10. You called

Quando entrei na lanchonete com Lizzie ao meu lado, meu coração estava mais acelerado do que eu gostaria de admitir. Não era como se fosse algo tão incomum para mim, sair com alguém para tomar um sorvete, mas o fato de ser Lizzie tornava tudo... Diferente. Ainda não entendia o motivo exato do convite, e enquanto tentava decifrar, uma pergunta irritante ficava martelando na minha cabeça, isso é um encontro?

Eu balancei a cabeça para afastar a ideia. Não podia ser. Lizzie não me via assim. Nós discutíamos o tempo todo, e mesmo quando as coisas estavam tranquilas, sempre havia um tom provocador entre nós. Isso não era... Romântico. Era?

E então, de novo, olhei para ela. Ela estava absolutamente deslumbrante. Não era como se eu não a achasse bonita antes, ela sempre foi, de um jeito natural, quase sem esforço. Mas vê-la assim, toda arrumada, de vestido e o cabelo solto, parecia... Diferente. Desconcertante, até. Por alguns segundos, eu não consegui colocar em palavras o que estava sentindo, mas logo decidi que não deveria tentar. Era só admiração de amigo, certo?

Com certeza Anthony pensava o mesmo quando olhava para ela. Essa ideia foi suficiente para minha mandíbula apertar por um momento. Eu estava sendo idiota de novo. Sacudi o pensamento para longe enquanto atravessávamos a porta.

A lanchonete era pequena, mas acolhedora. O ambiente parecia ter saído direto de um filme dos anos 80. Havia luminárias de néon em tons de rosa e azul nas paredes, que combinavam com o piso quadriculado em preto e branco. A jukebox no canto próximo ao balcão tocava uma música qualquer que eu não reconhecia, mas que tinha um ritmo calmo e agradável. As mesas eram cercadas por bancos estofados de couro vermelho, e no balcão, fileiras de copos coloridos estavam organizados ao lado da máquina de milkshake.

O aroma doce de sorvete misturado com o cheiro sutil de café pairava no ar, e a luz que entrava pelas grandes janelas dava um brilho dourado ao ambiente, já que o sol começava a baixar. Não estava muito cheio, o que era um alívio. Apenas alguns grupos espalhados aqui e ali, rindo e conversando.

Lizzie apontou para uma mesa de canto, perto da janela.

— Vamos sentar ali? — Sugeriu, já indo na direção.

Eu segui sem dizer nada, ainda tentando organizar os pensamentos. Ela se acomodou no banco, e eu me sentei de frente para ela, colocando as mãos no bolso do moletom para evitar mexer nelas nervosamente.

— Essa lanchonete tem uma vibe retrô, né? — Ela comentou, olhando ao redor.

— É. É legal — Respondi, mas minha voz saiu meio baixa.

Ela me lançou um olhar curioso, mas não perguntou nada, apenas sorriu de leve antes de pegar o cardápio que estava no canto da mesa. Eu fiz o mesmo, tentando me focar no que pedir e não na confusão que minha mente estava.

Eu precisava relaxar. Era só sorvete com uma amiga. Só isso. Certo?

Pouco tempo depois, o nosso pedido já chegou. O silêncio entre nós era insuportável. Cada segundo parecia durar uma eternidade enquanto eu mexia no canudo do refrigerante que tinha acabado de chegar. Lizzie, por outro lado, parecia relaxada, tomando goles do milkshake de morango dela. Ela tinha um sorriso satisfeito no rosto, como se o simples fato de estar aqui já fosse suficiente para ela. E talvez fosse, mas para mim, minha mente estava a mil.

Não consegui mais segurar a curiosidade.

— Tá, eu preciso perguntar — Comecei, inclinando-me ligeiramente para a frente. — Por que você me chamou aqui?

Ela parou de tomar o milkshake por um segundo, olhando para mim como se eu tivesse acabado de perguntar algo óbvio demais. Ainda assim, percebi um brilho hesitante no olhar dela.

— Amigos saem, Kenny. É normal — Ela respondeu, dando de ombros antes de pegar uma batata frita e mordê-la como se isso encerrasse o assunto.

Mas eu fiquei olhando para ela, esperando mais. Como se ela percebesse que não tinha me convencido, ela suspirou, colocando o milkshake de lado.

