FOURTEEN

    O silêncio do carro era quase que reconfortante enquanto Toji traçava o caminho para sua casa de campo, você suspirou pesadamente sentindo sua cabeça latejando, encostou a testa contra o vidro gelado, sentia que havia acabado com todo o seu estoque de lágrimas daquele mês.

   — Toji.

   Você chamou com a voz baixa levemente quebradiça, sua voz se fazendo presente pela primeira vez desde que ele foi lhe buscar. Ele olhou para você com o canto dos olhos, uma mão permaneceu no volante enquanto a outra acariciava seu joelho com cuidado.

   — Pode falar meu amor.

   Ele disse com a voz baixa, suave, você piscou devagar surpresa pelo apelido repentino, sentiu suas bochechas ficando gradativamente mornas. Levou os olhos em direção ao homem de cabelos escuros. A mão grande deslizando pelo volante com facilidade. Você coçou a garganta desviando o olhar.

— Por que você gosta tanto de mim? Você nem me conhece.

Sussurrou. Os olhos azuis dele correram em sua direção por uma fração de segundos antes de voltar a atenção para a estrada. Os nós dos dedos ficando esbranquiçados pela força que ele apertou o volante. Você engoliu em seco olhando para ele com o canto dos olhos notando a mandíbula tensionada.

— Você realmente acha que eu não te conheço, Sophie?

A voz dele saiu rouca, levemente grave. Você sentiu sua respiração falhar. Encolheu os ombros.

— Eu não me lembro de conhecer você pelo menos.

— Ai — Ele murmurou, um riso fraco escapando por entre a garganta do homem, você piscou devagar o encarando ali sentindo ele arrastar o polegar contra seu joelho —, assim você vai ferir o meu ego.

— Como assim?

Balbuciou com a voz baixa. Ele olhou para você e sorriu.

— Você realmente não se lembra, minha luz?

Você bufou já irritadiça, sua respiração acelerando pouco a pouco, cruzou os braços tentando conter a própria ansiedade, o encontro com os seus pais ainda fazia seu estômago embrulhar e sua cabeça girar.

— Me lembrar do que?

— O incêndio a dez anos atrás, você salvou a minha vida.

Ele disse com a voz suave como seda. Você piscou devagar incrédula, o coração batendo tão forte contra o próprio peito que você o escutava em seus ouvidos. Apertou as unhas contra as palmas das mãos, entreabriu e fechou os lábios algumas vezes.

— Você tá brincando, né?

Sua voz saiu mais trêmula do que pretendia, ele sorriu.

— Eu sou completamente obcecado por você desde então, nesses últimos dez anos eu sempre cuidei de você, Sophie, sempre.

Você sentiu o ar quase se esvair de seus pulmões.

— Por que?

Sussurrou. Ele olhou para você acariciando seu joelho com cuidado.

— Porque eu te amo, eu falo sério quando digo que você é a minha luz.

Seu coração batia tão forte contra caixa torácica que você tinha medo de que ele conseguisse escutar seus batimentos.

— Você está me dizendo que... você me observa a dez anos?

— Garota inteligente.

Ele sussurrou. Você suspirou trêmula desviando o olhar, sua mente estava uma completa bagunça, seus pensamentos gritando uns com os outros. Era muita coisa de uma vez, seus pais, Toji... sua irmã. Tudo. Quando o carro finalmente parou, você já sentia seu corpo quente, sua cabeça girando. A porta se abriu, e Megumi apareceu na entrada da casa a expressão dele ao te ver fez algo dentro de você quebrar de vez.

Você saiu do carro sem pensar duas vezes, avançando com passos rápidos.

— Foi você!

Você gritou, o dedo apontado como uma arma. Megumi arregalou os olhos assustado estendendo as mãos em sua direção.

— Sophie, espera...

Mas você não esperou, sua mão se fechou na gola da camisa dele, e você o empurrou com toda a força batendo as costas dele contra a parede luxuosa da casa de Toji.

— Você sabia! — você berrou, a voz saindo como um grito esganiçado — Eu confiei em você seu filho da puta!

— Sophie, calma!

Ele tentou te segurar, mas você o empurrou novamente com tanta força na parede que fez ele arfar. Suas bochechas quentes de raiva. Os olhos marejados.

— Calma o caralho! — você cuspiu as palavras. — Você sabia o tempo todo, não sabia?

Ele levantou as mãos, tentando se defender.

— Sophie, por favor...

— Por favor? Você tá pedindo "por favor" agora, Megumi? Onde tava o "por favor" quando você ajudou ele a me perseguir? Hein?!

— Eu...

Ele tentou falar, mas você não deixou.

— Cale a porra da boca! Você é um desgraçado! — Você gritou, os olhos queimando de lágrimas. — Um filho da puta manipulador!

Você se afastou por um segundo, as mãos tremendo tanto que pareciam ter vida própria.

— Eu confiei em você... — você murmurou, mais para você mesma do que para ele. — Eu confiei, sua idiota, claro que ele não era seu amigo... Claro que ele tava te ferrando pelas costas...

Você começou a rir, passando as mãos pelo cabelo

"Meu Deus, Sophie, você é uma imbecil! Como não viu isso antes? Como foi tão cega?"

Megumi tentou se aproximar.

— Sophie, eu tentei te proteger...

Você girou para ele, os olhos queimando, sua respiração pesada.

— Me proteger?! — Você cuspiu as palavras, avançando de novo. Dessa vez, seu punho acertou o peito dele, mas não era o bastante. — Você me jogou nos braços dele! Você entregou minha vida pra ele!

— Eu não tive escolha!

Megumi gritou de volta, desesperado. Você riu, sarcástica.

— Não tive escolha? Que clichê, Megumi. Você acha que isso faz diferença? Que isso muda alguma coisa?!

Antes que pudesse gritar mais, uma mão pesada se fechou no seu ombro, você olhou para o lado sentindo seu corpo quase que mole. Aquilo tudo era demais. Toji segurou seus braços com cuidado com medo que você simplesmente caísse a qualquer segundo.

— Já chega, você precisa descansar — Ele murmurou com a voz baixa lhe puxando para mais perto, suas costas se chocando com cuidado contra o peitoral dele. —, apenas se acalme, não quero que você passe mal.

Ele sussurrou acariciando seus braços, você piscou levemente atônita encarando Megumi a sua frente, seus olhos cheios de lágrimas. Ele engoliu em seco desviando o olhar antes de simplesmente girar os calcanhares e sair.

E daquele modo você simplesmente quebrou chorando mais e abraçando ali a última pessoa que queria naquele momento. Toji não disse nada. Apenas passou as mãos contra suas coxas lhe segurando contra o próprio peito enquanto subia as escadas com você nos braços.

Seu choro era fraco quase sem som.

— Toji.

Você sussurrou, ele lhe olhou apertando mais os braços contra seu corpo.

— Sim?

— Eu te odeio.

Murmurou, a voz fraca, ele sorriu.

— Eu sei... por isso eu te amo o suficiente por nós dois.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top