SEVEN

Duas semanas depois

   — Como você conseguiu?

   As palavras escaparam de seus lábios de maneira quase que maravilhada enquanto seus olhos corriam pelo e-mail que dizia que você havia sido aprovada na seleção para trabalhar como veterinária responsável em um dos edifícios comerciais mais conhecidos na cidade. Você mordeu o lábio de maneira animada tentando suprimir um gritinho. Megumi ao seu lado soltou um riso soprado. Seus olhos correram do computador para seu melhor amigo que estava sentado ao seu lado no sofá espaçoso da sua casa, o cabelo preto bagunçado como sempre.

— Eu só entreguei o seu currículo para um conhecido, você conseguiu a vaga por mérito próprio.

Ele disse de maneira simplista. A voz calma e contida como sempre. Você sorriu sentindo suas bochechas doerem, fazia um tempo que não sorria tanto, era quase como se o seu organismo não reconhecesse mais aquele ato.

Pela primeira vez em eras as coisas finalmente estar dando certo para você e o seu coração estava simplesmente saltando de felicidade contra a caixa torácica.

"Algo está errado... isso não faz sentido"

Você chacoalhou a cabeça tentando afastar o pensamento insistente de que tudo nunca dava certo para você. Seus olhos voltando a se focar no e-mail que especificava os horários em que trabalharia e o endereço do edifício comercial. Começaria naquele mesmo dia. Daquele modo você se despediu de Megumi que implorou milhares de vezes para que você mantivesse contato com ele durante o dia antes de sair da sua lhe deixando sozinha para que por fim pudesse se arrumar.

Em questão de horas estava em frente ao enorme edifício que mais parecia que lhe engoliria viva. Andou em passos largos para dentro do prédio revestidos de janelas escuras e grandes que traziam um ar moderno para a construção. Os Scarpins de salto alto que calçava ecoando pelo chão amadeirado, seus olhos caíram sobre a recepcionista que tinha uma feição fria no rosto. Seus cabelos eram escuros meio esverdeados e usava um óculos que deixava seu rosto mais metódico, um crachá reluzente sobre o seu terno.

   "Maki Zenin".

   Os olhos dela correram em sua direção. Antes que você pudesse sequer se apresentar a voz séria dela se fez presente.

   — Sophie Hinode, certo?

   Ela murmurou volteando os olhos para o computador digitando rapidamente, seus dedos correndo pelo teclado. Você engoliu em seco antes de concordar com a cabeça.

   — Isso, eu começo hoje e...

   — Vigésimo quinto andar, seja bem vinda.

   Ela disse lhe cortando enquanto estendia um crachá com um cordão vermelho em sua direção que estava escrito como "Apenas pessoal autorizado". Você agradeceu baixinho segurando o crachá com cuidado o colocando em volta de seu pescoço. Andou de modo firme em direção ao elevador. O guichê completamente silencioso. Adentrou no cubículo de metal, olhando para as dezenas de botões ali totalizando vinte e seis por fim. A sua clinica estava apenas um andar antes da cobertura.

   — Vou ficar milionária.

   Você cantarolou para si mesma enquanto apertava o botão que dava para o vigésimo quinto andar; depois de alguns segundos as portas de metal se abriram por fim já dando diretamente para a clinica por um todo. Você saiu do elevador com cuidado escutando a porta se fechar atrás de você, os olhos de algumas das funcionárias e recepcionistas caindo sobre você.

— Srta. Hinode?

Uma delas indagou com a voz suave, você sorriu assentindo suavemente, elas sorriram de volta antes de começarem a explicar detalhadamente sobre como funcionava o local. Você foi até sua nova sala vendo ali milhares de pastas e arquivos dos animais que atendiam. Começou a organizar tudo sobre sua mesa de forma cuidadosa. Arrancou o sobretudo pesado que usava ficando apenas com a camisa social fina e as calça pantalona preta que vestia; foi quando a porta de sua sala se abriu; uma das recepcionistas que você não lembrava o nome com um sorriso suave em lábios.

— Srta. Hinode, O Sr. Fushiguro o dono do edifício gostaria de lhe dar as boas vindas ele está na recepção.

Ela murmurou com a voz suave. Você piscou devagar de maneira confusa.

"O mesmo sobrenome do Megumi... não... não é possível que o conhecido que ele estivesse falando fosse..."

— Cale a boca — você sussurrou para si mesma, a recepcionista arregalou os olhos suavemente, você coçou a garganta sorrindo rapidamente balançando a cabeça —, estava falando comigo mesma, minha mente não para.

Murmurou tentando melhorar a situação mas a garota apenas franziu o cenho antes de concordar com a cabeça devagar.

— Está bem...

