𝟬𝟮

Meus olhos arregalaram-se com um vislumbre da gota de sangue que escorreu entre seus lábios, descendo por todo o seu queixo. Tremi levemente ao ouvir os gritos da plateia torcendo para o outro competidor.

Não tirei meus olhos filtrados no ringue nem por um momento. Katsuki se levantou e suspirou pesadamente, com a luva de boxe secando seu sangue escorrido na boca, pressionando o hematoma em seu estômago de algumas lutas atrás. O oponente parecia ter tudo de si, o que foi perdido quando o soco de direita o atingiu em seguida, caindo contra as cordas à minha frente. Eu anotava cada movimento em uma pequena caderneta em minhas mãos, riscando assim que me assustei com o homem a minha frente, grunhindo de dor.

⎯ Ta se achando né, fodido? Quer mais um? -katsuki avança no oponente, socando sua barriga deliberadamente, como se sua vida dependesse de cada soco. ⎯ Me bateu uma vez e não aguentou o resto?! -ele grita contra o ouvido do outro.

O juiz no ringue apita, levantando um dos braços, em seguida afastando Katsuki Bakugou e iniciando a contagem de 10 segundos até anunciar que foi nocaute. Ao chegar no 9, o oponente tenta se levantar, onde suas pernas trêmulas não permitem o ato. Ele cai novamente, dando a vitória para Bakugou. O juiz apita e se encerra a luta.

Durou menos de dois minutos.

Todos vão a loucura na plateia inteira, alguns gritam seus números de dinheiro em apostas feitas ao favor de Katsuki Bakugou e outros choramingam o xingando por tê-los feito "perder" dinheiro.

Fisurada pela plateia e luzes, me esqueço de olhar o ringue, onde ele já não estava mais, olho em volta do local em sua procura, mas é quase impossível encontrá-lo. Dando alguns passos nas cordas desprendidas do ringue, ele estava saindo, com seu treinador ao lado, o ajudando em certos passos que ele vacilava.

⎯ Espere! -eu grito, andando rapidamente até o portão por onde ele estava saindo, mas sou barrada por um segurança.

⎯ Aqui não, mocinha. As entrevistas são apenas depois de todas as lutas. -eu solto um "tsc" e saio do espaço, voltando para onde eu estava abaixo do ringue.

⎯ Onde será que eu encontro ele depois daqui? -eu coloco dois dedos entre o queixo tentando pensar e algo plausível. ⎯ Que idiota. -eu levo os dedos ao cenho franzido. ⎯ A faculdade, né!

KATSUKI BAKUGOU

No caminho para seguir até a van que me transportaria para casa, o tapete vermelho até chegar lá soma com uma infinidade de repórteres que querem saber quem é a "Jovem Estrela" da temporada, sou eu. E ninguém sabe até agora.

E eu odeio isso. Odeio a fama desnecessária.

Eu estava no boxe apenas por diversão e isso se tornou uma bagunça.

Quero sumir deste lugar.

O trabalho que se diz respeito a pessoas intrometidas, sem empatia, insistentes e desgastantes é este. Jornalistas são um lixo e eu sou a prova humana de que as vítimas referentes a este emprego existem sim.

⎯ Quero ir embora, treinador. -ele dá uns tapinhas no meu ombro e sorri minimamente.

⎯ Eu também, garoto. -ele coloca o semblante para fora da cortina antes de suspirar e me olha uma última vez. ⎯ Segue pela saída dos empregados, eu me viro aqui, te vejo em uns 10 minutos.

Eu acenei e segui pela saída dos empregados, uma porta ao lado do vestuário de competidores. Chegando na van, me sento afundando a cabeça no banco preto, com a porta fechada, e uma pequena brecha aberta de todos os vidros em fumê. Observando o teto perdido em meus pensamentos, me lembro novamente daquela garota tão familiar.

Dou um sobressalto no banco, após lembrar que era alguém da faculdade.

⎯ A vagabunda que estava me olhando na pista de corrida. -esfrego minha testa em profunda raiva. ⎯ Oque ela fazia aqui? Será que me reconheceu? -antes que pudesse pensar em mais algo que me entregasse a culpa por não ter sido discreto o suficiente, o treinador entra na van.

⎯ O que foi?

