06. Kiss you?
Eu fiquei ali, parado na praia, com o som das ondas quebrando ao fundo e a brisa salgada atingindo meu rosto, mas minha mente estava a quilômetros de distância. As palavras que eu tinha acabado de dizer a ela, ou melhor, tropeçado nelas, ainda martelavam na minha cabeça.
"Você é incrível..."
O que eu estava pensando? Ou melhor, por que eu não estava pensando? Eu tinha acabado de elogiar uma garota do Cobra Kai, a mesma equipe que Sensei Wolf havia nos alertado como uma ameaça séria. E ela, com aquele olhar predatório e o sorriso de canto, como se estivesse prestes a me destruir, tinha me desestabilizado de um jeito que eu nunca havia sentido antes.
Sentei na areia, esfregando as mãos no rosto, tentando entender por que Hanna Jae-Sung me tirava do eixo. Não era só porque ela era boa, e, droga, ela era muito boa. Os movimentos que ela exibiu no tatame mais cedo ainda estavam gravados na minha memória. Precisão. Força. Elegância brutal.
Mas não era só isso. Era o jeito como ela se portava, como se carregasse o peso do mundo nos ombros e, ainda assim, desafiasse qualquer um a se colocar no caminho dela. Aquela confiança fria e quase cruel que, de alguma forma, parecia completamente natural nela.
Suspirei, encarando o horizonte. Por que isso me incomoda tanto?
Talvez porque ela não fosse só um oponente forte. Ela era diferente. Distante. Intocável. E talvez eu odiasse isso. Talvez eu odiasse como ela parecia me ver como um nada. Como ela tinha me analisado com aqueles olhos calculistas, como se já estivesse pensando em como me derrubar no tatame.
E, no fundo, havia algo que me irritava mais ainda, eu não sabia se gostava ou odiava isso.
As palavras de Zara voltaram a ecoar na minha mente, cortando meus pensamentos como um chicote. "Você se deixa levar pelas emoções. Isso vai te destruir."
Eu fechei os punhos com força. Zara estava certa, e era isso que mais me irritava. Eu sabia que era verdade. Eu sempre fui o tipo de pessoa que sentia demais. Que queria agradar os outros. Que se deixava levar por impulsos. E isso não podia acontecer no Sekai Taikai.
Eu não podia me dar ao luxo de perder o foco, especialmente agora. Hanna era uma adversária, nada mais. E, se ela se colocasse no meu caminho, eu teria que destruí-la, sem hesitar. Sem piedade.
Mas, ao mesmo tempo, eu não conseguia tirar a cena de mais cedo da cabeça. O jeito como ela segurou minha mão antes que eu pudesse tocá-la, com um reflexo rápido e firme. O olhar dela, tão carregado de desprezo que parecia um golpe por si só.
E, depois, quando ela riu daquele jeito quase sarcástico, como se estivesse no controle de tudo. Como se já soubesse que tinha o poder de me desarmar sem precisar mover um dedo.
Sem perceber, um sorriso pequeno e discreto se formou nos meus lábios. Era quase ridículo. Como alguém podia ser tão fria, tão calculista, e ainda assim... Fascinante? Apaixonante, até.
Eu balancei a cabeça, como se pudesse afastar esses pensamentos. Não. Isso é estúpido. Ela não é nada disso. Ela é só uma rival. Alguém que vou enfrentar no tatame e derrotar. É isso que importa.
Mesmo assim, algo dentro de mim sabia que não era tão simples assim. Hanna não era alguém que eu podia ignorar ou esquecer. E isso me incomodava mais do que eu gostaria de admitir.
Eu me levantei da areia, limpando as mãos nas calças e respirando fundo. Foco, Axel. Você não está aqui para isso. Eu tinha uma equipe para representar, um título para conquistar. Eu não podia deixar uma garota – uma rival – ocupar tanto espaço na minha cabeça.
E enquanto caminhava de volta para o hotel, fiz uma promessa silenciosa a mim mesmo. A próxima vez que eu visse Hanna Jae-Sung, seria no tatame. E, quando isso acontecesse, eu mostraria a ela que não era alguém fácil de derrubar.
Mas, por agora, precisava lidar com o fato de que ela já tinha me derrubado. Mesmo sem lutar.
Eu estava subindo para o meu quarto, ainda remoendo a cena na praia. Meus pensamentos iam de um lado para o outro como ondas quebrando na areia, sem que eu conseguisse organizá-los. Quando virei o corredor que levava aos quartos, uma figura apareceu mais à frente.
