capítulo dois
ARIZONA REVIRA O PESCOÇO PARA ALIVIAR A TENSÃO DE UMA NOITE RUIM. Não é que a cama em que ela dormia seja ruim, na verdade é bastante confortável, é que a inundação de pensamentos dentro de sua cabeça não o permitiu adormecer.
Ela não sabe como ajudar Bella. Todo mundo já passou ou vai passar por um coração partido, mas parece que sua prima levou isso ao extremo.
Em parte isso não a surpreende, Bella sempre foi uma garota tímida e um tanto retraída que sempre cuidava de suas próprias coisas. Aparentemente em Forks ela conseguiu sair da concha, ter amigos, um namorado... até que tudo quebrou. E agora eles estão assim.
Ela nunca trabalhou como psicóloga. Ele terminou a carreira só começou a estudar alguma coisa. Ela gosta de flores, de cuidar delas e de vê-las crescer. Quando era pequena sonhava em ter uma floricultura, uma loja cheia de flores coloridas e lindas.
Mas a realidade se instalou, ela disse a si mesma que uma pequena floricultura era muito difícil. Isso não lhe daria o suficiente para comer, muito menos para viver durante anos.
Agora ela tem um título que tem medo de usar porque não se vê capaz. E uma prima que precisa de ajuda urgente.
São os passos da adolescente que a tiram do seu reflexo.
- Bom Dia - ela a cumprimenta com um pequeno sorriso por cima da borda da xícara de café. Se Bella fica surpresa ao vê-la ali, ela ainda esconde isso muito bem enquanto murmura uma saudação - Você dormiu bem?
- Sim - a adolescente responde brevemente, embora as olheiras sob seus olhos a contradigam.
Arizona suspira, terminando sua xícara. Nenhum deles mencionou a briga do dia anterior.
- Achei que poderia te levar para a escola - na verdade, ela apenas pensou nisso, talvez assim possa conversar com ela de alguma forma.
As sobrancelhas de Bella se levantam enquanto ela mordisca uma torrada sem entusiasmo.
- Eu sei dirigir - é a única coisa que ela diz. Pelo menos ela não está gritando como ontem.
- Eu sei, mas quero dirigir aquela caminhonete. Parece interessante - se por interessante você quer dizer barulhento e provavelmente inseguro.
- Interessante? - Ari acena para a prima e quase parece que os cantos dos lábios dela se levantam levemente, quase - Você sempre mentiu terrivelmente.
Arizona revira os olhos.
- Sim, bem, eu também quero ver a cidade. Faz anos que não venho aqui.
- E por que você ainda está aqui exatamente? - o tom de Bella tem um toque de desconfiança.
A garota encolhe os ombros com indiferença.
- Estou cansada de Nova York.
- Achei que você amasse Nova York.
- Sim, vou sentir falta dos preços exorbitantes dos aluguéis e das baratas gigantes - ela suspira com uma nostalgia fingida que faz Bella revirar os olhos - Ah, vamos, quero uma mudança de cenário. É tão difícil acreditar?
- Não, acho que não - a adolescente desiste do próprio café da manhã, que mal comeu, e se levanta, lançando um olhar sem graça para a prima - Ok, você dirige.
Arizona sorri vitoriosa.
★
- Parece que sou o motor dessa coisa - ela murmura enquanto engata a marcha e a caminhonete reclama como uma velha com dores nos ossos em um dia úmido.
- Não mexa com ela, ela só é um pouco complicada - Bella responde do banco do passageiro enquanto o carro desliza lentamente pela estrada molhada.
Arizona bufa e o silêncio se instala entre as duas.
- Então...por que você não quer vir comigo para Nova York? - sua pergunta é a que quebra esse silêncio.
- Achei que o aluguel era muito alto e as baratas eram gigantes - Bella responde, olhando para as árvores que passam pela janela, mas Ari consegue ver a tensão em sua mandíbula.
- Tem seu charme no fundo - ela morde o lábio inferior, tentando encontrar as palavras certas. Deus, ela não é bom nisso - Você vai ficar porque acha que Edward vai voltar?
A tensão aumenta dentro da pequena cabana.
- Charlie te contou isso? - o tom é perigosamente calmo.
- Charlie não me contou nada - a motorista responde rapidamente - Ele está preocupado com você, só isso.
- Bem, eu posso me cuidar bem.
- Você acha que está sozinha? Você acha que só porque aquele garoto se foi você ficou sozinha?
