CAPÍTULO IV
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PRIMEIRO DIA
Já desejou apagar a existência de alguém da sua mente? Porque era isso que eu desejava em meu interior todas as noites em que não conseguia dormir.
Antes de ser a assistente da Hattori, minha individualidade, a Manipulação de Memórias, me trouxe o fardo mais pesado possível. Entrar na mente de alguém, por mais rápido que fosse, fazia com que as memórias que eu vasculhava e modificava se tornassem partes das minhas também. Em resumo, possuía cópias nada agradáveis gravadas na minha alma porque tive que lidar com os piores seres de todos. Um belo modo de se pagar pelos meus erros era ser atormentada pela minha própria mente durante os momentos que o silêncio pesava ao meu redor. Odiava lugares silenciosos.
Porém, as memórias que eu possuía com a tão procurada do Todoroki não eram roubadas. Cada uma delas eram momentos em que aquela mulher havia passado ao meu lado durante anos.
Pouco tempo depois que conheci Hattori, minhas relações com a Medusa foram cortadas. A Divisão de Inteligência, sob o comando da minha chefe, precisava monitorar e lidar com organizações criminosas que surgiam pelo país. Akira foi a mais nova a se tornar líder e uma das primeiras coisas que ela fez, para a surpresa de todos, foi repassar a obrigação de monitoração da organização à qual Medusa pertencia para a polícia e aos Pro Heroes. Tudo o que eu sabia é que as duas haviam feito um acordo de troca, do qual não conhecia os termos.
Mas voltando ao que querem saber, minha cabeça se distraiu ao longo daquele dia no rostinho bonito que eu logo iria voltar a ver, tentando ainda pensar em estratégias para resolver o problema do Pro Hero queridinho do país, enquanto saltitava pelos corredores da Divisão. A rotina dos espiões era sempre em lados extremos, enfiados em trabalhos que teriam que se dedicar por meses ou simplesmente deixarem tudo de lado para impedir catástrofes. Então, três dias seria o suficiente para encontrar minha irmã. Só a minha raiva que não me deixaria dormir à noite de qualquer maneira.
Esperando em um dos corredores dos prédios principais, aguardei pacientemente que meu colega de trabalho chegasse para resolver pelo menos um terço das minhas questões. Se tinha alguém capaz de conseguir todo tipo de informação sigilosa naquele lugar além da minha chefe, era Yuga Aoyama. O cara tinha sido alvo de uma das missões dela que não acabou como o esperado, e quase encerrou sua carreira, mas minha chefe foi empática o suficiente pra querer mantê-lo a sociedade de heróis, trabalhando com seus antigos colegas do UA.
Quando ele apareceu no corredor, com um de seus ternos franceses, cabelos loiros penteados graciosamente, me levantei rapidamente do chão onde estava sentada, colocando um largo sorriso no rosto.
- Achei você! - exclamei saltitando em sua direção - Oi, lindinho! Há quanto tempo!
- Não.
Eu paralisei por um instante, meu sorriso vacilava enquanto me aproximava lentamente, porém meu colega só ficava mais apavorado a cada passo meu.
- Vamos Aoyama!
- Nem pensar! Nem diga nada, não quero saber! Não vou ouvir você!
- Qual é, Yuu! É só um favor! - exclamei puxando-o pela gola do terno caro - Somos amigos, então pare de drama, porque não pode me ignorar assim!
O arrastando de volta pelos corredores, apesar de seus protestos, invadi seu escritório o arrastando até as grandes telas de monitoramento. Fechando a porta atrás de mim, observei meu amigo se sentar infeliz e logo me acomodei no braço de sua cadeira deslizando meus dedos pelas mechas loiras de seu cabelo.
- Te odeio - ele resmungou fazendo bico depois de cruzar os braços.
- Claro que sim, é por isso que sempre me leva pra degustar seus vinhos caros e queijos de gente rica - respondi descansando o queixo em seu ombro - Quebra essa pra mim Yuu, preciso mesmo de alguma ajuda.
