𝐂𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 2: 𝐕𝐚𝐦𝐨𝐬 𝐩𝐚𝐬𝐬𝐚𝐫 𝐩𝐨𝐫 𝐢𝐬𝐬𝐨 𝐣𝐮𝐧𝐭𝐨𝐬!
— Olha só quem eu encontro por aqui. – diz o cabeça de teia quando pousa ao meu lado. Apenas reviro meus olhos porque conversar com ele é uma coisa que não gosto. — Não vai colocar a máscara?
— Por que colocaria idiota? Você já me viu sem.
Uma vez, quando estávamos roubando um banco, o Aranha apareceu. Foi a primeira vez que nos vimos pessoalmente. Ele me perseguiu por entre os prédios, levou um tiro na perna, mas mesmo assim não desistiu. Conseguiu puxar minha máscara e me derrubar no chão. Quando viu meu rosto nem ao menos sequer lutou comigo, apenas se afastou, devolveu a máscara e me deixou ir embora.
Achei que talvez tivesse me livrado dele. Enganei-me.
— Verdade, verdade. – ele diz, sentando ao meu lado.
— Desgruda. – digo, me afastando para o outro lado.
— Você não é muito de conversa, né?
— Olha me deixa em paz. Ok?
— Seu dia não foi muito bom hoje pelo visto. – ele diz, olhando pra mim. Meu Deus, qual é a desse cara?
— Cala a boca. Você não sabe nada sobre mim. – digo, me levantando.
— Claro que sei.
— E o que eu sei de você? Só um mascarado de roupa colada entrando na bunda que fica voando pela cidade e acha que me conhece.
— Ai – ele diz. — Em primeiro lugar, minha roupa não entra na bunda, segundo sua roupa é igual, só muda essa máscara que cobre só o nariz e a boca.
Respiro fundo e vou para outro lugar, percebendo o insistente atrás de mim.
— Qual é a sua em cara? – digo, parando em um prédio e peitando-o.
— Quero ajudar. – diz. Encaro-o um tempo até começar a rir. — Qual é a graça?
— Você? Me ajudar? – digo, dando risada. — Me poupe. – me viro e saio andando.
— Você não é muito de confiar nas pessoas, né?
— E por que eu confiaria? – me viro e o cara está tão perto que acabo batendo o rosto nele — As pessoas machucam. Todas elas.
— Não devia generalizar. Tem muita pessoa boa no mundo. Homens, mulheres..
— Homens? – começo a rir de novo ao mesmo tempo em que o desespero bate e as lágrimas surgem nos olhos. — Vocês são os piores. Apenas se aproveitam de mulheres indefesas. Apostam entre si pra ver quem tem a melhor foda da noite.
— Nem todos os homens são assim. Seu amigo Tyler, por exemplo.
Tá de brincadeira!
— Ele e meu pai são exceções. Agora o resto.. – dou risada enquanto limpo uma lágrima - Nojentos, repugnantes.
— Isso me inclui também, Amelie?
Olho envolta desesperada procurando por alguma câmera ou algo do tipo. Não me admiraria se Mateo estiver aprontando algo comigo para me testar.
— Como sabe meu nome? – saco a arma do meu cinto e aponto em sua cabeça quando ele se aproxima. — Como sabe?
— Eu sei muita coisa sobre você, Mel.
— Não me chama assim. Responde a droga da pergunta. Ou faço miolos de aranha voar.
Ele respira fundo ainda me encarando. Abaixa a cabeça retirando a máscara revelando o rosto que há anos não vejo. Peter Parker. Meu melhor amigo de infância e meu primo. Tenho zero reação por essa surpresa.
— Abaixa a arma, Mel. – Peter diz, abaixando minha mão devagar. — Eu estou aqui. – diz, se aproximando de mim. Depois que os pais de Peter morreram, acabamos nos distanciando. Éramos inseparáveis, dois irmãos. Mas que acabaram mudando seus caminhos e agora 11 anos depois... — Ei. – Assim que saio do transe, pulo em cima do Peter abraçando-o forte. — Tô aqui. Tô aqui.
As lágrimas saem descontroladamente e certa sensação de calma me invade. Calma, paz, alegria. Afasto segurando seu rosto para ter certeza do que estou vendo.
— É você. –digo, soluçando sem controle algum. — Eu senti tanta sua falta. – o abraço novamente sem nenhuma intenção de soltar.
— Eu também, Mel. Eu também. – diz, passando a mão em minhas costas, me deixando chorar.