Era Kwon, o irmão mais novo de Hanna. Eu só havia descoberto isso recentemente, mas fazia todo o sentido. Os dois compartilhavam a mesma intensidade, aquela confiança que beirava a arrogância. A diferença? Ele parecia ter um temperamento mais impulsivo e um gosto peculiar por provocar.
Logo percebi algo diferente nele. Kwon cambaleava levemente, o rosto um pouco mais vermelho do que deveria estar, e o cheiro de álcool o denunciava antes mesmo que ele abrisse a boca. Bêbado. Um sorriso torto se formou em seus lábios quando me viu, e ele começou a caminhar em minha direção, os passos um pouco desajeitados.
Por reflexo, me endireitei. Ele era menor do que eu, mas isso nunca parecia impedi-lo de exalar uma confiança exagerada, como se fosse imbatível. Olhei para baixo, encarando-o, e admito que sempre achei um pouco engraçado ter essa vantagem de altura sobre a maioria dos competidores. Mas naquele momento, o humor foi substituído por cautela.
— Fique longe da minha irmã, cara. — A voz dele saiu arrastada, mas o tom carregava uma ponta de ameaça.
Eu cerrei os punhos, sentindo minha paciência se esgotar rapidamente. Kwon queria começar uma briga? Tudo bem, eu estava pronto.
— E o que você vai fazer se eu não ficar? — Retruquei, mantendo o olhar fixo no dele.
Ele deu mais um passo, o sorriso torto ainda estampado no rosto, mas os olhos semicerrados denunciavam algo mais sério.
— Eu vou desfigurar a sua cara no tatame, grandão. Se você tentar alguma coisa com a Hanna, eu juro que vai se arrepender.
Antes que eu pudesse responder, uma voz cortante ecoou pelo corredor, congelando a tensão entre nós.
— Eu mesma faria isso.
Virei a cabeça na direção da voz, e lá estava ela. Hanna Jae-Sung. Mesmo no corredor escuro, sua presença parecia brilhar, como se a luz se dobrasse ao seu redor. Ela vinha em nossa direção com os braços cruzados, o cabelo preso em um rabo de cavalo firme que parecia refletir sua postura rígida. Seus olhos passaram por mim com aquele olhar predatório de sempre, como se estivesse avaliando se eu era uma ameaça ou apenas um incômodo passageiro.
Por um breve momento, pensei em manter minha postura confiante, mas, assim que nossos olhares se cruzaram, senti algo estranho. Como se toda aquela compostura que eu vinha treinando para manter simplesmente desmoronasse sob o peso da presença dela.
Hanna se aproximou, segurando Kwon pelo braço. Ele se encolheu levemente, como se a autoridade dela tivesse efeito imediato.
— Você é um idiota, sabia? Bebendo desse jeito, parece que ia acabar desmaiado em algum canto do hotel, não é mesmo? Vim te buscar antes que você fizesse algo mais estúpido, moleque inconsequente.
Kwon soltou uma risadinha embriagada, a cabeça tombando de leve para o lado.
— Relaxa, noona. Eu tava só... Me divertindo.
Ela suspirou, revirando os olhos, claramente acostumada com as atitudes do irmão. Sem nem se preocupar em discutir, começou a arrastá-lo na direção do elevador. Mas antes de sair, parou, e seu olhar voltou a cair sobre mim.
A sensação foi instantânea. Era como ser atingido por um golpe invisível. Todo o treinamento, toda a confiança que eu tentava manter... tudo parecia vacilar sob aquele olhar implacável.
— Pode tentar se aproximar como quiser. — A voz dela era baixa, mas carregada de firmeza. — A única garantia que você terá é um braço quebrado, ou pior, a confiança em si mesmo quebrada, completamente destruída.
Ela terminou a frase com um sorriso de canto, o tipo de sorriso que fazia você se sentir desafiado e humilhado ao mesmo tempo, aquela ameaça não parecia ser simplesmente um blefe. E antes que eu pudesse reagir, ela deu as costas, arrastando Kwon pelo braço. Ele murmurou algo inaudível, enquanto as risadas abafadas dele ecoavam pelo corredor.
