𝐂𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 9: 𝐕𝐞𝐫𝐠𝐨𝐧𝐡𝐚

Ainda ficamos mais um tempo no quarto até Amberly pedir pra irmos até uma sala com bebidas. Quando eu estava grávida de Daya e me escondi aqui, Joe estava montando uma sala para os adultos beberem um pouco e eu ajudei. Não queria ficar parada. Dei dinheiro para comprar os móveis e o resultado ficou uma gracinha.

- E eu achando que você não era uma alcoólatra como todo mundo - Amberly diz pegando uma bebida.

- Bebo de vez em quando - digo, pegando uma cerveja.

- Eu prefiro ficar bêbada a ter que aguentar os bêbados. - Amberly diz, dando um gole na bebida.

- Eu não sou tão santa como você pensa.

- Tenho que conhecer esse seu lado então. - Amberly diz, dando uma risada baixa e bebendo. - Se você ficasse bêbada seria mais fácil. Não é tão ruim - Amberly vem até mim retirando a cerveja da minha mão e me entregando uma garrafa de uísque. Olho a garrafa por um tempo antes de tomar um longo gole. - Não vai se arrepender. - Amberly joga a garrafa no lixo, senta no sofá e fica olhando envolta - Achei que era um lugar bem podre, mas na verdade não.

- Somos bem preservados.

- Difícil eu não conhecer um lugar da cidade. Mas aqui me mostrou o contrário.

- É meu refúgio particular. Morei aqui nove meses.

- É eu também já fui de um refúgio - Amberly se levanta e já dá pra perceber que está alterada. Ela abre a estante e pega outra bebida. - Que não acabou que nem aqui. - ela bebe e da uma risada - Acho que estou alterada. Liga não. Tomar cuidado pra não fazer barulho.

- De?

- Vai que você cai dura no chão e acorda a chatinha.

- Eu? Você que está bêbada.

- Se continuar assim, não vai ser só eu. - ela diz, enrolado. - Tem medo de que? Parece que tá em guarda toda hora.

- Quando me conhecer bem vai entender.

- E quando vou conhecer? - Amberly se aproxima de mim ficando perto o suficiente e eu não consigo me mover para me afastar ou empurra-la. - Você é estranha - ela bebe - Gosto disso. - ela se afasta bruscamente e começa a mexer nas coisas. - E você também gosta de mim.

- Han.. Sim. Gosto.

- Mas ainda não te conheço. - Amberly se aproxima de novo.

- Pergunta qualquer coisa - digo, tentando manter a postura.

- Quero conhecer o jeito que você age.

- Com?

- Depende da situação - Amberly diz e balanço a cabeça devagar pensando onde essa conversa pode levar. - Se solta um pouco, parece que tá presa. Vem cá. - Amberly segura minha mão me puxando para o meio da sala e fica lá, dançando sem música nenhuma com uma garrafa de vodca na mão, mas acabo indo na onda dançando também e olhando para os pés pra não pisar no pé dela. - Olha pra mim. - ela levanta meu rosto me obrigando a olhá-la e novamente ela aproxima o rosto do meu me encarando. - Não tem muito pra falar.

Deve ser o efeito da bebida subindo com tudo em sua cabeça, porque ela coloca meu cabelo atrás da orelha e esse toque mais.. Íntimo me faz congelar relembrando que alguns dos caras faziam a mesma coisa. Mas minha reação vai embora de vez quando Amberly me beija. Sem conseguir me mexer com a surpresa, apenas a deixo continuar e por incrível que pareça não me senti mais ameaçada com isso. Até pensei em retribuir, mas antes que consiga ela para e olha pra baixo.

- Ah.. - volto para a terra e me afasto indo até a estante de bebida - Quer mais uma?

- Não precisa. - Amberly simplesmente larga a bebida na mesa e sai da sala com passos apressados. Sem entender nada, resolvo ir atrás.

- Amberly, espera aí.

