Capítulo 1 - End of Beginning

Aviso: contém algumas notas importantes no fim do capítulo.

Dois anos depois, final de 2000. Em algum lugar da Itália.

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Sabe aquela sensação de que você perdeu o chão, que não consegue achar aonde se segurar e como controlar aquela situação? Para a maioria das pessoas, isso pode soar horrível, e realmente é na maioria das vezes. Mas, naquele dia, eu não poderia me sentir mais grata ao receber uma ligação.

     Não acreditava que aquilo estava realmente acontecendo comigo, não daquela forma. As coisas haviam se encaixado de uma forma tão justinha que me fizeram até duvidar se era mesmo real. Tudo havia se tornado mais difícil depois de meu acidente, e até mesmo conseguir um assento na F3000 novamente tinha se convertido em uma tarefa árdua e trabalhosa.

     Eu não havia perdido o fio da meada, muito menos a coragem, mas as pessoas achavam que esse era o caso. Depois de uma longa reabilitação, presumiram que eu demoraria a voltar para o ritmo de antes. Porém, na verdade, retornei melhor do que nunca.

     Ainda bem que nem todos pensavam daquela forma, e logo uma dessas pessoas que ainda acreditavam em mim havia tomado uma decisão... uma que mudaria tudo.

     – Se eu te falar que, de todos os pilotos que andamos cotando para uma vaga, você foi a que mais se destacou entre eles? – escutei.

     Fiquei algum tempo processando aquela informação. Parecia ser um sonho.

     – I-isso é sério? – comecei a gaguejar. – Tipo, mesmo!?

     – Claro que sim – soltou uma gargalhada. – Sem brincadeira. Tenho pilhas e mais pilhas de dados que comprovam que merece ser titular da equipe. É bem cirúrgica ao apontar o que devemos melhorar nos testes e faz boas sugestões. É o que mais precisamos.

     Fiquei sem palavras.

     – Meus parabéns, Alex. Seja bem-vinda oficialmente à Fórmula 1 – ele disse, provavelmente sorrindo.

     – E-eu nem sei o que dizer – senti meus olhos marejarem. – Não consigo processar.

     – Deixe a preocupação de lado, mocinha. Vamos cuidar disso para você, ok?

     – Meu Deus – me rendi às emoções fortes que sentia. –, isso é incrível. Muito obrigada por acreditar em mim, se...

     – Eu que agradeço pela honra de poder finalmente trabalhar com a senhorita. Pensar que te vi crescer, e que agora está seguindo os mesmos passos de seu pai, me faz sentir um aperto no coração, sabe? Uma pontada de orgulho sem tamanho.

     Fechei os olhos, sentindo uma forte vontade de soluçar por causa do choro.

     – Olha, Alex – ele continuou. – Me desculpe por ter de desligar. Vou resolver umas burocracias aqui, com uns advogados chatos demais para o meu gosto. Venha nos dar uma visita depois, e aí poderemos conversar com calma sobre isso. Pode ser?

     – Sim – respondi. – Apareço aí ainda hoje.

     – Combinado. Nos falamos depois, então até daqui a pouco.

     – Até...

     No momento em que pus o telefone no gancho, completamente em choque, não segurei as lágrimas. Ao contrário; apenas as deixei fluírem por meu rosto, sorrindo intensamente.

     Fui para o meu quarto e comecei a remexer em alguns dos lugares mais inóspitos de meu guarda-roupa. Apesar de ser bem organizado, eu ainda o bagunçava quando estava com pressa.

     – Deve estar por aqui... achei!

     Segurando com o maior cuidado do mundo, tirei um uniforme levemente empoeirado, lhe dei algumas batidinhas para tirar o pó e o pus na cama, continuando a procurar mais algumas coisas. Em questão de alguns minutos, o quarto já estava uma bagunça.

     Peguei um álbum de fotos bem antigas, ainda muito conservado. Era datado da década de 70, mais especificamente do ano de 1978, porém algumas fotografias mais recentes estavam deslocadas ali.

     A cada página passada, sentia que meu pai se fazia mais presente. Mesmo não estando comigo para comemorar, sabia que o havia feito sorrir lá de cima.

     Com delicadeza, tirei uma foto do plástico e sorri. Naquela época, ele ainda estava correndo com aquele mesmo traje azul que havia posto na cama, e o cabelo todo bagunçado era bem mais comum de se ver. Eu tinha poucos meses quando papai corria na Fórmula 2 Europeia, e como minha mãe não podia ficar comigo, acabei me tornando uma figura recorrente no paddock.

     Era sempre ele ter de ir correr que eu ia parar no colo de alguém, e uma das pessoas que mais cuidava de mim era exatamente aquele cara que estava em das fotografias ao lado daquela.

     E aquele senhor ainda continuava ali, se fazendo presente em minha vida.

     – Pois é – sorri. – O mesmo cara que te deu uma chance também me arranjou uma vaga. Você nas categorias de base, eu na F1, nós dois correndo pela Minardi. Incrível, não acha?

     Fitei o seu sorriso na fotografia. Parecia tão sincero, puro, sonhador.

     – Vai ser por um ano, se tudo correr bem. Irei ter de me esforçar muito para conseguir um assento na próxima temporada, e treinarei como nunca para merecer isso. Prometo que vou dar o meu melhor.

     Peguei o meu uniforme de piloto de testes e coloquei ao lado do dele, posicionando a fotografia de forma que ficasse em cima de ambos. Em seguida, ajeitei um bom ângulo e bati algumas fotos com minha câmera nova.