Ela disse com a voz confusa antes de dar um passo para trás para que você saísse. Você sorriu sem jeito sentindo suas bochechas vermelhas, pegou seu celular no bolso da calça enviando uma mensagem quase que ameaçadora para Megumi.

Soph: "O senhor me deve explicações!!!"

Guardou o celular novamente no bolso sentindo sua respiração pesada enquanto deixava sua sala para trás andando de maneira segura até a recepção. Seus passos pararam na entrada. Sua respiração acelerando pouco a pouco. Seu coração batendo de maneira forte contra o peito; Cada pequenino átomo de seu corpo implorava para que você corresse. Fugisse.

Algo não estava encaixando.

Ali estava ele, o mesmo homem que havia lhe salvado, os olhos azuis ainda frios e calculistas fixados em você. Mas dessa vez não vestia nenhuma roupa casual e sim um terno preto que apertava seu corpo nos lugares certos.

Toji.

— Apenas queria lhe desejar as boas vindas, Sophie.

Ele disse com a voz levemente rouca, seu nome quase sendo cantado por sua língua. Você engoliu em seco novamente já sentindo sua garganta seca naquele momento. Você piscou devagar. As recepcionistas em silêncio encarando vocês dois e aquela tensão estranha no ar.

Você assentiu devagar tentando se equilibrar nos saltos.

— Obrigada...

Murmurou com a voz baixa que parecia quase sumir por entre seus lábios, o tremor aparente, ele sorriu de maneira fraca antes de assentir e girar os pés andando em direção a porta do elevador não sem antes lançar um último olhar frio em sua direção.

Um olhar que dizia de maneira silenciosa que você não tinha mais como se esconder.

   O resto do dia se arrastou. Você tentou se concentrar no trabalho, tentou enfiar a cabeça naqueles formulários, mas tudo o que conseguia pensar era nele.

   Toji.

   Mesmo quando você se esforçava para ignorá-lo, algo em sua memória te trazia de volta para ele. Como se não fosse possível escapar. Quando o horário de almoço finalmente chegou, você saiu em busca de um pouco de ar fresco, mas não estava em busca de paz. Estava em busca de algo que ainda não sabia definir. A brisa fria do terraço onde você se sentou não conseguiu amenizar o calor que vinha junto da confusão crescente que insistia em se instaurar em você.

   Você suspirou de maneira pesada olhando para o céu sem nuvens, sua mente a mais completa confusão. E, como se o universo tivesse decidido te desafiar, lá estava ele.

   A mesma presença que você não conseguia ignorar.

   Ele estava parado na entrada do terraço recostado contra o batente do muro, os olhos azuis fixos em você e não desviando o olhar nem mesmo quando você o percebeu. Ele apenas ficou ali observando você com aquela intensidade que parecia atravessar tudo ao seu redor.

   — Você está bem?

  Ele murmurou com a voz suave, quase como se quisesse ter certeza de que você não estava pensando em pular do terraço e bem do modo que sua mente estava nos últimos tempos aquela ideia não parecia mais tão ruim. Você respirou fundo, tentando afastar o turbilhão de emoções que começaram a tomar conta de você.

   Queria gritar com ele, enlouquecer, perguntar se era ele quem não parava de lhe atormentar por meses, se era ele quem tinha prazer em te amedrontar, em te deixar aos prantos sozinha no quarto.

   E por que pensar naquilo fazia com que você ficasse molhada.

   Molhada pra caralho.

   Mas as únicas palavras que escaparam de seus lábios foram:

   — Sim, só precisava de um pouco de ar.

   Ele deu um passo à frente, e seu olhar nunca deixou o seu. Havia algo nele, que fazia seu coração acelerar de uma maneira desconfortável. Como se ele soubesse exatamente o que estava se passando na sua mente.

   — Você parece assustada.

   Ele disse, quase num sussurro. Você piscou devagar sentindo sua respiração curta, um arrepio percorrendo sua coluna, deu um passo para trás quase que instintivamente, sentia que a qualquer segundo se afogaria naqueles olhos azuis que lhe fitavam como se estivessem te comendo.

   — Eu não sei do que está falando.

   Você murmurou tentando soar firme mas sua voz saiu falhada, ele apenas arqueou uma sobrancelha, como se estivesse desafiando a sua resposta. Ele não disse mais nada, apenas virou as costas e começou a se afastar. O que era isso? Você sabia que não devia querer mais, que deveria manter distância, mas a atração por ele, por tudo o que ele representava, estava se tornando incontrolável.

   O que ele queria de você? Mais uma vez, você não sabia a resposta, mas sentia que, em algum lugar, ele já tinha o controle.

   De tudo.

   E, pela primeira vez, você não tinha certeza se queria lutar contra isso.

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