06. We need some care

Ainda estava em completo choque quando Lizzie se afastou. Meu corpo parecia preso naquele instante, os braços ainda meio erguidos, como se eu não soubesse o que fazer com eles. Eu fiquei parado, observando enquanto ela limpava o rosto com as mangas da blusa, tentando esconder as lágrimas que ainda teimavam em escorrer.

Por que ela estava chorando? E por que, depois de toda aquela tensão entre a gente, ela decidiu me abraçar? Era como se os últimos minutos não tivessem acontecido de verdade. Eu estava tentando processar o que acabara de acontecer, tentando entender se eu ainda estava com raiva dela, ou se agora sentia pena, ou algo completamente diferente.

Ela quebrou o silêncio, falando com uma voz mais leve do que eu esperava depois do que acabara de acontecer.

— Você quer... Sei lá, comer alguma coisa? Um hambúrguer? — Perguntou, como se o que tinha acontecido antes simplesmente não tivesse sido nada.

Eu pisquei, confuso. A ideia parecia vir de lugar nenhum, e eu ainda estava tentando entender aonde ela queria chegar. Mesmo assim, as palavras saíram antes que eu pudesse pensar.

— Tudo bem. — Minha voz saiu mais baixa do que eu gostaria, quase hesitante.

Ela deu um sorriso pequeno, quase tímido, mas era sincero.

— Posso deixar minha bicicleta encostada na sua casa? A gente vai caminhando.

Eu apenas assenti. Não confiei na minha voz para responder. Ainda estava tentando organizar meus pensamentos, mas eles continuavam um turbilhão. Ela pegou a bicicleta e a encostou cuidadosamente na grade da frente da minha casa. Não parecia ter pressa, e, quando voltou, começou a caminhar ao meu lado, como se tudo fosse completamente normal.

O silêncio entre nós era quase desconfortável, mas ela o quebrava de tempos em tempos, falando sobre coisas simples, como se estivesse tentando aliviar o clima.

— Sabia que hambúrguer com milkshake é a melhor combinação? — Comentou, rindo um pouco, embora ainda houvesse algo melancólico em seu tom. — É meio estranho no começo, mas depois você não consegue parar.

Eu apenas murmurei algo em resposta, sem saber exatamente o que dizer. Era surreal para mim como ela conseguia sorrir tão pouco tempo depois de chorar daquele jeito. Era como se ela tivesse duas versões diferentes de si mesma, trocando entre elas sem aviso.

Ela continuava falando, talvez para preencher o silêncio.

— Eu sempre escolho de baunilha — Ela disse, dando um pequeno chute em uma pedra na calçada. — Não sei por quê, mas acho que combina mais com o salgado do hambúrguer. Chocolate é bom, mas meio óbvio, sabe? E você? Tem algum preferido?

Eu dei de ombros, tentando parecer indiferente.

— Acho que baunilha é bom também.

— Ah, sério? — Ela olhou para mim, surpresa, como se aquilo fosse uma grande descoberta. — Não esperava que você gostasse de algo tão simples.

Isso me fez parar por um momento. O que exatamente ela queria dizer com aquilo? Antes que eu pudesse perguntar, ela mudou de assunto, apontando para a lanchonete que estava logo à frente.

— Lá! Vamos naquele lugar. Parece bom.

Eu apenas segui o ritmo dela, ainda confuso. Lizzie era um enigma completo para mim naquele momento. Como ela podia estar tão à vontade depois do que aconteceu? Como ela podia ser tão resiliente? Não fazia sentido. E, mais estranho ainda, por que ela me escolheu para estar ali com ela, naquele momento?

Entramos na lanchonete, o sino da porta ecoando suavemente enquanto eu seguia Lizzie. O lugar era pequeno, aconchegante, com cheiro de fritura e algo doce, provavelmente os milkshakes que ela parecia tão animada em pedir. Ela escolheu uma mesa de canto, longe de outras pessoas, e se sentou sem cerimônia. Eu hesitei por um segundo antes de fazer o mesmo, sentando-me de frente para ela. O silêncio voltou a pairar entre nós, pesado, como se cada um estivesse esperando o outro falar primeiro.

Eu não aguentava mais aquela sensação. O nervosismo borbulhava no meu peito, e, antes que pudesse me segurar, as palavras escaparam da minha boca.

— Por que você não está com o Anthony? — Perguntei, a voz saindo mais ríspida do que eu planejava.

