𝐂𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 12: 𝐃𝐞𝐬𝐞𝐬𝐩𝐞𝐫𝐨
Acordo sentindo dificuldade de respirar. Tento me mexer, mas algo dentro de mim dói, provavelmente minhas costelas estão quebradas. Um corte de fora a fora no lado esquerdo do meu rosto sangra sem parar. Tirando um buraco de bala na barriga. Paolo fez questão de dar um tiro.
Não sei por quanto tempo apanhei, ou por quanto tempo estou jogada aqui no chão, machucada. Mas sei que foi mais tempo que das outras vezes. Nem pra chorar tenho forças porque tudo dói.
— Tyler.. – chamo baixo com dificuldade, mas estou sozinha nesse círculo enorme. — Por favor.
Nada. Deixaram-me trancada aqui em baixo, sem luz, e com pouco oxigênio. Não sei o que aconteceu com Tyler e só consigo imaginar o pior. Eu rezo pra estar errada.
— Eu quero sair. – digo baixo para o nada esperando que tenha pelo menos um microfone aqui que eles possam me ouvir. — Leonard! – falo alto, pouco me importando com a dor. — Alguém, por favor. – começo a chorar por desespero e dor até não aguentar e gritar pra colocar tudo pra fora. Estou sozinha mesmo, o máximo que vou sentir é uma costela perfurando meu pulmão. — Me perdoa, pai. – soluço. — Mãe. Me tira daqui. Eu não aguento mais. Me desculpem. Eu não queria nada disso.
Tento me virar de costas, mas só consigo ficar de lado mesmo, chorando, gritando e gemendo de dor.
.
Acho que fiquei umas duas horas chorando até conseguir me acalmar e me dar por vencida pela dor. Consegui controlar minha respiração também para poupar um pouco de ar. Perdi muito sangue também, o que me deixou mais fraca ainda. Por sorte, meus poderes ajudaram a dar uma parada no sangramento da face.
Se ao menos eu conseguisse falar com alguém, seria tudo mais fácil. Bom, na verdade tem. Lembro-me do pager que escondi na minha bota e com muita dificuldade alcanço com meu braço. Por sorte, ele não está tão quebrado, ainda tem bateria. Com as mãos tremendo procuro o número de Mateo. Eu espero que alguém tenha encontrado e esteja guardando.
"Alguém?"
Espero por alguns minutos torcendo e com medo de quem possa ser. Pode ser que algum homem viu o pager no chão e entregou a Mateo. E se isso aconteceu, é a minha morte.
"Quem é?"
Penso por alguns segundos se devo revelar meu nome.
"Amelie. Quem é?"
Ótimo, hoje eu não vejo mais a luz do dia.
"Amberly"
Respiro aliviada quando leio esse nome e dou graças a Deus que foi ela que encontrou essa porcaria.
"Ah, que bom.
Fiquei com medo deles terem encontrado"
"Pra alguém como esse cara que te pegou, achei que fosse mais esperto".
Tento me ajeitar, mas é como se minha costela estivesse rasgando minha carne, então paro na hora.
"Daya tá bem?"
"Fisicamente sim, mas não para de perguntar de você"
Outro alívio toma conta de mim, em saber que minha menina está bem. Mesmo angustiada por não poder vê-la.
"Onde você tá?"
"Eu não sei. Nunca me trouxeram aqui"
"Então já posso dizer pra Daya que você morreu?"
"Eu tô viva, pra que dizer?"
"É, não deve ser legal para uma criança saber que a mãe morreu mesmo"
"Não precisa ficar brava com Joe"
Parece que Amberly leu meu pensamento. Respiro fundo, querendo me mexer um pouco, mas não consigo.
"Enfim, só não conte a ela".
"Por que não? Prefere dar uma esperança falsa pra ela, acreditando que os pais de verdade cheguem?"
"Prefiro eu mesma contar. Na hora certa"
"Quando ela tiver o que? 10 anos? 15 anos? Eu não vou contar sem a sua permissão, mas você não deveria deixar pra quando ela fosse mais velha. Bom, mudando de assunto, tem algum ponto se referencia de onde você esteja?"
Ela não está errada. Mas não sei como contar pra Daya que eu sou a mãe dela. Ela sempre acreditou que eu fosse uma pessoa que só estava lá pra ajudar, sempre acreditou que os pais morreram quando ela nasceu. Eu não quero que ela me odeie. Só não sei como dizer.
"Obrigada por me fazer sentir pior. Não, eles têm vários esconderijos nucleares. E eu tô.. trancada num cofre sem luz e sem conseguir me mexer".
"Então, até conseguir achar um ponto de referência, finge demência antes que eles descubram esse pager"
"Eles não vão vir aqui por um tempo. Eu acho"
"Então tenta sobreviver enquanto ainda dá"
"Peter já voltou?"
"Não vi ele ainda"
"Ok"
Acabo lembrando o que aconteceu entre mim e Amberly. É.. Certeza que ela se arrependeu de ter me beijado, mas mesmo assim eu ainda tenho duvidas.
"É.. você tá bem?"
