twelve: i've got some regrets i'll bury them in starling city.
A FUGA DEIXOU de ser a melhor coisa do mundo quando não havia mais lugares para se esconder.
━━━━ Vai ficar calada? ━━ Queen cobra, olhos vazios.
Não há um sentimento por trás daquele azul, mas Ginny sabe o que ele sente mesmo assim. Apenas alguns dias atrás prometeu não mentir e era uma mentira, agora, Oliver descobriu e não tem mais volta. Malditas mentiras, Thompson — quer dizer, Allen — deveria saber que uma hora a verdade seria exposta.
━━━━ O que você quer que eu diga? Você está certo, Oliver. Eu menti. Mudei de nome e de cidade, não sou quem disse ser.
A mulher tenta transparecer todo seu terror e tristeza, mas até nisso ela não consegue ser honesta. Mentir se tornou como um hábito cruel que consome até as profundezas de sua mente conturbada.
━━━━ Vá embora. ━━ Oliver exige, cerrando os punhos. ━━━━ E não volte mais. Se contar para alguém minha identidade, contarei a sua.
━━━━ Calma, Oliver. Vamos conversar... ━━ Ginny dá um passo para frente, mas o arqueiro ergue um braço para pará-la.
━━━━ Conversar? Eu não quero saber de você. Não só mentiu para mim, mas mentiu para Tommy. Sorte a sua que ele morreu antes de descobrir a covarde que você é.
As palavras dele a perfuram como uma flecha afiada, acertando em cheio seu coração. O louro estava certo, mentiu para Tommy. Mentiu para todos ao seu redor e o Merlyn morreu acreditando nessas mentiras.
Ginny tem tentado ignorar a morte do ex parceiro, se distraindo com criminosos e ilusões, mas não importa o quanto corra, não pode fugir para sempre. É um defeito dos irmãos Allen, estão sempre correndo, mas nunca rápido o suficiente. Mesmo que deixe de visitar o túmulo do Merlyn e pare de pensar naquela noite, o homem continua morto. Ele não vai voltar.
Tommy Merlyn não vai voltar.
━━━━ Me desculpa. ━━ Allen sussurra, agarrando sua bolsa.
O Queen não diz absolutamente nada, assistindo sem expressão alguma a ruiva juntar suas coisas e ir embora. Ele não se arrepende de nada, pelo contrário, seu único arrependimento é ter confiado na desconhecida em tão pouco tempo. A garota enxuga as lágrimas e escapa pelos fundos, subindo na moto o mais rápido possível antes que começasse a soluçar na porta do clube. Ela se arrepende de tudo. Na verdade, existe apenas uma coisa que ela não se arrepende e essa é ter se juntado ao Queen.
Existe muita história por trás daquela cabeleira ruiva e discurso de heroína, uma longa e tortuosa história no qual ela tentou durante anos enterrar. E mesmo com todas suas tentativas, foi descoberta pela única pessoa no mundo no qual ela achou que não iria perder. Talvez seja carma por tudo que ela fez os outros passarem. Os outros, sendo principalmente o seu irmão, cientista forense do Departamento de Polícia de Central City, Bartholomew Allen, apelidado por ela de Barry. O garoto nem sequer sabe que neste exato momento está na mesma cidade da sua irmã mais velha que não fala tem meses. Ginny não sabe se quer que ele descubra.
Ela não dirige para casa, pelo contrário, o caminho que percorre é o mesmo no qual tentou evitar os últimos meses. As lágrimas escorrem e umedecem o rosto e o interior do seu capacete, mas a Allen não segura os soluços dessa vez. Definitivamente, é um carma.
Finalmente chega no local, estacionando a moto na frente da entrada sem ligar para quem a visse chorar. Genevieve treme como um terremoto, pés tocando o chão com tanta delicadeza que aparenta pensar que o chão é lava. As palavras escritas em grandes letras pretas chamam atenção e, com muita coragem, a ruiva adentra o local.
Cemitério Memorial de Starling City.
Não disse nenhuma palavra ao caminhar até o túmulo escondido por trás de outros, ela decorou onde estava na primeira e última vez que esteve aqui e não demorou muito para encontrar. Congelou assim que o avistou. O túmulo de Thomas Merlyn, o homem que morreu acreditando em suas mentiras.
Se ao menos pudesse voltar no tempo.
━━━━ Tommy... ━━ O nome escapa como um sussurro, trazendo uma nova onda de emoções a ruiva.
