𝐓𝐄 𝐕𝐈 𝐍𝐀 𝐑𝐔𝐀 𝐎𝐍𝐓𝐄𝐌
Tinha a forte sensação de que tudo aquilo não passava de um sonho, talvez por achar já ter vivido aquele exato momento uma vez, estava escuro na praia de Copacabana, conseguia sentir a brisa suave de verão atingir sua pele levemente, fechou os olhos devagar. Um sonho. Sim, sabia que já havia vivido aquilo antes, já havia sentido aquilo antes, aproximou o celular de seu ouvido devagar.
— Princesa?
Uma voz conhecida se fez presente, você abriu um sorriso grogue em seus lábios.
— Oi, Sho.
— Está tudo bem?
Ele indagou de modo preocupado do outro lado, você sentiu um nó se formar em sua garganta, talvez estivesse bêbada demais mas simplesmente estava tão triste que sentia que poderia se afogar no mar ali mesmo, negou com a cabeça mesmo que ele não pudesse lhe ver.
— Estou com saudades.
Você sussurrou, ele ficou em silêncio por alguns segundos, pareceu conversar com alguém, depois o barulho de uma porta metálica se fechando.
— Chego aí em dezessete minutos, onde você está?
Você sentiu seu coração bater forte contra o peito, olhou para trás se detendo com um bar não muito longe.
— Na praia perto de um barzinho com pisca-piscas.
Murmurou, ele suspirou do outro lado da linha, barulho de chaves depois várias vozes, quase como se ele estivesse entrado em um ônibus ou metrô.
— Não saia daí, eu já estou chegando, está bem?
— Está bem.
Murmurou por fim, ele desligou o telefonema, você suspirou fundo, se deitou novamente contra a areia da praia, não sabia ao certo quanto tempo havia passado que estava daquele modo, o som do mar fazia com que quisesse dormir, escutou passos contra a areia.
— Mocinha?
Uma voz conhecida se fez presente próxima a você, abriu os olhos devagar virando o rosto para o lado se detendo com o homem de cabelos ruivos, ele parecia completamente ofegante, quase como se houvesse acabado de correr uma maratona, você sorriu fraco.
— Oi, ruivinho.
Sua visão foi clareando pouco a pouco, abriu os olhos devagar, sua vista estava completamente embaçada se deteve com o teto do quarto do hospital acima de você, seu corpo inteiro doía, conseguia escutar o som dos aparelhos hospitalares, um apito alto se fazendo presente por entre o quarto, fazia sua cabeça latejar, possuía uma mascara oronasal hospitalar sobre seu rosto, machucava o sua pele de leve, levou as mãos em direção a própria face afastando a máscara com cuidado, respirou fundo, seu ventre não doía mais como antes, na verdade poderia falar que sentia um vazio naquela parte do corpo.
Escutou passos apressados em sua direção, virou o rosto para o lado se detendo com uma Hadassah completamente ofegante, a mulher de cabelos cacheados abriu um sorriso aliviado ao lhe ver ali.
— Você acordou, finalmente, todo mundo estava tão preocupado.
Ela murmurou por fim, você sorriu fraco, encolheu os ombros de maneira preguiçosa, mesmo que se sentisse completamente debilitada naquele momento poderia dizer que seu corpo estava descansado, quase como se houvesse tido todo a pausa de que ele precisava.
— Apaguei por quanto tempo?
— Dois dias, mas está tudo bem agora, o médico disse que você poderia ter alta quando acordasse... está tudo bem.
A mulher judia murmurou por fim, você sorriu aliviada, levou uma das mãos até a própria barriga a tocando com cuidado, engoliu em seco de maneira aflita.
— O bebê está bem?
Indagou com a voz fraca, Hadassah olhou para os lados, a mulher passou a mão livre pela nuca a esfregando de leve antes de concordar com a cabeça por fim.
— Um deles está, mas o outro... sinto muito, pimpolha.
