capítulo onze

QUANDO ARIZONA ACORDA, ELA SE sente um pouco confusa nos primeiros segundos. Ela não está no quarto dela. Nem mesmo em sua cama. Até que as lembranças da noite anterior vêm à sua cabeça junto com a percepção de uma respiração lenta atrás dela.

Em algum momento durante a noite ela se moveu e agora os braços de Charlie a envolvem por trás e ela se sente incrivelmente confortável em seus braços.

Ela se vira lentamente, com medo de acordá-lo, e encontra o rosto tranquilo de Charlie. Ele parece diferente quando está dormindo, como se a preocupação tivesse evaporado de suas feições. Ele parece mais jovem.

Ela levantou os dedos para colocá-los suavemente em sua bochecha. Charlie abre os olhos, ainda nublados pela confusão do sono, e um sorriso preguiçoso se forma em seus lábios.

— Bom dia. — ele murmura com uma voz rouca que Arizona lista como sua favorita a partir deste momento.

— Bom dia. — o sorriso da garota filtra suas palavras mas quando o olhar de Charlie fica mais atento, procurando por algo em seu rosto, ela levanta uma sobrancelha. — O que está acontecendo?

A mão de Charlie desliza sobre seu quadril, seus dedos quentes e duros descansando contra sua pele macia como uma pena.

— Estou apenas esperando o arrependimento. — ele confessa.

— Arrependimento? — quando o homem acena com a cabeça, Arizona nega, sem conseguir evitar uma leve risada que dança entre a diversão e a indignação. — Você acha que me arrependo do que aconteceu ontem à noite? Não seja ridículo, Charlie.

O delegado suspira e seus dedos deslizam pelo quadril da garota, numa carícia leve, quase como se quisesse confirmar que ela ainda está ali, que é real.

— A noite passada foi... incrível. Mas nos deixamos levar. A realidade é que sou mais velho que você. Muito mais velho. E o pai de Bella e...

— E?

Charlie se vira, deixando-se recostar no colchão e olhando para o teto, como se ali pudesse encontrar a solução para todos aqueles dilemas morais.

— Não sei, Ari. Se quiser continuar com isso, se vier à tona... — ele passa a mão pelo rosto, como se pudesse apagar tudo o que passa pela sua cabeça. — Nesta cidade existem línguas mais afiadas que uma faca.

Arizona se move, sentando-se na cama com as pernas cruzadas para poder vê-lo melhor enquanto o lençol desliza sobre seu corpo. Charlie se obriga a não olhar para a pele exposta, ele tem que manter o foco nessa conversa.

"Você não é um adolescente hormonal", ele se repreende enquanto olha dentro dos olhos claros dela.

— Você tem medo do que dizem sobre você? — pergunta a garota, não há nenhuma crítica em sua pergunta, apenas curiosidade e alguma preocupação.

— Temo o que dizem sobre você. Você está acostumada com Nova York, onde mal conhece seu vizinho, mas aqui... — ele balança a cabeça em negação. — Aqui eles vão te destruir, você vai ser o assunto da cidade por semanas.

Arizona encolhe os ombros, sua crina esvoaçando levemente com o movimento.

— Eu não me importo. Posso sobreviver a algumas fofocas. — seu olhar claro fica um pouco cauteloso. — Contanto que você queira continuar com isso também.

— Claro que quero. — Charlie é rápido em dizer.

— Acho que tem mais um problema, mas...

Ele não pode deixar de sorrir levemente com a visão de Arizona. Ele pega uma das mãos dela, só para segurá-la, só para dar um beijo na parte interna do pulso dela.

— Mas acho que deveríamos guardar isso para nós pelo menos por um tempo. Pelo menos no começo.

Arizona pondera suas palavras por alguns segundos apenas para acabar concordando.

— E Bella?

Essa é a parte que mais preocupa Charlie.

— Nós contaremos a ela, antes que o resto descubra. Eu só... acho que quero ter você um pouco mais para mim antes que tudo exploda.

Ari revira os olhos diante do drama do homem, mas se inclina sobre ele, seus lábios roçando os dele enquanto ela fala.

— Parece bom para mim, velho dramático.

As sobrancelhas de Charlie se erguem com diversão dançando em seus olhos escuros.

— Você acabou de me chamar de velho?

— E o que você vai fazer a respeito?

O sorriso desafiador de Arizona desaparece quando a boca de Charlie cobre a dela, abafando a risada da garota enquanto ele a rola para ficar em cima dela. A mão masculina deslizando por suas curvas enquanto roubava seu fôlego em um beijo selvagem.

De repente ouve-se o barulho de uma porta. Alguns passos leves pelo corredor. O beijo é interrompido, mas nenhum dos dois ousa se mover. Os dois congelam ao ouvir a porta do banheiro fechar. Nenhum deles percebe que prendeu a respiração até soltá-la com um suspiro.

— Eu deveria voltar para o meu quarto antes que ela saia. — a garota sussurra, o breve momento lúdico morreu.

Charlie acena com a cabeça, libertando-a do peso de seu corpo. A realidade do que está acontecendo o atinge novamente. Ontem à noite Bella chegou tarde em casa, ontem à noite eram só eles dois, mas hoje... o resto do tempo...