"Estou. Por que?"
"Nada... Só perguntando..foi mal."
Coloco o pager no chão sem aguentar segurar mais.
"Desculpa por aquele dia".
"Já esqueci"
Resolvo mentir. Não quero dar uma de paranoica e.. desesperada. Eu não estou. Eu acho.
"É difícil de explicar, não é bom por mensagem".
"Não precisa. Só finge que nada aconteceu"
"Tá... nada aconteceu".
"Ótimo. Se quiser.. Pode deixar Daya com Joe".
"Nhe.. ai eu seria uma cuzona"
"Se você diz"
Escuto um barulho vindo da porta do cofre.
"Espera"
Jogo o pager embaixo de um pano e cruzo meus braços na frente do corpo quando a porta se abre e Antony entra. Se eu bem me lembrava, Leonard pediu pra me deixarem aqui.
— Levanta.
— Se eu conseguisse – digo.
Antony me pega pelos braços e me levanta bruscamente, fazendo todo meu corpo doer e um gemido sôfrego sair da minha boca. Ele fica me olhando por um tempo até levantar minha blusa, pegar uma gaze do bolso e colocar sobre o ferimento de bala. Cheguei a achar que ele me colocaria delicadamente no chão, mas errei feio. Ele apenas me soltou e antes que eu trombasse no chão e gemesse de dor, consegui pegar o celular do bolso traseiro. Até que o treinamento que Leonard me deu sobre roubos, está servindo pra alguma coisa útil. Como ele me jogou perto da parede, escondo o celular atrás das minhas costas. Achando que ele fosse embora, fico apenas gemendo baixo de dor e abraçando meu corpo, mas Antony, apenas por diversão, chuta minha barriga me fazendo gritar. Ele sai rindo e me deixa aqui, abraçada ao meu corpo, tremendo e chorando. Tentando me controlar, pego o celular e por sorte, havia visto o número de Amberly no celular dela.
— Alô – Amberly atende.
— Sou eu. – falo baixo, tentando controlar minha voz de choro e dor.
– O que aconteceu? Mandou esperar. – ela diz, limpo o rosto e novamente abraço minha barriga.
— Nada.. Consegui roubar um celular.
— Você disse que ninguém iria.
— É, mas me enganei – gemo baixo de dor. — Se o Peter aparecer pede pra ele rastrear o telefone.
— Ok – ela diz e deixo o celular perto do ouvido no chão — Só não tenta morrer, tá?
— Não prometo. Tô perdendo sangue desde a hora que me colocaram aqui.
— Você deve ser importante pra eles, não que eles se importem, mas deve valer alguma coisa.
— É o que eu queria descobrir. – luto pra tentar ficar de olhos abertos. Depois do chute, o ferimento abriu mais e o sangramento aumentou. Minha pressão deve estar lá nos pés. — Só.. Fica conversando comigo. Não quero dormir.
— Tá, tá. Han... Fala algo sobre sua infância, sei lá.
— Foi.. Legal. Bem legal – digo, já sem voz alguma.
— Quando eu era pequena, eu era estranha, então tem coisas que eu prefiro esquecer. – Amberly diz, e dou uma risada baixa parando imediatamente.
— Você ainda é estranha.
— Não tanto, um dia comi uma mariposa viva. – ela diz e faço uma careta.
— Que gosto tinha?
— As asas eram ruins, mas tinha gosto amargo.
— Teve dor de barriga?
— Vomitei. – ela diz e sem me importar com dor, dou risada e por surpresa, ela me acompanha. – Ninguém nunca soube o que aconteceu, até agora.
— Então sou a primeira? – dou um sorriso fraco.
— Tecnicamente sim.
— Me senti importante por 5 segundos agora.
— Queria poder falar pessoalmente. – ela diz e abro meus olhos de novo.
— Não ia querer me ver agora.
— Talvez fosse melhor pra você. – ela diz e respiro fundo.
— Posso te pedir um último favor? Depois disso você pode fazer o que fazia antes de eu cair na sua frente.
— Ir pra bares toda noite fingindo ser alguém que eu não sou? Você tá me zoando. – ela diz. Acho que ela não gostou muito disse, mas eu estou num ponto que não falo coisa com coisa.
— Não.. Eu só tinha esquecido esse detalhe mesmo. Foi mal. Ignora o que eu falei. – digo.
— Eu estou bem fazendo o que eu estou fazendo. E quem sabe, eu possa te tirar daí.
— Eu ia pedir isso mesmo. Pra me buscar. – começo a tossir sem parar.
— É melhor você dormir, pelo menos não sente mais nada.
— É, acho que sim – fecho meus olhos novamente sem conseguir abrir de novo. — Eu estou quase. Preciso esconder o telefone. Eu vou.. Desligar.
— Boa sorte.
— Obrigada. Ah.. Espero conhecer a verdadeira Amberly um dia. Seria.. Bom.
Consigo um pouco de força e desligo o celular antes que ela fale algo, ou eu me arrependa de ter dito isso. Coloco o celular dentro do meu sutiã e fecho os olhos novamente.
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