Capítulo 5 - Under Pressure

Dia 3 a 4 de Março, 2001. Circuito de Albert Park, Austrália.

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A única coisa que eu deveria fazer naquela hora era acelerar, acelerar muito. Estava seguindo um bom ritmo, e não poderia vacilar naquela volta, nem ferrando.

     – E então, o que deu? – perguntei, ao rádio.

     – Até então, P17 – falou. – Meus parabéns, Alex. Foi quase quatro centésimos mais rápida que o Alonso.

     Para muitos, ficar em uma posição tão longínqua da pole position poderia soar desanimador. Para mim, porém, foi uma bênção sem tamanhos.

     Era minha primeira classificação correndo na Fórmula 1, e com um carro daqueles e falta de experiência, eu havia tirado leite de pedra.

     Quando saí de meu monoposto, o de número 20, os mecânicos e engenheiros vieram logo me abraçar. Giancarlo me deu uma pequena garrafa de espumante, e, em vez de bebê-la, a abri e joguei todo o seu conteúdo nele.

     Fernando chegou alguns poucos minutos depois. Na verdade, nem havia percebido quando ele entrou nos boxes, pois estava tão quieto que sua presença era quase invisível.

     Até que era compreensível; o espanhol deu um deslize que lhe tirou alguns milésimos importantíssimos. Acabou por perder o apex de uma das curvas. O próprio Sr. Minardi havia me falado isso sem querer.

     – Parabéns – falou, seu sotaque atroz soando com formalidade. – Boa volta.

     – Você também – disse. – P19 é bom. Deu para sair fora do corte dos 107%.

     Ele deu de ombros.

     – Pelo menos, isso.

     Revirei os olhos, mas sem sarcasmo.

     – Primeira vez, Fernando. Poderia ter sido pior.

     – Bem melhor, também.

     Levantei as sobrancelhas, captando o deboche.

     – Por quê? Não anda se habituando à pressão daqui?

     – Seria mais fácil se as pessoas não ficassem gritando ordens e estatísticas a cada segundo enquanto dirijo. Isso me faz perder a concentração.

     Era uma desculpa esfarrapada. O engenheiro de Alonso conseguia ser ainda mais quieto que o meu.

     – É só pedir para eles pararem – gesticulei. – O Alfredo só me passa o básico. Ele me deixa sozinha na maior parte do tempo.

     – Eu vou ver.

     Entendi o que poderia estar acontecendo. E, para ter certeza, decidi cutucá-lo.

     – Você errou sozinho, não foi?

     Fernando continuou a me encarar, com aqueles olhos frios e irritadiços.

     – De onde tirou isso?

     – Você é orgulhoso o suficiente para não admitir comigo, mas eu fiquei sabendo.

     – E daí se foi culpa minha? – falou. – Não é da sua conta. Vá comemorar sua “conquista”.

     Pus as mãos na cintura, me sentindo desafiada.

     – Que se dane. Tentar ser gentil, eu tentei.

     – Não preciso de sua simpatia. Pouco me importo com ela.

     – Ótimo – dei as costas.

     Qual era o problema dele?

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Antes da corrida, houve uma sessão de aquecimento de trinta minutos. O clima estava nublado, e a chuva vinha e voltava, deixando alguns pontos da pista um pouco escorregadios. E, apesar disso, a previsão do tempo constava que o GP iria acontecer sob nuvens amistosas e sol ocasional.

     – Senhor, meu Deus e meu Pai – orei, de joelhos. – Nos proteja, livre e guarde de todo o mal. Que tudo dê certo e saíamos da pista bem e íntegros, seja mental ou fisicamente.

     – Alex, chegou a hora – alguém bateu na porta do vestiário.

     – Por favor, meu Deus... e muito obrigada por tudo, de verdade. E em nome de Jesus, eu oro. Amém.

     Abri os olhos e me levantei.

     – Já vou.

     Saí do quartinho, me topando com o habitual caos pré-corrida. Ajeitei o meu equipamento e pus o capacete, sentindo uma certa empolgação fluir por todo o meu ser.

     Olhei ao redor, vendo todo o esforço que os mecânicos e engenheiros faziam por mim. Será mesmo que eu merecia tudo aquilo?

     “Não é mistério que só conseguiu a vaga por causa de quem é o seu pai, e também do dinheiro que herdou dele”, lembrei das duras palavras de Fernando.

     Pus as luvas e deixei aqueles pensamentos para lá. Alonso não sabia nada sobre mim, muito menos as coisas que havia passado para chegar até ali. Era apenas mais um a ser suportado.

     Entrei no carro, pensando apenas no grande prêmio. Deveria deixar o resto para trás, focar no meu objetivo.

     Olhei pelo retrovisor, visualizei o carro de meu parceiro de equipe, duas posições atrás de mim. Eu o evitei até a largada, pois era o melhor a ser feito. Mal havia lhe dado um bom dia.

     Eu era uma riquinha estúpida para Fernando. Em seu julgamento, não passava disso. Ele havia ficado irritado pelo simples fato de que eu tinha saído do papel que o mesmo me atribuiu, e vendo que a situação não estava ao seu favor...

