ALMAS
☆(N/A): Esta é uma história sobre luto, perdas, piano, amor e pontos finais.
AVISO: A autora que vos escreve não se responsabiliza pelas lágrimas geradas ao longo da fic. Beijos ;)
~♡~
As almas presas aos corações solitários e quebrados não vão partir enquanto não aprender sobre a arte de libertá-las.
~♡~
Eu odeio meu trabalho.
Era isso o que eu estava pensando enquanto encarava a tela do computador a poucos centímetros do meu rosto. Meus olhos queimando com a iluminação, meus dedos estavam estáticos acima das teclas, mas meu peito parecia uma tempestade com o peso que carregava naquelas batidas descontroladas.
Eu odeio esse lugar.
Odeio o modo como tudo envolve números e palavras difíceis com significados simples.
Odeio o fato de todos interagirem no intervalo como se fossem amigos de longa data e espalharem em sussurros ofensas carregadas de inveja e desprezo pelas costas uns dos outros como abutres famintos para atacar. Odeio ter que ouvir os gritos quando erro uma única vírgula dos relatórios idiotas. Odeio como esperam que eu tenha uma bola de cristal pra adivinhar o que os clientes ignorantes querem de nós.
Se tornou fácil lidar com isso depois do tempo de provações naquele lugar.
Manter a expressão neutra.
Colocar um sorriso fino nos lábios quando te criticarem indiretamente.
Acenar quando necessário. O que significa a maior parte do tempo de socialização.
Não se envolver o suficiente. Seria um desastre ter que pensar como pedras desprovidas de consciência de classe.
Não fique perto dos homens por muito tempo. A chance de ter seu dia arruinado pelas palavras idiotas e falta de modos era de 100%. Um erro deles no trabalho não chega nem perto de ser relevante para críticas como um erro de uma mulher.
A mesma coisa. Todo santo dia.
Acordar.
Trabalhar.
Comer.
Trabalhar.
Dormir.
Acordar.
Trabalhar.
Comer.
Trabalhar.
Dormir.
Acordar.
Trabalhar.
Comer.
Trabalhar.
Dormir.
...
Quando eu me perdi?
Ser adulta é um caos numa rotina monótona e fixa. As coisas eram mais fáceis quando eu só tinha que tirar boas notas pra agradar meus pais, mesmo que fosse uma merda, ainda assim era mais fácil.
E eu nem sequer tinha mais uma pessoa que pudesse me ouvir.
Porque quando você não é mais uma pessoa boa o suficiente pra ganhar a companhia e atenção do seu melhor amigo, que não saia do seu lado há sete anos, quando ele encontra nas festas, bebidas e amigos ricos da faculdade o melhor que o mundo extrovertido tem a oferecer e a sua presença não é mais necessária para agradar ao ego dele... Então você se vê sozinha numa sala com estranhos que não sabe nada de verdade sobre você além do seu nome.
E sua garganta começa a arranhar querendo libertar aquele grito que ficou a mais de um ano entalado porque você nem sequer conseguiu dizer o que sentia pra ele.
E não adiantaria de nada, porque homens nunca entendem a solidão que uma mulher sente. Não sentem na mesma intensidade o ódio de quando são abandonadas sem nem mesmo uma justificativa. Só que você se odeia principalmente porque fez de tudo por ele, no fundo do seu coração esperando atenção em troca.
Apoie todos os sonhos dele, até os impossíveis nos quais ele te incluía como colega de apartamento naquelas videochamadas intermináveis durante a madrugada, planejando os lugares, a decoração, até mesmo a nova rotina.
E um dia você simplesmente começa a sentir que aquele é o fim.
Ele não vai enviar nenhuma mensagem sequer por um mês. Ele nem mais mora na mesma cidade que você.
Caminhos diferentes não sustentam relacionamentos que sejam unilaterais.
Não vai responder os vídeos que enviar para ele, que serão as únicas coisas que movimentavam aquela conversa, porque ele já parou com a rotina de enviar coisas durante todo o dia. Não é como se ele tivesse o costume de responder os seus de qualquer maneira, não é mesmo?
Porém, ele vai te mandar uma simples frase de "Feliz Aniversário, Yuna" com um coração na frente, mas só no meio do dia só porque viu algumas colegas fazendo postagens de felicitações no seu perfil. Não mais suas fotos juntas, nem sequer desejando estar com você. E aí você passa o dia implorando aos céus para estar com ele porque a sua família já passou dos limites, mas sabe que não pode mais se humilhar para estar ao lado dele. Então, no dia seguinte, vai acordar e descobrir que ele estava sim na sua cidade pelos storys de outra pessoa. Comemorando algo fútil com outra.