Ela disse com a voz serena, você arregalou os olhos suavemente, encolheu os ombros, parecia que um enorme nó havia se formado por entre sua garganta, nem ao menos sabia que estava grávida de gêmeos mas mesmo assim não poderia deixar de sentir seu coração bater quase que desesperado contra o próprio peito, havia perdido um filho, mesmo que não o conhecesse fazia com que seu peito doesse, suspirou pesadamente fechando os olhos com força, concordou com a cabeça por fim, estava cansada de esconder os próprios sentimentos, não aguentava mais guardar tudo para si, sentia que não possuía mais lágrimas para gastar.
— Obrigada por me contar, Had.
Murmurou com a voz baixa, mesmo que houvesse de fato perdido um filho ainda possuía Orie e mais um em sua barriga, tentaria se manter firme por eles, a garota de cachos ruivos era uma das únicas motivações que possuía naquele momento, se ela não estivesse em sua vida, talvez nem ao menos conseguisse levantar da cama.
— Vamos te arrumar, está bem? Você merece descansar na sua própria cama.
Ela sussurrou por fim, você concordou com a cabeça, Hadassah chamou uma das enfermeiras para retirar todos os adesivos e agulhas de seu corpo, colocou os pés no chão com cuidado se equilibrando ali, andou até o banheiro do quarto do hospital em passos vacilantes, tomou um banho quente e rápido, lavou os cabelos e escovou os dentes, apenas queria ir embora de uma vez, abraçar Aurora e dizer que tudo ficaria bem; Não demorou muito para que deixasse o banheiro por fim com um dos vestidos floridos e longos que Had havia separado para ti. Conversou com o médico uma última vez, ele lhe passou alguns comprimidos para anemia e vitaminas também, mais uma vez reforçou sobre como você não poderia passar estresse ou fortes emoções já que aquela seria uma gestação de alto risco.
Deixaram o quarto do hospital por fim se infiltrando por entre os corredores esbranquiçados e extremamente cumpridos, o cheiro do hospital lhe deixava enjoada, apenas queria voltar para a casa de Oikawa e comer a sua maldita pizza de salada de frutas; não demorou muito para que estivessem na parte dos fundos do hospital em direção ao jardim de inverno, sentiu a brisa suave de verão atingindo seu corpo, arranhando sua pele quase que de maneira delicada, respirou fundo, olhou para o lado se detendo com um banco amadeirado mais ao longe, engoliu em seco sentindo seu coração bater rapidamente contra a caixa torácica ao ver quem estava ali.
Os cabelos ruivos estavam completamente bagunçados, seu corpo estava torto contra o banco, os braços cruzados sobre o abdômen enquanto dormia de maneira pesada, conseguia visualizar um corte pequeno contra o lábio do homem ruivo quase como se ele houvesse levado um soco, engoliu em seco sentindo seu estômago se revirar em ansiedade. Levou o rosto até Hadassah, a mulher sorriu fraco antes de encolher os ombros.
— Ele está vindo aqui todos os dias, fica rondando o seu quarto e conversando com seu médico, estou surpresa que ele tenha conseguido pegar no sono, não sei ao certo quando foi a última vez que ele dormiu.
A mulher de cabelos cacheados balbuciou por fim, você respirou fundo sentindo suas pernas tremerem em ansiedade, era quase como se não o visse a dias, estava mais do que nervosa, andou em passos curtos em direção ao banco mais afastado onde o homem estava, conseguia visualizar olheiras suaves por baixo de seus olhos fechados, ele dormia de forma tão pesada que você se perguntava se Shoyo havia tido algum mísero segundo de paz naqueles últimos dias; respirou fundo curvando o corpo sobre o dele suavemente, tocou a bochecha do homem com as pontas dos dedos o cutucando com cuidado.
— Hinata?
Chamou com a voz falha por entre um sussurro frágil, os olhos castanhos se abriram devagar, ele correu o olhar por seu rosto de modo surpreso, ficou em silêncio por uma fração de segundos quase como se quisesse ter a certeza de que você estava ali de verdade, levantou de uma vez jogando o corpo sobre o seu lhe abraçando com força, conseguiu o sentir tremer por entre seus braços, um suspiro choroso escapou dos lábios do homem.
