𝐂𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 13: 𝐀 𝐯𝐞𝐫𝐝𝐚𝐝𝐞 𝐝ó𝐢.

⚠️ Possui gatilhos

— Viva ainda?

Acordo sentindo um cutucão no meu braço. Demoro uns segundos até conseguir abrir os olhos e quando consigo, minha primeira visão é o Mateo. Preferia não ter acordado.

— Ótimo. Essa merda funciona mesmo. – ele mostra uma seringa. Deve ser o líquido que Leonard usa para parar hemorragias. — Vamos você vai pra outro lugar. Vou fazer uma transfusão pra você.

Mateo me pega no colo ao invés de sair me arrastando e nessa parte pelo menos eu agradeço, porque eu não aguento mais de dor.

— Quanto tempo fiquei lá? – pergunto baixo me dando por vencida e encostando a cabeça em seu ombro.

— Um dia.

Por algum motivo, que eu nem quero saber, Mateo está mais.. Calmo do que de costume. Ainda não me agrediu com palavras e isso é muito estranho, porque ele nunca foi assim comigo. Entramos no elevador e um silêncio toma conta do ambiente.

— Mateo.

— Hum?

— Por que aceitou fazer a transfusão? Você me odeia, podia deixar como está. – digo, fechando os olhos e respirando rápido. Percebo certa reluta da parte dele em responder, até que por fim ele me olha.

— Eu só cumpro ordens, Amelie. Não pense que isso nos torna amigos.

— Levando em conta tudo o que fez pra mim, amizade é a última coisa no mundo que eu ia querer de você. – digo, olhando-o nos olhos e ele só volta pra terra quando o elevador para.

— Ótimo, porque pra mim você é a mesma coisa que nada. Só um brinquedo que me diverte às vezes, e ainda sou obrigado a dividir com outros.

A conversa se encerra com ele voltando ao tom grosseiro de antes. Ele passa comigo pelo corredor do andar que chegamos e entra numa sala de enfermaria. Tyler também está, mas dessa vez acordado. Ele me olha de canto e nem nos atrevemos a conversar. Mateo me coloca numa maca de frente a Tyler e uma mulher de jaleco.

— Eu já volto.

Mateo diz e sai da sala. Aproveito que a mulher vira de costas pra enfiar a mão dentro da minha blusa e tirar o celular. Tyler me olha de olhos arregalados e faz sinal para jogar fora, e ficamos assim, brigando entre sinais. Jogo o telefone pra ele que esconde embaixo do colchão da maca e fingimos que nada aconteceu. Ele, deitando a cabeça olhando pra frente e eu parecendo uma morta.

A mulher prepara agulhas e uma bolsa de soro, junto com alguns curativos vindo até mim. Ela deve ser nova aqui, nunca tinha visto. Apesar de que Leonard tem umas cinco mil pessoas trabalhando pra ele na América do Norte, América do Sul e Europa.

— Qual é seu nome? – pergunto, a garota me olha nos olhos sem responder.

— Ainda bem que você tem poderes, já teria morrido com esse tanto de sangue que perdeu. – ela diz baixo.

— Não respondeu minha pergunta.

— Amelie. – Tyler chama minha atenção.

— Não tenho permissão pra falar, senhorita.

Senhorita? A garota deve ser mais nova do que eu. E tenho quase certeza que Leonard deve ter trazido ela pra cá sobre alguma ameaça. Até iria perguntar, mas Mateo entra novamente na sala com Antony.

— Puta desgraçada. – Antony já chega desferindo um soco no meu rosto.

— Ei. – Tyler diz e Mateo aponta a arma pra ele.

— Ela não está em condições. – a garota tenta empurrar Antony.

— Cadê o meu celular? – ele segura meu pescoço.

— Eu não peguei.

— Pede pra parar, Mateo. Você ouviu, ela não pegou. – Tyler diz.

— Cala a boca, Scott. Senão quiser que sobre pra você. – Mateo diz. — Amelie, devolve o celular e quem sabe a gente pensa em não fazer nada com você.

— Eu já falei que não peguei. – digo sem ar.

— Por favor, senhor. Ela precisa se recuperar.

— Pode revistar, Antony.

Antony rasga minha blusa e me apalpa de cima a baixo procurando a merda do celular. O filho da mãe tira até meu sutiã pra ver.

— Meu Deus.. – a garota fala baixo — Já viram, ela não tem nada. Por favor, me deixa medicar ela.

— Deve ter perdido em algum lugar. – Tyler diz.

— Droga. – Antony me solta e a garota corre para me cobrir.

Ele não diz mais nada, apenas sai da sala com Mateo atrás. Tyler levanta da maca mancando e vem até mim.

— Calma. – ele passa a mão no meu cabelo e senta do lado.

