2.3

   — Eu juro que não contei para ele.

   O homem de cabelos castanhos murmurou rapidamente quase como se tentasse se defender, estava sentado contra a ponta da cama, você chiou aflita andando de um lado para o outro no quarto, o dia estava quase acabando, a luz alaranjada do por do sol se esgueirava por entre as janelas gigantescas de vidro, sentia que acabaria enlouquecendo, na força do impulso havia respondido a mensagem de Shoyo com um "Sim, claro" e logo em seguida ele mandou o nome de um restaurante e pediu para que estivesse lá as oito da noite.

   — Então por qual motivo ele me mandou mensagem depois de tanto tempo? Digo, só você o conhece, só você do ciclo dele conhece a Orie.

   — Eu não contei para ninguém, S/N, mesmo não achando certo eu respeito a sua decisão que ele não saiba que a menina é dele — ele murmurou em japonês, deu uma pausa longa, você bufou, estava fluente na língua desde o dia em que ele começou a lhe ensinar a exatos dois anos atrás, conversavam em japonês com Orie de vez em quando para que ela aprendesse desde pequena; ele continuou —, ainda acho errado você privar ela de conhecer o próprio pai.

   — Ela não precisa de um pai, ela tem quatro pessoas que já dão todo o amor e carinho para ela, nós suprimos a falta dele.

   Você chiou, sabia que não era certo, mas mesmo assim não queria se envolver com Shoyo, não queria que sua filha se envolvesse com Shoyo, e se ele simplesmente fosse embora e se afastasse como havia feito consigo? Você conseguia — ou menos tentava — lidar com a dor, Orie era uma criança com menos de três anos, ela não entenderia a rejeição, não entenderia o porquê uma pessoa com quem ela se apegou iria embora de uma vez falando para que se afastassem, nem você mesma entendia. Oikawa suspirou pesadamente.

   — Faça como quiser, inclusive onde ela está?

   Ele indagou olhando para os lados, você bufou, havia tirado os olhos por apenas uma fração de segundos e ela sumiu, andou em direção ao banheiro do quarto escutando alguns ruídos, abriu a porta devagar, arregalou os olhos ao ver o que estava acontecendo.

   — Aurora, o que você pensa que está fazendo?

   Chamou irritada, a garota pequena deu um pulo assustada, estava de frente para o espelho se virou rapidamente em sua direção, tinha um batom vermelho na mão pequena, seu rosto estava completamente pintado, os olhos castanhos estavam assustados, ela negou com a cabeça devagar.

   — Aurora não, é Orie, Aurora só quando você tá brava.

   Ela disse de modo atrapalhado, você segurou o sorriso que queria crescer em seus lábios, a risada alta de Oikawa se fez presente ao fundo.

   — Pare de rir, ela não pode achar que isso é engraçado, Tooru! — você disse irritada, andou em direção a garota se abaixando em sua direção, retirou o batom completamente acabado da mão pequena com cuidado, cerrou os olhos — Não estou brava, mas você tem que pedir antes de usar as minhas coisas, está bem?

   — Queria imitar você.

   Ela murmurou de maneira baixa como se fosse chorar a qualquer momento, remexia os dedinhos de maneira ansiosa, você sentiu seu coração amolecer quase que de imediato, respirou fundo, o rosto de Orie estava completamente pintado de vermelho, sorriu.

   — Da próxima vez vamos fazer juntas, tudo bem por você? — indagou com a voz carinhosa levando uma das mãos até os cachos ruivos os acariciando com cuidado, ela sorriu antes de assentir violentamente, você suspirou — A mamãe vai precisar sair um pouco, logo estou de volta, tudo bem ficar com o Kawa até eu voltar?

   — Ele pode comprar pizza?

   — Claro que ele pode comprar pizza, ele é rico.

   — Isso, S/N, ensine a sua filha a me extorquir igual você faz.

   Ele respondeu rindo, não demorou muito para que Orie saísse de perto de você correndo até o homem de cabelos castanhos que estava sentado na cama, você sorriu enquanto se levantava, deu de ombros.

   — Tire o batom do rosto dela, está bem? O pacotinho de lenços umedecidos está no trocador dela, vou me arrumar.

   Você disse por fim, ele assentiu antes de segurar a criança nos braços, suspirou trêmula andando até o guarda-roupa pegando um vestido preto tubo longo com alças finas andando até o banheiro em passos rápidos, não sabia lidar com aquilo, estava indo ver o homem o qual ainda não havia superado completamente mesmo depois de três anos, estava indo ver o pai de sua filha que nem ao menos conhecia a existência. Respirou fundo enquanto trancava a porta arrancando as roupas sociais de seu corpo as jogando dentro do cesto de roupa suja, adentrou no box tomando um banho quente e rápido, não demorou muito para que estivesse de frente para o espelho arrumando o vestido preto em seu corpo, deixava suas curvas completamente a vista, sentia seu corpo tremer de ansiedade, colocou um colar de prata fino e brincos de argola antes de sair do banheiro, Oikawa e Aurora estavam sentados no chão desenhando em um livro gigante de colorir, sentiu os olhos castanhos da garota sobre si, ela arfou surpresa.

