𝐂𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 7: 𝐄𝐬𝐜𝐨𝐧𝐝𝐞𝐫𝐢𝐣𝐨

Tenho certeza que Joe não ficará nada feliz com essa... Visita inesperada. Amberly nos teleportou direto para dentro do abrigo. Peter disse que daria uma olhada pelo perímetro pra ver se estamos seguros.

— Joe. – chamo. É estranho todo esse silêncio. O prédio, principalmente na entrada, costuma ser barulhento por causa da movimentação das crianças.

Segundos depois, Joe aparece com uma cara de desaprovação e analisando Tyler e Amberly. Não precisei ajoelhar aos pés dele pra implorar pra ficarmos porque graças a Deus ele entendeu e nos indicou onde há mais quartos disponíveis. Depois, ele explicou que o silêncio todo se dá pelas crianças e os adultos estarem comendo marshmallows no terraço do prédio.

— Tia Amelie. – Daya vem correndo em minha direção e pulando em cima de mim. Fui obrigada a soltar Tyler para segurá-la.

— Ai Cristo. – digo, resmungando de dor.

— Quem são eles? Ele é seu namorado? – Daya pergunta, apontando para Tyler, que quase engasga.

— Deus é mais. – Tyler diz em toda sua calma.

— Se descobrirem esse lugar estamos ferrados – Amberly cochicha no meu ouvido. Daya a olha curiosa e puxa a blusa dela acenando.

— Oi.

— Oii – Amberly diz, sorrindo — Qual seu nome?

— Daya – diz, estendendo a mão.

— Sou Amberly – Amberly sorri e cumprimenta Daya — Me deixa pegar você, ela tá bem machucada.

— Machucada? – Daya pergunta e me olha preocupada.

— Eu estou melhor. Mas vai com ela. – digo, pra tranquilizá-la.

Daya balança a cabeça devagar e vai para o colo de Amberly. Respiro até aliviada quando ela tira o peso de cima de mim. Ajeito Tyler em uma cadeira para ver seu ferimento novamente. Começou a sangrar igual uma bica d' água, e precisa ser tratado. Mas Tyler apenas presta atenção nas duas.

— Está flertando agora?

— Mel, por que ela tem a sua cara e a cara do.. – antes que Tyler termine de falar, piso no seu outro pé pra ele calar a boca. Isso faz com que ele geme de dor e me olhe inconformado e isso também acaba chamando a atenção de Daya, que nos olha.

— Por que... Não me mostra o lugar? Assim deixa a Amelie resolvendo as coisas. – Amberly diz e dou graças a Deus.

Daya pula do colo de Amberly e a puxa pela mão. Ajudo Tyler a ir para o segundo andar e a se instalar em um quarto vazio. O quarto não é muito grande, tem uma cama encostada na parede, uma mesa de cabeceira pequena com um abajur e uma cômoda com uma televisão de 14 polegadas.

— Confia em mim agora? – Tyler pergunta enquanto o ajudo a tirar a calça. Ele é o único homem que não sinto vergonha de fazer as coisas. Ele já se machucou outras vezes e eu sempre o ajudei. Ele me respeita e com isso ganhou minha amizade e minha ajuda. Uma vez tive que ajudá-lo a se trocar porque tinha quebrado a perna e nenhum dos idiotas do Leonard quis ajudar.

— Me desculpa, ok? – dou um sorriso fraco e ele retribui.

— E na garota? Confia? – ele pergunta, quando volto com um kit de primeiros socorros.

— Confio. Se ela fosse me entregar, já teria feito. E além do mais.. Eu não tenho escolha. – começo a limpar seu ferimento.

— Admite. Você gosta dela? – Tyler diz com um sorrisinho no rosto e o olho sem acreditar. — Porque, bom.. Ela parece que tem uma.. Quedinha por você.

— Não Tyler, eu não gosto. – digo, e ele ri baixo — Em primeiro lugar, eu não tenho coração pra ter um relacionamento.

— Você só tem medo de que te machuquem.

— Você não teria? – pergunto. Tyler engole seco e por fim, cala a boca.

Termino de limpar o ferimento e colocar um curativo novo. O sangue finalmente parou e deixei Tyler descansando. Saio do quarto e vou encontrar com Daya e Amberly que estão no segundo andar também, perto da sacada e quando a pequena percebe minha presença sai correndo do colo de Amberly. Explico a Amberly que conheço Daya desde bebê e às vezes é por isso que ela tem bastante apego a mim. Ficamos só mais uns minutos na sacada até eu levar Amberly para um quarto não muito diferente de Tyler. A única coisa que há é uma cortina com estampas de ursinhos e uma mesa.

— Obrigada. – Amberly entra, olhando tudo envolta. — Tomara que não detonem o apartamento. Tem muita coisa minha lá.

— Ah, não vão. – digo, sentando na cama e Amberly balança a cabeça.

Outra coisa que acabo descobrindo é que Amberly tem um irmão, mas tem esperança que um dia os dois possam se encontrar novamente já que ambos não possuem contato com o outro. Ela só acha ruim ele ser muito certinho e que queria puder mudar a cabeça dele. Não acho isso muito ruim, mas ela sim. Acho que se meus pais tivessem me dado um irmão brigaríamos muito, com certeza, mas acho que tentaria proteger meu irmão mais novo e o ensinaria a não ir no mesmo maldito caminho que eu fui.

— O que fazem quando te encontram? - Amberly pergunta se sentando perto de mim.

