𝟬𝟯

Me tornar uma pessoa conhecida por Katsuki Bakugou foi como continuar sendo invisível, mas ao mesmo tempo tão reconhecida.

Invisível por que mantenho minha boca fechada e minha posição nessa pequena sociedade em perfeita solitude. Reconhecida por que sempre que estou sozinha, seja estudando na biblioteca ou jantando no refeitório, ele sempre está do outro lado da mesa, bem a minha frente. Apenas me encarando. Que desconforto.

Então corrigindo: Eu mantinha minha boca fechada e minha posição nessa pequena sociedade em perfeita solitude.

Ele permanece me encarando mais uma vez do outro lado da mesa, onde eu suspiro e nego vagarosamente com a cabeça ao levantar meu olhar, e em seguida, voltar para a tela do notebook na mesa. Dou um gole no meu café e massageio minhas pálpebras cansadas.

⎯ O que houve?

⎯ Como assim, porra?

⎯ Bakugou. -eu respiro fundo antes de falar alguma besteira que possa ferí-lo. ⎯ Esta me perseguindo a quase duas semana, desde que fizemos um acordo. Tem alguma coisa que te incomoda?

⎯ Eu quero garantir que vai manter sua boca fechada. -ele espreme os olhos, como se estivesse desconfiado. ⎯ E você não tem que me entrevistar para o seu documentário?

⎯ Se quiser que eu entreviste você no meio da biblioteca com alunos entrando e saindo o tempo inteiro, então vamos lá.

Com o sarcasmo, ele se dá conta do espaço ao seu redor pela primeira vez nos 20 minutos que entrou ali apenas para ficar de olho em mim. Depois me encara de volta piscando algumas vezes, como se estivesse boiando. Eu reviro os olhos. Sério mesmo, como alguém como esse cara pode estar no ranking da faculdade?

Eu me levanto para sair me despedindo apenas dando tchau com a mão, mas ele me segue do mesmo jeito. E os olhares na biblioteca até o corredor nos persegue com murmúrios, principalmente de mulheres.

Preciso dar um fim nisso. Eu não aguento mais.

⎯ Venha aqui. -eu seguro em seu pulso e o arrasto comigo para fora do corredor através de uma das portas que levava para uma área mais aberta.

⎯ Mas que... -antes que ele pudesse abrir sua boca suja, eu interrompo, o soltando com força e suspirando em estresse ao me virar para encará-lo.

⎯ Minha vida era fácil, ainda é, mas se continuar me perseguindo, não será mais. -ele abre a boca e eu coloco o dedo indicador a frente, com as sobrancelhas franzindo. ⎯ Se você me perturbar mais uma vez durante este acordo, eu vou contar para todos...

Um bocejo seguido de uma espreguiçadeira em um banco atrás de uma árvore no local onde estávamos, foi o que nos fez cessar voz. Do banco se levanta um semblante sonolento de cabelos vermelhos e bagunçados e dentes afiados, que nos vê apenas após se levantar, surpreendendo-se, assim como fez conosco.

⎯ Katsuki? -seu olhar desce para mim. ⎯ E... departamento de jornalismo? -o olhei com confusão, meu apelido é mesmo esse por aqui?

⎯  Mas que merda você tá fazendo aqui, Kirishima? -o loiro perguntou, fazendo o amigo soltar um riso sem graça. ⎯ Disse que ia limpar a quadra hoje, era sua vez, seu fodido.

⎯ Ah, que isso galera, vamos comer algo quente, hoje a noite tá tão fria... -ele desvia do assunto, passando o braço pelos nossos ombros, ainda sorrindo. ⎯ Eae departamento de jornalismo, qual seu nome?

⎯ [Nome]. Pare de me chamar assim. E retire seu braço do meu ombro, por favor. -eu pego seu braço através da manga de sua camiseta na ponta dos dedos, e retiro com cuidado, o deixando pouco triste.

O cheiro e a textura de suor me incomodaram, mas mais que isso, principalmente o peso do seu braço contra a finura do meu ombro.

Eu não fui com eles para comer, me sentia desconfortável com pessoas que não conhecia, fora o fato de serem homens. É ridículo julgar as pessoas por tão pouco, mas mais ridículo é uma mulher se acompanhar tanto com homens. Talvez este pensamento tenha me tomado por Katsuki Bakugou estar me perseguindo tanto ultimamente, mas desta vez, espero que ele tenha compreendido bem que quero distância.

NOVA MENSAGEM DE:  +81 NÚMERO DESCONHECIDO.

⎯ Oi. Aq é Katsuki Bakugou, selv mwu número pra mantermos contato, se eu ver vc online ou interagindo nos chat da facul, vou vlt aq imediatamente e ve se tem algo sendo enviado para algum representant. Vc foi avisada.

⎯ Se me perturbar mais uma vez com seu analfabetismo, eu vou denunciá-lo para o conselho imediatamente. Você foi avisado.

Depois disso recebi mais de dez notificações, onde mutei tudo e segui para a última aula da noite. Tudo seguiu normalmente e a rotina foi a mesma – ou quase. Katsuki não me perturbou novamente e eu agradeço aos deuses por isso. Não o vi na saída, apesar de não ter procurado.

Em casa, finalmente abri suas mensagens, onde todas eram xingamentos direcionados a mim e mais algumas coisas inúteis que recebi. Mas algo me interessou.

No sábadão tenho luta, teu ingresso ja foi comprado, vo manda o link pro código qr!

A mensagem de duas horas atrás me tirou um sorriso mínimo. Mesmo sendo idiota, não quebra sua promessa e sabe o que faz, pelomenos as vezes.

Então resolvi perguntar.

⎯ Você chegou bem em casa?

A resposta foi quase de imediato.

⎯ Oi, cheguei e vc? Ja comeu? Vc ja tomou banho? Kirishima devia ter corrido antes d dormi, tava fedido!

Eu finalmente concordo e rio com algo que ele diz.

⎯ Ainda não comi, mas ja tomei banho. Seu amigo vai ficar sabendo do que fala dele pelas costas.

Eu respondi brincando com ele, como fica bravo com tudo, é quase natural que ele fique estressado com isso também.

⎯ Mas que porraaa!!!! Não diz nada sua fofoqueira!!!! >:((

⎯ Brincadeirinha.

⎯ Você já salvou meu número?!?! Sua foto ainda não apareceu aq!

Eu me dou conta de que realmente não salvei o número dele, e faço agora.

Digitando...

⎯ Que feia!

Após a sua última mensagem, fiquei fisurada com o que escreveu, o encarando sem resposta, como se não soubesse retribuir seu comentário, então não respondi mais, e ele não enviou mais mensagens, ficamos por isso mesmo naquela noite de quinta-feira.

⎯ Somos próximos para eu dizer que ele também é?

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