𝚜𝚒𝚡

Levi Ackerman.

Ackerman? — Você perguntou, com as sobrancelhas meio franzidas.

Você lutava contra o seu próprio corpo, tentando não demonstrar nenhuma reação que fizesse seu pai suspeitar de algo. Dessa vez, você realmente tinha fodido com tudo, literalmente.

Levi mantinha a expressão neutra e indiferente de sempre, deixando você levemente irritada. Além de ter saído de fininho durante a madrugada, o mais baixo nem sequer esboçou uma única reação ao ver você de novo. Mal você sabia que, por dentro, ele também estava se esforçando para isso.

— Você deve conhecer minha prima — Levi respondeu, com a voz indiferente de sempre — Mikasa Ackerman.

— Conheço — Pelo menos, ele estava com o mesmo intuito que você, de não fazer Erwin perceber o clima tenso entre vocês — Ela é uma das minhas melhores amigas, na verdade.

— Bom, agora que fizemos as introduções, podemos começar a reunião — Erwin falou, fazendo um gesto para que Levi se sentasse em uma das cadeiras.

O Ackerman assentiu com a cabeça e caminhou, sem presa, até a cadeira na sua frente, se sentando nela logo em seguida. Você mantinha o sorriso estupidamente falso, mas convincente o suficiente para seu pai não desconfiar de nada. Novamente, Erwin se sentou ao seu lado, colocando alguns papéis na frente de Levi.

Enquanto as íris azuis do mais velho estavam concentradas na papelada, seus olhos se encontraram com os do Ackerman ligeiramente. Realmente, ou ele não se importava nem um pouco com o que aconteceu ontem ou ele conseguia fingir muito bem, porque você já estava convencida de que Levi nem se lembrava do que aconteceu.

Mal sabia você que a noite passada não havia saído da cabeça dele, desde que o baixinho acordou de manhã. A indecisão entre fingir que nada aconteceu e seguir em frente, mantendo a rotina monótona e calma de sempre, ou tentar conhecer melhor você e correr o risco de acabar com toda a paz na vida dele, assombrava a mente do Ackerman.

— Nós já discutimos sobre as políticas da empresa e como será sua participação nela — Enquanto seu pai falava, Levi ia concordando com a cabeça, ouvindo atentamente cada palavra — Eu e você somos os sócios majoritários da empresa e [Nome] é a COO. Mesmo assim, quero que fique claro que minha filha é mais empenhada do que qualquer um nos assuntos da corporação, então pode tratá-la como uma CEO também.

— Será um prazer trabalhar com você, Senhorita Smith — Levi nem piscava ao olhar para você, tão monótono quanto se comunicava com os outros.

— O prazer será meu, Senhor Ackerman. 

Se você e o baixinho não fossem tão bons em mentir, Erwin já teria percebido a enorme tensão que rodeava vocês. Seu sorriso falso conseguiria convencer até um juiz no tribunal.

— Ah — Seu pai começou a falar, fazendo você piscar algumas vezes, antes de desviar o olhar das íris mortas de Levi — Também temos uma política de não envolvimento dentro do escritório — Você virou suavemente a cabeça para o lado, encarando o pai, tentando esconder a confusão em seu rosto. Nunca, em nenhum dos anos de corporação, você ouviu falar sobre uma política de não envolvimento, fazendo você acreditar que seu pai havia acabado de inventar isso — Espero que nós não tenhamos problema em relação a isso.

— Não vamos — O outro homem respondeu, ríspido, seco e direto.

Você sabia que era por sua causa que Erwin estabeleceu essa nova regra e nem podia ficar com raiva dele por não confiar em você, uma vez que você já tinha transado com Levi. Toda essa situação era uma dor de cabeça e você não via a hora dessa reunião acabar de uma vez.

