Sua cabeça já estava explodindo e você não via a hora dessa reunião acabar. Parecia que os minutos se passavam como horas e, além da dor de cabeça por causa da quantidade do álcool ingerido noite passada, você não aguentava mais a voz do seu pai falando ao seu lado.

Ainda na sua frente, Levi não parecia nem um pouco incomodado com a hora, prestando atenção em cada palavra que o mais velho falava, concordando com a cabeça de vez em quando. Além dessa reunião, tortuosa, vocês ainda teriam outra, que seria, com certeza, ainda pior do que essa.

Para a sua sorte, uma batida na porta fez o loiro parar de falar, pouco antes de mandar a pessoa do lado de fora entrar. Assim que você viu a secretaria do seu pai, teve vontade de beijar ela para agradecer.

— Com licença — Ela falou, relativamente nervosa — Senhor Ackerman, sua prima está aqui para vê-lo.

— Pode pedir para ela esperar?

— Ela insistiu muito.

— É melhor você ir — Todos os outros na sala viraram o olhar na sua direção, que deu de ombros e continuou falando — Podemos interromper a reunião e Mikasa não é do tipo de pessoa que espera.

— Nesse caso — Levi falou, se levantando e acenando levemente com a cabeça — Me deem licença por um instante.

Tanto você, quanto seu pai, assentiram com a cabeça, em concordância, e viram o baixinho sair pela porta, seguido pela secretaria. Somente quando a porta de fechou e você ouviu os passos deles se afastando, voltou a falar:

— Que história foi aquela de política de não envolvimento?

— Acabei de inventar — Seu pai respondeu, depois de uma risada divertida, enquanto você o olhava séria, não achando graça nenhuma — Eu não contava que ele fosse tão bonito assim — O mais velho deu de ombros — Então, se você não conseguir resistir, pelo menos ele não vai tentar nada, já que teoricamente temos essa política.

— Realmente não vai confiar em mim?

— Para ficar longe de um homem bonito? — Ele respondeu sua pergunta com outra pergunta, irônico — Não mesmo. É melhor assim, [Nome]. Dessa vez, você realmente não pode se envolver com ele, em hipótese alguma.

Você engoliu seco, tentando impedir que as lembranças da noite passada invadissem sua mente mais uma vez. A ideia do seu pai descobrir o que vocês dois fizeram assombrava a sua mente, mas, se vocês não contassem para ninguém e não fizessem de novo, tudo acabaria bem. Não é?

— Isso não vai acontecer — Tentou não vacilar com a voz, nem desviar das íris azuis — Não vou transar com ele.

— Ótimo — Ele falou, com um sorriso manso no rosto, enquanto se levantava da cadeira — Já temos problemas suficientes por causa do seu envolvimento passado com o Senhor Forster.

— Por favor, não me lembre disso — Pediu, com um suspiro cansado, dando um pequeno tapinha na testa, arrancando uma risada de Erwin.

— Vamos fazer uma pausa e nos encontramos na reunião com os clientes. Eu preciso resolver algumas coisas também.

— Tudo bem — Respondeu, tirando o notebook da bolsa — Eu vou trabalhar por aqui mesmo — Decidiu, depois de se lembrar que, ficando aqui, teria menos chances de se encontrar com os dois Ackermans que vagavam pelo prédio.

— Certo — O mais velho deu um beijo no topo da sua cabeça, andando em direção à saída logo depois — Nos vemos em alguns minutos.

Você apenas assentiu com a cabeça e abriu o notebook, já entrando nas pastas que você iria verificar hoje. Por causa do costume, seus dedos digitavam de uma forma incrivelmente rápida e você não tinha dificuldades em concluir todos os relatórios rapidamente.

Finalmente, um pouco de paz. Além do silêncio gostoso, sua mente estava ocupada demais com o trabalho para pensar em um certo Ackerman. Pretendia acabar com todas as pendências do dia antes da reunião com os clientes, para poder voltar para casa logo depois dela e se afogar na sua própria mente, tentando pensar no que fazer.

