Suna
O quarto estava escuro, faziam semanas que aqueles olhos dourados não encontravam a luz solar.
O homem fungou baixinho, se encolheu mais contra a cama, a tela brilhante do celular iluminava seu rosto por completo, piscou devagar ao fitar o vídeo de maneira preguiçosa, não sabia ao certo quantas vezes já havia o assistido, mas mesmo assim seu estômago ainda fisgava ao escutar a voz da garota vinda do celular.
Risadas altas, ele abriu um sorriso melancólico em lábios ao ver o rosto da garota no vídeo, o jeito como ela revirava os olhos de modo irritado, sentia falta daquilo.
— Suna, tire isso da minha cara!
Ela gritou, sua voz ecoou pelo quarto, por uma fração de segundos o homem de cabelos escuros se perguntou se ela não estava ali, olhou para os lados, o potinho alaranjado de aspirina estava vazio, precisava comprar outro, suspirou pesadamente volteando o olhar para o celular.
— Eu não vou falar nada, Suna, você vai usar isso contra mim depois!
Mais risos se fizeram presentes, estalos de beijo, o homem respirou fundo, prensou lábios, parecia que entraria em um estado severo de choro a qualquer segundos.
— Por favor, prometo que não vou usar contra você.
Sua própria voz se fez presente, a garota do vídeo suspirou, desviou o olhar da câmera, Suna sorriu de maneira trêmula.
— Eu gosto mais de você do que da pizza, Rinrin, pronto, está satisfeito?
Suna respirou fundo, desligou o celular, passou as mãos pelo rosto, queria chorar mas talvez já houvesse o usufruído de seu estoque de lágrimas que até aquele momento pareciam infinitos, olhou para o teto branco.
— Não, não estou satisfeito.
Murmurou com a voz rouca enquanto se encolhia mais na na cama, esticou o braço até a cômoda em busca do potinho alaranjado, estava vazio, bufou o jogando sobre o acolchoado, se sentou antes de se rastejar até o chão, se colocou de pé com dificuldade tudo parecia girar sem parar, se agachou no chão vendo as garrafas vazias de bebida em busca de qualquer uma que estivesse com pelo menos uma gota sequer de álcool, era doloroso demais ficar sóbrio.
A porta se abriu, Suna chiou alto colocando as mãos sobre o rosto sentindo seus olhos queimarem pela luz que não via a dias, passos firmes vieram em sua direção, uma mão fina agarrou seu pulso lhe arrastando até o banheiro do quarto, ligou a luz, o homem quis gritar.
— Mas que porra, Suna, você está tentando se matar?! Sabe quantos pacotes de aspirina e garrafas de vodka tem na porra daquele chão?!
Kyoko indagou irritada o empurrando contra a parede, Rintarou bufou desviando o olhar.
— Não é como se eu me importasse.
Ele balbuciou sem ânimo, Kyoko bufou agarrando a nuca do homem lhe empurrando até o chuveiro, praticamente o jogou dentro do box de vidro abrindo o chuveiro quente de uma vez, Suna arfou fechando os olhos com força sentindo sua roupa inteira ser encharcada, a mulher respirou fundo.
— Você precisa de um banho, depois faça a merda da sua barba, eu vou dar um jeito no seu quarto, depois que se arrumar desça, Kuroo e Kenma querem falar com você.
Suna estava simplesmente cansado demais para negar, ou discutir com Kyoko naquele momento, respirou fundo antes de concordar com a cabeça, sentiu a água quente correr pelos fios escuros, a mulher concordou com a cabeça, se afastou de Suna deixando o banheiro, fechou a porta logo em seguida, o homem levou as mãos até as roupas molhadas as arrancando de seu corpo, as jogou no chão do banheiro, passou as mãos sobre suas costelas, suspirou, ele parecia muito mais magro do que antes, não se lembrava qual havia sido a última vez que comeu alguma coisa de verdade.
Voltou a se banhar em silêncio, não sabia ao certo se estava chorando ou se apenas a água estava quente demais em suas bochechas, mas seus olhos ardiam como o inferno, soluçou de modo sofrido sentindo sua cabeça doer, não aguentava mais aquilo, era sofrido demais, por alguns segundos se pegou pensando se realmente estava tomando banho, não sabia mais diferenciar a realidade das alucinações.
Mas uma coisa ele tinha a plena certeza que era real, a falta em seu peito que fazia parecer que um arpão havia sido atirado em sua direção.
Terminou de se banhar, se enrolou em uma toalha andando até a pia e pela primeira vez em semanas encarou seu próprio reflexo, engoliu em seco, não sabia se queria rir ou chorar, ele ficava horrível de barba, fez uma careta enquanto pegava a navalha e a espuma de barbear a passando em seu rosto, não demorou muito para que retirasse aquela coisa horrível de seu rosto, lavou a sua pele a secando logo em seguida, lançou um último olhar para o seu reflexo, suspirou, melhor, muito melhor.
Praticamente se rastejou para fora do quarto de maneira preguiçosa, piscou devagar, a janela estava aberta deixando que a luz da manhã se fizesse presente, o chão estava limpo sem o resquício de qualquer aspirina ou álcool, respirou fundo andando até o armário pegando uma muda de roupas qualquer, se vestiu de maneira preguiçosa enfiando o corpo dentro de um moletom preto e que agora parecia maior do que realmente era, deixou o quarto com os fios escuros ainda levemente úmidos.
Desceu as escadas até a sala de estar, Kenma e Kuroo estavam sentados de frente um para o outro, pareciam conversar de maneira séria, coçou a garganta em uma tosse fraca chamando a atenção dos dois homens, Kuroo sorriu.
— Quem diria você está vivo, eu já estava mandando um coveiro para o seu quarto.
Ele murmurou, Kenma soltou um riso baixo enquanto Suna revirava os olhos dourados jogando o corpo sobre uma das poltronas, o homem de cabelos loiros suspirou pesadamente, olhou para os papéis mais uma vez antes de levar os olhos cor de mel até Suna mais uma vez.
— Como você está, Park Rin?
— Quem?
Ele indagou confuso, Kuroo sorriu empurrou alguns documentos em sua direção, até mesmo uma certidão de nascimento do hospital de Busan, Suna piscou confuso os segurando, encolheu os ombros.
— Sua mãe era coreana, não? Você sabe falar coreano?
— Sei sim.
Ele respondeu sem entender o que estava acontecendo, Kuroo encolheu os ombros, apontou para os documentos.
— Essa é sua nova identidade, Park Rin, você é formado na academia de polícia de Seul, conversamos com o diretor, ele devia alguns favores para mim, está tudo certo.
Antes que Suna pudesse abrir os lábios para dizer qualquer coisa Kenma empurrou um artigo em sua direção, o homem de cabelos escuros abaixou os olhos até ela se detendo com uma foto do clube da Nekoma em chamas, franziu o cenho confuso.
— Kuroo encontrou um dentista no mercado negro, ele criou um molde idêntico da sua arcada dentária com ossos — Kenma murmurou, respirou fundo, Suna correu os olhos em sua direção —, ontem a tarde o Kita anunciou que você estava morto, ainda não contamos para ela, não sabemos se os celulares estão grampeados.
Suna engoliu em seco, sentiu seu coração bater forte em seu peito, segurou os documentos novos com as mãos trêmulas.
— Eu... eu estou livre?
Indagou com a voz embargada, os olhos dourados completamente marejados, Kenma riu baixinho, concordou com a cabeça.
— Corra para ela, Suna.
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