- O que? - ela se vira me olhando com uma expressão nada agradável no rosto e respiro fundo antes de me aproximar e dar um beijo leve em sua bochecha.

- Han.. Eu gostei.

- É, mas eu não.

Ela diz indo rápido para o quarto e se trancando lá, me deixando parada com cara de trouxa e a vergonha ardendo em meu rosto. Vou até o quarto, pego um boné da Peppa que estava no guarda roupa, coloco e saio do prédio indo para o da frente e me sentando no telhado.

Eu devia ter imaginado que ela só fez aquilo por estar bêbada. E eu me sinto uma idiota por ter deixado e não impedi-la. Idiota e envergonhada. Porque ela simplesmente fez o que os outros caras fizeram: provaram, usaram e se mandaram.

Fico sentada com os braços cruzados olhando a vista da cidade, os carros passando, as pessoas indo e vindo apressadas.

- Ótimo, consegui voltar. - Peter pousa ao meu lado. - Que cara é essa?

Limpo meu rosto rapidamente, eu nem percebi que estava chorando.

- Nada. - digo e o olho me levantando - Onde você estava?

- Fui olhar o perímetro e fiquei enrolado na casa da May. - ele diz andando na beirada. - Ah, Mel. Eu sinto muito.

Peter me abraça e respiro fundo retribuindo e ficando assim um pouco. Percebo que mesmo o prédio sendo alto, muitas pessoas acabam direcionando seus olhares pra cima por ver o cabeça de teia abraçado com uma garota.

- Você pode ficar no meu apartamento. - Peter diz quebrando o silêncio ainda abraçado em mim.

- Não precisa. - dou um sorriso fraco - Eu vou tentar sair da cidade, é melhor. Não quero problema pra vocês.

- E vai com quem?

- Bom, Tyler está enfiado nisso assim como eu. E como Leonard provavelmente vai tentar matá-lo, nós dois saímos. - respiro fundo.

- E a outra lá?

- Ela segue a vida dela normalmente. - digo - Falando no Tyler, você o viu por aí? Ele saiu e não voltou ainda.

- Não, será que ele tá bem?

O desespero surge novamente por medo de terem feito algo com Tyler. Ele é esperto, sabe se cuidar, sabe todos os truques que Leonard usa, mas se algo acontecer com ele, nunca vou me perdoar.

- Vou dar uma olhada por aí. Volta para o prédio.

Peter sai e rapidamente entro no prédio passando pelo corredor e de frente ao quarto de Amberly. Até penso em bater, mas prefiro deixar como está.

- Tia Mel.

- Oi meu amor. - abaixo e pego Daya no colo.

- Resolveu a briga?

- Sim - minto - E você está bem?

- Uhum, fiz uma coisa pra você. - Daya sorri.

- Ah eu quero ver.

- Vem. - Daya pula do meu colo e me puxa pela mão guiando para o quarto dela do lado ao de Amberly - Olha, olha. - Daya pega várias folhas com desenhos de homens palitos com cabelo, batom e vestido. Embaixo de cada boneco, o nome Amelie e Daya. Vários papéis com vários desenhos de nós duas juntas no parque, na escola, na praia. - Você gostou?

- Eu adorei meu amor. Ficou lindo. - digo, dando risada e olhando cada folha.

Como estou enfrente a janela, um brilho incomum acerta minha visão e olho para fora em direção aos outros prédios, mas não vejo nada. Deve ter sido algum vidro ou algo do tipo, já que a janela de Daya fica enfrente a um apartamento.

Viro-me de costas rindo de Daya comemorando o elogio do desenho e sinto algo perfurar meu pescoço. Minha visão fica embaçada na mesma hora.

- Tia Mel? Tá tudo bem?

Olho pra Daya que agora se transformou em quatro Daya's e me desequilibro caindo de cara no chão, sem sentir minhas pernas. Ainda acordada, ouço Daya gritar desesperada e sair correndo do quarto.

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