Lizzie levantou os olhos para mim, surpresa e... Irritada? Ela bufou, revirando os olhos, como se a pergunta tivesse sido a coisa mais idiota que alguém poderia dizer naquele momento.

— Sério? — Ela cruzou os braços, inclinando-se levemente para frente. — Você quer mesmo falar sobre o Anthony agora?

Fiquei mudo, sem saber o que responder. Eu queria. Queria entender por que ela sempre escolhia ficar ao lado dele, mesmo depois de tudo. Mas agora que ela estava me encarando daquele jeito, como se eu fosse o errado da história, me senti um pouco constrangido. Olhei para a mesa, desviando o olhar, e fiquei em silêncio.

Lizzie soltou um suspiro irritado, como se estivesse desistindo daquela conversa antes mesmo de começar.

— Eu estou aqui com você, Kenny. — A voz dela soava firme, mas ainda havia algo de gentil por trás. — Será que dá para focar só nisso por um momento? Eu só preciso de alguém. Um amigo, sabe? Só isso.

Eu absorvi as palavras dela, tentando entender o que ela realmente queria dizer. Aquele "amigo" martelava na minha cabeça. Antes que eu pudesse evitar, minha irritação transbordou.

— Então, agora somos amigos? — Perguntei, a voz saindo mais dura do que eu pretendia. — Porque você não parecia achar isso quando me ignorou para puxar o saco do Larusso.

Lizzie arregalou os olhos, claramente surpresa com o que eu tinha dito. Mas, em vez de recuar, ela me encarou de volta, a expressão se transformando em algo mais irritado.

— Puxar o saco? — Ela se inclinou para frente, os braços cruzados sobre a mesa. — Kenny, eu nunca disse que nós não éramos amigos! Nunca! — A voz dela subiu um pouco, mas sem atrair muita atenção das outras pessoas. — Só... Eu não entendo por que você faz aquelas coisas com o Anthony.

Eu já ia retrucar, mas ela continuou, sem me dar chance de falar.

— Ele é meu amigo há mais tempo, sabe? Eu só quis dar atenção pra ele também, porque ele é importante pra mim. Não tô defendendo o que ele fez ou "puxando saco", como você disse. Só... Só achei que ele precisava de companhia. Assim como eu achei que você precisava agora, ou como eu preciso agora.

Ela terminou, cruzando os braços e desviando o olhar, claramente frustrada. Eu senti meu rosto esquentar. Parte de mim queria discutir mais, mas outra parte sabia que ela não estava errada. Só que, mesmo assim, eu não conseguia simplesmente deixar pra lá.

— Você não entende — Murmurei, apertando o punho embaixo da mesa. — Não entende como é estar do outro lado disso tudo.

Lizzie voltou a me encarar, o olhar suavizando um pouco. Por um momento, ela pareceu hesitar, como se não soubesse o que dizer. Mas então o garçom chegou, perguntando o que iríamos pedir, e a conversa foi interrompida.

— Hambúrguer com milkshake de baunilha, por favor — Disse Lizzie, com um sorriso pequeno, mas ainda claramente abalada pela discussão. Ela olhou para mim, esperando que eu pedisse algo também.

— Só um hambúrguer. — Minha voz saiu baixa, quase inaudível, enquanto eu olhava para qualquer lugar que não fosse Lizzie.

O garçom anotou os pedidos e saiu, nos deixando novamente naquele silêncio desconfortável. Lizzie respirou fundo, como se estivesse tentando se acalmar.

— Eu não sei o que você passou, Kenny — Ela disse, finalmente quebrando o silêncio. — Mas, se você quiser me contar... Eu tô aqui. Mesmo que você ache que não. E sabe, seria bom entender seu lado, pra varia um pouco.

Eu cruzei os braços, me recostando na cadeira desconfortável da lanchonete, tentando esconder o incômodo que as palavras de Lizzie estavam causando. Ela tinha dito que estava ali se eu quisesse contar algo. Só que eu não precisava. Não queria. Meu orgulho gritou mais alto.

— Não tenho nada pra contar. — Retruquei, a voz saindo seca.

Lizzie ergueu as sobrancelhas, o olhar dela carregado de irritação e algo próximo a decepção. Ela bufou, revirando os olhos de uma forma que parecia calculada para me irritar ainda mais.

