𝚜𝚎𝚟𝚎𝚗𝚝𝚎𝚎𝚗

Sua risada divertida preenchia todo o ambiente da sala de estar e, por mais que não demonstrasse isso, Levi amava esse som. Ele poderia, facilmente, passar horas só escutando você rir, sempre com a mesma diversão e sinceridade de sempre.

O Ackerman não precisava fazer muita coisa para arrancar uma risada sua, e você adorava isso. Adorava o fato de uma simples expressão monótona dele já ser o suficiente para você se divertir de verdade.

Além disso, ele não tentava lhe fazer rir com cantadas mal planejadas ou piadas forçadas. Só ele já era o suficiente para fazer você se sentir confortável e alegre.

— Seu sorriso é bonito.

Você nunca teve problemas com reagir a elogios feitos pelas mais diversas pessoas. Mas, por algum motivo que você nunca conseguiu explicar, quando Levi lhe elogiava você sempre ficava bastante desconcertada, mas não de um jeito desconfortável.

Você parecia uma adolescente de novo, envergonhada porque o cara que você tinha uma queda disse que seu cabelo estava bonito hoje. Sempre que o Ackerman falava algo do gênero, você sentia suas bochechas queimarem de tanta vergonha. E esse sentimento já estava começando a lhe intrigar.

— Obrigada — Se forçou a não desviar o olhar das íris azuis enquanto falava — Tenho certeza de que o seu também é, mesmo que eu nunca tenha visto.

— Quem sabe um dia você consiga ver.

— Isso foi um desafio, Senhor Ackerman? — O seu tom de provocação era claro, mas, mesmo assim, ele apenas arqueou uma das sobrancelhas, sem que a boca formasse um mínimo sorriso.

— Talvez, Senhorita Smith.

Você e Levi já haviam acabado de jantar faziam uns trinta minutos. Ainda assim, nenhum de vocês dois pareceu perceber, já que continuaram conversando mesmo depois disso.

Três garrafas de vinho já tinham acabado nas mãos de vocês, mas nenhum dos dois parecia bêbado de verdade. Talvez você estivesse um pouco no brilho, mas nada que lhe fizesse falar algo que você fosse se arrepender no outro dia.

O Ackerman contava, da maneira desinteressada dele, sobre uma vez que encontrou um jogador extremamente famoso de futebol em um restaurante, mas só descobriu que ele era famoso quando já tinha ido embora. Quando já estava no final da história, o seu celular começou a vibrar em cima da mesa.

Você suspirou fundo quando leu o contato do seu pai na tela do aparelho, mas pediu licença a Levi e atendeu do mesmo jeito.

— Oi pai.

Oi filha, como você está?

Bem e o senhor?

Bem também — Você batucava levemente os dedos na mesa à sua frente, querendo que essa conversa acabasse o mais rápido possível — Achei que você fosse para a casa do Armin, mas Eren disse que você ficou em casa.

Suavemente, seus olhos se levantaram e encaram as íris de Levi por um momento. Mentir para o seu pai nunca foi algo que lhe deixou confortável, mas esse não era o momento certo de dizer que você estava jantando com a única pessoa que Erwin pediu para que você não se aproximasse.

Pois é, resolvi não sair de casa hoje.

Ficou sozinha no apartamento? Posso ir aí mais tarde, se você quiser.

Seu coração apertou e você teve que morder o lábio inferior com força para não chorar. Você não queria mentir para ele, mas precisava.

— Jean disse que já 'tava vindo pra cá — Você quase não juntou forças suficientes para falar, mas as palavras acabaram saindo de sua boca — Mas amanhã a gente podia jantar naquele restaurante que você comentou comigo semana passada.

Pronto, combinado — Erwin não conseguiu esconder o tom empolgado na voz, só fazendo você se sentir ainda mais culpada — Amanhã eu passo para te buscar no início da tarde.

Certo. Até amanhã, então.

Até amanhã.

Quando ele desligou, você não sabia se ficava aliviada ou se ainda se sentia muito culpada para isso. Deixou o aparelho de lado e voltou a encarar Levi, que lhe olhava com uma expressão indecifrável no rosto.

— Nunca pensou em contar para ele?

— Sobre o que? — Por mais que você já soubesse da resposta, teve que perguntar mesmo assim.

— Sobre nós — Ele respondeu, como se não fosse nada demais, o que fez você arquear uma das sobrancelhas.

— E o que tem "nós"?

O Ackerman suspirou fundo e se levantou da cadeira, pegou o prato dele e caminhou até você, pegando o seu logo em seguida.

— A gente pode conversar sobre isso lá no sofá — Ele sugeriu, indo até a cozinha antes que você pudesse dar uma resposta, colocando os pratos na pia.

Você concordou com a cabeça e também se levantou, começando a organizar a sala de estar, tirando a mesa que antes estava posta. Agradeceu a ajuda dele mais de uma vez, que sempre respondia dizendo que não se importava em ajudar a limpar o que ele sujou.

Assim que terminaram de guardar as coisas, você o guiou até o maior sofá da sala e, embora ele fosse verdadeiramente grande, vocês acabaram se sentando bem próximos um do outro.

— Então... — Você começou a falar, arrastado, sem olhar na direção dele, encarando as próprias mãos, que repousavam em cima do seu colo — Você tinha dito algo sobre "nós"...

— Perguntei se você pensava em falar do nosso relacionamento para o seu pai.

— Eu nem sei que tipo de relacionamento a gente tem — Você acabou rindo com a própria fala, mas não conseguiu arrancar uma risada dele.

— Como você classificaria o que temos?