— Ei. — a mão de Arizona repousa em sua bochecha, forçando-o a olhar para ela. — Tudo vai ficar bem, relaxe.

— É uma ordem?

— Sim.

O sorriso divertido de Arizona é contagiante, então quando ela o beija uma última vez antes de sair com as roupas da noite anterior nas mãos, ele não consegue evitar de se sentir mais calmo.

Talvez ela esteja certa. Talvez tudo dê certo.

O grito quebra o silêncio noturno na casa dos Swan.

Os dois adultos saem para o corredor ao mesmo tempo. Eles trocam um breve olhar de surpresa. Bella não tem pesadelos há semanas, mas algo mudou. Jake não vem para casa há uma semana. Bella não fala com ele desde o encontro desastroso no cinema.

Aparentemente ela tem algum vírus estomacal, mas Bella não parece acreditar totalmente nisso.

— Quer que eu prepare um copo de leite quente para você? — Ari pergunta gentilmente da porta enquanto Charlie se senta na beira da cama da filha.

Bella nega, e seu olhar viaja envergonhada do pai para a prima.

— Me desculpe por ter acordado você. Vou voltar a dormir, não se preocupe.

— Tem certeza? — a voz de Charlie parece um tanto suspeita.

— Sim. — ela dá um leve sorriso para o pai, apertando seu joelho, e Charlie se levanta, dando uma última olhada para a filha antes de sair do quarto, fechando a porta atrás de si.

— Você parece exausto. — Ari comenta baixinho enquanto observa o homem passar a mão pelo rosto com um suspiro.

— É só... — ele desvia o olhar para a porta fechada e Arizona entende, ele não quer falar perto de Bella.

Ela pega sua mão para puxá-lo gentilmente para seu quarto. Gentilmente, ele fecha a porta atrás deles.

— Bella poderia ir até meu quarto e vê-lo vazio. —o homem avisa embora não faça nenhum movimento para sair.

Arizona levanta as sobrancelhas, os braços nos quadris.

— Quando foi a última vez que Bella foi ao seu quarto?

Em resposta, Charlie suspira, caindo na beira da cama desfeita. Arizona se aproxima dele, esgueirando-se entre suas pernas para descansar a mão em sua bochecha.

— Quando foi a última vez que você dormiu? — ela questiona, olhando para o rosto cansado e as olheiras que enfeitam seus olhos.

— Aproximadamente uma semana. — Charlie murmura, inclinando o rosto para descansar na palma macia. — Entre o desaparecimento daqueles caminhantes e agora de Bells...

A frase inacabada preenche a sala. Naquela semana, dois caminhantes haviam desaparecido junto com outro no dia anterior. Eles apostaram em um animal selvagem, mas não há vestígios de algum que pudesse fazer três pessoas desaparecerem completamente.

— Tenho certeza que Jake vai se recuperar e conversar com Bella. — o consola.

— Espero que sim. Billy também não está muito falador hoje em dia, não sei o que diabos está acontecendo com os Blacks. — seu braço sobe para envolver a cintura de Ari e seus olhos encontram os dela. — Me desculpe, não posso dedicar tempo a nós.

O coração de Arizona dispara quando ela percebe a culpa nos olhos de Charlie. É verdade que eles mal conseguem trocar um ou outro beijo, manter o relacionamento escondido não ajuda muito a encontrar um espaço na agenda lotada do policial e no trabalho de Ari.

— Não vou deixar você me adicionar à sua lista de preocupações, Chefe Swan. — ela avisa antes de se inclinar para beijá-lo. É a primeira vez que eles se beijam sem pressa, sem medo de que alguém apareça ou que Charlie receba uma ligação.

Quando a mão do homem passa por baixo da bainha do short do pijama, Arizona agarra seu pulso enquanto ela balança a cabeça com um pequeno sorriso.

— Você precisa dormir.

— Há outras coisas que preciso. — seu tom é baixo e um tanto rouco e Arizona sente a pele do pescoço esquentar onde os lábios de Charlie começam a deslizar.

Mas ela se lembra do rosto cansado, das olheiras e das altas horas da noite quando chegava do trabalho e estalava a língua com um movimento negativo.

— Você precisa dormir mais. — escapa de seus braços e Charlie faz um beicinho que o faz rir levemente. — Vamos, me deixe um espaço na minha cama.

Charlie se deita, movendo-se para o lado e Arizona se acomoda em seus braços.

— Obrigado. — murmura o homem, seus dedos deslizando pelo braço nu da garota.

— Por que? — ela questiona, suas pernas emaranhadas nas dele e sua cabeça descansando confortavelmente na curva entre o ombro e o pescoço dele.

— Por cuidar de mim. Por não ir embora quando as coisas ficam difíceis.

Talvez seja o cansaço que o faça se abrir tanto ou talvez seja o conforto do silêncio entre eles. Mesmo assim, Arizona pisca rapidamente para tirar as lágrimas que invadiram seus olhos com aquela confissão.

— Alguém tem que cuidar do chefão. — ela brinca com um tom levemente trêmulo e Charlie faz um barulho parecido com uma risada, beijando o topo de sua cabeça.

— Boa noite, Ari.

— Boa noite, Charlie.

E mesmo que eles fiquem juntos apenas algumas horas por noite, ambos dormem melhor do que na semana anterior.

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