— Sabe, Kenny, você é muito teimoso. E irritante também. — Ela me encarou com firmeza, como se estivesse esperando que eu rebatêsse, mas não dei a ela essa satisfação. Apenas desviei o olhar para a janela, fingindo observar algo lá fora.

Um momento de silêncio desconfortável se instalou antes que eu quebrasse, incapaz de controlar a curiosidade que martelava na minha cabeça desde que ela apareceu no Cobra Kai.

— Por que você entrou? — Perguntei, tentando soar casual, mas sem conseguir esconder a ponta de frustração. — Por que, do nada, você decidiu que queria treinar no Cobra Kai?

Lizzie piscou, um pouco surpresa com a pergunta, mas logo relaxou, apoiando os cotovelos na mesa enquanto me encarava. Algo mudou na expressão dela, como se ela estivesse prestes a confessar algo importante.

— Porque eu sou fraca — Ela respondeu, a voz baixa, mas clara.

Eu franzi o cenho, genuinamente surpreso com a confissão. Lizzie não parecia fraca. Na verdade, ela sempre teve essa energia confiante, quase teimosa, que fazia parecer que ela estava sempre no controle. Essa resposta não fazia sentido.

— Fraca? — Repeti, mais para confirmar se tinha ouvido direito.

Ela assentiu, soltando um suspiro pesado, o olhar desviando para a mesa, como se estivesse escolhendo as palavras certas.

— Quando precisei lutar, Kenny... — Ela fez uma pausa, mordendo o lábio, como se estivesse tentando manter a voz firme. — Eu não lutei. Eu só abaixei a cabeça e aceitei. Todas as coisas ruins, toda a dor, todas as situações que eu devia ter enfrentado. Eu só... Aceitei.

Houve um momento em que eu não soube o que dizer. As palavras dela tinham um peso que eu não esperava. Lizzie era sempre tão... Determinada, tão cheia de vida. Era estranho ouvir ela dizer algo assim, mas eu não interrompi. Esperei ela continuar.

— Eu não quero que continue assim — Ela disse, levantando o olhar para mim, os olhos dela brilhando com uma mistura de raiva e determinação. — Eu preciso mudar. E, por mais que o Miyagi-Do fosse atrativo E... calmo, eu percebi que não era o que eu precisava agora.

— O que você acha que precisa, então? — Perguntei, curioso, mas tentando soar desinteressado.

Lizzie sorriu de canto, um sorriso pequeno, quase melancólico.

— Eu preciso ser forte, Kenny. Não só forte para me defender, mas para atacar. Para lutar de verdade, para parar de fugir. O Cobra Kai... Bem, parece ser o lugar que pode me ensinar isso.

Fiquei em silêncio, processando o que ela tinha dito. Não esperava ouvir algo tão honesto, tão cru. Mas, ao mesmo tempo, não sabia como reagir. Parte de mim entendia. Outra parte ainda estava desconfiada.

— Atacar não resolve tudo — Murmurei, sem olhar para ela.

— E abaixar a cabeça resolve? — Ela rebateu rapidamente, a voz carregada de convicção.

Isso me atingiu como um soco no estômago. Não respondi. Porque, de alguma forma, eu sabia que ela estava certa.

⋆౨˚ ˖

Caminhando ao lado de Lizzie em silêncio, percebi como a noite parecia ter se acalmado, com as ruas tranquilas e a lua iluminando o caminho. Apesar disso, eu sentia que algo estava diferente nela, uma espécie de tensão no jeito que ela olhava para frente e mantinha os braços cruzados, como se estivesse se protegendo de algo invisível.

Foi quando ela parou de repente, apontando para um parquinho.

— Acho que vou ficar aqui um pouco. — A voz dela saiu mais leve do que eu esperava, mas havia um tom subjacente que entregava algo a mais. Algo que me fez hesitar.

Ela virou para mim, os olhos grandes e expressivos fixos nos meus.

— Se quiser ir embora, tudo bem. — Tentou soar despreocupada, mas havia algo naquela frase que me incomodou.

Eu franzi o cenho.

— E deixar você aqui sozinha? Nem pensar. — Minha voz saiu um pouco mais firme do que eu pretendia, mas Lizzie apenas sorriu de canto, parecendo satisfeita.

Ela caminhou até os balanços, um deles velho e rangendo suavemente com a brisa. Sentou-se e começou a balançar devagar, enquanto olhava para mim de esguelha. Seus olhos brilhavam como se ela estivesse planejando algo.

— O que foi? — Perguntei, desconfiado, cruzando os braços.