— Eu estava com tanto, tanto medo — ele disse com a voz fraca, chiou antes de lhe apertar um pouco mais, sentiu uma lágrima cair sobre seu ombro, ele fungou baixinho —, eu achava que estava... fazendo o melhor para você mas eu só te machuquei mais, me desculpe, eu não... eu nunca achei que fosse ter tanto medo de te perder até quase realmente te perder, eu não posso viver sem você, eu não posso, eu não vou conseguir viver sem o som do seu riso alto, ou do cheiro do seu cabelo recém lavado, do modo como nossos lábios se encontram... sou um desastre em ficar longe de você.
Ele disse por entre o choro, naquele momento você sentia seus olhos completamente marejados, talvez estivesse sensível demais, mas apenas queria se debulhar em lágrimas ali mesmo, o abraçou de volta sem muita força, ainda sentia seu corpo levemente fraco, engoliu o próprio choro.
— Você foi embora.
Sussurrou de maneira trêmula, ele engoliu em seco deixou um beijo fraco contra seu ombro.
— Eu sei.
— Você prometeu que não iria mais embora.
— Eu sei — ele disse com a voz vacilante, fungou baixinho, conseguia o sentir tremer de modo assustado contra os seus braços —, eu errei feio... eu preciso de você, eu preciso de você, eu não posso ficar longe do seu cheiro do seu toque, eu preciso sentir que você está perto de mim, não consigo me forçar a não amar você, mocinha, eu amo cada um de seus pequeninos detalhes, amo tudo em você.
Ele disse com a voz embargada por entre o choro, você suspirou sentindo uma lágrima solitária correr por sua bochecha, riu baixinho.
— Até os meus pés?
— Até os seus pés, eu amo você, amo você — ele disse já completamente em lágrimas, afastou seus corpos devagar ainda segurando seus ombros, seus olhos encontraram os castanhos dele estavam completamente marejados, ele engoliu em seco —, eu sei que você tem muitos problemas e que eu tenho medo de literalmente tudo que envolva perder você, mas por favor, me deixe recomeçar mais uma vez, eu juro que dessa vez vai ser diferente, eu nunca mais vou te dar a alternativa de te deixar ir embora, eu não posso perder você, mocinha, eu não...
— Cale a boca, seu idiota — você sussurrou por entre as lágrimas passando uma das mãos por trás da nuca do homem o puxando para si, aproximou seus rostos com cuidado, conseguia sentir a respiração do mais velho se chocando suavemente contra seu rosto, fechou os olhos devagar, seus lábios se encontraram delicadamente em um beijo quase que tímido, o sentiu levar as mãos trêmulas até sua cintura a tocando com cuidado, deslizou as pontas dos dedos sobre o pé de sua barriga acariciando com cuidado. Seus lábios se afastaram em um estalo baixo, ele respirou fundo antes de pressionar a testa contra a sua, você abriu os olhos devagar o encarando ali, ficaram daquele modo por alguns minutos antes que você abrisse os lábios devagar —, eu amo você
Disse por fim, ele suspirou pesadamente, levantou o rosto devagar deixando um beijo demorado contra a sua testa, os lábios do homem estavam levemente úmidos por suas próprias lágrimas.
— Eu amo vocês, muito.
Ele murmurou contra sua pele antes de acariciar sua barriga mais uma vez, você engoliu em seco sentindo seu corpo se arrepiar de leve, mesmo que sua vida estivesse uma bagunça naquele momento se sentia em paz, nada mais importava, apenas que Shoyo estava ao seu lado, agarrado ao seu corpo se declarando para você. Sentia tanta falta do ruivo que se assustava, tinha tantos problemas e em questão de segundos ele fazia com que eles praticamente sumissem com um simples toque de lábios, engoliu em seco antes de o abraçar mais forte, suspirou pesadamente enlaçando os braços ao redor do pescoço do mais velho.
Não importava quantas vezes haviam se separado, ele estava ali agora, amava Hinata Shoyo com todas as suas forças, naquele momento eles existiam, naquele momento eles eram para sempre.
Não sabia o que aconteceria no dia a seguir, ou no próximo ano, naquele momento no presente Shoyo lhe amava.
E tinha a plena certeza de que aquele momento existiria até o último suspiro que soltasse por entre seus lábios.
Para sempre.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top