Suas sobrancelhas ficaram franzidas por um instante, mas ele logo suspirou deitando a cabeça contra a minha com um sorriso escapando no canto de seus lábios.
- Do que precisa, mon chéri?
- Muitos arquivos, mas primeiro preciso que verifique o relatório de um caso e quais eram os turnos da polícia envolvidos e as listas dos agentes da equipe de antibombas.
- Sabe que nunca acaba bem quando vasculha as memórias de policiais, né? - ele perguntou ajeitando a postura e esfregando as têmporas claramente incomodado com todos os meus pedidos.
- É sempre uma aventura inédita, querido, mas dessa vez vou deixar só como uma alternativa caso as primeiras opções não me levem a algum lugar. Eu vou tentar outros caminhos antes disso.
- Sei... Você sempre diz isso, Lily.
Ele logo começou a digitar rapidamente, concentrado em seu trabalho, varrendo todos os sistemas possíveis que a divisão tinha atrás dos meus pedidos, enquanto isso, me sentei na beirada da mesa, arranhando a beirada das unhas distraidamente.
- Não sei porquê a chefe tá interessada nisso - Aoyama comentou - Quer dizer, todos os envolvidos foram pegos, não foi uma tentativa grande o suficiente para despertar desconfiança da Divisão.
- Por favor, pode entrar nos relatórios da polícia? - pedi com olhos suplicantes ignorando suas dúvidas - Quero ver os detalhes da operação.
- Acabaria colocando a Divisão em problema de novo. Reforçaram o sistema de segurança depois da última vez que você me fez invadi-lo. Quem diria, né?
- Por favor, Yuga! Eu preciso tanto disso!
Aoyama se virou na cadeira ficando frente a frente comigo com um olhar duro e questionador. Péssimo sinal.
- Lilith, o que está acontecendo aqui de verdade? - perguntou seriamente.
- Não me olhe assim, Aoyama...
- Você está mais agitada que o normal. Além disso, seus pedidos estranhos vão colocar nossa chefe em problema. Tem algo muito errado aqui.
Ele sustentou meu olhar em silêncio, esperando meus motivos pacientemente. Ele não era o segundo de maior confiança da minha chefe por nada.
- Medusa resolveu dar as caras - respondi desviando o olhar - Aquela idiota está causando problemas... Sempre com um Todoroki no meio, ela não toma jeito.
- Lilith.
- Não me olhe assim, eu já disse!
- Não posso acreditar nisso! - Aoyama disse jogando a cabeça para trás em sua cadeira, esfregando os olhos de maneira desesperada - Kira já sabe?! Ela vai pirar de vez!
- Óbvio que não! Ela só repassou um serviço informal para o Todoroki pra mim e por sinal, minha irmã está envolvida! - exclamei - Não faça um alarde sobre isso!
- Você não tem vergonha na cara, garota?!
- Sabe que não, Aoyama!
- KIRA VAI TE MATAR!
- EU JÁ SEI DISSO!
Enterrando meu rosto entre as mãos, resmunguei frustrada com tudo aquilo que teria que enfrentar, mas respirei fundo e deixei minhas mãos cruzadas em meu colo, enquanto colocava um sorriso travesso em meus lábios.
- Eu sei... - sussurrei me inclinando em sua direção - Mas talvez eu consiga fazer aquele herói me proteger. Todoroki é do tipo frio, mas parece ter seu charme afinal. Poderia impedir os acessos de fúria da Kira.
- Não dá pra seduzi-lo - Aoyama disse abrindo um sorriso cansado - Acredite em mim, Shoto Todoroki não é esse tipo de cara.
- Está duvidando do meu charme?! Todos os homens têm um ponto fraco. É só questão de saber usar as armas certas!
- Kira vai mesmo te matar - disse jogando suas mãos para os ares da forma dramática de sempre - E não acredito que me envolveu nisso também!
- Yuu! - exclamei bagunçando as mechas loiras de seu cabelo para sua consternação - Por que tem tão pouca fé em mim?!
