𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 6
CAPÍTULO 6
18 anos antes
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Essa roupa está me apertando. Acho que cresci bastante e ela não me cabe mais como antes, ou então ter o uniforme se fundindo com minha pele seja um dos requisitos para o treinamento. Algo desnecessário, já que nunca sabemos com quem vamos lutar, podemos ser sorteados ou escolhidos a dedo pelo nosso treinador.
Se fosse um treinamento sem os outros irmãos como plateia, não precisaríamos passar horas com um uniforme apertado para nada. Hoje o nosso pai está presente no treinamento. Isso acontecia com frequência antigamente, mas agora ele deixa o Pogo comandar a maioria dos treinos.
— Será que vamos ser sorteados? — pergunta Allison, cochichando para nós que estamos enfileirados na linha de marcação. Sorteados é uma palavra positiva demais para o que realmente acontece. Acho que somos azarados.
— Tomara. Tem mais chances de eu não participar — Klaus responde ao lado, rindo de canto.
— Silêncio! — a voz ríspida de Reginald grita, ecoando pela arena. Com as mãos para trás, ele anda lentamente na nossa frente, indo de uma ponta a outra da fila. De repente, ele para. Coloca a mão no ombro de alguém e diz autoritário: — Número Cinco, para o centro da arena.
Não vejo ele se mexer, por isso me inclino para frente, olhando através de Ben para saber se Cinco escutou a ordem. Ele estava encarando Reginald com deboche, como quem diz que não irá sair do lugar.
— Número Cinco, vá já para o centro da arena!
Cinco burro. Ele não pode ficar de castigo essa semana, não sei porque está enfrentando Reginald. Nosso pai nunca pede uma terceira vez, por esse motivo, ele aperta a orelha de Cinco e o arrasta para o círculo vermelho no chão, no meio da arena. Cinco massageia sua orelha quando o velho finalmente o solta.
Ajeitando seu monóculo, nosso pai passa novamente em frente a fila, analisando nossas feições. É impossível descobrir quem será o próximo, a não ser que você sinta a mão enrugada dele se chocar contra seu ombro.
— Número Oito, para o centro da arena.
— Eu? — Minha voz falha, em choque. Eu não estava preparada, faz tempo que eu não era escolhida.
— Creio que eu não daria o mesmo número para pessoas diferentes. Para o centro da arena já!
Eu caminho até o outro círculo vermelho, de frente para Cinco, com minha orelha intacta. Viktor está sentado numa mesa perto da porta, sem participar, e discretamente aceno para ele. É meio triste que ele tenha que assistir todos os treinos sabendo que não é como nós.
— Número Cinco, sabe que tem controle sobre o espaço-tempo, mas será que está ciente de tudo o que acontece nele? — Reginald começa, discursando enquanto anda em círculos ao nossos redor — Será que percebe a presença de algo invisível ou camuflado?
— Não sei.
— Então vamos descobrir — Reginald bate palmas duas vezes, e nossa mãe desliga as luzes da arquibancada. Apenas a área delimitada que usamos para treinar está iluminada — Número Oito, acredito que você não está no ápice dos seus poderes, como todos vocês. Nós conseguimos ver você ou o seu contorno, como um camaleão. Trabalhe isso. Agora, peço que use seus poderes para o Número Cinco te encontrar.
Eu aperto minhas mãos, e com um pouco de esforço desapareço para eles. Cinco faz o mesmo, mas agora suas mãos brilham e ele está olhando ao redor, me procurando. Faço o menor barulho possível, e a arena estar completamente quieta não me ajuda. Cinco anda até um certo ponto e indica com os olhos que eu estaria lá. Mas não estou. Desfaço meus poderes, mostrando que ele errou.
— Incorreto. Tente novamente — nosso pai avisa.
O processo se repete, só que dessa vez eu mudo de lugar. Cinco caminha pela arena, os olhos cerrados me procurando como um caçador. Até que ele para, as luzes azuis em suas mãos se enfraquecem porque ele parece estar olhando para o fundo da minha alma.
— Aqui — ele aponta seu dedo.
Sou obrigada a desligar meus poderes e mostrar que ele nunca esteve tão certo. O sorriso de canto dele quase demonstra vitória, isso se estivéssemos um contra o outro. Mas minha única função por enquanto é ser um utensílio para aprimorar os poderes dele.
— Façam novamente. Você precisa saber distinguir as formas. É assim que vê Número Oito?
— Eu vejo o formato dela.
— Certo — Reginald anota em seu caderno — Repitam.
Outra vez, uso meus poderes trocando de lugar. Vou para o canto mais escuro permitido do perímetro da quadra, se Cinco só enxerga minha silhueta, quero saber se também a enxerga com pouca luz. Ele começa a me procurar, rodeando várias vezes o mesmo local. Parece que estamos brincando de esconde-esconde.
Cinco olha para o canto onde estou e caminha em linha reta até mim, um sorriso vitorioso na boca.
— Te peguei, gatinha — diz ele, bem baixo, antes de apontar o dedo e dizer onde estou em voz alta: — Aqui.
— Muito bem.
Isso pode significar que Cinco encontra qualquer coisa quando ativa seus poderes, olhando o espaço e enxergando a matéria, seja lá como ela for. Voltamos para o nossos círculos vermelhos, esperando a próxima ordem.
— Número Oito, você tem potencial para ficar completamente invisível aos olhos humanos, câmeras, sensores de calor e movimento, permitir que outros objetos desapareçam… Creio que está sendo medíocre nos seus treinamentos. Está com preguiça? O que vejo até agora é que você só sabe se camuflar.