— Ann.. – a garota diz — Meu nome é Ann.

— Consegue uma roupa pra ela?

Ann tira o próprio jaleco. Tyler me ajuda a sentar e Ann me veste com ele fechando os botões. Estou realmente me controlando pra não gemer de dor. Tyler ajeita meu travesseiro, me ajuda a deitar e encosta a testa na minha.

— Obrigada. – digo baixo.

— Maluca. – ele diz e nós rimos fraco. — Conseguiu falar com alguém? – Tyler pergunta baixo e apenas balanço a cabeça. — Ótimo. Me desculpa, tá bom? Eles usaram aquele soro da verdade.

Uma vez tivemos que usar o soro num homem, Leonard o fez tão poderoso que a dor é insuportável. Feito para fazer a pessoa falar. O efeito do soro dura mais de uma hora. São dores e dores, seguidas de diversas convulsões. Quanto mais você resiste em mentir mais forte as dores ficam.

— Não foi sua culpa. – digo e ajeito seu cabelo — Que bom que está bem. – sorrio fraco e meu rosto molha com algumas lágrimas.

— Vai ficar tudo bem, ok? – ele diz e beija minha mão. — Tudo bem..

Tyler volta para sua maca e Ann cuida dos meus ferimentos. Ela limpa, costura e coloca curativos. No corte do rosto, foi possível apenas pontos falsos, mas ela disse que vai cicatrizar. Mesmo com receio, ela me contou como veio para nessa confusão.

Em uma das 'visitas' que Mateo fez para o sequestro de crianças pra vender, ele foi até a casa dela e queria levar o irmão de três anos. Mas ela não deixou e disse pra levarem ela no lugar. Leonard não concordou muito na hora, mas já que precisavam de alguma enfermeira num dos abrigos, aqui está Ann, estudante de enfermagem de 19 anos.

Mateo voltou e agora está fazendo a transfusão comigo. A sala está no mais puro silêncio e pelo menos agora, Mateo está conectado comigo de outro jeito. Enquanto fica sentado na minha frente com a agulha em sua veia, ele mantém seus olhos em mim. Serenos agora.. Eu queria entender o que tanto o incomoda pra me olhar assim. Ele sente pena de mim? Depois de todos esses anos?

— Qual o problema? – arrisco perguntar, por sorte Tyler está dormindo. Mateo levanta uma sobrancelha e não responde, mas volta no mesmo olhar sereno de antes. Isso me incomoda. Será que vão me executar e ele está com medo de perder o brinquedinho dele? — Por que você mesmo não me bateu?

— O celular não era meu.

— Isso nunca te impediu.

— Garota, só.. Cala a boca. Poupe o trabalho e use a boca pra outra coisa mais tarde.

— Você é nojento. – digo.

— Notou agora?

— Não, notei na mesma hora que coloquei os olhos em você.

— Sabe, Amelie. Tem duas coisas que me incomoda. A primeira infelizmente não posso te contar. A segunda é sobre aquela garotinha. – o olho e por alguns segundos prendo meu ar sem perceber. — Eu achei algumas semelhanças naquela menina.

— É como qualquer outra criança.

— Só que ao contrário de outra criança, foi à única que você defendeu e a única pessoa que eu fodo nesse mundo é você. E ela é muito parecida com nós dois.

— Só a mim? Uau, você não deve ter fama com as mulheres. Bom, quem ia querer transar com um cara e na hora da transa descobrir que ele é um estuprador. – digo e seu olhar muda totalmente — Até porque na hora, você não iria ser carinhoso. Provavelmente drogaria a mulher.

— Cala a boca.

— A verdade dói, né? No fundo você deve estar se corroendo, por todo o mal que você fez. Você já teve sonhos, Mateo? – pergunto, e ele trava o maxilar — Pois eu já tive. Mas você, como todos os outros nessa porcaria de lugar acabaram com eles. Você é uma pessoa vazia, oca por dentro. Não tem sentimentos e sente raiva por quem tem. – vejo os olhos de Mateo lacrimejarem por alguns segundos — Quer saber quem é aquela garotinha? É a pessoa que, ao contrário de todos vocês, me faz ter esperança e me trata na sua mais plena inocência. E grava o que eu tô falando. Pode fazer o que quiser comigo, mas se tocar nela, pra chegar até mim de novo, eu mesma te mato. Mesmo que eu me machuque muito por isso, mas eu te mato.

Mateo me encara perplexo por mais algum tempo, tira os fios do braço e sai da sala. Nem eu sei de onde tive tanta coragem assim pra enfrentar ele, principalmente nessa situação, machucada e numa maca onde ele me agrediria facilmente. Mas pra minha surpresa, ele se sentiu ofendido.

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