- Porque sempre se envolve em situações além do que pode resolver. E essa é mais uma, só que vai estar envolvendo um herói que não devia - Em um piscar de olhos, a expressão dele mudou completamente, sendo tomada por uma seriedade genuína - Não acha que o Todoroki já sofreu demais?
- Não é minha culpa - respondi encolhendo os ombros - É mais como uma oportunidade de colocar um ponto final em tudo.
- Não foi por isso que você e a Medusa brigaram, pra começo de conversa? Por causa de um Todoroki?
- Não resuma meus problemas familiares a um homem - resmunguei virando a cara irritada.
- Escuta, nossa chefe confia no seu trabalho, mas precisa mesmo entender que não precisa lidar com... isso, sem a nossa ajuda.
- É minha missão agora, ok? - disse com a voz baixa - E eu tenho um dos Três Grandes pra lidar com... isso, por mim.
- Não diga que não avisei - Aoyama respondeu revirando os olhos e voltando sua atenção às telas - Se bem que vou jogar isso na sua cara quando tiver que tirar as unhas da Kira do seu pescoço.
Aoyama recolheu tudo do que a Divisão tinha acesso sobre a minha irmã, ajustando os arquivos com detalhes aqui e ali que eu precisaria mais tarde.
- Não querendo ser chato... mas cá entre nós, já que tem uns anos que não fala com ela, tem alguém que possui muitas chances de te atualizar sobre esse assunto, né?
- Não é minha opção favorita - sussurrei fechando os olhos.
- Ele não vai negar nada pra você, mon cheri. Se vai mesmo ir atrás da sua irmã, precisa fazer isso - Pulando da mesa, peguei todos os relatórios que precisava impressos e garanti que meu amigo enviasse o resto pra mim em arquivos codificados.
- Odeio quando você banca o inteligente - respondi balançando a cabeça - Me viro com isso, te pago uma cerveja na próxima saída!
- Também disse isso da última vez, Lilith! - Aoyama exclamou segurando um sorriso antes que fechasse a porta atrás de mim.
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SEGUNDO DIA
- Vamos... isso aqui tem cheiro puro de distração. Truques baratos que nem aquele velho usava. Odeio isso.
Me jogando pela milésima vez no sofá, esfreguei meus olhos cansada de tanto ler. Nunca conseguiria entender como minha chefe conseguia lidar com o triplo daquele trabalho. Como ordem da Hattori, não precisava trabalhar nos dias em que estivesse fazendo "trabalho extra".
Então à noite, já tinha páginas de rascunhos guardados no ipad, dezenas de papéis espalhados pela minha sala, um mapa da cidade completamente marcado como se fosse uma tapeçaria na minha parede, fora os potes de macarrão instantâneo e o cheiro de café impregnado no ar.
A minha casa quase sempre era uma zona. Não que eu não tivesse tempo para me organizar, é só que sabia onde encontrar tudo naquela bagunça. Paredes azuis, plantas penduradas em suportes de cordas pelos cantos, tapetes coloridos e todo tipo de estátuas pequenas esquisitas que minha chefe trazia de suas viagens.
Descobrir os passos da minha irmã estava sendo mais difícil do que pensava.
- Shoto Todoroki... Ela tinha que descontar essa raiva justo em você? Se bem que metade disso tá na minha cota de culpa...
"Não se envolva demais... mas não posso ignorar o que ele deve estar sentindo"
- Qual brincadeira ela quer jogar agora?
"Mesmo que eu busque ela pelos métodos legais, fica difícil achar o objetivo de tudo isso assim. Então é melhor comer pelas bordas primeiro..."
- Acho que já passou do horário de visitas, né? - sussurrei estendendo minha mão para pegar o celular na mesa de centro - Odeio quando o Yuu tá certo...
"No fim... É só uma desculpa qualquer pra conseguir te ver"
Tinha uma pessoa que sempre sabia de tudo o que acontecia. Felizmente, era o único que não estava disposto a arrancar minha cabeça apesar dos meus atrevimentos.
