5.6
Um Mês Depois
Kenma, estava certo, mas não tão certo, ele estava certo em dizer que não iria doer para sempre, mas mesmo assim naquele exato momento você sentia que vivia com um enorme buraco em seu peito, tudo parecia opaco demais, já havia perdido as contas de quantas vezes havia pensado em ligar para o Suna, mas simplesmente não tinha coragem o suficiente para aquilo.
Deixou o museu em passos curtos, havia terminado o seu expediente, o sol já se punha a distância, sentiu alguém pousar a mão sobre seu ombro, olhou para trás assustada e soltou um riso fraco ao ver quem estava ali, tinha algumas sacolas de papelão em suas mãos, o homem encolheu os ombros.
— Eu fui no mercado e pensei em te buscar aqui.
Aran disse com a voz baixa, você sorriu, retirou os fones de ouvido os guardando nos bolsos do suéter extremamente amarelado que vestia.
— Me desculpe por não ajudar com o jantar.
Você murmurou enquanto retirava algumas sacolas de suas mãos as segurando entre seus braços, Aran riu, negou com a cabeça devagar antes de arquear uma das sobrancelhas.
— Eu agradeço aos céus por você não ajudar, eu te adoro mas entenda, S/N, você é uma cozinheira horrível.
Revirou os olhos ao escutar suas palavras, fez a feição mais ofendida o possível que conseguia criar em seu rosto, cerrou os olhos.
— Minha comida é muito boa para o seu governo.
— Claro que é, da última vez você queimou o meu teto, eu nem ao menos sei como você conseguiu fazer isso — ele disse tentando soar sério, você riu baixinho o seguindo por entre as ruas, arrumou as sacolas de papelão em seus braços, o homem abaixou o olhar em sua direção, engoliu em seco — Eu estava pensando, quer fazer um piquenique esse final de semana?
Você sorriu antes de assentir devagar, encolheu os ombros.
— Claro que sim, podemos chamar o Keiji também, ele trabalha na seção de literatura.
Você disse enquanto apertava o passo, estava suando frio, Aran franziu o cenho, você sabia muito bem que o homem queria levar você em um encontro e bem, não estava preparada para sair com outras pessoas, tinha a sensação de que poderia acabar estragando a amizade de anos que possuíam, precisava encontrar logo um apartamento.
— O Keiji é um cara legal, mas ele é muito quieto, tem certeza de que não...
— Ai, eu esqueci o meu catálogo no museu, é melhor eu voltar.
Você disse o cortando de maneira quase que desesperada, empurrou as sacolas de papelão em sua direção, ele as segurou sem facilidade, piscou devagar.
— Quer que eu te espere aqui?
Você sorriu antes de negar com a cabeça.
— Vá para casa, as compras parecem pesadas, eu te encontro lá.
Aran suspirou pesadamente antes de assentir, desviou o olhar do seu.
— Está bem.
Ele disse com a voz baixa, você girou os calcanhares praticamente correndo de volta para o museu, sentia seu coração bater quase que desesperado contra a caixa torácica, precisava ficar sozinha, mesmo que fosse por apenas alguns minutos, precisava ficar sozinha, sentia seu peito apertado, lágrimas surgindo no canto de seus olhos.
Respirou fundo quando chegou em frente ao museu, fechou os olhos por uma fração de segundos, os abriu novamente, piscou devagar, estava prestes a entrar quando celular vibrou no bolso do suéter amarelado, o pegou de maneira preguiçosa, seus olhos caíram sobre a tela, uma mensagem de Hinata, suspirou pesadamente, fazia um certo tempo desde a última vez em que haviam conversado, abriu a mensagem devagar.
[Hinata]
//Você viu o que aconteceu com o clube?//
Você franziu o cenho confusa, havia um link logo abaixo a mensagem, para uma espécie de site de jornalismo, criou no mesmo o abrindo, seus olhos correram sobre a manchete, sentiu seu coração bater mais forte contra o peito.
"INCÊNDIO EM UM DOS MAIORES CLUBES NOTURNOS DE TOKYO NA ÚLTIMA SEXTA FEIRA"
Piscou devagar relendo o título diversas e diversas vezes como se quisesse ter a plena certeza de que aquilo estava certo, deslizou o dedo sobre a tela de maneira cautelosa, sua respiração escapava de modo acelerado por entre seus lábios.
"Na última sexta feira, um incêndio ocorreu de maneira até o momento completamente desconhecida em um dos maiores clubes noturnos de Tokyo, o acidente levou três vítimas.
Até agora apenas uma foi dada como reconhecida graças a arcada dentária, Suna Rintarou de 26 anos estava foragido da polícia da Inarizaki a exatos três anos pelo crime de difamação, contribuição criminosa a Yakuza, tentativa de homicídio doloso e qualificado, exportação de substâncias ilícitas.
O chefe de polícia da Inarizaki, Kita Shinsuke fez uma declaração ao público afirmando que a arcaria dentária encaixava perfeitamente a de seu ex subordinado, um enterro está sendo realizado durante a tarde.
As duas outras vítimas continuam sem..."
