EIGHT

   — O que diabos você quer dizer com "Ele é meu pai", Megumi?!

   A sua voz saiu um pouco mais esganiçada do que pretendia. Sua garganta ardendo. Os olhos azuis de seu amigo — que só naquele momento você perceberá que eram iguais aos do homem grande que lhe fazia ficar quase que sem ar — estavam sobre você lhe analisando cuidadosamente. Ele suspirou pesadamente.

   — O que tem de tão impressionante em meu pai ser o dono do edifício?

   Ele murmurou, a voz suave, descontraída, quase como se ele estivesse comentando sobre o tempo. Você piscou devagar. Desacreditada. Seu coração batendo quase que desesperado contra o próprio peito, seus olhos correram para o rosto de Megumi. Prensou os lábios aflita.

   — Você me odeia?

   Você murmurou com a voz baixa estreitando os olhos. Megumi franziu o cenho.

   — O que?

   — As vezes eu acho que você me odeia me detesta! — você disse elevando a voz pouco a pouco a cada palavra arregalando os olhos, seu melhor amigo deu um passo para trás só por precaução — Megumi, eu juro por tudo...

   Você parou respirando fundo cobrindo o rosto com as próprias mãos grunhindo irritada.

   — Soph... — Ele chamou com a voz cuidadosa, você levantou os olhos até ele — Você está bem?

   — Eu pareço estar bem?

   Você murmurou, sua voz baixa. Sentia que a qualquer segundo pularia no pescoço dele. Estava enlouquecendo. Literalmente. Já perdera a conta de quando havia sido a última vez em que conseguiu dormir mais do que quatro horas. Sentia que estava no limite. Megumi suspirou lhe fitando de modo cuidadoso.

   — Me desculpe não ter falado que ele era o meu pai, eu não queria que você achasse que não estava entrando por mérito próprio. Seu currículo é ótimo.

   Você suspirou manhosa, cansada, andando até ele repousando a testa contra o ombro dele que apenas acariciou seus cabelos com cuidado, você quis chorar.

   Estava cansada.

   Os dias se passaram como um turbilhão. Você estava focada em evitar Toji o máximo que pudesse, todas as vezes em que o homem alto se aproximava você simplesmente começava a conversar com algum funcionário qualquer ou fingia estar em uma ligação. Já havia até decorado os horários em que ele passava perto do seu escritório para que você conseguisse ao máximo evitá-lo.

   Você tinha a plena noção de que estava agindo como uma verdadeira maluca aquele ponto, mas bem pouco se importava com aquilo naquele momento.

   "Melhor uma maluca inteira do que uma sã jogada em uma sarjeta".

   Pensou consigo mesma enquanto organizava sua mesa. Olhou para o relógio digital preso a sua parede dentro de duas horas Toji passaria por perto, precisava se apressar e terminar logo os relatórios veterinários daquela semana se não quisesse encontrar com ele. Você não sabia ao certo o porquê mas sua mente simplesmente havia estancado com a ideia de que tudo aquilo que envolvia Toji de um modo ou de outro era proposital.

   Havia fixado a ideia de que ele de fato era perigoso.

   Tão perigoso que fazia com que seu coração quisesse saltar pela boca.

   Perigoso ao ponto de fazer com que sua respiração ficasse branda.

   Sua pele ficasse quente.

   Sua barriga fria.

   Sua mente fértil demais rodopiando com ideias que você certamente não deveria ter.

   Toji era perigoso.

   Você suspirou pesadamente tentando focar nos relatórios para que terminasse aquilo o mais rápido possível, o consultório estava vazio, mas a atmosfera carregada parecia mais densa do que o normal. Você estava de pé, revisando aos papéis e tentando ignorar a inquietação crescente. Uma semana havia se passado desde que você começou a evitar Toji, e, ainda assim, parecia impossível fugir, mesmo quando não estava presente.

   "Perigoso".