— E também porque... — Ela começou, enrolando o canudo entre os dedos, evitando meu olhar por um instante. — Eu queria passar um tempo com você. De verdade. Sem brigas, sem drama. Só... Eu e você.

Eu arqueei uma sobrancelha, cruzando os braços.

— A gente passou tempo juntos no parque aquático, lembra? — Retruquei.

Ela riu, mas foi uma risada seca, que logo se transformou em um olhar afiado.

— Ah, sim. Passamos tempo juntos. Você, eu e sua constante irritação com Anthony.

Revirei os olhos na hora, sabendo exatamente onde isso ia dar.

— Você sabe que eu e ele... — Comecei a dizer, mas ela me interrompeu rapidamente.

— Eu sei, eu sei. Vocês têm um passado. Rivalidade, brigas, tudo isso. Mas, sinceramente, Kenny, será que dá para não me colocar no meio disso?

Fiquei calado por um momento, absorvendo as palavras dela. Era mais fácil dizer que ela estava exagerando, mas, no fundo, eu sabia que tinha razão. Eu realmente a colocava no meio.

— Eu não coloco você no meio disso. — Minha voz saiu defensiva, mas ela apenas ergueu uma sobrancelha.

— Não coloca? Sério? — Ela rebateu, inclinando-se ligeiramente para frente. — Porque do lado de cá, parece que toda vez que Anthony aparece, você vira outra pessoa, e eu fico presa entre vocês dois, tentando evitar que se matem no corredor da escola.

Dei um longo suspiro, esfregando a mão no rosto.

— Eu não faço de propósito, Lizzie. É só... Ele sabe como mexer comigo. Sempre soube.

Ela cruzou os braços, olhando para mim com uma mistura de exasperação e curiosidade.

— E você sabe como não dar corda pra ele, mas escolhe não fazer isso. Por quê?

Essa pergunta me pegou desprevenido. Não tinha uma resposta imediata, ou talvez não quisesse admitir o motivo real. Fiquei em silêncio por tempo demais, porque ela suspirou e balançou a cabeça.

— Olha, eu só... Queria que você e ele fossem menos... Sei lá, explosivos? É pedir demais?

— Com ele, sim — Murmurei, encarando o meu refrigerante.

Ela me estudou por um momento antes de soltar uma risada curta.

— Claro, porque o Kenny Payne nunca perde uma briga, não é?

Levantei o olhar para ela, surpreso com o tom provocador. Mas havia algo mais nos olhos dela, uma leve preocupação que ela estava tentando esconder atrás daquele sorriso brincalhão.

— Não é questão de briga, Lizzie. É questão de... — Pausei, procurando as palavras certas. — É questão de respeito. Ele nunca respeitou ninguém, muito menos eu.

— E você acha que dar o troco vai fazer ele mudar? — Ela perguntou suavemente, inclinando a cabeça para o lado.

Fiquei quieto de novo, porque, honestamente, não sabia responder. Ela deu um pequeno sorriso, mexendo no canudo do milkshake.

— Só quero te lembrar que nem toda batalha vale a pena lutar, Kenny.

Eu não sabia o que dizer. Ela tinha um jeito irritante de sempre acertar em cheio, mesmo quando eu não queria ouvir. Mas, por mais que me incomodasse admitir, talvez ela tivesse razão.

Ela riu suavemente, encostando-se na cadeira como se o assunto anterior fosse nada mais do que um vislumbre passageiro.

— Vamos esquecer isso por enquanto, tá? Não é o tipo de conversa que a gente deve ter em um encontro entre amigos. — Ela disse, com um sorriso, mas fez questão de enfatizar a palavra amigos.

Essa palavra grudou na minha mente como uma melodia que não desgruda. Era só isso? Um encontro entre amigos? Claro, era óbvio que sim. Mas então por que meu estômago parecia dar cambalhotas toda vez que ela falava? Eu já estive sozinho com ela antes, na escola, na rua, até no parque aquático, mas dessa vez parecia... Diferente.

Tentei ignorar isso e voltei a beber meu refrigerante, tentando parecer relaxado. Só que, é claro, Lizzie não me deixaria em paz.