Fiquei ali, parado, observando enquanto o elevador fechava as portas. Meu coração batia rápido, mas não de medo. Não exatamente. Era algo mais complicado. Era como se cada interação com Hanna fosse um teste, um lembrete de que eu precisava provar algo, não só para ela, mas para mim mesmo.
Eu respirei fundo, tentando me recompor. Não podia deixar aquilo me afetar. Não devia. Mas, ao mesmo tempo, o desafio que ela representava me deixava... Animado. Era como se ela fosse um obstáculo que eu quisesse desesperadamente superar, não só por orgulho, mas por algo que eu ainda não conseguia identificar.
Olhei para as minhas mãos, os dedos ainda cerrados em punhos. Um sorriso discreto escapou dos meus lábios. Talvez fosse hora de mostrar para Hanna,e para o irmão idiota e irritante dela, que eu não estava ali a passeio. Se Kwon achava que podia me intimidar com ameaças embriagadas, ele estava enganado. E se Hanna pensava que eu era apenas mais um oponente fácil de derrubar, estava ainda mais enganada.
O Sekai Taikai seria o palco onde tudo isso se resolveria. E eu garantiria que, quando enfrentássemos o Cobra Kai no tatame, eles perceberiam que tinham subestimado o Iron Dragons, que tinham me subestimado.
Abrir a porta do meu quarto naquela noite deveria ter sido um alívio. Eu só queria entrar, me deitar e tentar silenciar as milhares de vozes e pensamentos em minha cabeça. Mas, assim que girei a maçaneta e a porta se abriu, meu corpo enrijeceu por completo.
Sensei Wolf estava lá.
Ele estava parado no centro do quarto, como se fosse dono do lugar, a postura reta e rígida. Os braços cruzados destacavam os músculos, e seu olhar fixo em mim parecia atravessar minha alma. A presença dele sempre me causava um frio na espinha, mas agora, depois de tudo o que aconteceu na praia e no corredor, o desconforto se intensificou.
— Axel.
A voz grave e baixa dele fez o ar no quarto parecer mais denso. Engoli em seco, forçando minhas pernas a me carregar para dentro. Minha cabeça já imaginava mil motivos para ele estar ali, mas nenhum deles era bom.
— Sim, sensei. — Respondi, a voz saindo mais baixa do que eu pretendia.
Assim que a porta se fechou atrás de mim, ele se aproximou. O som de seus passos ecoava pelo espaço pequeno, cada um deles me pressionando ainda mais. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, senti sua mão no meu ombro.
Não era um gesto gentil.
O aperto foi firme, quase cruel. A dor irradiou pelo meu braço, mas eu mantive meu rosto impassível, segurando o impulso de contorcer as feições. Mostrar qualquer fraqueza para Sensei Wolf era impensável.
— Você andou atrás da garota do Cobra Kai?
O sangue gelou nas minhas veias. Por um segundo, achei que meu coração tinha parado. Como ele sabia? Não era possível que ele tivesse visto... Ou será que alguém contou? Meu silêncio me denunciava, e, antes que pudesse dizer algo, ele apertou ainda mais meu ombro, arrancando uma leve contração dos meus músculos.
— Responda, garoto.
— Não, sensei. — Menti rapidamente, minha voz soando firme apesar do pânico interno.
Ele permaneceu em silêncio por alguns segundos, os olhos presos nos meus. Era como se estivesse me analisando, tentando arrancar a verdade sem que eu precisasse dizer mais nada.
— Você está diferente. Menos focado. — Sua voz cortou o silêncio como uma faca.
Eu queria protestar, negar, mas não ousava abrir a boca. Ele estava certo, é claro. Eu definitivamente não estava tão focado quanto deveria. Minhas interações com Hanna continuavam rondando minha mente como uma tempestade, me distraindo de tudo que importava. Mas admitir isso para ele? Nunca.
Sensei Wolf soltou meu ombro abruptamente, como se tivesse perdido o interesse em continuar a conversa ali. Ele começou a caminhar em direção à porta, parando apenas para olhar por cima do ombro.
— Vista-se. Vamos treinar. Agora.
Meu coração afundou.
Treinar, a essa hora da noite, significava apenas uma coisa, punição. Wolf não era do tipo que dava segundas chances ou permitia deslizes. Se ele achava que meu foco estava vacilando, ele me faria pagar por isso.
Por um instante, considerei hesitar, perguntar o motivo ou mesmo implorar por um pouco de descanso. Mas o olhar dele... Aquele olhar frio e amedontrador... Me fez engolir qualquer palavra.
