𝐂𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 5: 𝐀𝐦𝐛𝐞𝐫𝐥𝐲
Meus olhos são invadidos por um pouco de claridade. Eles ardem, meu corpo dói, minha cabeça lateja. Confusa, pisco várias vezes olhando o teto e meus ouvidos são invadidos pelo som dos carros. A janela do meu lado está fechada, mas a cortina aberta.
— Ótimo, você acordou. – A voz me chama atenção, ou melhor, me assusta, fazendo com que eu dê um leve pulo da cama fazendo meu corpo doer e olhar pra ela — Melhor não se mexer, não estou cuidando de você à toa.
— Onde eu estou?
— No meu apartamento. Não repara a bagunça, eu não venho muito aqui.
— Ah – me sento devagar e encosto na cabeceira — Obrigada.
— De nada. Deixa eu ver seus machucados. – ela diz, se levantando.
— Ah.. Não precisa.
— Se quer viver, tem que confiar em mim.
— Não sou muito de confiar. – respiro fundo e resmungo baixo com dor.
— Posso saber seu nome pelo menos?
— Amelie.
— Sou Amberly. Bom.. Melhor você deitar. – ela diz, me ajudando. Depois de deitar com um pouco de dificuldade, Amberly pega uma cadeira e se senta do meu lado. — Você estava detonada. – ela cruza os braços.
Amberly se oferece pra me levar para casa achando que alguém deva estar preocupado comigo, mas explico a ela em poucas palavras que não tenho ninguém a quem recorrer.
— Certo. Quer uma água? Bebida?
— Água.
— Então tá. Vou ver se o filtro ainda funciona. – Amberly se levanta e sai do quarto.
Respiro fundo voltando minha mente para o que aconteceu e tenho vontade de gritar aos quatro ventos pra ver se a culpa e angústia somem. Mas não faço. Levanto-me devagar e vou até a janela olhar a vista. Num passe de mágica, Amberly está no telhadinho ao lado da janela me observando. O que me faz assustar e tentar sacar minha arma da cintura, mas não a encontro. Amberly diz que a guardou com medo de que eu pudesse atirar sem querer enquanto dormia e faz sentido. Até dormindo eu me sentia agitada, as chances de causar um acidente seria alta.
— Não se preocupa, não vou dar problema pra você. Eu vou arrumar um lugar pra ficar. – digo, terminando de beber a água que ela me entregou.
— Pode ficar, como eu já disse, não costumo ficar aqui. – Dou um sorriso fraco e entrego o copo pra ela, que fica olhando. Tem alguma coisa errada com essa menina, só pode. Ou ela só esteja tentando entender o que estou fazendo em seu apartamento toda arrebentada — Seus ferimentos ainda não estão 100%, então não é bom você inventar muita coisa pra fazer.
— Não tenho muita coisa pra fazer. – dou um sorriso fraco — Tem um celular que eu possa usar pra ligar?
— Tem o meu – Amberly tira um celular do bolso e desbloqueia me entregando.
Dou um sorriso fraco e ligo para o número do Tyler, mesmo sabendo que é arriscado e Leonard provavelmente está me esperando.
— Alô.
— Sou eu.
— Onde você está? – Tyler diminui o tom da voz.
— Seu desgraçado, filho de uma mãe. Você sabia? – pergunto entre os dentes. Amberly dá um sorriso sem graça e vai pra outro canto.
— Espera, isso não vem ao caso.
— Claro que vem. Eu achei que pudesse confiar em você. – digo, sentindo meus olhos lacrimejarem.
— Mel, você sabe que pode.
— Então, por que não me disse nada?
— Porque seria pior.
— Pior por quê?
— Ele te mataria, Mel. Você tentaria lutar e acabaria morta. – Tyler diz. Fecho meus olhos e respiro fundo. — Mel, eu estava te protegendo. Onde você está?
— Vai para o inferno.
Desligo a ligação e respiro fundo novamente pra não surtar. Mesmo eu querendo muito chorar e colocar pra fora tudo o que eu sinto, não vou fazer isso na frente de uma estranha.
— Olha que lindo os pássaros – escuto a voz de Amberly que me desperta. Entrego o celular a ela e limpo algumas lágrimas que nem tinha percebido. — Pode ficar o tempo que quiser. É bom ter companhia. — Amberly diz, dando dois toques leves no meu ombro.
— Não tem ninguém?
— Atualmente não. Mas acho que é por escolha.
Uma garota como ela — bonita, gentil, que está disposta a ajudar uma pessoa que não conhece — sozinha, me intriga. É como se ela tivesse algum ímã que puxasse minha atenção. Amberly me oferece algo para comer, mas sinceramente, depois de tudo o que aconteceu, fome é o que eu menos sinto nesse momento. Pra falar a verdade, estou com uma vontade enorme de vomitar. Sento-me no sofá devagar para não resmungar de dor e Amberly se senta ao meu lado, me encarando.
— Que?
— Você é bonitinha de fato, só um pouco acabadinha. – ela diz, na maior naturalidade do mundo. Ela está dando em cima de mim? Jura?
— Obrigada?
— Não foi um elogio, e sim um fato.
— Que bom, não estou acostumada com elogios.
— Por que não?
— Se vadia e cachorra forem elogios, eu me mato. – cruzo meus braços.