— Ei, Kenny... — Ela começou, inclinando-se um pouco para frente, aquele sorriso provocador surgindo em seus lábios. — Você passou perfume só pra me encontrar?

Quase cuspi meu refrigerante.

— O quê? Claro que não! — Disse imediatamente, sentindo o rosto esquentar. — Por acaso eu ia sair fedendo por aí?

Ela gargalhou, inclinando a cabeça para trás, como se minha reação fosse a coisa mais engraçada que já tinha visto.

— Pela sua cara nervosa, eu já sei a resposta. Tá tudo bem, Payne, eu aceito o elogio.

— Não tem elogio nenhum nisso! — Rebati, mas minha voz saiu mais alta do que eu esperava, o que só a fez rir mais.

Ela limpou uma lágrima imaginária do canto do olho enquanto voltava a olhar para mim, agora com um sorriso mais suave.

— Relaxa. Eu também me arrumei mais do que o normal. Nem sei por quê, talvez porque... Sei lá, eu não queria parecer desleixada ou coisa assim.

Eu congelei por um segundo. Ela... Se arrumou para mim? Não, óbvio que não. Ela já tinha deixado claro que era só um encontro entre amigos. Mas o jeito natural como ela falou, sem hesitação, me desconcertou. Parecia tão simples para ela admitir algo que, se fosse eu, nunca teria coragem de dizer em voz alta.

— Enfim, mudando de assunto... — Ela disse, interrompendo meus pensamentos antes que eu pudesse responder. — Que tal irmos ao fliperama depois daqui?

— Fliperama? — Perguntei, tentando processar a mudança de tópico.

— Sim! — Ela respondeu animada, inclinando-se sobre a mesa. — Eu adoro fliperamas. E, sinceramente, adoraria te mostrar quantas cestas consigo fazer no jogo de basquete.

Uma risada escapou de mim antes que eu pudesse evitar.

— No basquete? Tá brincando, né?

Ela estreitou os olhos para mim, mas o sorriso em seu rosto não desapareceu.

— Por que tá duvidando? — Perguntou, cruzando os braços.

— Lizzie, eu jogo no time da escola. Você realmente acha que vai conseguir competir comigo?

Ela apontou o dedo para mim, com uma expressão que misturava provocação e confiança.

— Não me subestime, Payne. Eu tenho truques na manga que você nem imagina.

Eu não consegui conter o riso. Era impossível não se divertir com ela, especialmente quando ela ficava tão determinada.

— Certo, certo. Vamos ver esses truques então — Respondi, levantando as mãos como se estivesse me rendendo.

Ela deu um sorriso vitorioso, pegando outra batata frita e mordendo como se já tivesse vencido o desafio. Eu sabia que tinha zero chance de perder para ela, mas, por algum motivo, a ideia de passar mais tempo com Lizzie parecia mais importante do que qualquer competição.

Depois de um tempo de conversa leve e descontraída, sobre qualquer coisa que não fosse karatê, Anthony ou qualquer outro tópico irritante, terminamos de comer. Eu estava mais relaxado, rindo das histórias dela sobre como quase queimou um bolo tentando impressionar a mãe, e ela ria das minhas tentativas de descrever como é jogar basquete em um time cheio de caras que só pensam em ganhar. Era bom, diferente, e eu sentia que estava conhecendo um lado mais leve dela.

Quando o garçom trouxe a conta, não hesitei.

— Deixa comigo, eu pago.

Lizzie arqueou uma sobrancelha, pegando o canudo do milkshake vazio e o girando entre os dedos.

— Olha só, cavalheiro, hein? Que chique.

— Não é isso — Disse, balançando a cabeça enquanto tirava a carteira do bolso. — Só acho justo. Fui eu quem comeu a maior parte das batatas.

Ela riu, balançando a cabeça.

— Certo, Payne. Você venceu. Mas obrigada.

O jeito como ela sorriu ao dizer isso me pegou de surpresa. Não era provocativo ou zombeteiro como de costume; era genuíno. Isso me desconcertou, mas fingi estar tranquilo enquanto pagava a conta.

Assim que o garçom devolveu o troco, senti algo inesperado, os dedos de Lizzie entrelaçando os meus enquanto ela segurava minha mão. Foi um toque rápido, mas direto, como se ela fizesse isso o tempo todo.