Talvez você ligasse para Jean e contasse toda a situação para ele, na esperança de que seu melhor amigo conseguisse te ajudar. Mas, não queria fazer ele guardar um segredo tão pesado quanto esse.

Mais um assunto para ficar pesando na sua mente, mas, não demorou muito para que esses pensamentos fossem interrompidos. O barulho alto da porta sendo bruscamente aberta fez você dar um saltinho de onde estava, digitando algumas palavras sem sentido.

Assim que suas íris se viraram na direção do som estrondoso, você revirou os olhos e colocou a mão na altura do coração, tentando recuperar o fôlego do susto.

— Puta merda, Mika — Você reclamou, enquanto a Ackerman entrava na sala, saltitante e com um sorriso travesso no rosto.

— Desculpa, amiga — Ela foi até você e deu um beijo na sua bochecha, se sentando na cadeira ao seu lado — Entra aí, Levi! — O Ackerman mais velho também entrou na sala, fechando a porta atrás de si — Eu sei que vocês já se conhecem, mas queria te apresentar a ele como minha melhor amiga.

Você esboçou um sorrisinho, tentando não fazer ele parecer falso. Levi, como sempre, ainda tinha aquele olhar monótono no rosto, ao mesmo tempo em que se sentava em uma das cadeiras da extensa mesa de reuniões.

— Levi morou na Itália por alguns anos — Mikasa começou a explicar, se sentando ao seu lado — Se deu bem lá e acabou esquecendo a família — Brincou, mas sem conseguir que ele mudasse de expressão — Como você conheceu o Erwin mesmo?

— Ele foi em uma conferência lá na Itália. Acabamos nos conhecendo e ele entrou em contato depois, fazendo a oferta de juntar as empresas.

— E por que você decidiu voltar pra Tokyo? — Dessa vez, as íris azuis focaram em você, que tinha acabado de fazer a pergunta.

— A proposta do seu pai era uma boa oportunidade para tirar todo o trabalho de cima de mim, agora que eu tenho outro sócio, e eu já tinha vontade de voltar a algum tempo.

Você assentiu com a cabeça, se perguntando como o baixinho tinha conseguido passar todo esse tempo trabalhando sozinho. Ao passar tantos anos ajudando seu pai com os negócios, percebeu que gerir uma empresa era algo extremamente difícil de se fazer sozinho. E, pelo que leu sobre o Ackerman, ele tinha conseguido se tornar um dos CEOs mais bem sucedidos da Europa sem a ajuda de ninguém.

— Pelo menos metade das mulheres da festa de ontem perguntaram quem era você — A voz de Mikasa lhe tirou de seus próprios pensamentos, fazendo você perceber que ela estava falando com o primo — Eu já ia arrumar você com uma amiga minha da faculdade — Ela deu de ombros, divertida — Mas parece que você acabou na casa de uma delas mesmo sem minha ajuda — Levi não respondeu nada, apenas continuou olhando para a de cabelos negros, sem mudar de expressão — Pelo menos me fala o nome dela.

— Eu não perguntei — Mentiu, como um profissional .

— Qual é? Você fodeu com ela e nem sequer perguntou o nome dela? — Assim que o mais velho assentiu levemente com a cabeça, ainda sem esboçar nenhuma reação, Mikasa revirou os olhos e suspirou alto — E você, [Nome]?

— O que tem eu? — Tentou não parecer nervosa.

— Como foi sua noite? — Ela nem tentou esconder o tom completamente malicioso na pergunta.

— Foi boa. 

— Só isso? — Você sabia que essa conversa não acabaria nada bem e a única coisa que você queria era enfiar a sua cabeça no primeiro buraco que encontrasse — O cara entrou pro seu top 3 e você só diz que foi bom?

— Mika... — Você tentou chamar a atenção dela, olhando rapidamente na direção de Levi, como um sinal para não falar mais sobre isso na frente dele.

— Pode falar, não tem problema — A cada palavra que a Ackerman falava, você ficava ainda mais tensa — Levi não vai saber quem o cara é mesmo.