É fácil falar quando ele não foi presenteado com habilidades que se usadas por muito tempo consome toda a sua energia vital. Agora mesmo me sinto desidratada.
— Eu treino bastante.
— Não é o suficiente. Estarei aumentando seus treinos para duas vezes por dia, quatro dias por semana — Reginald exclama, nervoso, anotando mais coisas em seu caderno. — Você é um desperdício do meu tempo! Era para estar em outro nível de evolução, mas continua no mesmo grau que atingiu há três anos. Isso é uma vergonha! Vamos ver se só está com preguiça ou se é fraca desse jeito.
Eu escutei tudo olhando para um ponto fixo no chão. Não quero olhar para mais ninguém. A humilhação na frente dos meus irmãos não deveria fazer parte do treino. Eu estou triste, meu estômago está doendo e eu quero sair daqui, pedir para mamãe me dar um abraço.
— E Número Cinco, parabéns. Está evoluindo a cada dia. Vamos treinar suas habilidades na dilatação do tempo no próximo mês — Reginald diz, depois fecha seu caderno com um baque que ecoa na arena. — Estão todos dispensados.
As luzes da arquibancada voltam, mostrando meus irmãos indo embora em fileira, sem nem olhar para trás. Reginald também vai embora, levando junto metade da minha vontade de chorar. Eu caminho até o bebedouro, pegando um copo plástico para matar a minha sede. Talvez o papai esteja certo, já que fiquei com dores de cabeça em poucos minutos usando meu superpoder. Eu tenho que treinar mais.
— Ei, tá tudo bem? — Cinco aparece do meu lado, pegando um copo plástico para si, enchendo-o no bebedouro.
— Sim.
Não está.
Se ele veio aqui se gabar pelo seu sucesso, não vou garantir que ele saia ileso. Cinco bebe um pouco, depois usa seus dedos para levantar meu queixo até encontrar seu rosto.
— Nossa, Amber, seus olhos estão vermelhos — diz ele, uma expressão que pode facilmente ser confundida com nojo. — O que foi?
Eu jogo os ombros, como se não me importasse, e bebo o restante da água. Não vai ser tão fácil convencer Cinco se ele quase me viu chorando.
— Não liga para o que o velho diz. Você é muito boa. — As palavras dele não soam com tanta certeza. Tenho que falar para Cinco parar de me consolar, não combina com ele. — Sabe, acho que ele fez isso de propósito.
— Por quê?
— Pensa. Ele poderia ter usado qualquer um, mas me escolheu, e eu sou o único que teria a chance de ver você, caso me esforçasse muito.
Faz um pouco de sentido. Mas só estávamos lá para treinar os poderes dele, e de brinde, ganhei humilhação.
— De qualquer jeito, ele está certo. Eu não evoluí nada em três anos. Eu vou treinar mais.
— Você evoluiu, só não quer que todos saibam — Cinco fala, um sorriso cúmplice.
Há anos atrás eu consegui atingir o nível de deixar minhas roupas invisíveis junto comigo, e não deixá-las flutuando sozinhas. Meses atrás descobri que posso deixar outra pessoa invisível comigo, essa pessoa obviamente foi o Cinco. Está sendo legal deixar isso em segredo, mas está me custando mais esforços nos treinamentos e elevando minhas broncas.
— Se quiser ajuda nos treinos, pode me chamar. — Cinco oferece. Pelo menos para mim ele sempre esteve disposto a ajudar, o que não acontece com regularidade com os outros.
Eu abro um sorriso fraco, agradecendo. Fico mexendo na borda do copo e piscando várias vezes para meus olhos pararem de arder e querer chorar. Quase funciona, se Cinco não tivesse estalado a língua e segurado o meu ombro.
— Deixa pra chorar quando estivermos em um duelo e você perder pra mim. Por enquanto não precisa chorar — ele leva a sua mão para a minha bochecha, passando o polegar nos meus cílios inferiores, onde a lágrima nem chegou a cair. — Não gosto quando você chora, sua cara fica horrorosa. Muito feia. Não chora.
Gostaria de refutar, mas nunca vi Cinco chorar. Em nenhuma ocasião. Nem quando machucou feio o seu braço em uma missão.
— Valeu — falo, ironicamente.
— Também está com dor de cabeça? — ele pergunta com um tom cuidadoso, se afastando de mim. — Vamos pegar alguns comprimidos escondidos?
— E doces também.
— O que você quiser.
— Vamos.
Me solto dele, a vontade de chorar sumiu completamente. Nós fizemos a combinação dos nossos poderes para ir até a cozinha. Fomos rápidos para ninguém nos ver mexendo nos armários e remédios. Procuramos na caixa onde vemos a mamãe buscar remédios para Reginald quando ele pede.
Como se fossemos ladrões, pegamos alguns comprimidos e, no armário ao lado, enchemos nossas mãos com a maior quantidade de pacotes de jujubas que conseguimos pegar. Deixando toda a bagunça para trás, fomos diretamente para o quarto de Cinco com os poderes dele.
De frente para a janela de seu quarto, nós tomamos os comprimidos para a dor e passamos os próximos minutos comendo apenas as balas de goma das cores dos carros que passavam na rua.
⦿ 1.771 palavras
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mais um pouco de treino e eles ficam dodói da cabeça
é isso, meus curupiras, acho que minha última fic de t.u.a vai ser da 4 temporada, se eu não tiver outra ideia digna de uma história inteira
beijinhos curupirinhas elegantes 💛
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