four: the loser has to fall.

A SOMBRA ACELERA pela cidade como a verdadeira heroína que é. Para os olhos alheios, é apenas mais uma fugitiva, mas diferente da grande massa, Ginny está voltando para casa. Não a abandonando. O lado positivo de andar de moto é que existe uma liberdade em cortar caminhos e percorrer lugares não permitidos, tudo para acelerar sua chegada ao prédio que guarda os objetos que ela precisa para ajudar a cidade. As pessoas.

Quando a moto para, Thompson é veloz em subir para seu apartamento. Com uma meta já definida, a ruiva quase quebra a porta de madeira pela força que usa, todo o terror e agonia cada vez mais perto de deixá-la maluca. Seus pés apenas param quando alcançam o seu quarto, ajoelhando em frente a cama de casal.

"Respire fundo." Ginny pensa alto, lentamente puxando uma mala escondida debaixo da cama. Sua cabeça ainda está tonta diante de tanta confusão, a verdade é que ela nem sequer sabe o que está acontecendo, apenas sabe que precisa fazer tudo em seu alcance para ajudar.

Lágrimas acumulam na beira de seus olhos enquanto abre a mala empoeirada. Seis longos meses sem nem sequer movê-la. Seis longos meses enterrando uma parte de si que nunca mais vai voltar, mesmo que Sombra ressuscite.

━━━━ Você consegue. ━━ Ela murmura, coçando os olhos com as mãos. ━━━━ Eu consigo.

O coração quase escapa do peito quando os olhos claros da ruiva caem sobre o uniforme roxo. Erguendo-o no ar, Ginny deixa escapar algumas outras lágrimas. Quanta tragédia ela vai aguentar guardar dentro de si?

O som de sirenes no lado de fora relembra a mulher do que está fazendo e, antes que pudesse afogar nas próprias lágrimas, ela troca suas vestes hospitalares pelo material apertado mas resistente. Ginny não o fez, mas modificou ao decorrer do tempo, parou apenas quando deixou de o usar. O roxo escuro preenche quase todo o uniforme, com apenas alguns traços pretos ali e aqui, o capuz é longo o suficiente para cobrir grande parte do seu rosto sem tampar sua visão, levando em consideração que ela também usa uma máscara.

Não se recorda da última vez que sentiu essa adrenalina no sangue, mas está contente. Por agora, ao menos.

Thompson, uma vez que pronta, faz o melhor para deixar o apartamento discretamente e correr até sua moto. Precisa chegar no Glades e descobrir como ser relevante.

━━━━ Ligando para Tommy Merlyn. ━━ Uma voz robotizada alerta em seus ouvidos, mas Ginny está focada em não atropelar os pedestres que provavelmente fogem do perigo. ━━━━ Sua chamada foi encaminhada para a caixa postal, deseja deixar uma mensagem?

━━━━ Tommy, sou eu. ━━ A ruiva diz, sua voz levemente agressiva por tanto caos. ━━━━ Preciso de um favor.

A cidade está um caos. As pessoas esbarram umas nas outras, dificultando a libertação da população. Gritos por todos os lados, chamas e terror. O que sequer era pra estar acontecendo?

━━━━ Encontre meu irmão, diga a ele que eu sinto muito. Diga a...

━━━━ Ligação finalizada.

O Glades, ou o que restou dele, treme com tanta potência que Genevieve não sabe distinguir o que é a realidade e a morte. Ela vai morrer — aceitou isso quando viu a notícia pela televisão, mesmo sem ter noção alguma do que acontecia — Contudo, não imaginou que morreria debaixo da mesma moto que muitas vezes a fez se sentir viva. Não faz sentido. Depois de tudo que sobreviveu, é assim que vai partir?

As pessoas choram e correm ao seu redor, focadas demais na própria fuga para ver o próximo. Ela não os culpa, entende o sentimento de desespero. De achar que vai acabar tudo em menos de um instante.

A diferença é que na vez de Ginny, a sua cidade não partia no meio.

Sobre os planos de Merlyn? Aparentemente, a ideia era quebrar Glades, figural e literalmente. As motivações ainda são desconhecidas para ela, mas deve ter pelo menos uma razão por trás de todo esse ódio e planejamento. Starling City e suas falhas são mais profundas do que a bioengenheira seria capaz de supor.