— Sim, sensei. — Minha resposta saiu automática, enquanto eu já buscava meu uniforme de treino.
A noite estava fria quando seguimos para o espaço de treino improvisado do hotel, um pequeno salão com tatames estendidos no chão e equipamentos de prática ao redor. Eu não dizia nada, e Sensei Wolf também não parecia inclinado a conversar. Ele caminhava à frente, sua silhueta imponente se destacando contra a pouca luz do corredor.
Chegando lá, ele me lançou um olhar avaliador, como se quisesse medir o quanto eu suportaria naquela noite.
— Você quer ser o melhor? — Perguntou, finalmente quebrando o silêncio.
— Sim, sensei.
— Então comece a agir como tal. Esqueça distrações. Esqueça fraquezas. Se eu perceber que você está se afastando desse caminho... Você não será nada.
Suas palavras pesaram como uma tonelada em meu peito, mas eu assenti. Não havia espaço para questionar, apenas obedecer.
O treino começou com uma série de exercícios intensos, socos repetidos contra o saco de pancadas, chutes altos até minhas pernas começarem a tremer, e movimentos de precisão que ele corrigia de forma dura, cada erro sendo punido com ainda mais esforço físico. A cada comando, minha mente lutava para se concentrar, mas os pensamentos sobre Hanna insistiam em voltar.
A voz dele ecoava no salão.
— Mais forte, Axel! Você está fraco!
O suor escorria pelo meu rosto, e meus braços já pareciam pesar uma tonelada, mas eu continuava. Não podia parar. Não com ele me observando tão de perto, esperando qualquer sinal de fraqueza para usar contra mim.
Quando finalmente paramos, meu corpo estava exausto, mas minha mente, curiosamente, estava mais clara. Wolf se aproximou novamente, o mesmo olhar duro nos olhos.
— Lembre-se do que eu disse. Não hesite. Destrua qualquer obstáculo que estiver no seu caminho. Qualquer um.
Assenti, mesmo que minhas pernas mal conseguissem me sustentar. Ele me lançou um último olhar, então saiu do salão, me deixando sozinho para enfrentar meus pensamentos.
Enquanto deslizava para o chão, encostando contra a parede, minhas mãos ainda trêmulas, as palavras dele ressoavam em minha mente. Esqueça distrações. Esqueça fraquezas.
Eu sabia o que ele queria dizer. E sabia que ele tinha razão. Mas, mesmo assim, o rosto de Hanna continuava pairando em meus pensamentos.
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A brisa da manhã trazia o cheiro de sal, mas nada disso me acalmava. Cada passo que eu dava na areia parecia mais pesado que o último, como se estivesse carregando um peso invisível. Minhas mãos passavam distraídas pelos hematomas escondidos sob o casaco. A dor física era um lembrete incômodo do treino infernal com Sensei Wolf, mas o que me incomodava de verdade era a confusão dentro da minha cabeça.
Wolf dizia que eu precisava esquecer distrações. Zara vivia dizendo que minhas emoções me deixariam fraco. E, como se não bastasse, ela estava lá, invadindo minha mente como um veneno.
Hanna.
A forma como ela sorria daquele jeito frio, como se estivesse sempre dois passos à frente de mim. A maneira que falava, jogando palavras como lâminas que cortavam fundo. Eu sentia o peito se encher de raiva toda vez que pensava nela. Não era uma raiva simples, era uma mistura que eu não sabia explicar, irritação, frustração, algo que me deixava à beira da loucura.
Eu precisava tirá-la da minha cabeça.
No entanto, isso pareceu ser completamente impossível quando ouvi uma voz ressoar atrás de mim.
— Ei, gigante de aço.
Eu congelei. Aquela voz carregada de sarcasmo era inconfundível. Virei lentamente e lá estava ela, vindo em minha direção com a mesma postura confiante de sempre. Usava um conjunto cinza de treino que parecia feito sob medida para ela. Aquele rabo de cavalo apertado destacava seu rosto, e a franja solta quase o suavizava, quase.
Senti meu corpo travar por um momento. Então, apenas consegui murmurar.
— Bom dia.
Ela se aproximou, me analisando de cima a baixo, como se eu fosse algo que ela estivesse estudando ou, pior, julgando.
— Ainda convencido de que sua equipe pode vencer? — A pergunta saiu dela como uma flecha, carregada de ironia.