     Tirei o cartão de memória e pus no computador, logo abrindo no e-mail. Tinha que contar aquela novidade.

     Olhei para a tela em branco, pensando para quem enviaria a primeira correspondência eletrônica. Inseri o endereço da primeira pessoa que veio na minha cabeça, logo escrevendo:

     “Querido tio, como o senhor está?

     Trago algumas novidades que são, no mínimo, bem empolgantes. Sério, ainda estou sem acreditar que isso realmente está acontecendo. Não tenho nem palavras para descrever o que estou sentindo neste momento, mas vou tentar fazer isso de forma rápida.

     A notícia é que o Giancarlo Minardi me ligou para falar sobre a renovação do contrato para os testes... só que ele não quer que eu fique apenas no cronômetro. Ele me ofereceu uma oportunidade muito boa para o ano que vem.

     Vou para a F1 em breve. Isso logo estará nos jornais, mas acho bom contar para o pessoal enquanto ainda estou mandando mais algumas mensagens. Espero que eu tenha conseguido fazer o seu dia um pouco mais feliz, como o senhor sempre faz comigo. :)

     Um abraço bem apertado... e mande um beijo para a minha tia.”

     Roberto era um dos irmãos mais novos do meu pai, com apenas um ano e três meses de diferença. No total, eram quatro: Elio, Beto, Andrea e Fabiana.

     Depois da partida de papai, virou uma confusão total na família. Minha mãe não poderia ficar comigo por muitos e muitos motivos, e a noiva dele não tinha os atributos que a justiça exigia. Então, em dado momento, fiquei pulando de casa em casa entre meus tios, avós e a Ute, que, mesmo se casando com outro rapaz alguns anos depois, continuava me visitando e insistindo para que eu passasse as férias em sua casa na Alemanha.

     Mas, de todos os meus tios, o que eu era mais afeiçoada era Roberto. Gentil, amoroso, empático... mas bem firme quando a gente fazia alguma cagada ou malcriação. Papai tinha tendência a ser meio rígido, mas nada se comparava ao seu irmão. E, na verdade, eu até gostava de toda aquela disciplina.

     Anexei a foto ao e-mail e o enviei, dando uma conferida depois para ver se tinha ido tudo junto mesmo. Nunca se sabe.

     “Srta. De Angelis, favor, me reenviar o anexo das atividades, pois os mesmos não vieram”, os professores de minha universidade viviam me enviando.

     Nesse meio tempo sem correr, também foquei mais na faculdade. Minhas notas até aumentaram, mas eu preferia mil vezes mais me sujar de graxa em uma garagem do que usar lápis e caneta. O bom da engenharia mecânica é que poderia fazer os dois quando me formasse.

     Fitei o computador de forma reflexiva, parecendo sentir a ficha caindo. Minha ansiedade mandava que eu me preparasse para ir ao escritório do Sr. Minardi e assinar o contrato, mas havia algo que fazia querer ficar no meu quarto o dia todo até processar aquela informação.

     Não sabia bem o que era. Talvez a nostalgia de bagunçar o meu armário, ver coisas antigas, olhar para o teto enquanto rebobinava boas lembranças e toda a minha trajetória até ali.

     Tateei minha escrivaninha até conseguir abrir uma gaveta, logo pegando um objeto de dentro dela com bastante cuidado. Levei o pequeno toca-fitas ao meu ouvido e dei o play.

     "Não é assim que se brinca, Nico", falei. "O seu carro tem que ficar no chão, não voando."

     "Vruuum, vrooooom", o filho de Prost me ignorou. Ele era três anos mais novo do que eu, então não sabia muito bem sobre como um automóvel se comportava.

     "Tio Beto, posso ir ver se o papai ainda está no trailer?

     "Sim, lindinha", respondeu. "Consigo ver ele daqui."

     Se fez um silêncio durante alguns segundos, e a única coisa que dava para escutar eram os meus passos apressados cruzando o estacionamento.

     "Sandra, meu bem? Por que está aqui?"

     Me afundei na cadeira, abrindo um sorriso e me emocionando. A qualidade da gravação não era muito boa para os padrões atuais, mas ainda dava para ouvir nitidamente cada nuance de sua voz.

     "Alô, som, som? Bom, aqui quem fala é o Elio, e sinceramente, talvez isso seja mais divertido do que imaginei. É um gravador; dá para fazer muitas coisas. Por que raios ainda não pensei nisso? Ah, já sei. Filmadoras são mais eficientes."

     Eu amava escutar aquela fita. Havia sido nossa última conversa, e carregava suas palavras com muito carinho dentro de mim.

     "Nunca amei tanto ninguém como a você", ele disse. "Te amo, meu bem. Muito, muito, muito mesmo. Até mais que o infinito."

     "O que é isso?"

     "Hum, ah... infinito é o que nunca para de existir, o que é eterno, interminável, que não tem fim."

     – Eu também te amo, papai – fechei os olhos, acompanhando a gravação e sentindo a emoção tomar conta de mim. – Muito mais que o infinito.

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Opaaaaa! Capítulo 1 liberado e assim... eu não curti muito. O segundo que deveria ter sido este, mas como achei que ficaria muito corrido para conhecerem a Alex direito, fiz uma introduçãozinha neste.

O contraste entre o look chique do Elio pro shortinho bege do Nigel me faz rir de vez em quando 🫠

Espero que tenham curtido!!! Estou tentando publicar o sétimo até dia 6 pra me inscrever em um concurso, no perfil OficialVivaLaEscrita. Passem lá depois quem quiser participar, pois é bem organizado!

Então, por favor... não façam isso aqui flopar KSKSKSKSSK.

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