     “Pelo amor, por que não escolheram o Mark Webber?”, fiz um muxoxo.

     Fizemos uma volta de aquecimento para nos preparar para a corrida e ver como o carro se encontrava. Me parecia bom até aquela altura, e isso me empolgou ainda mais.

     Meus pensamentos foram, quase em sua maioria, levados a papai. Imaginei como ele estaria se ainda estivesse entre nós, fazendo a maior barulhada nos boxes e torcendo por mim.

     Sentia muita falta dele. De todas as coisas que não havíamos vivenciado, das memórias que nunca havíamos criado juntos... de tudo.

     Era difícil viver neste mundo sem ele.

     As luzes vermelhas se acenderam. Os motores rugiram, sua belíssima cacofonia habitual ainda mais forte trazendo-me o foco e a concentração de que precisava.

     De uma em uma, elas foram se apagando, e no momento em que não havia mais nenhuma...

     Eu acelerei. Fazendo o meu caminho entre os carros e desviando deles, consegui me manter bem no pelotão. Não toquei em nenhum monoposto, fazendo uma largada limpa.

     Aguentei firme no meio daquela bagunça inicial, e, quando os carros começaram a pegar mais distância um do outro, passei a pisar mais fundo. Com cuidado, fui pilotando por aquele estreito circuito de rua, apenas esperando a hora em que as coisas começassem a ficar mais divertidas.

     – Começou bem, Alex – escutei Alfredo, ao rádio. – Subiu duas posições. P17 para P15.

     Abri um sorrisinho.

     – Obrigada.

     Depois de mais algumas curvas, consegui chegar no carro que estava à minha frente. Estava sendo difícil acompanhar seu ritmo, mas insisti mais e mais até finalmente me aproximar.

     “Você está indo muito bem, meu amor”, a voz de papai logo veio à minha cabeça.

     Me preparei para a ultrapassagem, no aguardo de condições melhores para realizá-la.

     Naquele instante, enquanto calculava a trajetória, senti como se nada mais importasse; era apenas eu e o carro, funcionando em conjunto, em harmonia. Tudo estava em seu devido lugar.

     Quando acelerei para executar a manobra, meu monoposto não respondeu como o de costume. Insisti mais, estranhando a situação. Aquilo não era normal.

     Comecei a me distanciar do bólido da frente, sem nem ao menos pisar muito no freio. Aquilo fez com que eu me preocupasse.

     “Não! De novo, não”, pensei.

     – Fredo, estou perdendo potência – falei. – O motor...

     – Consegue vir aos boxes?

     O velocímetro já marcava decepcionantes 50 km/h. Não daria.

     – Não irei poder ir tão longe nessas condições.

     Escutei um suspiro. Bem baixinho, mas ainda pude ouvi-lo.

     – Okey, Alex.

     Vendo uma área de escape, estacionei e saí do carro com cuidado. Me senti muito abatida com aquilo, mas mantive a cabeça erguida e segui meu caminho.

     Em menos de dois minutos, escutei o anúncio de um acidente; uma batida envolvendo Jacques Villeneuve e Ralf Schumacher. Fiquei aflita, mas logo chegou a informação de que ambos estavam bem e que um marshall havia se machucado, mas já recebia atendimento médico.

     O Safety Car foi ativado, e o grande prêmio paralisado durante um tempo. Os carros continuavam na pista, mas devagar e contidos.

     Quando cheguei à garagem, havia um clima estranho no ar. Mesmo chateada, agradeci por todo o esforço que a equipe tinha feito por mim. Era o mínimo que aqueles profissionais mereciam.

     Logo de cara, muitos me parabenizaram pela boa largada. Minha primeira corrida não havia sido como eu tinha sonhado, mas ainda assim, tinha muito potencial para ter dado um resultado empolgante.

     Peguei minha garrafa térmica e me sentei junto aos mecânicos, vendo o GP por uma televisão instalada na garagem, em silêncio. Enquanto bebia do hidroeletrolítico do recipiente (na verdade, era Gatorade de limão, mas como não havíamos patrocínio deles, falávamos esta palavra difícil), vi um carro extremamente familiar por entre o pelotão.

     Comecei a julgá-lo durante todo o resto da prova, a observar seus movimentos e manobras com afinco. O monoposto de número 21 parecia estar indo bem, num ritmo de corrida promissor. Mas, ao contrário de outros pilotos pelos quais eu torcia, não sorri em momento algum enquanto o assistia.

     Ao ver o nome “Fernando Alonso” em 13°, impus a mim mesma um pensamento obstinado. Nem de longe estava feliz, muito menos satisfeita, e iria até o fim para mudar isso.

     “Na próxima vez, aconteça o que acontecer, serei eu a estar ali.”

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René Arnoux bem tipo a Alex pê da vida com o carro KKKKK

Se essa história se passassem em 2024/2025, com certeza a Minardi seria a Sauber. Na moral, ambas as carroça... ambos os carros, corrigindo, eram uma porcaria e viviam dando problema.

Nem sei se vocês vão ter interesse de ler até o fim, mas sei lá... muito obrigada pela presença e atenção!!! ❤️✨️

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