Hesitei por um segundo, mas antes que pudesse responder, ela deu mais um passo à frente.
— Aposto que não. — Ela riu, mas não era uma risada amigável. Era o tipo de risada que fazia a nuca arrepiar, carregada de malícia e algo mais sombrio.
Eu queria responder, queria dizer algo para colocá-la no lugar, mas as palavras simplesmente não vinham. Meu corpo parecia preso, como se aquela proximidade dela me tirasse todo o equilíbrio.
Foi então que ela fez algo inesperado.
A mão dela começou a subir pelo meu peito, devagar, como se estivesse me provocando. Senti um arrepio percorrer o corpo inteiro. Não era só desconforto, era algo mais profundo, quase instintivo. Minha boca secou, e, por mais que tentasse, não consegui me mexer.
Ela subiu a mão até o meu rosto, os dedos tocando de leve minha pele, e eu sabia que deveria fazer algo, afastá-la, responder, qualquer coisa. Mas eu estava congelado. Os olhos dela estavam fixos nos meus, escuros, cheios de algo que eu não conseguia decifrar.
Então, sem qualquer aviso prévio, simplesmente aconteceu.
Ela me beijou.
Foi rápido no começo, mas intenso. Eu não sabia o que fazer, meu corpo estava tão paralisado que, por um momento, eu só... Aceitei. Mas, então, algo mudou, e eu comecei a retribuir, ainda que de forma tensa, confusa, e talvez... Maravilhada? Droga, o que eue estava fazendo? E uma dúvida maior, quase mortífera me perseguia naquele momento, o que diabos ela estava fazendo?
O gosto do beijo dela era agridoce, como veneno mascarado de mel.
Quando ela se afastou, eu ainda estava tentando processar o que tinha acontecido. O sorriso dela, no entanto, mudou. Não era mais sarcástico, era sombrio, quase cruel.
— Você sabe que eu sou seu ponto fraco, não sabe? — A voz dela era baixa, mas cada palavra parecia ressoar como um trovão, e os borroões da confusão e minha mente começaram a se tornar mais cristalinos Eu já sabia onde ela queria chegar com isso, mas odiaria ter que admitir. — Por mais que tente, você jamais vai conseguir derrotar o Cobra Kai enquanto eu estiver lá.
Fiquei sem reação, ainda processando o que ela tinha dito.
Ela então cruzou os braços, inclinando levemente a cabeça enquanto me analisava como se tivesse acabado de vencer uma batalha.
— O beijo? — Ela continuou. — Ele só vai provar no tatame o quanto eu estou no controle.
As palavras dela me atingiram como um soco no estômago. Claro que se tratava de um jogo cruel. E antes que eu pudesse responder, ela se virou, começando a caminhar de volta pelo mesmo caminho de onde veio. Mas, antes de se afastar completamente, olhou por cima do ombro, o olhar desafiador e carregado de desprezo.
— Vamos ver se depois disso você consegue manter a cabeça no lugar. Nos vemos no tatame, gigante de aço.
E então ela saiu, o rabo de cavalo balançando de um lado para o outro enquanto ela desaparecia pela praia.
— Sua maldita manipuladora! — Gritei, mas ela nem se deu ao trabalho de olhar para trás. Apenas riu, aquela risada fria que ecoava na minha mente como um lembrete de que ela achava que já tinha ganhado esse jogo.
Eu cerrei os punhos, sentindo o sangue ferver de raiva. A vontade de arrancar os próprios cabelos era quase insuportável. Ela tinha jogado comigo, me manipulado, e o pior de tudo era que eu sabia que isso estava funcionando. Aquele beijo não foi nada além de uma estratégia, um movimento calculado para me desestabilizar. E isso só me deixava mais irritado, porque, no fundo, eu sabia que ela estava conseguindo.
Sentei-me na areia, socando o ar como um idiota. Ela era perigosa, não só no tatame, mas fora dele também. E, de alguma forma, mesmo sabendo disso, ela continuava invadindo minha mente.
Mas isso não ficaria assim. Simplesmente não pode ficar assim. Não posso permitir dá espaço para que ela pense que venceu essa batalha. Eu provaria para ela que não era tão fácil me controlar. No tatame, as coisas seriam diferentes. Eu faria questão de quebrar essa confiança dela, peça por peça.
Ou, pelo menos, era isso que eu precisava acreditar.
Obra autoral ©
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