   — Mamãe linda!

   Ela exclamou, você riu baixinho, Oikawa levantou o olhar em sua direção abriu um sorriso curto.

   — Ela está indo ver o namorado dela.

   Ele disse rindo, Orie fez uma careta.

   — Eca.

   A garota resmungou antes de voltear a atenção para o desenho, você revirou os olhos antes de mostrar o dedo do meio para o homem quando ela não estava olhando, ele riu antes de voltar a desenhar juntamente a garota. Começou a procurar os saltos finos quase que desesperada, estava atrasada, os achou rapidamente e colocou uma jaqueta de couro sobre o corpo para cobrir os braços do quase inverno de São Paulo, deixou um beijo forte contra a testa de Orie e um sobre a bochecha de Oikawa antes de sair as pressas do apartamento em direção a garagem do prédio onde estava o carro esporte preto o destravando rapidamente, respirou fundo enquanto entrava no mesmo, segurou o volante de modo aflito.

   — Está tudo bem, você consegue.

   Disse para si mesma, deixou o celular no suporte grudado ao vidro colocando o restaurante que Shoyo havia dito no GPS, não demorou muito para que desse partida no carro e traçasse seu caminho, se infiltrando por entre as ruas agitadas de São Paulo, agradecia aos céus o lugar ser perto, caso ao contrário chegaria com uma hora de atraso graças ao trânsito. Chegou por fim no local, respirou fundo enquanto saía do carro dando a chave para um dos funcionários que já se aproximavam de você para levar o carro ao estacionamento.

   — Obrigada.

   Murmurou de maneira gentil enquanto levava os olhos até o restaurante, parecia caro, já havia ouvido falar mas nunca teve coragem de pisar os pés ali, adentrou no local, olhou ao redor se detendo com uma mesa solitária mais ao longe, Shoyo, os cabelos ruivos estavam mais curtos do que antes e ele também parecia mais forte, os músculos apareciam suavemente pela camisa social branca, respirou fundo, uma tatuagem com um par de asas sobre sua nuca, ele tinha a porra de uma tatuagem.

   Se aproximou em passos vacilantes, ele levou os olhos castanhos extremamente parecidos com os de Orie em sua direção, se sentou de frente para o homem, retirou a jaqueta de couro de seu corpo deixando os braços descobertos a dobrando próxima a si no banco de veludo do restaurante, ergueu o olhar até o homem, engoliu em seco, ele tentou sorrir, correu os olhos por seu rosto.

   — Você está linda.

   Sussurrou, você franziu o cenho, curvou o corpo sobre a mesa de modo mau humorado.

   — O que você quer, Shoyo? Não fala comigo por três anos e a primeira coisa que diz é "Você está linda"?

   Indagou com a voz levemente irritada, ele suspirou, encolheu os ombros antes de passar a mão destra sobre a nuca.

   — Na verdade eu queria conversar sobre algo importante com você, acho que vai ser benéfico para nós dois.

   Ele murmurou, um garçom se aproximou deixando uma garrafa de vinho dentro de um recipiente de gelo sobre a mesa, você franziu o cenho enquanto o funcionário enchia as taças que estavam sobre a mesa, não demorou muito para que saísse.

   — Como assim?

   — O Oikawa... — ele começou com a voz levemente mau humorada quase como se não quisesse falar o que diria a seguir, respirou fundo — ele te ensinou japonês, certo? Eu vi em suas redes sociais.

   Você concordou com a cabeça sem saber muito bem onde ele queria chegar com aquilo.

   — Você me segue nas redes sociais?

   — Na verdade não, mas eu vou ver como você está de vez em quando, me desculpe por não dizer parabéns pela Aurora, ela é linda — ele disse de modo gentil, parou de falar por alguns segundos, soltou uma risada baixa —, me da até vergonha de dizer mas eu já pensei na possibilidade dela ser minha filha, por causa do cabelo, mas eu sei que você não esconderia uma coisa importante dessas.

   Você chiou irritada.

   — Onde você quer chegar, Shoyo?

   — Bem, não acha que seria bom para sua carreira cuidar do caso de alguém parcialmente famoso? Digo, eu já apareci em diversas revistas e propagandas no Japão, meu rosto é conhecido.

   — Do que você está falando?

   Ele respirou fundo, juntou as mãos sobre a mesa, lhe encarou de modo sério.

   — Eu estou sendo processado.

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