— Tirando isso, acho que podemos apresentar toda a equipe ainda hoje — O loiro virou apenas a cabeça na sua direção, agora lhe dirigindo as palavras — Você vai estar ocupada agora de manhã, não é? — Esperou você assentir com a cabeça, em concordância, antes de continuar — Tudo bem. Durante a tarde teremos outra reunião, com alguns clientes importantes. Vai ser uma boa oportunidade de vocês começarem a trabalhar juntos e se conhecerem melhor.

Você concordou novamente com a cabeça, esboçando um sorriso divertido quando a ideia de falar que você conhecia ele muito bem se passou pela sua mente. Provavelmente, isso era algo que você responderia a Jean.

Erwin voltou a abrir levemente a boca, para continuar a explicação, mas foi interrompido pelo toque de celular dele.

— Me deem licença só um minuto — Ele disse, assim que as íris azuis acabaram de ler o nome escrito na tela — É urgente, eu já volto.

Seus olhos acompanharam o mais velho levantar da cadeira e caminhar até a porta, passando por ela e a fechando atrás de si logo depois. Somente quando você ouviu os passos dele se afastando, falou:

— Então o novo sócio da empresa do meu pai, o primo de uma das minhas melhores amigas e o cara que eu transei ontem são a mesma pessoa? — Assim que acabou de falar, uma risada sarcástica e divertida saiu de seus lábios — Eu realmente só faço merda — A última parte, sussurrou, mas alto o suficiente para o baixinho ouvir.

— Devia ter me dito que era uma Smith — O tom de Levi não continha raiva nem tristeza, era apenas indiferente como sempre.

— Você também não me disse que era um Ackerman.

— Tenho certeza que essa situação vai acabar pior para você do que para mim.

— Obrigada por me dizer o óbvio — Você disse, sarcástica, com um sorriso debochado no rosto — Alguma sugestão do que fazer?

— Que tal só fingir que nada aconteceu? — Seus olhos não estavam focados nele e você agradeceu a todos os deuses por isso, já que, agora, eles exalavam decepção. Sua noite com Levi foi inesquecível, não dava para simplesmente fingir que nada aconteceu. Mas, aparentemente, o sentimento não era recíproco. Pelo menos, era o que você pensava. O Ackerman lutava contra os próprios pensamentos para conseguir falar — Você não parece ser do tipo de mulher que se apega — Ele deu de ombros, ainda parecendo indiferente — É só esquecer o que aconteceu ontem e deixar pra lá.

— Eu concordo — Mentiu, como uma profissional — Vamos só fingir que nada aconteceu.

Infelizmente para Levi, isso não era o que ele queria ouvir. Mas, o senso dele tentava falar mais alto do que tudo. Você era sinônimo de problema e ele já conseguia saber disso, mesmo conhecendo você só a um dia. Seu estilo de vida excêntrico não combinava nem um pouco com o modo monótono e pragmático que ele levava a vida. Você iria apenas bagunçar completamente a rotina do Ackerman. Mas, se isso é tão ruim, por que ele queria tanto isso?

Sobre eu ter saído de manhã... — Levi começou a falar, quando o silêncio ficou constrangedor, mas você rapidamente o interrompeu, falando por cima.

— Não se preocupe com isso — Advertiu, enquanto brincava com uma caneta em cima da mesa, rabiscando aleatoriamente uma folha em branco, fugindo dos olhos penetrantes dele — Foi melhor assim.

Um silêncio intenso pairou sobre vocês dois, deixando a sala imersa em uma atmosfera totalmente desconfortável. Você ainda olhava para o papel que tinha na sua frente, evitando, a todo custo, olhar para o homem pecaminosamente lindo na sua frente.

Levi não tinha problema nenhum em olhar para você, e fazia isso a todo momento. Ele esperava conseguir entender mais quem você era, mas de longe o suficiente para não correr o risco de se apegar.

— Contou pra alguém sobre ontem? — Seus olhos desviaram do papel somente para o encarar, assim que ouviu a voz grossa preenchendo o ambiente silencioso.