O olhar que sua prima lhe dá está destinado a congelar até o próprio inferno.
- Pare de me psicanalisar.
- Eu não faço isso.
- Imagina se você fizesse. Só porque você estudou psicologia não lhe dá a capacidade de salvar a todos, Ari.
As sobrancelhas de Arizona se erguem, se perdendo na franja, enquanto seus olhos encaram a prima por alguns segundos. O carro já está entrando na garagem da escola.
- Você acha que não pode ser salva? O que exatamente quer dizer com isso, Bella?
- Deus, você é insuportável - resmunga a adolescente antes de abrir a porta da caminhonete quando ela para no estacionamento - Deixe a caminhonete aqui, preciso dela para voltar.
E sem lhe dar outro olhar ela sai, batendo a porta. Arizona suspira, abaixando os ombros e tentada a bater a cabeça no volante.
Droga, agora ela entende por que sua tia se recusou a ir.
★
Voltar para casa depois de uma longa caminhada em que a garoa foi permanente. Pelo menos conseguiu cobrir-se com o chapéu do casaco, mas o frio penetrou-o até aos ossos.
Ao entrar em casa, ela vê Charlie na cozinha, não mais com o uniforme de policial, mas com o cansaço do turno da noite marcando suas feições.
- Você andou sem guarda-chuva? - o homem pergunta após cumprimentá-la, observando-a tirar as botas molhadas e o casaco. O vermelho da camisa de flanela se destaca no amarelo da cozinha.
- Eu levei Bella para a escola e depois tive que voltar andando - explica a garota, sentando-se com um suspiro em uma das cadeiras que circundam a mesa de madeira branca.
Chefe Swan franze a testa.
- Por que você não me ligou? Eu poderia ter ido buscar você.
- Porque você estava trabalhando - os olhos azuis percorrem o rosto cansado de Charlie - Você deveria estar dormindo depois de ficar acordado a noite toda.
- Acabei de chegar, só tive tempo de tomar banho e comer alguma coisa. A sopa de legumes na geladeira é sua praia?
Ari assente. Na noite anterior ela resgatou alguns vegetais da geladeira para fazer algo quente e nutritivo. Viver com o salário de assistente de vendas na Big Apple a ajudou a desenvolver habilidades culinárias com o mínimo de ingredientes possível.
- Está bom - suas palavras são breves mas fazem a garota sorrir, pelo menos antes de espirrar. Os olhos de Charlie se enchem de preocupação - Você vai pegar um resfriado.
- Está esse tempo, não estou acostumada - Arizona explica.
- Eu não quero que você fique doente por minha culpa.
- Sua culpa?
- Bem, você vai ficar para me ajudar.
- Então se eu pegar um resfriado a culpa é sua - Arizona se inclina para frente, com o cotovelo apoiado na mesa e o queixo apoiado na mão para olhar para Charlie com certa diversão - Qual é a sentença por causar resfriado? Uma multa?
Charlie bufa.
- Haha, que engraçado.
- Um ano de prisão?
- Arizona...
- Não há melhor. Trabalho forçado - seu sorriso fica mais amplo - Big Chief Swan condenado a trabalhos forçados.
Até os cantos da boca de Charlie parecem se erguer com o humor da garota. Para ele é uma novidade depois do clima sombrio que ocupa a casa há semanas.
- Vá tomar um banho quente, garota.
Ari bufa com o termo mas se levanta para ouvi-lo, pois seus ossos reclamam do frio que se instalou neles.
- Senhor sim senhor.
Charlie revira os olhos, tentando ignorar a carícia interior de ouvir aquelas palavras da boca da bela jovem. Ele ignora isso, empurrando essa emoção para o fundo de sua mente. Você tem muitas coisas com que se preocupar, muitas coisas importantes. Começando por....
- Arizona - a garota para pouco antes de cruzar a soleira para sair da cozinha - Foi útil conversar com Bella?
O humor desaparece do rosto de Arizona enquanto ela balança a cabeça, alguns fios escapando de seu coque improvisado e esvoaçando com o movimento.
- Roma não foi conquistada em um dia, Charlie - ela lembra em tom suave antes de lhe dar um pequeno sorriso e desaparecer escada acima.
- Roma foi totalmente queimada - resmunga o xerife para si mesmo, olhando para a janela, coberto de gotas de chuva.
O silêncio é o único que lhe responde.
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