— Vamos lá, preguiçoso, quero te humilhar no basquete — Disse ela, rindo enquanto me puxava.

Minha mente parou por um instante, e minha respiração ficou presa na garganta. Era um simples toque de mão, algo totalmente normal. Mas, ao mesmo tempo, não era normal. Não para mim. Eu senti um arrepio subir pela espinha, e por mais que tentasse disfarçar, minha mão parecia estar pegando fogo onde os dedos dela tocavam.

Ela, por outro lado, parecia não notar nada. Continuava falando, como se aquilo fosse a coisa mais comum do mundo. Talvez fosse. Talvez fosse eu que estava reagindo demais.

— Anda logo! — Insistiu, puxando-me com mais força.

Finalmente, consegui me mexer, permitindo que ela me guiasse para fora da lanchonete e para as ruas de Marietta. Era engraçado; nunca pensei muito na cidade, mas naquele momento, parecia que tudo estava mais vivo. O sol se espalhava pelo céu, dourando as fachadas das lojas e refletindo nos carros estacionados. As pessoas andavam despreocupadas, conversando e rindo, e o som dos passarinhos misturava-se com o ruído suave do tráfego.

Lizzie continuava segurando minha mão, e embora o gesto fosse casual para ela, eu não conseguia me concentrar em mais nada. Cada passo parecia um lembrete de que ela estava ali, do meu lado, tão perto.

— Marietta é pequena, né? — Comentou ela, desviando-se de uma bicicleta que passou apressada. — Dá pra fazer tudo andando.

— É... — Murmurei, minha voz mais baixa do que o normal.

— Ei, tá tudo bem? — Perguntou, olhando para mim por cima do ombro.

Eu rapidamente balancei a cabeça, tentando parecer despreocupado.

— Claro, só... Só pensando no que vou ganhar quando vencer você no basquete.

Ela riu, jogando o cabelo para trás.

— Vai sonhando, Payne. Vai ser uma vitória fácil pra mim.

Eu não tinha tanta certeza disso, mas naquele momento, vencer ou perder não parecia importar. Tudo o que eu queria era prolongar aquele passeio o máximo possível.

Assim que chegamos ao fliperama, não pude deixar de reparar nas luzes piscando em tons de azul, vermelho e amarelo, e no barulho constante de jogos em andamento, sons de tiros, buzinas, moedas caindo e crianças gritando empolgadas. Já tinha estado ali antes com Shawn, mas nunca achei o lugar tão interessante. Agora, com Lizzie ao meu lado, parecia que tudo tinha mais vida.

Ela finalmente soltou minha mão, e eu estranhamente senti falta do toque. Não que fosse algo importante, claro. Mas me acostumei rápido demais com aquele gesto, e o fato de ela não notar o impacto que causava me deixava desconcertado.

— Então, o que acha de uma aposta? — Sugeriu ela, virando-se para mim com um sorriso desafiador no rosto.

Cruzei os braços e arqueei uma sobrancelha.

— Que tipo de aposta?

— Quem conseguir mais tickets até o final da noite tem direito a um pedido. Nada absurdo, claro. Algo que possa ser realizado.

O sorriso dela era provocador, mas havia algo a mais. Talvez ela achasse que já tinha ganho. Eu não podia deixar isso acontecer.

— Tá bom, desafio aceito — Respondi, tentando parecer confiante.

— Perfeito. — Ela apontou para uma máquina ao lado, onde dois canhões de água estavam posicionados diante de uma tela com alvos móveis. — Vamos começar por essa.

— Essa coisa? — Perguntei, franzindo o cenho. — É jogo de criança.

Ela revirou os olhos dramaticamente, como fazia sempre que eu dizia algo que ela considerava "ridículo".

— Exatamente, Payne. E sabe o que mais? Jogos de criança dão mais tickets.

Antes que eu pudesse rebater, ela segurou minha mão de novo, puxando-me até a máquina como se eu fosse incapaz de andar sozinho.

O toque dela era firme, mas leve, e me pegou de surpresa novamente. Era engraçado como algo tão simples conseguia me fazer sentir... Diferente. Mais animado, talvez.

Ela me soltou assim que estávamos diante da máquina, pegando uma ficha do bolso e jogando-a na abertura.