— Algumas pessoas sabem que eu saí da festa ontem por causa de um cara — Respondeu, dando de ombros — Mas eu não falei quem era — Mais uma vez, sua atenção voltou para o papel rabiscado — E você?

— Mikasa sabe que eu não dormi em casa, porque ela foi lá de manhã e eu não estava — Ele falava de um jeito calmo e simples, sem nenhuma alteração no tom de voz — Mas também não falei o seu nome.

— Então ótimo — Finalmente, você largou o papel que estava na sua frente, colocando a caneta em qualquer lugar — Não contamos para ninguém e fingimos que não aconteceu. Parece um bom plano — Nem tentou esconder o tom sarcástico.

— E não vamos fazer de novo — Pela primeira vez desde que Erwin saiu, as íris sem vida não estavam olhando para você.

Somente quando percebeu que tinha ficado calada por muito tempo, você piscou repetidas vezes e respondeu:

— Sim — Tentou esconder a surpresa — Aquilo não vai acontecer de novo.

O Ackerman pareceu se convencer de que você estava indiferente em relação a toda essa situação, já que concordou com a cabeça e desviou o olhar novamente. Você não tentou falar mais nada, deixando a tensão e o constrangimento dominarem todo o cômodo.

Mas, para sua sorte, o barulho da porta sendo aberta novamente atraiu a atenção de vocês dois mais uma vez.

— Me desculpem por isso — Seu pai falou, entrando na sala — Era um dos clientes de mais tarde.

— Qual deles? — Você perguntou, tentando parecer interessada.

— O Senhor Forster — Assim que ouviu a resposta do seu pai, seus olhos se reviraram instintivamente — Não faça isso, [Nome].

— Quem é ele? — Foi a vez do Ackerman perguntar, mas você nem olhou na direção dele.

— Floch Forster — Seu pai respondeu, enquanto se sentava ao seu lado novamente — O pai dele era um dos nossos maiores clientes. Infelizmente ele faleceu no ano passado, mas então Floch tomou conta dos negócios.

— Se tomar conta significa "levar tudo à falência", é, ele tá fazendo isso direitinho — Você sentiu uma leve cotovelada do seu pai em baixo na mesa, em um sinal para que você parasse de falar.

— Por que você não gosta dele? — Surpreendentemente, a pergunta de Levi foi direcionada exclusivamente para você, que olhou para Erwin, a procura de uma confirmação e, assim que a teve, explicou.

— O Senhor Forster era um gênio dos negócios — Deu de ombros enquanto falava — Eles são donos de uma das maiores empresas automobilísticas do mundo, ou eram — Corrigiu, ainda sem tirar os olhos das íris sem vida na sua frente — Até Floch assumir a direção e levar eles à falência.

— Eles ainda não declararam falência, [Nome] — Seu pai lhe interrompeu.

— Não seja por isso, já já eles declaram.

— E só por isso você não gosta dele?

Seus olhos se encontraram com os do Ackerman de novo. Realmente, você não conseguia nem ter ideia do que se passava na cabeça dele. Por que tantas perguntas assim?

— Ele sempre dá em cima de mim nas reuniões — Você respondeu, por fim, dando de ombros mais uma vez — Mas eu também não gosto dele como pessoa.

Levi concordou com a cabeça, finalmente acabando a sessão de perguntas. Logo depois, Erwin começou a explicar o funcionamento básico da empresa, mas você não conseguia prestar atenção em nada. A única coisa que se passava na sua mente agora era o baixinho na sua frente.

Você sabia que transar com Levi foi um erro, mas você não conseguia se arrepender disso. Por mais que ele fosse o novo CEO e seu pai tivesse pedido, mais de uma vez, para você não se envolver com ele, sua mente só implorava por uma segunda rodada da noite anterior.

O jeito como Levi lhe levou até o céu na outra noite foi mais intenso do que qualquer um sequer já conseguiu. E você precisava provar aquilo de novo.

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