𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 22

CAPÍTULO 22

17 anos antes

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Meu treinamento hoje foi tranquilo. Eu estava com Luther e Klaus, que estavam de recuperação, então eu aproveitei a companhia deles para treinar meus poderes. À mando do nosso pai, faço o mesmo processo que já estou acostumada: ativar meu poder, permanecer com ele o máximo que eu conseguir, e relaxar.

O meu tempo recorde foi de três minutos.

Se eu ultrapasso esse tempo, sinto minhas mãos e pernas formigando, uma pressão terrível na cabeça, e então eu apago antes que eu tenha chance de reverter o meu poder. Reginald diz que se eu fizer esse exercício, vou alcançar mais tempo de resistência, e logo vou poder ficar completamente invisível. Até mesmo para os olhos de Cinco.

— Amber, você pode ir para o fundo da sala? Parece que você tá piscando. Tá me atrapalhando — Luther pede, com o tom de arrogância que ele reserva especialmente para mim.

Eu vou, mas no caminho levanto meu braço para bagunçar o cabelo dele. Antes eu não precisava levantar tanto assim, a genética de Luther fez ele crescer exponencialmente mais rápido do que todos nós. Eu continuo praticando meus poderes no fundo da sala, assistindo meus irmãos repetirem a aula passada.

Nosso pai diz que não estamos no ápice de nossos poderes, e eu fico pensando qual seria esse ápice. Eu não consigo imaginar para onde mais o meu poder pode se expandir, ou o poder de Luther, Diego, Allison, eles já cumprem muito bem com os poderes deles. Eu queria uma dica do próximo ponto que eu poderia evoluir, acho que me ajudaria a chegar lá mais rápido.

O sinal toca, e nós três saímos da sala. Eu vou diretamente para a cozinha, planejando usar todos os meus artifícios para convencer a mamãe a me dar algum lanche, só para o meu estômago não me incomodar até a hora do jantar.

Chegando lá, encontro Allison e Ben com as mãos e partes de seus rostos sujos de farinha. O avental da nossa aula de culinária não teve tanto desempenho para ajudá-los. Grace está ao lado, acendendo o forno.

— O que estão fazendo? — Eu pergunto, chegando mais perto. A mamãe sabe que eu acabei de sair de um treino, e tão rápido quanto um piscar de olhos, ela me deu um copo d'água.

— Amber, olha as minhas mãos! — Ben mostra, gargalhando sem parar. É tão contagiante que eu também dou risada. — Estamos fazendo batatas com carinhas de urso. Eu já fiz sete.

— Eu fiz quatro. Ben é muito rápido — Allison diz do outro lado — A gente empanou os ursos. Estamos sujos?

Muito sujos — eu enfatizo — Tem algum pronto? Estou mortinha de fome.

— São para o jantar, Amber — mamãe avisa.

— Só um? — eu peço, juntando as minhas mãos. Eu sei que não vou aguentar até o jantar.

— Mãe, imagina se a nossa Amber desmaia de fome? — Allison diz, um tom de voz que só escuto dela quando fingimos que somos atrizes de Hollywood.

— Bem… — Grace olha para os lados. Ben concorda com a cabeça pela frase de Allison. — Eu não posso deixar isso acontecer. Vai tomar um banho, querida, eu levo os ursinhos até seu quarto.

— Obrigada, mãe — eu mando um beijo, um sorriso enorme no meu rosto. Também pisco para Allison e Ben, mas meu irmão decidiu que eu também deveria estar suja de farinha.

— Me dá um abraço, maninha! — Ele vem até mim, morrendo de rir e fazendo questão que suas mãos sujem minhas costas.

— Ai, Ben. Agora vou ter que tomar banho mesmo.

Eu subo as escadas, buscando minhas toalhas no quarto e o meu uniforme. Tomo o meu banho depressa, como se isso fizesse os ursos de batata chegarem mais rápido no meu quarto. Eu ainda estou subindo a minha meia direita na panturrilha quando entro no meu quarto.