— Tá pronto para perder? — Provocou, pegando o canhão de água à esquerda.

— Nem nos seus sonhos. — Peguei o canhão da direita e posicionei as mãos no gatilho, tentando ignorar o sorriso dela.

A máquina apitou, e os alvos começaram a se mover. Eu disparei imediatamente, mirando com precisão, mas Lizzie não ficou para trás. Ela era rápida, acertando um alvo após o outro com uma facilidade irritante.

— É só isso que você tem? — Zombou, sem desviar os olhos da tela.

— Tô só me aquecendo — Retruquei, ajustando minha mira.

A competição ficou acirrada. Cada vez que eu acertava um alvo, ela acertava dois. Quando um alvo maior apareceu no centro, disparei primeiro, mas ela desviou o jato dela para o mesmo ponto, nos fazendo dividir os pontos.

Quando o jogo terminou, ela jogou o canhão na base com um sorriso vitorioso.

— E aí, quantos tickets? — Perguntou, pegando os dela da saída da máquina.

Olhei para os meus e fiz uma careta. Não eram muitos, e com certeza menos do que os dela.

— Tá, essa foi só a primeira rodada. — Tentei não parecer frustrado.

— Claro, claro. — Ela piscou para mim e começou a andar em direção a outra máquina. — Espero que tenha trazido mais moedas, Payne. A noite vai ser longa.

Eu a segui, sentindo que, apesar de estar perdendo, aquilo era exatamente o que eu precisava. Não era só sobre os tickets. Era sobre estar ali com ela, naquele momento. E, pela primeira vez em muito tempo, eu estava me divertindo de verdade.

Depois daquela máquina de canhões de água, onde, claro, Lizzie saiu com mais tickets que eu, ela jogou os ombros para trás, como se tivesse acabado de vencer uma final olímpica.

— Ok, campeão, qual vai ser o próximo? — Perguntou, ainda com aquele sorriso de superioridade que me deixava ao mesmo tempo irritado e... Bem, mais determinado.

Cruzei os braços, fingindo pensar seriamente, mas já sabia exatamente o que queria propor.

— Que tal uma disputa de basquete? — Sugeri, apontando com o queixo para a máquina de cestas no canto da sala. — Vamos ver se você consegue acertar mais bolas que eu.

Ela arqueou uma sobrancelha e exibiu o bolo de tickets que tinha acumulado, abanando-os no ar como se fossem uma bandeira de vitória.

— Acho que estou confiante o suficiente pra aceitar o desafio — Respondeu com um sorriso desafiador.

Revirei os olhos, mas não consegui evitar um riso curto. Essa confiança toda dela era divertida, mas eu sabia que no basquete eu tinha vantagem.

Fomos até a máquina, e ela imediatamente pegou uma das bolas, testando o peso e girando-a nos dedos como se fosse uma profissional.

— Preparada pra perder dessa vez? — Provoquei, pegando minha bola e ajustando minha postura.

— Eu nunca perco, Payne. Só deixo os outros acharem que ganharam — Devolveu, colocando a bola no suporte e esperando o cronômetro começar.

Assim que o jogo começou, disparei minha primeira bola e acertei direto na cesta. Lizzie não ficou atrás, acertando a dela também. Por um momento, pensei que talvez ela fosse melhor do que aparentava.

— Nada mal — Comentei, acertando mais duas cestas em sequência.

— Isso foi um elogio? — Perguntou ela, rindo enquanto lançava outra bola. Acertou de novo.

— Não se acostuma — Respondi, ajustando o ritmo e marcando três pontos seguidos.

Ela era boa, admito. Tinha um jeito meio desengonçado de lançar, mas a pontaria dela era surpreendente. Mesmo assim, eu estava em outro nível. Treino e técnica sempre vencem.

Quando o cronômetro apitou, olhei para o placar e não pude evitar um sorriso satisfeito.

— E aí? Como tá a confiança agora? — Perguntei, recolhendo meus tickets enquanto ela olhava para o próprio placar com uma expressão fingidamente frustrada.

— Ah, tá bom, você ganhou essa — Respondeu, pegando os poucos tickets que tinha conquistado. — Mas, sério, você joga no time da escola. Não é muito justo, né?