Eu nunca fui de soltar as lágrimas. Acabei aprendendo a guardá-las pra mim, mesmo sabendo que não faz muito bem. Mas agora, chorando com uma pessoa que confio, parece que tirei o mundo das minhas costas por pouco tempo.
.
Acho que fiquei chorando agarrada a Peter por causa vinte minutos. Consegui me acalmar um pouco, mas ainda sim sinto meu coração apertado. Estamos sentados no terraço do prédio, encostados no murinho e Peter com o braço ao meu redor mexendo em meu cabelo enquanto descanso com a cabeça em seu ombro.
— Quer me contar sobre esse cara? – Peter quebra o silêncio.
— Achei que soubesse tudo sobre mim.
— Eu menti – diz, rindo fraco — Só sei até os sete anos.
Não costumo nem contar aos meus pais às coisas que acontecem lá. É uma maneira que encontrei pra não começar a soluçar no meio da história. Respira fundo e tiro a cabeça do ombro dele prendendo meu cabelo.
— O nome dele é Leonard Benson.
— Como você se envolveu com essas pessoas, Mel?
— Eu.. – fecho os olhos, respiro fundo e olho pra frente — Meu pai ficou doente. Não tínhamos dinheiro pra pagar o tratamento.
— Câncer?
— No fígado. Me falaram que tinham aberto uma loja perto da minha casa, e eu fui lá. Contrataram-me como balconista. Era tudo fachada – dou uma risada fraca — Leonard disse que eu não poderia sair. Já estava dentro e sabia demais. Em uma semana, já tinha visto mais do que deveria. Ele me deixou a par da contabilidade de todo dinheiro que ganhavam na parte do trabalho sujo.
— Te pagava por isso?
— Pagava 100 dólares por dia. Era suficiente pra pagar o tratamento do papai em um mês. Eu até gostava sabe? Porque assim, papai ficaria bem.
— E depois? – Peter me olha.
— Se envolveram numa briga de gangues. Perderam 50 homens num dia. Disse que me treinariam pra começar a fazer o que eles faziam. E.. Aqui estou eu.
— Te obrigaram a fazer tudo.
— Sim. Treinamento físico, armado, negociação. Tudo! – faço uma pausa, respirando fundo — Se não obedecia.. Era punida. Ainda sou todos os dias praticamente.
— Punida como?
— Minha primeira punição foi com 14 anos. Ele.. Pediu pra que um dos caras me drogasse e.. Mateo me estuprou. – vejo Peter perder a cor do seu rosto, ficando mais branco do que papel — É assim sempre. Ou sou estuprada, torturada ou recebo várias doses de heroína. Não sei como ainda consigo andar.
— E-eu sinto muito. – Peter diz depois de um tempo. — Como você está aguentando tudo isso?
— Eu não estou. – dou de ombros — Penso em acabar com isso todos os dias. Eu estou cansada, fisicamente e emocionalmente. Pelo menos se eu tirasse minha vida, isso tudo acabaria.
— Não vou deixar você fazer isso.
— Você não está entendendo, Pete. – a vontade de chorar toma conta de mim novamente — Eu não quero lembrar. É doloroso demais, entende? Eu não.. Tenho o que fazer. Leonard tem influência em todos os distritos policiais. Como acabar com uma organização que a polícia ajuda? Não dá, eu não sei o que fazer.
— Por isso que eu quero ajudar. Não pode fazer tudo sozinha. Você está em menor número.
— E dois vai resolver alguma coisa? Não posso colocar a vida dos meus pais em perigo. Um deslize e Leonard mata os dois. – levanto — Se eu os perder aí sim eu não aguento e dou um tiro na minha cabeça. E também tem a.. – penso em terminar de falar, mas fecho minha boca..
— Ei – Peter levanta e segura meu ombro — Isso não vai acontecer, ok? Vamos bolar um plano, agir e acabar com isso. Você é forte, Mel. Mas está tão machucada que não consegue enxergar. Perdeu a esperança em si mesma. Olha pra mim. – Peter segura meu rosto me obrigando a encarar seus olhos — Eu não vou te abandonar. Nunca mais. Eu estou com aqui com você. Vamos passar por isso juntos e prometo que você vai começar uma vida nova. Ok?
Balanço minha cabeça concordando e o abraço novamente deixando as lágrimas rolarem fortemente no meu rosto. É a primeira vez que estou confiando em alguém pra me ajudar.
Peter tem razão, eu perdi a esperança em mim mesma. Não sei me encontrar. Estou apenas sobrevivendo. Mas eu não quero apenas sobreviver, eu quero viver.
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