Ginny se ajoelha, soluçando de chorar ao deixar todas as emoções esvaírem do corpo. Era tanta dor acumulada que seu peito doía, o ar faltava nos pulmões e suas unhas apertavam a palma das mãos. Iria morrer. Ali, diante da pessoa que matou por falta de tempo para resgatar. Assim como matou sua mãe, ao não correr rápido o suficiente de volta a casa. Assim como aprisionou o pai por falta de capacidade de prová-lo inocente.
Genevieve Nora Allen traí tudo aquilo que deveria significar. Lealdade, honra, justiça... Quando Nora Allen teve sua primogênita, imaginou que estaria trazendo a vida uma luz no mundo, mas estava errada. Ginny é um fracasso.
O céu iluminado aos poucos escurece, mas nem mesmo o tempo é suficiente para erguer a garota do chão. Já não existem lágrimas para chorar ou erros para lamentar — apesar de existirem muitos — porém, juntamente disso, a vigilante perdeu as forças. Só de imaginar seguindo em frente, indo embora mais uma vez, o estômago dela se revira por completo. O que vai fazer? Mudar de cidade, outra vez?
━━━━ Ginny?
O coração acelera ao reconhecer a voz que a chamou, fazendo com que a ruiva se vire rapidamente, ainda ajoelhada no chão.
━━━━ Barry? ━━ Allen tenta se levantar, tropeçando no próprio pé e quase caindo de novo, mas o mais novo a segura.
O moreno nunca viu a irmã assim. Desde pequenos, os dois são muito diferentes, além dos cabelos no qual Ginny puxou a mãe e Barry o pai, as personalidades dos irmãos são quase opostas. Ele sempre foi o mais sentimental, e enquanto chorava devido aos valentões da escola, a garota quebrava os dedos e fazia pegadinhas com todos que o perseguiam.
Apesar de opostos, se completavam. Contudo, agora, Barry não sabe dizer se ainda se completam.
━━━━ Ginny. ━━ Ele a ajuda a ficar de pé, enxugando as lágrimas da ruiva. ━━━━ O que aconteceu? Por que não me contou que estava aqui?
━━━━ Me desculpa, Barry. Me desculpa. Eu menti, eu... ━━ As palavras embaralham no choro, os braços agarrando forte o irmão como se sua vida dependesse disso. ━━━━ Eu falhei. De novo.
A Allen nem sabe como o mais novo a encontrou, mas não tem forças para questionar. Pelo horror nos olhos do garoto, ela sabe que Barry não estava nada preparado para esse momento.
━━━━ Ginny, respira. Eu tô aqui, vai ficar tudo bem. Eu não vou te deixar, você não falhou... Vai ficar tudo bem. ━━ A garota pensa que não vai, mas fica quieta. A respiração ofegantes aos poucos diminui, engolindo o choro que achou que já havia atingido seu limite. ━━━━ Me conta o que aconteceu.
━━━━ Eu menti, Barry. ━━ Ginny murmura, balançando a cabeça em reprovação dos próprios atos. ━━━━ Pra todo mundo.
O moreno quer questionar e tentar entender melhor, porém a mais velha o direciona um olhar que diz o suficiente. Ela vai explicar. O que ela vai explicar, todavia, é o que assusta. Já é óbvio que a ruiva mentiu sobre a cidade em que estava, pois Barry podia jurar que não a encontraria aqui, mas ele supõe que tenha mais. Coisas no qual ela escondeu por tempos.
Coisas como o motivo de estar visitando o túmulo de Thomas Merlyn, alguém cujo ele acreditava ser um desconhecido aos Allens. Aparentemente, estava errado.
━━━━ Quando papai pediu para que mudássemos de nome e você negou, eu aceitei. Não quis te contar porque sabia que quebraria o seu coração, mas eu não aguentava mais viver assim, Barry. Eu não podia ser para sempre a filha de um assassino...
━━━━ Ele não é um assassino. ━━ O Allen interrompe, soltando a irmã e dando um leve passo para trás. Só de imaginar que Ginny pense assim, tem vontade de gritar.
━━━━ Eu sei! ━━ A mais velha retruca em um tom repreendedor, se arrependendo instantaneamente. ━━━━ Eu sei... O resto do mundo não sabe, Barr. Do que adianta?
━━━━ Você acha justo? Viver outra vida sem consequências enquanto o nosso pai está preso injustamente?