— Sinceramente, eu não faço ideia — Admitiu, depois de um suspiro fundo — Quando ficamos a primeira vez, não sabíamos que ia ser proibido e tudo mais. Depois disso, você deixou bem claro que não queria mais se envolver comigo, mas acabamos ficando de novo.

— Eu disse que não queria mais ficar com você porque achei que evitaria que você se metesse em problemas com o seu pai.

— E por que ficou comigo de novo? — Ele não respondeu — Por que veio até a minha casa e me beijou de novo?

— Eu não sei — Respondeu, por fim, baixando minimamente o olhar.

— Por que me mandou aquelas flores, então?

— Eu também não sei.

— Acha mesmo que eu vou acreditar nisso? — Levi levantou o olhar e voltou a lhe encarar — Que você não sabe por que fez essas coisas?

— Você é uma mulher agitada, que bagunça os planos e a vida de todos os que entram em contato com você — A fala dele lhe pegou de surpresa, fazendo com que você arqueasse as sobrancelhas, em completo choque — Eu sempre fui organizado e tinha um plano para minha vida, que eu pretendia seguir firmemente.

— Então por que você..?

— Pela lógica, você é completamente errada para mim — Ele continuou a falar, lhe interrompendo — Pela lógica, você só atrapalharia minha vida e deixaria tudo mais difícil.

Foi a sua vez de baixar o olhar. Você sempre soube que sua vida e a vida de Levi eram quase incompatíveis. Você gostava de viver o momento e não fazer planos, enquanto o Ackerman programava tudo e era bem certinho. Mas nunca achou que ouviria essas palavras serem jogadas na sua cara por ele.

— O melhor que eu poderia fazer era me afastar de você — Levi continuou a falar, fazendo você apertar levemente as mãos que tinha sobre o colo — Mas, então, por que é praticamente impossível ficar longe de você?

Seus olhos se arregalaram e você voltou a encara-lo.

— O-o que? — Você quase não conseguiu falar.

— Eu juro que tentei ficar longe de você, mas não consegui — Mesmo fazendo uma espécie de "declaração" a expressão monótona ainda se mantinha presente no rosto dele, inabalável como sempre — Além de você estar bagunçando minha vida completamente, eu ainda arrumaria problemas com Erwin estando com você.

— Então — Você começou a falar, quando percebeu que ele tinha acabado — Por que você não se afastou?

— Eu não sei — Ele admitiu, ainda sem desviar o olhar de você — Só não consigo me afastar.

Sua respiração falhou por um momento e você teve que piscar diversas vezes para se convencer de que não estava sonhando.

O fato de Levi ter tomado coragem para falar como se sentia só fez você ficar ainda mais frustrada. Você nem conseguia admitir para si mesma de que tinha se apaixonado por ele.

Agora, nem adiantava mais tentar negar para si mesma. O Ackerman tinha conseguido mexer com os seus pensamentos de um jeito que nenhum homem jamais conseguiu. E o simples fato de isso parecer recíproco já fazia o seu coração querer sair pela boca de tão forte que estava batendo.

Como Levi disse, o certo seria vocês se afastarem. Além de serem totalmente incompatíveis, se Erwin descobrisse sobre esse relacionamento, muita coisa poderia dar errado.

Você lutou muito para conseguir criar a relação saudável que você tinha com o seu pai hoje em dia. Não queria jogar isso tudo fora por causa de um homem. Mas também não conseguia ficar longe do Ackerman.

— O que você veio fazer aqui mais cedo? — Você perguntou, se forçando a afastar os pensamentos, quando lembrou de como Jean descobriu sobre o "caso" de vocês.

— Eu não tinha exatamente um plano — Mesmo a expressão dele sendo ilegível, você conseguia ver que Levi estava se esforçando para se abrir — Eu só queria ver você. Acho que acabaria te chamando para sair.

Você soltou uma risada fraca e voltou a encarar as mãos por um momento.

— Jean descobriu? — A pergunta dele fez você querer rir novamente, mas se segurou.

— Descobriu, mas prometeu que não ia contar para mais ninguém.

Foi baixo, mas você conseguiu ouvir um suspiro de alívio vindo dele.

— O que vamos fazer? — Levi perguntou, tentando manter o tom neutro de sempre.

Mas, na verdade, ele estava com medo da resposta. Ele tinha feito algo que nunca fez na vida, foi honesto com alguém sobre os próprios sentimentos. Durante toda a vida, ele teve um bloqueio sobre falar como se sentia, mas precisava saber se o sentimento que ele tinha por você era recíproco. Porque, se fosse, ele estava decidido a enfrentar o que quer que fosse para que vocês tivessem a oportunidade de se conhecerem melhor.

Você não saia dos pensamentos do Ackerman, e ele precisava desesperadamente saber se isso significava que ele tinha se apaixonado por você.

— Eu não sei — Sua resposta o tirou dos pensamentos — Não queria mentir para o meu pai.

— Quer que eu me afaste de você?

Não foi uma pergunta muito difícil de responder.

— Não.

— Ótimo — Depois de sussurrar a resposta, Levi acabou com todo o espaço entre os lábios de vocês, dando início a um beijo lento e calmo. Os lábios dele tinham gosto de vinho e estavam tão macios quanto antes. Você nunca se cansava da sensação de beijar o Ackerman, que sempre lhe deixava com as típicas "borboletas no estômago". Se você pudesse, ficariam assim para sempre. Se fosse possível, você congelaria aquela noite para sempre, onde vocês ficaram ali, sentados, trocando beijos e carícias, conversando até sentirem que se conhecem melhor. Ele só se afastou minimamente de você quando sua respiração já estava começando a ficar pesada, mas suas testas ainda estavam coladas — Porque eu também não quero me afastar de você.

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