- Já fez meu pedido por mim?
- Cortesia da casa.
Tinha um restaurante de lámen a uns cinco quilômetros da minha casa, na zona sul da cidade. Não possuía muito luxo, mas compensava em mil vezes pela limpeza e organização em estilo antigo japonês.
Só precisei de uma mensagem e quando estacionei a moto do lado de fora, uma luz já estava acesa dentro do estabelecimento apesar do horário noturno. O homem carrancudo que me encarava do outro lado da bancada com uma lata de cerveja na mão fez um arrepio nada bom percorrer minha coluna de cima a baixo, mas mesmo assim, fechei a porta atrás de mim. Depois, me sentei em um banco disponível frente a ele.
O silêncio no ar era quase mortal.
Encarando aqueles olhos castanhos quase negros, a barba por fazer e o cabelo desgrenhado, só podia pensar que o dia dele tinha sido mais horrível do que o meu, apesar de que foi ele que escolheu ter uma vida mais perto do significado de normal.
Meu... Aquele homem com quem eu cresci não havia mudado tanto. Apenas as manchas abaixo de seus olhos se tornaram mais visíveis, assim como os cabelos brancos que começaram a crescer. Com trajes escuros que o cobriam, ainda pude perceber que ele continuava com o físico de lutador. Se alguém tentasse colocar uma faca em sua garganta, tenho certeza que ele só precisaria de dois segundos para inverter as posições.
- Então... você sumiu mesmo, hein velhote?
- Não era mais necessário me envolver.
- Curto e grosso como sempre - murmurei descansando meu rosto contra a palma da mão - Chato...
Ele deixou a lata na bancada e sumiu cozinha adentro, mas logo retornou com uma tigela de lámen pra mim. Tradicional como sempre. Não coma comida de estranhos crianças, só a que seja feita pelo cara que te protegeu por mais da metade da sua vida.
- Que tipo de informação quer dessa vez?
- Falando assim faz com que eu pareça uma interesseira - respondi com desdém, mas o silêncio mortal que recebi não me deixou nada feliz - Por que não está negando?!
- É sobre sua irmã?
- É sempre sobre ela, sabe disso.
- Dê as especificações.
Depois de experimentar um pouco do macarrão, tirei o telefone da jaqueta, entregando à ele para que verificasse as principais informações. Ele rolou os olhos pela tela rapidamente, coletando os pontos principais de tudo o que eu sabia antes de jogá-lo de volta para mim.
- Não sei dizer com precisão o que ela está armando, mas se envolveu numa tentativa de ataque terrorista nas últimas semanas. Sabe de algo? Qualquer movimentação suspeita já me ajuda.
- Já deve ter uns dois meses que ela entrou na cidade e se hospedou com o marido no hotel central da cidade - ele disse se recostando na bancada depois de virar mais um gole - Dizem que estão promovendo novos artistas da Universidade de Artes em exposições de venda na galeria do Centro.
- Não deve ser só isso - comentei antes de focar apenas na minha tigela de lamen.
- Nunca é. Mas se quer um conselho, não devia mais procurá-la. Dizem que a mulher alcançou um novo nível de ilusões mentais e a Hattori não lida com ela por sua causa. Quer colocar arrumar uma guerra entre as organizações mais poderosas do país?
- E-ela reergueu a organização...? - sussurrei com a voz falha, levantando o olhar para ele.
- Sua ignorância quanto a isso é uma benção.
- Eu só quero fazer meu trabalho. Enquanto não terminar isso, minha consciência vai me atormentar. Você entende, não é Atlas?
O chamando pelo único nome pelo qual o conhecia, observei meu protetor engolir em seco e amassar a lata vazia em sua mão.
- Há oito anos, sua irmã se casou com o garoto prometido - disse jogando a cabeça para trás - As riquezas da família dele foi o caminho que ela encontrou pra salvar o que restou da empresa do pai, mas isso é só um item sem importância da lista de vingança. O caminho que precisava pra reerguer a organização, nada mais. Ela quer abrir caminho no mercado do submundo novamente. Novas drogas amplificadoras de individualidades estão começando a circular porque ela está estruturando a distribuição pelas zonas que seus homens estão tomando o controle. E acredite, a coisa vai piorar.