— Ei, você aceitou o desafio. — Dei de ombros, me gabando um pouco mais do que deveria.

Ela apontou para mim com um dedo acusador.

— Ok, Payne, só porque você ganhou agora, não quer dizer que vai ganhar a aposta no final da noite.

— Veremos. — Sorri, ajeitando os tickets no bolso.

Ela riu, mas, por um momento, notei um brilho diferente nos olhos dela. Era como se ela estivesse se divertindo de verdade, e isso me deixou ainda mais animado.

— Qual vai ser o próximo jogo? — Perguntou, cruzando os braços e inclinando a cabeça para o lado.

— Sua escolha agora — Respondi, dando espaço para ela passar à frente.

Enquanto ela olhava ao redor, procurando a próxima máquina, não pude evitar pensar que essa noite estava sendo muito mais do que eu esperava. Não era só a competição ou os tickets. Era estar ali com ela, trocando provocações, risadas... E, pela primeira vez em muito tempo, sentir que eu podia simplesmente aproveitar o momento.

Lizzie olhou ao redor por alguns segundos, com os olhos brilhando como se ela fosse uma criança escolhendo um doce numa prateleira. Então, ela parou de repente, apontando para a seção do boliche no fundo do arcade.

— Que tal boliche agora? Ou você tem medo de perder, Kennyzinho? — Disse, com um sorriso travesso e um tom de provocação que me pegou completamente desprevenido.

"Kennyzinho"? O apelido me atingiu de um jeito que eu não esperava. Minhas bochechas esquentaram no mesmo instante, e eu soltei uma risadinha baixa, tentando disfarçar o quanto aquilo tinha me desconcertado.

— Kennyzinho, é? — Murmurei, arqueando uma sobrancelha e tentando parecer despreocupado. — Só porque você sabe que vai perder, tá tentando diminuir minha moral.

Ela riu, e o som era tão contagiante que eu tive que morder o interior da bochecha para não sorrir mais do que o necessário.

— Não é diminuir sua moral, Payne. É só um incentivo para você tentar me derrotar. — Ela deu de ombros, me puxando pela mão de novo e me guiando até a área do boliche.

Chegamos às pistas iluminadas por luzes neon, com cores que alternavam entre azul e roxo. O chão era um pouco gasto pelo tempo, mas tinha aquele charme nostálgico que só lugares antigos podiam oferecer. Lizzie parecia empolgada, como se toda a tensão que ela carregava no dia a dia tivesse desaparecido.

Ela pegou uma das bolas menores, girando-a entre as mãos antes de se virar para mim com um sorriso.

— Se prepare, Kennyzinho, porque eu sou a rainha do boliche. — Disse em um tom confiante.

— Rainha do boliche? — Perguntei, rindo e cruzando os braços enquanto observava ela ajeitar a bola na pista. — Vamos ver se a tal rainha consegue fazer um strike.

Ela estreitou os olhos, lançando um olhar de fingida determinação antes de lançar a bola. Foi direto... Para a canaleta.

Eu não consegui segurar o riso, e ela se virou para mim com uma expressão de indignação fingida.

— Não vale rir, eu só estava aquecendo! — Disse, apontando para mim.

— Claro, claro, só aquecendo — Respondi, balançando a cabeça e pegando minha própria bola.

Quando foi a minha vez, acertei oito pinos, o que foi suficiente para Lizzie me olhar com os olhos semicerrados.

— Tá bom, eu admito, você tem alguma habilidade. Mas não pense que já ganhou.

Eu apenas sorri, observando enquanto ela se preparava para sua próxima jogada. Ela parecia tão leve, tão animada. Era difícil desviar o olhar dela.

Enquanto ela ria e fazia comentários sobre como ia melhorar na próxima jogada, eu me peguei pensando em como odiava vê-la chorar. Lizzie tinha um sorriso que podia iluminar qualquer ambiente, e vê-la assim, tão feliz, era algo que eu queria guardar para sempre.

Eu sabia que era só boliche, só mais um jogo, mas estar ali com ela, competindo de forma amigável, ouvindo suas risadas... Aquilo significava muito mais do que qualquer vitória que eu pudesse conquistar naquela noite.