   Você pensou consigo mesma, sua mente nublada, o som da porta se abrindo sem aviso fez seu corpo gelar, como se já soubesse o que estava por vir antes mesmo de olhar.

   — Sophie.

   Você engoliu em seco ouvindo a voz grave e conhecida, girou o corpo devagar, sua respiração pesada enquanto o encarava ali, parado na entrada, como se o mundo todo tivesse conspirado para trazê-lo exatamente até você. A porta se fechou com um clique baixo, mas implacável, e a chave girou no trinco em um gesto que parecia calculado.

   Você tentou segurar o fôlego, mas seus olhos encontraram os azuis dele, e tudo dentro de você pareceu hesitar.

   — O que você pensa que está fazendo?

   A voz dele era firme, mais baixa do que o usual, mas carregada de algo que fez seus ombros tensionarem. Você engoliu em seco, fingindo uma calma que não sentia.

   — Não sei do que você está falando.

   Ele riu, mas o som foi curto e sem humor. Era quase cruel na maneira como tirava a força das suas palavras. Toji deu um passo à frente, os olhos fixos em você, e por instinto você se afastou, mas não havia muito para onde ir.

   — Não sabe? — Ele murmurou, o tom tão controlado que era impossível ignorar a irritação por trás dele. Toji continuou se aproximando, lento, medido, como se fosse parte de algum jogo em que só ele sabia as regras. Seu corpo automaticamente recuou até que suas costas quase tocassem a mesa atrás de você. — Não brinque comigo, Sophie.

   Sua boca se abriu para responder, mas ele já estava mais perto, caminhando ao seu redor como se estudasse cada movimento. Seu corpo estava tenso, como se soubesse que qualquer gesto errado seria um erro irreversível.

   — Não tem nada acontecendo, Toji.

   — Nada? — Ele repetiu, a palavra saindo carregada de cinismo. — Então você não me evitaria por uma semana sem motivo.

   Você piscou, tentando se manter firme, mas ele deu mais um passo, ficando perto o suficiente para que você sentisse o calor que emanava dele. Ele era uma presença esmagadora, sufocante, e cada parte de você parecia pequena em comparação.

   — Eu não...

   Você começou, mas sua voz falhou quando ele inclinou a cabeça, os olhos presos nos seus. O jeito como ele olhava para você, como se cada resposta que saísse da sua boca precisasse ser cuidadosamente analisada, fez com que sua garganta se fechasse. Toji parou tão perto que seu corpo automaticamente buscou apoio, e você se deu conta de que estava sentada sobre a mesa antes mesmo de processar o movimento.

   Ele notou. Claro que notou.

   — Foi o que eu pensei. — O tom dele era baixo, mas o suficiente para te deixar ainda mais tensa. Por um segundo, ele ficou parado ali, como se estivesse esperando algo. Você prendeu a respiração, mas o silêncio pesou como o inferno sobre seus ombros. E então, Toji riu baixo de maneira soprada, um som curto que parecia cortar o ar ao seu redor — Não corra de mim, Sophie.

   Você quis responder, quis levantar, mas as pernas pareciam pesadas demais.

   Ele não precisou levantar a voz, não precisou te tocar.

   Tudo nele era um aviso, e você sabia que seria inútil ignorar. Quando ele finalmente se afastou, a sensação de alívio foi breve. Porque Toji nunca fazia nada sem propósito, e você sabia que a distância não significava que ele havia lhe deixado em paz.

   Você suspirou trêmula vendo ele virar as costas e ir embora de seu consultório. Seu coração batendo de maneira desesperada contra a caixa torácica. Você se moveu devagar sobre a mesa seus pés tocando o chão. Você arfou devagar, suas bochechas quentes, coradas.

   Estava tão molhada que sentia sua calcinha úmida.

   — Porra.

   Sussurrou para si mesma antes de enterrar o rosto em suas mãos.

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