— Você não vai sentar? — Ela indicou o balanço ao lado com um gesto de cabeça.

— Nem pensar. — Cruzei os braços com mais firmeza. — Isso aqui é coisa de criança.

Lizzie revirou os olhos dramaticamente, soltando um suspiro exagerado.

— Você é um mala sem alça, sabia? — Disse ela, levantando-se de repente. Antes que eu pudesse me afastar, senti sua mão quente segurando a minha, puxando-me com uma força surpreendente.

— Ei, o que você tá fazendo? — Perguntei, indignado, tentando resistir, mas não consegui. Eu estava mais surpreso com o gesto do que qualquer outra coisa.

— Me agradeça depois. — Ela deu uma risadinha enquanto me guiava até o outro balanço, os dedos dela ainda segurando os meus com firmeza.

Senti minhas bochechas esquentarem de uma forma que me irritou profundamente. Não sabia o que era mais desconcertante, o jeito mandão dela ou o fato de que eu estava deixando ela me arrastar assim.

Quando chegamos ao balanço, ela praticamente me empurrou para sentar.

— Vai, senta logo.

— Você é muito mandona. — Murmurei, meio indignado, mas acabei me sentando, derrotado.

Lizzie sorriu, como se tivesse vencido alguma batalha importante.

— E você é muito sem graça. — Retrucou, balançando-se de volta ao balanço ao lado. — Ser criança às vezes não é crime, sabia?

Mesmo contra minha vontade, deixei escapar um risinho discreto, mas logo disfarcei, olhando para o chão. Lizzie percebeu, é claro, porque parecia notar tudo. Ela deu um sorriso satisfeito e começou a balançar lentamente, o ranger do balanço enchendo o silêncio entre nós.

Por um tempo, nenhum de nós disse nada. O vento frio da noite passava por nós, e eu olhei de soslaio para ela. Lizzie estava com a cabeça levemente inclinada para trás, respirando fundo como se estivesse tentando se acalmar. Parecia tão diferente da garota mandona que me arrastou até ali. Tão... Vulnerável.

Eu sabia que algo de ruim tinha acontecido. Não era difícil perceber. O jeito que ela evitava a própria casa mais cedo, a forma como chorou antes... Mas perguntar era arriscado. E se ela não quisesse falar? E se eu acabasse pisando em falso e estragasse tudo?

Lizzie balançava de leve, os pés arrastando na areia do parquinho, os olhos fixos no céu.

— Você sabe... — Começou, mas sua voz vacilou, quase como se ela estivesse reconsiderando.

— O quê? — Perguntei, mantendo a voz o mais neutra possível, mesmo que estivesse ansioso para entender.

Ela hesitou por um momento, depois balançou a cabeça.

— Nada. — O sorriso que apareceu nos lábios dela parecia forçado. — Só... Obrigada por ficar aqui. Eu precisava de companhia.

Aquelas palavras fizeram algo apertar dentro de mim, e, pela primeira vez, eu não me senti irritado com a teimosia dela.

— Tá bom. — Foi só o que eu disse, mas parecia o suficiente.

Lizzie sorriu de leve, voltando a balançar, enquanto eu ficava ali, no balanço ao lado, tentando entender como alguém podia ser tão confusa e, ao mesmo tempo, tão cativante.

Fiquei balançando devagar no balanço, tentando reunir coragem para dizer o que estava na minha cabeça. Não era muito o meu estilo ficar convidando alguém para sair, ainda mais Lizzie, que parecia ter a capacidade de me deixar desconfortável só com um olhar. Mas, por alguma razão, eu queria tentar. Talvez fosse a culpa pelo que aconteceu mais cedo ou talvez fosse algo que eu não queria admitir nem para mim mesmo.

— Ei... No final de semana, uma galera vai no parque aquático. — Minha voz saiu um pouco hesitante no início, mas eu a firmei logo em seguida. — Você devia ir também.

Olhei para ela, esperando algum tipo de reação, mas Lizzie parou de balançar por um momento. Seus olhos estavam fixos em algum ponto no chão, como se estivesse pensando no que responder. Então, ela soltou um suspiro, quase imperceptível, e falou com um tom mais lento do que o normal.

— Bom... O Anthony já tinha me chamado.

Foi como se o peso das palavras dela tivesse caído direto no meu estômago. Senti uma irritação subir pelo meu peito, e virei o rosto, tentando disfarçar.