Bloquear. Apagar sete anos de memórias do seu telefone. Rasgar as fotos do seu mural de estudos. Sofrer calada por um ano sem ter derramado uma lágrima. Tentar esquecê-lo enquanto começa a se lembrar de todas as vezes que ele te diminuiu.
E quando seu aniversário de vinte e um anos chegar, vai passá-lo sozinha porque sua tia, sua única avó s seu melhor amigo já não fazem mais parte da sua vida.
Ele já te esqueceu.
- AIKYO! - ouvi com um arrepio na minha espinha quando o grito daquele homem rasgou meu monólogo interno ao meio - Onde está a droga do último relatório?!
Pior que o trabalho em si, é o meu chefe.
- Já estou indo - respondi piscando para afastar as lágrimas, me levantando da cadeira e segurando internamente para não pegá-la e arremessar aquilo na cabeça daquele diabo em pessoa.
"Eu nunca me senti tão sozinha..."
~♡~
HAWKS
Best Jeanist continuava a discutir com o detetive do departamento de polícia, Tsukauchi, sobre mais alguma besteira das investigações do governo. As reuniões na agência do Pro Hero eram sempre chatas demais, mas não era como se eu tivesse a opção de escapar daquilo. Não havia heróis suficientes e o crime não dava trégua, as pessoas ainda estavam com sua confiança abalada, hospitais ainda lotados e cidades com pontos de destruição a cada esquina.
Para um país que teve esse tipo de experiência com, bem, a porra de uma guerra, da pra dizer que a limpeza tava sendo bem pesada. Não dava pra ter de volta o que se perdeu, mas podíamos reconstruir algo novo que tivesse as mudanças necessárias. A Comissão de Segurança Pública dos Heróis havia caído. Ainda era incerto o meu futuro e de muitos agentes que trabalhavam para aquele lugar.
Tudo parecia incerto a certo ponto.
A única certeza era que o mercado para terapia nunca esteve tão bem.
As vozes ao fundo na sala de reunião se perdiam em minha mente. O lugar em minhas costas onde as famosas asas vermelhas costumavam se prender não parava de coçar.
Ninguém havia percebido ainda. Nem nas coletivas de imprensa, nem nas consultas médicas, nem os meus colegas de trabalho, nem sequer a minha própria sombra.
Ninguém enxergava aquele homem nos cantos da sala além de mim.
Por quê? Por que tirei sua vida, sua alma se prendeu a mim? Seria um aviso? Uma maldição? Teria um fim ou já havia sido condenado? Seria o mais justo, eu acho...
Jin Bubaigawara era um homem complicado. Cabelos loiros, barba por fazer e os olhos azul-acinzentados se destacavam, mas não mais que a grande cicatriz dividindo sua testa. O traje preto e cinza que cobria seu corpo estava limpo dessa vez, porém a máscara que sua mão agarrava com toda força, permanecia banhada em sangue.
Sempre com aquele olhar fixo e indecifrável junto ao meu.
"Ainda aqui... quando isso vai acabar?"
- Ainda temos você aqui, Hawks? - Best Jeanist disse com a voz elevada chamando minha atenção.
- Sabe que sou todo seu - respondi forçando meus lábios a abrirem um sorriso, enquanto cruzava as mãos atrás da cabeça - Mas porque não repete a última parte? Tinha uma mosca irritante no meu ouvido!
- Leve a situação a sério, Hawks - ele bufou irritado - Não temos mais tempo para suas gracinhas e sim diversos casos fora dos prazos para resolver.
- Quando deixar de ser um chato rabugento talvez eu te ouça. Se continuar assim, vai ficar igual ao seu estagiário esquentadinho!
Aqueles olhos indecifráveis continuavam a me encarar do outro lado da sala sem piscar. Suspirando, me voltei para a papelada a minha frente, dando respostas padrões para tudo o que estava sendo discutido e planejado entre eles.
"Por favor... diga alguma coisa e pare com todo esse maldito silêncio... Por favor, me diga o que ainda há pra ser dito"
~♡~
☆ (N/A): Eu estava de TPM essa semana. Gosto de personagens femininas doidas da cabeça, só vou tirar proveito da situação hehe :)
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