— Eu não aguentaria viver assim. Você é gente boa. – ela diz e a olho.
— Isso foi um elogio?
— Deve ser.
— Obrigada então. Eu acho. – digo, Amberly sorri e o silêncio se instala na sala. Meus olhos fixam num ponto no chão, voltando meus pensamentos para o último acontecimento que eu não consigo nem dizer.
— Se quiser tomar um banho. Só cuidado porque a água quente pode ficar muuito quente.
— Não tenho roupa.
— Têm umas roupas da minha filha, vocês devem usar o mesmo número. – fico surpresa com esta informação.
— Tem uma filha? – pergunto a olhando.
— Tenho, mas ela está na casa de alguns parentes – ela diz.
Agradeço Amberly mais uma vez pela hospitalidade. Não deve ser comum pra ela aceitar uma estranha no apartamento, principalmente em minhas condições. Acho que estou mais pra fugitiva agora. Nossa conversa é interrompida com o toque do seu celular.
— Licença. – Amberly se levanta e vai para o quarto. Por sorte, minha audição é muito boa e consigo ouvir tudo. Leonard. Amberly volta e fica atrás de mim. — Querem falar com você. – ela me entrega o celular e fica olhando a janela.
— Alô – digo.
— Preciso que volte. – Leonard diz do outro lado da linha na mais possível calma.
— Por quê? Você vai me matar.
— Claro que não.
— Como fez com eles.
— Como eu fiz? – Leonard ri — Eu os matei? É bom sua amiga estar escutando, pelo menos saberá que está ajudando uma criminosa.
— Você me transformou em uma. – digo alterada.
— Não fui eu que acabei de matar meus pais, Amelie. – engulo seco ao ouvir suas palavras e sinto meu estômago revirar. — Se não voltar, Tyler que sofrerá as consequências.
Tyler. Que merda. Ele só estava me protegendo e agora está em perigo. Por minha causa.
— Eu preciso voltar. – digo, colocando o celular no sofá e me levantando. Mas Amberly agarra meu braço.
— Não vai.
— Você não sabe o que está em jogo.
— Não está em condição. Não pode ir.
Sinto que Amberly está tentando me proteger. Mas ela nem me conhece e não quero dar a chance de me conhecer. Na primeira oportunidade eu quero acabar logo com isso.
— Não tenho escolha. – respiro fundo e solto meu braço — Nunca tive.
— Não quero ter que te impedir.
— E vai me impedir como?
— Desse jeito – Amberly aperta uma parte do lado do meu pescoço e não vejo mais nada.
.
Esfrego meus olhos novamente por causa da claridade. Observo a cama de novo e eu estou coberta. Nos meus pés, Amberly está sentada me observando. Isso me incomoda um pouco, ainda mais que ela acabou de me apagar. Sento-me devagar, encolhendo minhas pernas e a olho.
— Não podia ter feito isso. – digo baixo.
— Mas eu fiz.
A vontade de chorar começa a me invadir de novo. Tento me acalmar, respirando fundo e limpando uma lágrima que escorre.
— Ei, não chora. – Amberly diz, se aproximando.
— Você não entende.
— O que não posso entender?
— É perigoso. Não pode se envolver nisso. Ah que merda você já se envolveu. – a vontade predomina e o choro vem descontroladamente.
— Por que seria ruim? – Amberly pergunta, mas não consigo responder, apenas chorar.
Ela faz cócegas no meu pé pra chamar minha atenção. Não sei o porquê, mas apenas afasto o pé e abraço, ouvindo uma risada fraca da parte dela. É difícil eu achar um lugar que eu me sinta segura. Mas acabou de acontecer, estou me sentindo segura perto dela. Como se não tivesse nada acontecendo ou como se ela pudesse me proteger do mundo.
— Desculpa. – digo, me afastando e limpando o rosto, me encolhendo novamente no canto da cama.
— Não... Estava bom. – ela diz e franzo a testa.
— Estava? – pergunto, e ela balança a cabeça concordando.
— Não chora.
— Não costumo chorar. Só estava precisando.
— Eu não sei o que fazer quando choram.
— Não vai acontecer de novo.
— Se você precisar pode.
Dou um sorriso fraco e fico olhando pra ela. Amberly é.. Misteriosa do jeito dela. Estou curiosa pra saber como ela é realmente. Nunca fui de sentir isso pelas pessoas, mas ela.. Não sei explicar.
— O que?
— Ah.. Nada. – olho para as mãos sem graça.
— Olha, esse trabalho seu não me cheira coisa boa. Eu posso ajudar.
— Não é coisa boa mesmo. – digo.
— Já lidei com coisa pior. – Amberly diz, e tenho até medo de descobrir o que possa ser. Apenas balanço a cabeça devagar. - Além do mais, parece que você precisa de descanso.
— Talvez. Já faz tempo. – digo, e Amberly se levanta.
— Então, vou ajudar.
— Não é a primeira que diz isso.
— Mas a primeira que sai viva.
Errada ela não está. Meu pai tentou me ajudar, e olha o resultado disso tudo. Bom, na verdade o que aconteceu foi tudo fruto das minhas ações. Papai e mamãe pagaram por elas. Mas, com a ajuda de Amberly, Peter e Tyler as coisas vão mudar. Mesmo que seja a única coisa que eu faça.
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