Enquanto ele observava manchas quase imperceptíveis no teto, eu tinha certeza que parecia estar vendo fantasmas. Meus hashis já haviam caído na bancada desde suas primeiras palavras. Não que não fosse verdade. Minhas mãos vieram de encontro ao meu rosto, apertando os olhos, enquanto cerrei os dentes irritada.
- O que ela quer...? - sussurrei.
- Você já sabe, Lilith - ele respondeu - Vingança pelas mortes que ela testemunhou. Aturar aquele pirralho é um mero aborrecimento em troca dos luxos que quer.
Atlas suspirou esfregando seu ombro, virando os olhos em minha direção de forma dura. Sinceramente, não estava pronta pra ouvir mais um de seus sermões, e, percebendo meu encolher de ombros, ele baixou o olhar para o chão ao seus pés.
- Nós dois vimos o que aconteceu. Se quer saber, daria o resto dos meus dias pra saber que tipo de acordo a Hattori fez. A líder dos maiores espiões deste país não moveu um dedo para impedi-la de se tornar uma ameaça. Por que será, Lilith?
Ele não esperou por uma resposta minha, apenas se virou indo em direção a cozinha para terminar com a louça. Ele nunca disse que metade da culpa pertencia a mim por ter deixado as coisas chegarem naquele ponto, mas eu sabia que aquela era a verdade no fim. Meu peito começou a se apertar, uma sensação que nunca me abandonava, não importava quantos malditos anos se passassem.
Quando terminei o lámen, Atlas apareceu do outro lado da bancada novamente recolhendo a tigela. Seu rosto inexpressivo não daria sinais, mas já havia entendido que ele não teria mais nenhuma informação a oferecer, por isso, me levantei já sentindo o cansaço me alcançar e depois de jogar o capuz na cabeça, logo me dirigi à saída.
- O lámen estava uma delícia - disse forçando minha voz a sair - Adeus, velhote.
- Não está pronta ainda, Lilith - sua voz me alcançou antes que eu cruzasse às portas - Não vá para uma luta que não pode vencer.
- Não diga coisas assim... - resmunguei me escorando no batente da entrada - Já conversamos sobre isso.
- Então ouça suas palavras. Já me disse "Adeus" muitas vezes nos últimos dez anos.
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TERCEIRO DIA
Com os óculos de sol pendurados na ponta do nariz, olhos afiados me encaravam duramente, as fendas envolvidas por um verde como oliva que tirava o fôlego à primeira vista. Encontrar minha irmã em um dos corredores do mercado perto de casa não era minha intenção.
Na verdade, eu só queria algumas bobagens doces e macarrão instantâneo pra me manter acordada à noite, enquanto me arrependia internamente de não conseguir as respostas que precisava.
- Saindo da dieta de patinadora, Lily? Vovó vai ficar decepcionada.
- IWA?! - exclamei me levantando assustada, dando alguns passos para manter distância.
- Hum... - ela estalou a língua com um revirar de olhos pra mim - Ainda com esse nome idiota. Que chatice.
- E eu aqui pensando que precisaria perseguir e torturar algum dos seus capangas pra te achar - disse apertando os olhos entre os dedos, ignorando o peso que se instalou em meu peito.
"Depois de tantos anos... Tinha mesmo que ser dessa forma?"
- Também deveria manter a forma, mas essa é minha marca favorita, então vou levar mesmo assim - Ela disse ignorando minhas palavras enquanto se ocupava em observar os preços dos pacotes de balas de limão.
- Sim. Então... Terroristas, é sério?
- Não me lembro de te julgar por ainda trabalhar para o governo, Lilith.
- Não sou servidora pública - respondi apertando os punhos - Kira é quem paga meu salário por fora.
- Grande diferença.
