falar, você desviou o olhar para o Kirstein, estreitando os olhos um pouco, o que fez o moreno esboçar um sorriso cúmplice — Me desculpa por não ter ficado aqui.
— Não faz mal, de verdade — Antes de continuar, você suspirou, percebendo que estava mais cansada do que tinha imaginado — Eles me ajudaram muito, como sempre — Você apontou com a cabeça na direção dos três, que já estavam sentados no sofá, tentando não atrapalhar sua conversa com o Ackerman, mas, quando você falou isso, todos os três colocaram sorrisos levemente tímidos no rosto — A gente já estava indo almoçar, quer vir com a gente?
— Infelizmente eu não posso — Você tentou não esboçar uma expressão triste ao ouvir aquilo, principalmente porque você sabia que Levi estava tentando resolver todos os problemas que vieram junto com o discurso de Floch. Querendo ou não, ele foi uma das pessoas mais afetadas pelo que aconteceu na festa do dia anterior. O Ackerman era muito reservado e ninguém nunca tinha tido noticiais de uma possível namorada. Agora, não tinham só revelado que ele tinha uma, como era a filha do sócio dele. E o mundo ama uma boa fofoca.
— Tudo bem — Você respondeu, colocando no rosto o sorriso mais convincente que conseguiu — Quando você acabar de resolver as suas coisas, a gente pode sair 'pra fazer alguma coisa.
— Certo, então vamos jantar amanhã — Ele disse, esboçando aquele mínimo sorriso de lado, que não mostrava os dentes e era tão pequeno que mal dava para notar, mas que, mesmo assim, era extremamente especial para você — Agora eu tenho que ir, mas se você precisar de qualquer coisa, me liga, 'tá certo?
Você assentiu, fechando os olhos assim que ele inclinou o rosto na sua direção. Somente depois de lhe dariam selinho casto, o Ackerman se despediu dos seus amigos, além de agradecer a eles por todo o suporte que estavam lhe dando, e saiu do seu apartamento.
Assim que você fechou a porta de novo, depois de Levi ter saído, foi até o sofá e se sentou entre os seus amigos, que tinham se afastado para você poder se sentar. Se passaram alguns poucos minutos com vocês quatro em silêncio, mas não em um silêncio constrangedor. Na verdade, você se sentia mais confortável do que nunca.
— Então, o que você quer fazer? — A pergunta de Jean fez você franzir levemente as sobrancelhas, mas não se virou na direção dele.
— Eu vou na casa do meu pai hoje à noite — Respondeu, dando de ombros — Se ele não quer atender minhas ligações, vai ter que me aturar tocando a campainha até ele atender.
— É assim que se fala — Connie falou, com aquele tom animado e brincalhão de sempre — Quer que a gente vá com você?
— Não, eu prefiro ir sozinha.
— E já sabe o que você vai falar para ele? — Foi a vez de Sasha perguntar.
— A verdade — Você até soltou uma pequena risadinha ao responder — Vou contar como eu conheci o Levi; que nem eu sabia que ele era o novo sócio e nem ele sabia que eu era a filha do CEO; que a gente tentou se afastar depois, mas não deu certo: e...
Você travou e engoliu seco. Sentia até um pouco de vergonha em falar isso em voz alta, parecendo até uma criança, mas, a essa altura do campeonato, você já tinha consciência mais do que suficiente sobre os seus sentimentos pelo Ackerman.
— E...? — Jean perguntou, insinuando para você continuar a falar.
— E que eu amo ele — Completou, por fim, soltando um suspiro de alívio logo depois.
— Senso sincera, nunca achei que você fosse falar isso em voz alta — Sasha disse, lhe abraçando de lado, com um sorriso brincalhão nos lábios.
Durante sua vida inteira, você procurava falar "eu te amo" apenas para as pessoas que você realmente tinha esse sentimento. Dava para contar nos dedos quantas pessoas você amava ao ponto de falar isso. Nenhum homem com quem você já tentou criar algum tipo de relacionamento recebeu essas palavras de você, porque elas eram especiais demais para serem faladas em vão.
Mas, agora, você não tinha nenhuma dúvida de que Levi entrou sim para a lista de pessoas que você ama e você estava mais do que certa de que, próxima vez que o visse, faria questão de que ele soubesse disso.
— E o que você vai fazer com aquela história de Mikasa? — Connie perguntou, lhe tirando de seus pensamentos e fazendo você se virar na direção dele.
— Eu vou na casa dela amanhã de manhã e vou resolver logo isso — Você soltou mais um suspiro no dia, pegando o celular, que Jean tinha trazido do seu quarto, em cima do centro na frente do sofá. Entrou na conversa com a Ackerman e viu que ela ainda não tinha lido as mensagens — Eu sei que ela 'tá chateada e que eu fiz besteira, mas não vou abrir mão da nossa amizade por causa disso.
— Se ela se importar mesmo com a amizade de vocês, vai dar tudo certo — Sasha falou, acariciando levemente o seu braço esquerdo, que estava apoiado em cima da perna dela — E eu realmente acho que ela se importa.
Você assentiu com a cabeça e respirou fundo. Não queria perder a amizade preciosa que você tinha com Mikasa e nem estava disposta a deixar isso acontecer. Você iria pedir desculpas e explicar tudo o que aconteceu, sem esconder mais nada.
— E o Eren e o Armin? — Mais um problema foi jogado na sua mente quando Connie fez a pergunta.
— O que tem eles? — Sasha perguntou de volta, antes que você pudesse responder.
— Eles também tão bem putos.
— O problema é deles — A morena falou em um tom tão irritado que acabou arrancando uma risada mais alta sua — Eren que pediu 'pra ela não falar nada com Mikasa e Armin tem menos direito ainda de ficar com raiva.
— É verdade — Jean concordou — [Nome] não sabia que Eren gostava dela quando ela ficou com Armin. O vacilo foi totalmente dele.
— Eu vou pelo menos ligar 'pra ver como eles estão — Você respondeu, dando de ombros — Eles ainda são meus amigos e eu não quero que fique um clima estranho depois.
— É um bom plano — Foi Connie quem falou, fazendo um sorriso de lado brotar nos seus lábios — Então você já pensou em tudo, falta só falar com as pessoas.
Você assentiu com a cabeça, se sentindo um pouco mais confiante. As conversas que você iria ter iam ser complicadas e você sabia disso, mas não adiantava ficar chorando na cama esperando que um milagre acontecesse e resolvesse tudo.
A bomba já tinha explodido e agora você precisava encarar as consequências.
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