— Ah... — Respondi, seco. Foi só isso que consegui dizer. Não confiei na minha voz para falar mais do que isso.

Fiquei olhando para o chão, tentando não deixar minha raiva transparecer. Não era só pelo Anthony, embora, honestamente, ele já fosse motivo suficiente. Era pela forma como Lizzie parecia sempre escolher ele. Como se fosse natural, como se eu fosse sempre a segunda opção. E o pior era que ela não via isso. Ela não enxergava o Anthony pelo que ele realmente era, o que ele fez comigo no passado.

Minha mão apertou a corrente do balanço, e eu precisei respirar fundo para tentar me acalmar. Não fazia sentido começar uma discussão agora, não com Lizzie nesse estado. Eu sabia que ela não estava bem, sabia que algo estava pesando sobre ela. Ainda assim, era quase impossível ignorar a onda de frustração que me invadia.

— Você devia ir. — Completei, tentando parecer indiferente. Não queria que ela percebesse o quanto isso me incomodava.

Ela olhou para mim, talvez esperando que eu dissesse algo mais, mas eu mantive o olhar fixo no chão. Por mais que eu quisesse falar tudo que estava entalado na minha garganta, que Anthony não era nenhum amigo de verdade, que ela não deveria perder tempo com ele, eu simplesmente não conseguia. Não era o momento certo, e, no fundo, eu sabia disso.

Lizzie voltou a balançar de leve, mas o silêncio entre nós agora era diferente, mais carregado. Eu podia sentir a tensão no ar, mas, ao mesmo tempo, percebia que ela também parecia estar tentando fugir de algo, talvez até de si mesma.

Talvez fosse isso que me irritava mais do que tudo. A ideia de que, mesmo quando eu estava ao lado dela, ela ainda parecia estar a quilômetros de distância.

O silêncio entre nós se estendeu por mais alguns minutos, mas então Lizzie, como sempre, foi quem decidiu quebrá-lo. Sua voz veio tranquila, mas carregada de um tom leve e curioso, o suficiente para dissipar um pouco da tensão que tinha ficado no ar.

— Então, tem algum toboágua radical nesse parque? — Ela perguntou, inclinando ligeiramente a cabeça para me olhar, um pequeno sorriso brincando nos lábios. — Porque eu estou precisando de uma adrenalina.

Fui pego de surpresa, mas acabei soltando uma risadinha involuntária. Era engraçado como ela conseguia mudar completamente o clima com tão pouco, mesmo quando parecia estar carregando o peso do mundo nas costas.

— Tem sim — Respondi, dando um leve empurrão no chão com os pés para balançar de leve. — Alguns são bem altos. Tipo, de testar mesmo a coragem.

Lizzie arqueou uma sobrancelha, o sorriso dela se ampliando um pouco.

— Então você vai me mostrar esses brinquedos, né? Quero ver se você é corajoso também. — Ela me desafiou, cruzando os braços e inclinando-se para frente, como se me analisasse.

Não consegui evitar. A empolgação me pegou de jeito antes que eu pudesse filtrar minha resposta.

— Claro que vou! — Respondi de um jeito animado, mais do que pretendia. Só percebi quando vi o sorriso dela se transformar em algo quase divertido.

Me corrigi rapidamente, limpando a garganta e me esforçando para soar mais seco.

— Quer dizer... É, se você quiser mesmo ir. Tanto faz. — Dei de ombros, tentando disfarçar o constrangimento.

Lizzie deu uma risadinha baixa, e meu estômago revirou com aquela sensação estranha e familiar que eu ainda não sabia nomear. Ela balançou a cabeça de leve, como se achasse graça da minha tentativa de manter a pose, mas não disse mais nada sobre isso.

— Vou cobrar, hein. — Respondeu finalmente, apontando um dedo na minha direção, o tom dela carregado de uma leveza que não tinha antes.

Eu apenas assenti, tentando parecer indiferente, mas por dentro, meu coração estava batendo um pouco mais rápido do que deveria. Havia algo nela que fazia meu orgulho vacilar, e, mesmo quando eu tentava manter distância emocional, Lizzie conseguia entrar como uma maré e bagunçar tudo.

Ficamos ali mais um pouco, os balanços rangendo levemente enquanto balançávamos. O clima estava melhor agora, mais tranquilo. E, mesmo que eu não entendesse completamente, fiquei aliviado por ela estar sorrindo de novo.

Obra autoral ©

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