Explico pra ela que sou punida toda vez que desobedeço a uma ordem, mas não entro em detalhes sobre isso por ser um assunto bem desconfortável. Até digo que estou acostumada com isso e ela me repreende dizendo que isso é uma coisa que eu não devia me acostumar e a vergonha me faz puxar a manga da blusa pra esconder as marcas dos meus braços. E novamente ela pede pra que eu confie nela até que o silêncio toma conta do lugar novamente, e pra quebrar isso resolvo perguntar a idade dela. Ela não deve ter mais que vinte anos.

— Se contar desde o ano que eu nasci, quase 30 anos mais ou menos. Eu não paro pra ficar contando, deve fazer muito tempo que não tenho uma festa. Mas eu sei em que ano eu nasci, apenas tenho preguiça de ficar contando.

— Notei – dou risada e Amberly também.

Fico sabendo que ela e o irmão brigaram antes do blip e muita coisa se passou desde então. Parecia ter mais coisa nessa história, mas não fico perguntando. Tenho dó porque da pra ver em seus olhos que ela queria a companhia do irmão de volta, mesmo que não diga isso com palavras. Amberly fica crente de que ficará comigo até o final, mesmo eu dizendo a ela que pode se machucar e isso é uma coisa que eu não quero.

— Tenho procurado o que fazer a muito tempo, além de ir pra baladas e... Fazer o que eu costumava fazer. - ela respira fundo - Precisava de algo assim. Vai ser legal dar porrada nesses caras.

— É o que eu mais quero – dou uma risada fraca — Ah muito tempo. – digo baixo, e aquela angustia começa a surgir novamente.

— Então a hora é agora. Não vai encontrar outra como eu. Sou muito boa no que faço.

— Não duvido – dou uma risada baixa.

— Nos dois sentidos – Amberly me olha e por algum motivo um arrepio sobe pela minha espinha, manda um sinal para meu cérebro que força meus olhos se arregalarem.

— Nos dois?

— Yep – Amberly ri baixo e a olho. — Se isso tivesse acontecido há dois anos, a gente já estaria se pegando. – ela diz e prendo minha respiração por uns segundos.

— Acho que não. – digo.

— Não se preocupa, sou uma nova pessoa.

— Mesmo se não fosse eu não ia deixar. – digo firme e ela balança a cabeça concordando.

— Não duvide de mim. - ela diz e apenas desvio o olhar para o teto. — Eu buscava qualquer tipo de prazer que podia sentir, com homens ou mulheres. Fico com um pouco de vergonha quando lembro. – ela diz e engulo seco — Não gosto de falar de mim, por que não fala de você?

— O que quer saber?

— Por que está envolvida nisso? – ela pergunta, respiro fundo e a olho.

— Porque eu achei que era um emprego numa loja de eletrodomésticos. Eu precisava trabalhar pra ajudar meu pai a pagar o tratamento dele. - respiro fundo e coço minha testa - Mas no fim.. Acabei sendo obrigada a fazer tudo.

— Por que nunca falou nada? Pra polícia.

— Eu tentei. Meu pai tentou. Minha mãe. Mas todo distrito da cidade tem policiais que trabalham pra ele.

— E quando tenta sair coisas assim acontecem. - ela aponta para meu rosto.

— É.. – balanço a cabeça — Ele sempre acha um jeito de ferrar comigo. Não sei porque ele incluiu meus pais nisso agora. Ele disse que ia deixar eles de fora se eu me comportasse. E eu não fiz nada.

— As coisas vão mudar, prometo. - Amberly diz e dou um sorriso fraco.

— Quer saber mais alguma coisa?

— Acho que no momento, não. – diz — E você quer saber de algo?

— Você trabalha em que?

— É complicado dizer ainda, pode não entender muito bem.

— Tenta – digo, me sentando pra prestar atenção.

— Hum... ─ Amberly levanta, pega um papel e uma caneta que estavam em um canto e faz alguns rabiscos no caminho de volta para a cama. ─ Ok. Finge que os círculos são assassinos e os quadrados são os detetives. Enfim, essas duas classes recebem ordens vindas dos cérebros do santuário, é até um número proporcional. ─ balanço a cabeça tentando adivinhar o que é um santuário. ─ Essa caneta ─ Amberly pega outra caneta em um dos cantos e a deixa separada. ─ Ela é importante e por isso precisa ser eliminada, mas normalmente os alvos não bons em se esconder e é aí onde entram os detetives e os assassinos. O detetive procura e o assassino mata, mas eu normalmente gosto de fazer os dois ─ ela explica. Fico tentando imaginar o que ela pensa sobre mim, o que ela me considera. Até porque meu trabalho não me faz ser uma pessoa boa. Eu já machuquei muita gente, acabei com muitas famílias. ─ Podem ser pessoas comuns ou não, depende do futuro. Não me chamaram por causa de alguma futura catástrofe enquanto estive com você. Tudo que está acontecendo agora está indo de acordo com o esperado.

— Ah ótimo. – balanço a cabeça devagar.

— Estou meio fora por enquanto também. – ela diz e dou uma risada fraca. — E quem é o fofo do homem aranha?

— Meu primo. - explico.

— Caramba, e ele já me deu um capote. – ela diz e dou risada.

— Ele é protetor. Vai gostar dele.

— Vamos nos dar bem. – ela diz — E assim acabaremos com essas caras. Tenha certeza. – dou um sorriso.

— Vou deixar você descansar – me levanto.

— Se quiser conversar, estarei aqui.

— Digo o mesmo.

— Obrigada.

Amberly agradece, dou um sorriso fraco e saio do quarto a deixando descansar. Vou para o quarto que eu costumava ficar e me jogo na cama, respirando fundo. Tentando deixar toda a frustração das últimas 48h pra trás.

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