━━━━ Não, mas eu não podia viver pra sempre com medo! Eu sacrifiquei tudo por nossa família. Eu não podia me sacrificar também.
━━━━ Você fugiu, Ginny.
A ruiva engole em seco. Ele está certo, Genevieve fugiu após anos ensinando ao irmão de que pessoas fortes não correm, elas enfrentam os valentões. Ginny não enfrentou os valentões. Fugiu. Correu como um cachorro amedrontado para debaixo das pernas de um humano grande e forte. Tentou enterrar seus problemas em novas cidades, para não ter de lidar com consequências. Falhou. Mentiu. E, acima de tudo, decepcionou a família.
No fim das contas, nunca cresceu, e essa infantilidade está se tornando cada vez mais velho e cansativo.
━━━━ O que você queria que eu fizesse?
━━━━ Ficasse, óbvio! Iris tem sido mais minha irmã do que você!
━━━━ Eu não podia ficar! Eu não sou a Iris ou o Joe, Barry! Eu tenho problemas, eu sou um problema! Você não enxerga?
Talvez estivesse sendo cruel demais, mas não consegue segurar a língua.
Ginny passou quinze anos com a vida perfeita, a família perfeita, até uma espécie de borrão invadir sua casa e matar sua mãe, colocando a culpa do crime nas mãos de Henry Allen, seu pai. É necessário mais do que muita terapia para se recuperar de um evento assim. Toda a cidade ficou sabendo e logo o famoso doutor era o maior vilão de Central City. Foi egoísmo, mas Ginny não podia ficar.
Então ela fugiu aos dezenove, entrou em uma faculdade aclamada de Nova Iorque como desculpa e passou os próximos anos cursando bioengenharia na Columbia sobre o novo nome. Genevieve Thompson. Adotou o nome de solteiro da mãe, no qual não havia sido passado aos filhos, como uma maneira de manter um pedaço de Nora consigo.
O custo da paz foi sua família. Perdeu o contato com o guardião legal e sua filha, Joe e Iris West, além de quase não conversar com o irmão. Para ela, todavia, valia a pena. Estava os livrando do peso que ela trazia em suas vidas. Os Wests não teriam de lidar com a rebeldia adolescente que ainda percorria o sangue da ruiva e Barry não descobriria que a irmã fez o que prometeu que nunca faria.
━━━━ Ginn... Ninguém acha que você é um problema. Todo mundo sente sua falta. Sabe quantas vezes o papai perguntou sobre você?
━━━━ Vocês estão melhores sem mim.
━━━━ Eu não tô. ━━ Barry nega, aproximando da irmã outra vez. ━━━━ Eu ainda preciso da minha irmã mais velha. Me desculpa se eu fiz parecer que não...
━━━━ Não peça desculpas, eu fugi. ━━ Allen corre os dedos pelos fios de cabelo, os empurrando para longe do rosto.
━━━━ Eu nunca faria o mesmo, mas... Eu entendo. Eu sei.
Na verdade, Barry não entende. Ele não consegue compreender como alguém trairia a família do modo que Ginny fez, mas não a culpa. Não completamente. A fuga é algo qual ele também está mais do que acostumado, afinal, foi sempre ele que correu pela escola tentando escapar dos meninos mais altos e fortes, então sabe como é se sentir desesperado e não ter para onde ir. Fugir não é para os fracos, os Allens sabem disso mais do que ninguém. É preciso ter força para não se render, força para seguir sem cair. Até o mais covardes dos homens precisa de força para ser assim.
Talvez ele não devesse perdoar, mas como guardar mágoa de uma das poucas pessoas que lhe resta? Não só isso, mas Henry, e muito menos Nora, gostariam de ver os filhos brigados. O moreno vai enterrar aqui — no cemitério de Starling — toda sua raiva. Deixar para trás e seguir um novo rumo mais verdadeiro com a irmã. Já não basta a bronca que vai levar do Capitão Singh quando voltar para casa, não precisa ouvir reclamação do próprio pai também.
━━━━ Vem aqui, Ginn. ━━ Barry a embrulha em um abraço forte. ━━━━ Vai ficar tudo bem.
Ela retribui, escondendo o rosto no pescoço do irmão. As coisas não vão magicamente se consertar, mas os Allens terão tempo de reconstruir os anos perdidos e envoltos de mentiras.
Agora que Ginny tem o irmão de volta, não vai o deixar escapar. Nunca mais.
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