⎯ Nada! Só pensando que poderia ter feito melhor. -a desculpa é a mesma de sempre. porém, morreria se deixasse alguém de fora do centro saber quem eu era.

E a resposta do treinador também era a mesma:

⎯ Se ganhou essa partida, significa que foi melhor do que o homem que perdeu.

Na faculdade segunda-feira, as aulas eram as mesmas, os temas diferentes, o tempo demorava a passar e a única coisa pela qual agradecia hoje, era por ter conseguido concluir a entrevista com os alunos sobre as melhoras na alimentação e em certas partes do campus.

Vendo a fita gravada através da TV na sala de cinema, junto de meu grupo, corrigimos os erros, cortamos algumas partes e editamos. A equipe dos alunos de cinema atribuíram grande ajuda quando permitiram o uso da sala para edição de vídeo.

Shihai Kuroiro era um grande amigo meu quando se tratava de favores.

⎯ Bom trabalho pessoal. -eu elogio e agradeço, me espreguiçando antes de levantar. ⎯ Eu vou na frente. A apresentação é na última aula, ok? -todos concordam e eu saio me despedindo.

Agradeceu aos deuses pela apresentação ser adiada para hoje, já que a chuva na semana passada dificultou todo o processo de gravação e apresentação do grupo.

⎯  Ei, você.

Uma voz nada familiar me chamou. Como eu sabia que era comigo? Eu era a única no corredor por todos estarem em aula dentro de sala. Quando me viro, a figura que toma minha atenção é a pessoa no ringue a dois dias atrás. Katsuki Bakugou estava ali, parado na minha frente do outro lado do pátio. Ele anda em minha direção e eu só solto a respiração quando ele finalmente está frente a frente comigo.

⎯ Era você na arena no sábado a noite. O que fazia lá?

Nada demais, apenas usando seu espaço de brincadeiras para um trabalho que vale minha nota semestral inteira e um salário triplicado. Pensei em responder isso, mas fui mais educada e mentirosa.

⎯ Eu tenho interesse em lutas de boxe. -e antes eu que pudesse falar mais, ele interrompe.

⎯ Mentira. -ele se aproxima mais, me fazendo dar dois passos recuados. ⎯ O que caralhos você fazia na minha arena? -eu engulo seco.

⎯ Ta bom. Eu estava lá a trabalho. -ele arqueia uma sobrancelha.

⎯ Você é repórter?

Reviro os olhos. Como eu vou ser repórter se eu estou na faculdade?

⎯ Não. Eu estava lá a trabalho da minha aula, apenas fazendo algumas anotações, quer me ajudar?

⎯ Não, não quero.

⎯ Então pare de encher o meu saco e saia do meu caminho.

Ameaço me virar e voltar a seguir caminho e ele em alguns passos rápidos fica a minha frente, impedindo passagem.

⎯ O que foi desta vez?

⎯ Não conta pra ninguém que me viu lá.

⎯ Então...

E uma ideia brilhante surge em meus pensamentos impetuosos.

⎯ Bom, eu não vou contar. -e antes que ele vá embora sem agradecer, eu dou ênfase a frase. ⎯ Se você me deixar ir assistir todas as lutas de graça e me deixar documentar sobre você, eu não vou contar. -a raiva presente em seu rosto agora, era nítida.

⎯ Que porra acabou de falar? -ele cerra os punhos. ⎯ Acha que eu sou um brinquedo seu?

⎯ É uma troca de favores. Parece que não é tão inteligente pra estar no ranking da faculdade. -ele se irrita ainda mais. ⎯ Enfim, é apenas você me ajudando e eu te encobrindo.

⎯ Se eu não aceitar, vai fazer o quê? -eu cruzo os braços.

⎯ Eu vou contar no fórum da faculdade e no grupo dos representantes.

Ele parecia perdido por um momento, confuso com a situação. Pensou por mais de alguns segundos e em seguida eu tive minha resposta esperada.

⎯ Ok. Fechado. Mas vai ter que falar sobre mim, usando outro nome.

⎯ Fechado.

Eu estendo a mão com um sorriso de canto, como se a vitória fosse completamente minha. E era.

Ele aperta minha mão com receio e engole em seco.

Foi nesta segunda-feira, que Katsuki Bakugou e eu, nos conhecemos.

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