"O que fazemos quando caímos?" A voz de sua mãe perpetua em sua mente, adormecendo a dor insurdente na perna de Ginny.

━━━━ Levantamos. ━━ Murmura baixo, sentindo tontura e enjoo. Genevieve vai morrer. ━━━━ É melhor correr sem rumo do que morrer esperando.

Um grito agonizante escapa seus lábios quando finalmente consegue expulsar a moto de cima de si. Sua perna esquerda está ensanguentada, um enorme corte na canela e com outros pequenos machucados por todo o corpo. Porém, ela não deixa a dor a controlar, levantando e mancando enquanto anda pela cidade. Parece o fim do mundo. A visão é digna de uma cena de filme.

Mesmo com a perna machucada, Ginny percorre as ruas sem rumo, direcionando alguns para lugares seguros e ajudando pessoas caídas no chão. Ninguém sabe quem a mulher misteriosa é, mas são todos gratos e estão assustados demais para questionar.

Novamente, a Sombra se torna uma luz.

━━━━ Não! Tommy! Tommy! Me solta!

A ruiva se vira ao ouvir um nome que conhece muito bem, sentindo um arrepio percorrer seu corpo. Não deve ser, mas as possibilidades a assustam. E deveriam, pois quando Ginny percebe quem grita, ela sabe o que está acontecendo.

Laurel Lance continua a chamar pelo ex amado, tentando fugir dos braços do pai e entrar no prédio caído. Ao lado dela, a amiga que a consolava nota a vigilante, visivelmente confusa e assustada.

Ginny quer chorar. Cair no chão e soluçar mesmo sem ter certeza de como Tommy Merlyn estava. Preferia nunca descobrir. Depois de tudo que perdeu, não imaginou que ele também iria embora. Mais uma vez. O ciclo nunca acaba. As mãos da Sombra possuem algum poder — ou maldição — de acabar com tudo que toca. Absolutamente tudo.

Antes que pudesse se arremessar nas chamas, a mulher corre para dentro dos destroços, chamando atenção do trio sobrevivente. Talvez não fosse a melhor ideia, mas não iria abandonar Merlyn, esteja ele com o pai ou não. Se tivesse a habilidade de voltar do tempo e mudar tudo, ela aceitaria. Não culparia nem os mais cruéis dos vilões por tentarem destruir a linha do tempo, pois ela os entende. Tudo começou com sua mãe, mas quando vai acabar? Quando a morte vai deixar de andar lado a lado com Genevieve?

━━━━ Tommy! ━━ Sombra grita, cambaleando pelos restos. ━━━━ Tommy! Cadê você?

Ela cai de joelhos, batendo a perna machucada em uma barra de metal que apenas piora seus machucados. Não é médica, mas de tanto conviver já sabe que isso definitivamente vai infeccionar. Entretanto, tem uma missão e não vai deixar que o mundo a impeça.

━━━━ To... ━━ As palavras morrem em sua garganta, dando de cara com dois homens. Um mais alto e encapuzado, e um outro, escondido debaixo dos pedaços de concreto. Tommy. ━━━━ Tommy?

O encapuzado não responde, mas não precisa dizer nada. Ambos já sabem. Ginny não consegue nem sequer teorizar quem o homem por debaixo do Capuz é, mas gostaria de abraçar ele, apenas para ter algum conforto. Qualquer um.

━━━━ Ah não. ━━ Ela murmura, percebendo que o moreno estava imóvel. ━━━━ Não. Não...

━━━━ É tarde demais. ━━ Capuz se levanta, voz embargada apesar do modificador. ━━━━ Ele se foi.

━━━━ Ele não vai morrer. Não vou deixar. ━━ A Thompson nega, empurrando o homem e caindo de joelhos diante de Tommy.

Ela queria segurar o seu rosto e chorar diante do morto, mas não pode revelar sua identidade para um completo desconhecido, mesmo que ambos estejam lutando a mesma briga.

━━━━ Você se acostuma.

━━━━ Eu nunca vou... ━━ Ela praticamente late, virando para o encarar mas parando ao perceber que o arqueiro já não estava mais lá.

Em um piscar de olhos ele sumiu. Assim como Tommy Merlyn. Assim como sua família.

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