Há um pote cinza ao lado do meu travesseiro, e eu corro para abri-lo. O cheiro é tão maravilhoso que faz minha barriga roncar. Eu mordo as orelhas do urso, para depois terminar de mastigá-lo. São tão parecidos com o Mickey. Eu tenho que mostrar para o Cinco.

Eu caminho até o quarto dele. Sua porta está entreaberta, mas mesmo assim eu dou algumas batidas, só porque é legal usar ela sabendo que é exclusiva nossa. Cinco está de costas para mim, sentado com seus cotovelos na sua escrivaninha.

— Oi.

— A porta tava aberta por acaso? — ele pergunta, irritado, sem tirar os olhos do seu caderno.

— Tava.

Cinco vira para trás, se dando conta de que eu estou completamente certa. Ela resmunga, dizendo que esqueceu a porta aberta, e com um pulo no espaço, ele vai até lá fechar.

— O que você quer?

— Tá com fome? — Pergunto, abrindo o pote para ele pegar um dos ursos — Foi a Allison e o Ben que fizeram.

Cinco desconfia de mim, mas aceita pegar um. Não é como se eu tivesse acesso a todos os tipos de veneno para poder colocar em sua comida. Mas é só porque eu não tenho acesso.

— Parece o Mickey, né?

— Não — ele diz, seco. — O Mickey é um rato.

— Me lembra bastante.

Eu fecho o pote e me sento na cadeira da escrivaninha dele. Acho que ele gostou do urso de batata, já que não fez nenhuma careta. Eu me inclino para frente, tentando ler o que está em seu caderno, mas ele tira do meu campo de visão, com um suspiro de descontentamento.

Ele está nervoso como se eu tivesse colocado formigas na sua gaveta de cuecas. Se eu coloquei mesmo, não me lembro.

— Por que tá assim?

— Não é da sua conta.

Bem, ele passa a maioria do tempo de cara fechada, então é normal.

— Sai do meu quarto.

— Tá bom, estressadinho — Eu jogo os ombros, me levantando da cadeira e passando por ele. Se está tão bravo assim é melhor que fique sozinho. Nossas brigas não costumam terminar bem.

Eu me inclino para dar um selinho nele, planejando em seguida abrir a porta, usar meus poderes e correr, caso ele encare meu beijo como provocação. Em partes é, mas quando está bravo, ele fica ainda mais interessante.

Eu faço o que planejei. Sinto um pouco de seus lábios e corro para a porta, esperando escutar algum xingamento vindo dele. Ao invés disso, ele opta pelo silêncio e agarra a minha mão antes de eu conseguir sair do quarto. É ainda mais assustador do que escutar um xingamento dele.

— Tá legal, você pode ficar.

— Sério?

— Eu só não quero conversar.

Eu penso um pouco, e então digo:

— Tudo bem.

Eu caminho lentamente de volta até sua cama, me sentando lá. Cinco pega a sua cadeira da escrivaninha e a coloca embaixo da maçaneta para prender a porta. Em seguida, ele se senta ao meu lado. Deve estar gostando do poder que tem sobre mim. Se me manda sair, eu aceito, e se me manda ficar, também aceito.

Eu queria poder fazer perguntas sobre o humor dele, mas aparentemente ele só quer a minha companhia, e não a minha voz.

Cinco segura a minha mão, acariciando-a por um tempo, sem fazer contato visual. Com a outra mão inclinada para o meu rosto, ele me segura para juntar nossos lábios. Ele me dá vários selinhos, alguns rápidos e outros longos, mas todos bons demais para eu querer que ele não pare.

Os beijos saem do centro da minha boca, e Cinco começa a beijar minha bochecha, em seguida, descendo para o meu pescoço. Ele apoia sua cabeça em mim, respirando pesadamente. Seja lá o que Cinco está passando, está sendo estressante para ele. Eu levo minha mão até sua cabeça, passando meus dedos entre seus cabelos.

— Por que você tem cheiro de morango? — Diz ele, aleatoriamente, dando um beijo em meu pescoço.

— Sei lá. Por causa do meu shampoo?

— Hum.

A cabeça dele se mexe um pouco, ele está olhando para baixo.

— Eu gosto — Cinco sussurra, brincando com os meus dedos. — Você é feliz aqui?

Nossa, que pergunta difícil.