Minha irmã pegou um pacote e deu um aceno antes de começar a caminhar, e, sem nenhuma oposição, acompanhei aquela mulher pelos longos corredores do supermercado e minha guarda se manteve baixa sem nem hesitar, já que... Não dava.
- Quer brigar mais tarde? Ou vai chamar a Hattori pra mim?
- Ela está ocupada. E não deveríamos fazer isso agora?
- Eu ainda não jantei, nem dei comida para o meu cachorro. Aí, essa tinta de cabelo da terceira prateleira é muito boa, não deixa o cabelo muito ressecado como as outras.
Quando dei por mim, percebi pra qual área ela havia me levado e bufando irritada, peguei uma caixa de tinta roxa e joguei na cesta em meus braços.
- Obrigada.
Quando chegamos ao caixa, ela se adiantou jogando algumas notas que com certeza sobravam no valor de sua compra e para minha surpresa, ela esperou na porta de entrada, se distraindo com as balas de limão. Quase não percebi a atendente falando comigo e depois de eu mesma jogar as compras na sacola, corri para alcançá-la do lado de fora.
- Estão te investigando e tem um herói te caçando. Tem mesmo que causar tantos problemas?!
- Docinho, não seja piedosa comigo - ela respondeu balançando uma das mãos - Sei me virar com aqueles inconvenientes.
- Não o chame assim. Ele vai te dar uma surra, sabia? Então por que não facilita as coisas e se entrega de uma vez?
- Não seria tão divertido quanto brincar com o meu querido Shoto.
- Não chama ele assim, já falei - sussurrei cravando as unhas nas palmas das mãos.
- Lilith querida, sabe melhor do que ninguém o quanto eu prezo por cumprir os fardos que colocaram sobre mim.
- Você não tem nada haver com a história daqueles irmãos!
- Assim como não tinham o direito de mexer com a minha cabeça, mas cá estamos nós.
Ela se virou em minha direção, afastando as mechas esverdeadas de seu cabelo que caíam sobre seus olhos. Nada era pior do que não sentir nenhuma emoção vindo deles. Minha irmã bufou ao me encarar e se voltou para as ruas seguindo seu caminho.
- Todoroki vai acabar com você. Acredite em mim, não vai querer comprar essa briga.
- A mente dele não vai permitir. Pessoas quebradas emocionalmente são sempre as mais fracas. Já aprendeu isso.
- Já não se convenceu que essa merda é mentira, Iwa?! - exclamei irritada.
- Cacete Lilith, faça um favor pra si mesma e apague esse nome de merda da sua cabeça.
- Não me faça...
Não consegui terminar minhas palavras. Quando dei por mim, ela se virou e seus olhos começaram a ser tomados pela individualidade. Fui forçada a fechar os meus por impulso. Era o único modo de não ser pega pelas ilusões, mas foi meu maior erro, pois logo senti sua respiração ao lado do meu rosto e seu calor emanando perto de mim. A lâmina pequena que senti a poucos milímetros foi o que me paralisou.
"Não importa o que aconteça... não olhe...", pensei sentindo o sangue gelar nas veias. Ser pega por seu poder, significaria que tudo terminaria ali, porque ela era a única que presenciou tudo que me faria cair.
- Colocar a Hattori atrás de mim? - disse com um tom sádico em sua voz - Mesmo que eu quisesse, não seria uma investida vitoriosa. Aquela mulher não vai ser derrotada por alguém como eu.
- Por que continuar...? - sussurrei sentindo a frieza da lâmina se aproximar da minha garganta. "Não me faça lutar contra você..."
- Por que não vai envolvê-la nisso, esse é meu motivo - sussurrou - Não vou deixar a família Todoroki ser feliz, mesmo que para isso tenha que me livrar de você.
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☆ (N/A): Sei que é brisa minha, mas o Atlas é tipo o Park Hee Soon em My Name na minha cabeça, só que com alguns fios brancos pelo cabelo. Só isso mesmo.
Próximo capítulo teremos revelações e o lindinho do Shoto. Bjs :)
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