Naquele momento você havia parado de ler, pelo simples fato de que suas mãos estavam tremendo muito, arfou, seu corpo simplesmente não sabia como reagir, não sabe como mas seus pés começaram a correr por conta própria, não fazia a mínima noção de onde estava indo.
Não conseguia chorar, não conseguia gritar, não sabia o que fazer, não demorou muito para que estivesse em frente a casa, talvez ainda tivesse uma esperança, uma mínima esperança de o encontrar ali, segurou a bolsa com as mãos trêmulas a remexendo de modo desesperado em busca da chave que Kenma havia lhe dado abrindo a casa rapidamente.
Ele não estava ali, você sabia daquilo.
— Suna Rintarou, onde você está, pare de brincadeira!
Gritou a plenos pulmões andando de um lado para o outro pela casa vazia, subiu as escadas rapidamente em direção ao seu antigo quarto, o quarto onde vocês ficavam juntos, olhou por todos os lados, armário, debaixo da cama e até mesmo dentro da geladeira, estava desesperada, tinha a sensação de que acabaria morrendo.
Respirou fundo enquanto saía da casa, sentia suas pernas fracas, talvez estivesse em choque demais para ao menos pensar, olhou para o lado se detendo com a caixa do correio, a alavanca avermelhada estava levantada, se aproximou devagar a abrindo, se deteve com um envelope, respirou fundo o pegando com as mãos trêmulas, ao ver o que estava escrito do lado de fora seu mundo desabou.
Ma chérie.
Arfou o abrindo quase que de maneira desesperada arrancando de lá dentro uma folha completamente escrita, o envelope estava sujo de pó, poderia estar ali a dias, semanas.
Passou os olhos pela caligrafia conhecida, sentia seus olhos enchendo de lágrimas, respirou fundo antes de começar.
"Ma chérie, princesa, linda, minha... Eu não sei o que usar, acho que principalmente por não ter a mínima noção de como escrever uma carta de amor (isso é se eu posso chamar ela assim já que você provavelmente me odeia agora), não sei porque estou escrevendo isso, talvez porque eu não aguento mais o cheiro de cigarro e maconha infestado em meu quarto, ou talvez porque a mansão parece silenciosa demais sem você aqui, Kenma também, ele está completamente imerso no trabalho e em Kuroo, quem sabe ele também sinta saudades.
Talvez eu sinta sua falta... Não, eu definitivamente sinto sua falta, descobri que é uma missão quase que impossível ficar sem você, sem o seu cheiro enjoativo de tinta, dos seus suéteres longos que pareciam ter sido roubados de um asilo, é dolorido não ver seu rosto mau humorado pela manhã ou não escutar você me mandando calar a boca a cada cinco segundos, sinto até falta das vezes em que você esmagava meu pé com raiva. É difícil ficar longe de você, não sei por mais quanto tempo eu posso aguentar essa situação.
É difícil nas tempestades, dói, dói muito, semana passada eu implorei para dormir perto do Kuroo quando os trovões ficaram muito altos, ele apenas permitiu, talvez também estivesse com pena de meu estado decadente. As vezes quando a chuva está muito forte eu olho para a pulseira em meu pulso direito e lembro do dia em que te pedi em namoro na praia, acho que nunca estive tão feliz, as vezes me pergunto se você ainda tem a sua, mas tenho quase certeza que você a jogou fora, eu não lhe culpo, afinal, eu fui um lixo, um completo lixo, me desculpe por ter te tratado daquele jeito.
Quando tudo está muito difícil de aguentar eu tento imaginar que estou com você em Paris, esparramado no tapete macio do seu quarto vendo você pintar um quadro, tento imaginar o que nós jantaríamos, eu provavelmente cozinharia já que você é péssima na cozinha. Tentar imaginar uma vida com você faz a minha própria existência mais tolerável.
Sinto sua falta.
Sinto falta do cheiro do seu cabelo.
Sinto falta das suas roupas sujas de tinta.
Sinto falta dos seus olhos.
Sinto falta da sua boca.
Sinto falta dos seus braços.
Sinto falta da sua voz, céus, como eu sinto falta da sua voz.
Do seu canto desafinado.
Do seu mindinho levemente torto.
Sinto falta de você.
Eu espero que um dia, quando minha vida não estiver uma bagunça, quando minha bagunça não atrapalhar a sua vida e seus planos, eu espero que quando esse dia chegar eu possa ver você novamente e me tornar alguém digno de você.
Você merece alguém digno do seu mundo.
Je t'aime ma chérie.
Suna Rintarou
P.S. O último mandamento do Machérieanismo era que ninguém poderia te amar mais do que eu amo você."
Uma lágrima caiu sobre o papel, estava desesperada, sentia que alguém havia enfiado uma faca em seu coração, perdeu a força em suas pernas, caiu de joelhos sobre o chão, soluçou alto chorando de maneira sofrida, seu celular vibrou em seu bolso, o pegou rapidamente, piscou diversas vezes tentando espantar as lágrimas, uma mensagem de Kenma.
[Kenken]
//Não surte, está tudo bem, não podemos falar sobre isso agora, não sabemos se os celulares estão grampeados, mas saiba que está tudo bem, o idiota está bem//
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