Mas de repente, o jogo mudou. Lizzie estava eufórica. Quando fez o segundo strike consecutivo, ela literalmente pulou no lugar e bateu palmas como uma criança que ganhou um presente de Natal antecipado.

— Já era pra você, Kennyzinho! — Ela disse, com aquele tom provocativo que já era marca registrada.

Eu soltei um suspiro exagerado e coloquei a mão no peito, fingindo um drama profundo.

— Acho que vou me aposentar do boliche depois dessa. — Suspirei teatralmente, balançando a cabeça. — Quem sou eu diante da rainha das pistas?

Ela riu alto e, sem aviso, passou o braço em torno do meu ombro, puxando-me de leve para perto. Aquele toque me pegou completamente desprevenido, e eu senti meu corpo se encolher um pouco, como se algo dentro de mim tivesse acionado um alarme. Mas Lizzie parecia tão à vontade, tão natural, que qualquer desconforto foi substituído por algo que eu não sabia nomear.

— Anda, vamos conferir os tickets — Disse ela, ainda rindo, enquanto me guiava para o balcão.

Seguimos até a mesa onde as pessoas trocavam os tickets por prêmios. Eu joguei todos os meus tickets na mesa ao mesmo tempo que ela, e o atendente nos olhou com um misto de cansaço e curiosidade, como se já tivesse visto aquela cena centenas de vezes antes. Lizzie bateu a mão no balcão, animada.

— Pode contar separadamente, moço! — Disse, com a voz cheia de entusiasmo.

Ficamos lado a lado, esperando ansiosamente enquanto ele começava a contar os tickets de cada um. A tensão parecia ridícula, considerando que estávamos ali por causa de papelinhos coloridos, mas eu estava tão envolvido quanto ela. Quando ele terminou, o resultado nos surpreendeu.

— Empate — Disse o atendente, sem nem erguer os olhos.

Lizzie soltou um suspiro exagerado, quase teatral, mas havia um brilho divertido em seus olhos.

— Empate? Depois de tudo isso? — Perguntou, como se fosse a maior injustiça do mundo.

Eu ri, balançando a cabeça.

— Parece que estamos destinados a isso, hein? — Brinquei, enquanto ela se abaixava para olhar os prêmios disponíveis.

Lizzie escolheu dois anéis infantis de plástico azul, daqueles que claramente eram feitos para crianças pequenas, e apontou para eles no balcão.

— Quero esses dois aqui — Disse, com a mesma convicção de quem escolhe algo muito mais importante.

Eu ergui uma sobrancelha, confuso.

— Você tá brincando, né? — Perguntei, tentando não rir.

Ela colocou um dos anéis no dedo e sorriu para mim como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

— É tipo um selo de amizade, Kennyzinho. Nada mais justo depois de tudo isso.

Eu revirei os olhos, mas acabei rindo.

— Isso é coisa de criança. — Peguei o outro anel e o coloquei no dedo, mais para não prolongar a conversa.

— E daí? — Ela deu de ombros, satisfeita. — Agora somos amigos oficialmente.

O atendente pigarreou, chamando nossa atenção.

— Ainda sobraram alguns tickets. — Ele apontou para os prêmios menores.

Lizzie se virou para mim e sorriu.

— Sua vez. Escolhe aí, Payne.

Olhei para a vitrine de prêmios, e meus olhos pararam em duas pulseiras infantis, uma do Bob Esponja e outra do Lula Molusco. Elas eram tão ridículas que não pude deixar de rir.

— Essas duas — Disse, apontando para elas.

Peguei as pulseiras quando ele as entregou e, sem pensar muito, estendi a do Bob Esponja para Lizzie.

— Essa é sua. As personalidades combinam.

Ela olhou para a pulseira e depois para mim, rindo.

— Ah, claro! Porque você e o Lula Molusco não têm absolutamente nada em comum, né?

— Ei, eu sou bem mais divertido que o Lula Molusco! — Respondi, tentando soar ofendido, mas acabando por rir junto com ela.

— Pra mim, você é rabugento igual à ele. — Ela deu de ombros, afirmando em um tom sarcástico que me tirou um sorrisinho.