— Eu só sou feliz aos domingos.

— O seu shampoo… Você escolhe ele? Você faz essas coisas porque quer?

— Acho que sim.

— Não tem vontade de sair daqui?

Dou um grande suspiro, acariciando o cabelo dele.

— Sim. Mas não tenho coragem.

— Eu tenho.

— Eu sei que tem.

Cinco se solta de mim para deitar por completo em sua cama. Mesmo assim, seus olhos continuam colados em mim, então me inclino para deitar do lado dele. Ficamos de frente um para o outro, deitados na cama dele, e pensar sobre isso me deixa ansiosa.

Ele move meu cabelo para trás da orelha, o olhar sério. A mão segue uma linha em direção à minha cintura, acompanhando cada curva. Meu coração começa a palpitar. Ele aproxima sua boca da minha para me beijar. Várias vezes, como ele sempre faz.

Sei que falta pouco para ele mencionar o tema que sempre gera discussão entre nós. Sei disso porque ele começa a ficar ansioso, molhando os lábios e olhando para o nada. Sempre pensando na melhor escolha de palavras para me convencer.

— Eu já sei como fazer um salto no tempo — diz ele, baixinho.

— O quê? Você já tentou?

— Não, mas sei como vou fazer. Estou pensando em ir semana que vem, o que acha?

Não tenho certeza se Cinco está realmente disposto a ouvir minha opinião. Ele só quer ser apoiado, então é isso que vou fazer.

— Que bom que conseguiu. Você estudou tanto… — Eu passo meu indicador pelo ombro dele. — Só não achei que seria tão cedo.

— Não está cedo. Adiei muito, inclusive.

— Pra quanto tempo você vai avançar no futuro?

— Não sei. Alguns meses. Depois anos. Décadas.

— Não seria melhor ir aos poucos? Segundos, minutos…?

— Não, Amber. É que nem entrar na piscina.

— Hein?

— Você não entra aos poucos, você pula de uma vez.

Mas nós não vemos o futuro como podemos ver o fundo da piscina. Cinco só pode estar cego pela fantasia de viajar no tempo, ao ponto de não enxergar traços óbvios da realidade. Eu nunca vou aceitar uma loucura dessas, não quero que ele seja a primeira pessoa a fazer isso na história da humanidade, simplesmente porque eu gosto demais dele para assumir o risco de perdê-lo.

Mas disso ele já sabe. Então só me resta encorajá-lo para ter mais confiança, e não errar os seus cálculos.

— Vai se despedir de mim antes de ir? — Eu pergunto. Não era o que eu esperava ouvir, mas Cinco solta uma risada genuína.

— Eu não vou ficar em lugar nenhum, gatinha. — Ele se inclina, beijando minha testa. — E se eu mudar de ideia, volto pra te buscar.

Eu solto uma risada pelo nariz, porque não acho que vamos conseguir ir tão longe sem sermos pegos pelo Reginald. Fugir daqui para vivermos em outra linha do tempo parece um sonho. E é só um sonho.

— Que foi? — Cinco pergunta, ofendido com a minha risada. Ele me puxa para perto, deixando parte do meu corpo em cima dele. Gosto de escutar o coração dele deitada em seu peito, porém estou ficando ansiosa com a sua mão acariciando minha cintura. — Vai dizer que não tem coisas que quer muito fazer longe daqui?

A mão dele em minha cintura começa a encontrar minha pele, afastando o tecido da minha roupa e arrepiando minhas costas com seus dedos.

— Sim, mas acho que não estamos pensando na mesma coisa.

Eu estou pensando em andar de mãos dadas com ele na rua, e visto seu comportamento agora, deve estar pensando em tirar minha camisa.

Ele se abaixa novamente, e agora distribui beijos por todo o meu rosto. Devagar e doce, de uma forma que quase não encontro nele. Nós ficamos assim até cair no sono, eu me aquecendo com o calor dele e Cinco com sua mão em minha cintura. Foi o melhor sono que eu já tive em muito tempo.


⦿ 1.971 palavras

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aff todo dia ele desabafa nos status 🙄

engual isqueiro

bjs filhotes 💛

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