Você teve vontade de morrer naquela hora, ao mesmo tempo em que o Ackerman se segurava para não esboçar um sorriso divertido, conseguindo manter a mesma expressão indiferente de sempre. Mikasa nunca conseguiria saber que o primo dela era o cara que estava na sua casa ontem. Sua boca chegou a ficar entre aberta, para falar qualquer desculpa esfarrapada e tentar fugir do assunto, quando a porta foi aberta novamente, sem a pessoa bater antes.

— Achei você — Floch disse, assim que você entrou no campo de visão dele.

Nunca se passou pela sua cabeça que, um dia, você viria a agradecer mentalmente o ruivo, que já entrava na sala, sem pedir licença a ninguém.

— Acredito que isso significa que a reunião vai começar — Foi Levi quem falou, se levantando da cadeira em que estava — Nos vemos mais tarde, Mikasa.

— Vocês são muito chatos — Ela respondeu, emburrada, dando um beijo na sua bochecha antes de se levantar e fazer o mesmo com o primo — Vai passar lá em casa mais tarde, [Nome]?

— Vou.

— Beleza — Passando pela porta, ignorando completamente o ruivo na sala, ela esboçou um sorriso empolgado — A gente se vê depois, então.

Você balançou a cabeça negativamente, achando engraçado o jeito empolgado e ansioso da Ackerman mais nova. Com o canto do olho, conseguiu ver Floch vindo em sua direção. De verdade, você já estava com muitos problemas na cabeça para ter que lidar com o Forster hoje. Mas, para sua sorte, o ruivo parou de andar assim que o outro homem estendeu a mão para ele.

— Você deve ser o Senhor Forster — Levi falou, com os olhos monótonos fixados no ruivo — Eu sou Levi Ackerman, o novo CEO da empresa.

— É um prazer, Senhor Ackerman — Floch nem tentou esconder o sarcasmo e falsidade nas palavras que pronunciava, apertando a mão que o mais baixo tinha estendido.

Assim que ambos se afastaram, Levi veio até você e se sentou ao seu lado, só deixando o lugar fixo de Erwin vago, impedindo que o ruivo se sentasse perto de você. Por mais que parecesse indiferente em relação a tudo, o Ackerman era um ótimo observador e tinha percebido facilmente o seu desconforto com a presença do Forster, que acabou se sentando na sua frente.

— Desculpem o atrasado — A voz do seu pai preencheu todo o cômodo, juntamente com o som de passos. Além desse, mais outros sete homens entraram na sala, sendo eles parte dos seus clientes mais influentes e fiéis — Vamos começar a reunião.

— Antes de tudo — Foi Floch quem falou, atraindo a atenção de todos, inclusive dos que estavam se sentando — Eu soube que vocês vão dar uma festa daqui a dois dias.

— É verdade, eu esqueci de avisar — Seu pai falou, fazendo você franzir as sobrancelhas. Geralmente, era você quem organizava as festas da empresa, mas não estava sabendo de nada — Vamos dar uma festa de boas vindas ao Senhor Ackerman.

Realmente, era só isso o que faltava na sua agenda. Outra festa com Levi Ackerman. Mas, mesmo com medo de fazer besteira de novo, você não conseguiu evitar de se perguntar o que poderia acontecer com vocês dois quando o álcool atingisse seus corpos mais uma vez.

A reunião continuou, sem que o assunto da festa fosse tocado novamente. Mesmo assim, as possibilidades do que poderia acontecer nela preenchiam sua imaginação de mais e mais ideias. Somente quando Levi arrastou um post-it para perto de você, sua atenção foi voltada para ele.

Com as sobrancelhas franzidas, você desceu o olhar e leu o que estava escrito no pequeno pedaço de papel.

"Top 3?"

Depois de revirar os olhos, você pegou o pequeno papel em cima da mesa e o amassou, dando um olhar ameaçador para o Ackerman, que apenas mantinha aquela pose indiferente de sempre.

Verdadeiramente, seria impossível esquecer o que aconteceu.