Enquanto saíamos do arcade com nossos "prêmios", percebi que nunca me diverti tanto numa noite. Lizzie tinha essa habilidade única de transformar até as coisas mais simples em momentos inesquecíveis, e eu me sentia sortudo por estar ali, vivendo isso com ela.

Quando saímos para o lado de fora, Lizzie parecia radiante. Ela olhava para a pulseira do Bob Esponja no pulso com um sorriso tão genuíno que era impossível não sorrir junto. O céu começava a escurecer, com tons de laranja e roxo se misturando no horizonte. A temperatura tinha caído um pouco, e o ar estava mais fresco, o que ajudava a acalmar meu nervosismo crescente.

Caminhamos até o estacionamento, e ela, ainda brincando com a pulseira, parou de repente e se virou para mim com aquele olhar travesso que já era sua marca registrada.

— Então, Payne, você pode fazer um pedido. — Ela cruzou os braços, inclinando a cabeça levemente para o lado.

Franzi o cenho, confuso.

— Mas eu não ganhei, lembra? Foi empate.

Ela deu de ombros, como se isso fosse um detalhe insignificante.

— Eu sei, mas tô curiosa. Quero ver o que você ia pedir.

Minha mente entrou em pânico. Um pedido? O que eu pediria? Um novo jogo no fliperama? Mais uma rodada no boliche? Algo relacionado a treino? Nada parecia certo. E então, sem controle sobre minha própria boca, as palavras simplesmente escaparam.

— Quero que você vá comigo em um encontro. Definitivamente.

Assim que terminei de falar, me arrependi. Foi como se o tempo tivesse parado. Lizzie ficou imóvel, me encarando com os olhos arregalados, o sorriso desaparecendo lentamente de seu rosto. Um silêncio constrangedor se instalou entre nós, e eu senti meu rosto queimar.

Ela abriu a boca como se fosse dizer algo, mas fechou novamente, suspirando. O que eu tinha acabado de fazer? Eu queria me enfiar em um buraco e nunca mais sair.

— Tudo bem. — A voz dela finalmente quebrou o silêncio, e eu levantei o olhar, surpreso. — Mas dessa vez você escolhe o lugar.

Fiquei tão atordoado que só consegui assentir.

— Só que tem que ser no fim de semana — Continuou ela, passando a mão pelo cabelo. — Os treinos com o Silver têm durado até tarde.

Eu assenti de novo, sem dizer uma palavra. Meu coração estava batendo tão rápido que eu tinha certeza de que ela podia ouvir. Um silêncio desconfortável pairou entre nós novamente, até que Lizzie levantou o olhar e, com um leve sorriso, perguntou.

— Mas... Isso vai ser um encontro como amigos?

Eu respirei fundo. Era a chance perfeita para dizer "sim" e aliviar a tensão. Mas eu sabia, lá no fundo, que não seria verdade. Esse encontro não era como amigos, e eu não podia mentir sobre isso, não para ela e, principalmente, não para mim mesmo.

— Não, Lizzie. — Minha voz saiu mais baixa do que eu esperava, mas firme. — Não é um encontro como amigos.

Ela piscou algumas vezes, claramente desconcertada, e desviou o olhar, como se estivesse processando.

— Ah... Certo. — Ela assentiu lentamente, e um silêncio desconfortável se instalou de novo. Finalmente, ela deu um passo para trás, apontando na direção oposta. — Bom, eu... Te vejo amanhã no treino, então?

— Sim, claro. — Eu forcei um sorriso, tentando parecer menos nervoso do que estava.

Lizzie acenou brevemente e começou a se afastar, as mãos nos bolsos, enquanto eu fiquei parado por alguns segundos, assistindo-a se distanciar. Depois, me virei e comecei a andar na direção oposta, minha mente girando.

Eu realmente tinha acabado de dizer isso? Pedi para ela ir em um encontro comigo. Admiti que não seria como amigos. Era a coisa mais impulsiva e insana que eu já tinha feito, e agora não fazia ideia de como lidar com isso.

Mas, apesar do nervosismo, uma pequena parte de mim estava aliviada. Eu finalmente tinha sido honesto, pelo menos com ela. O que aconteceria depois? Isso era um problema para o Kenny do futuro. Por enquanto, tudo o que eu podia fazer era seguir em frente e tentar não surtar antes do treino de amanhã.

Obra autoral ©

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