#16

Hana não saberia ao certo dizer quando foi que suas pernas se tornaram tão ágeis e tão velozes, pois nunca, em todo os seus míseros 19 anos, seu fôlego e agilidade foram maiores e mais rápidos que seus pensamentos.

Talvez o estopim fosse a situação em que se encontrava - o medo eminente de ter que conversar sobre assuntos os quais não estava nem um pouco preparada para abordar, ou talvez a questão de não conseguir encarar o próprio irmão sem que tivesse um misto de emoções que lhe desse uma vontade avassaladora de vomitar - fosse o motivo de ter agido pela primeira por um impulso desconhecido.

Ela tropeçou algumas vezes, e se embolou em meio a várias pessoas, se demorou dando voltas pela casa, tentando ao máximo se misturar para que Oikawa não conseguisse ter o mínimo vislumbre de sua presença naquele lugar novamente. Sabia que algumas pessoas a encaravam com raiva por ter esbarrado ou com confusão pela carga eufórica que sua expressão carregava, mas ela não se importava, que pensassem que ela estava dopada com drogas. Não se importaria se isso significasse nada de Tooru Oikawa no seu encalço.

Por minutos torturantes se infiltrando nas centenas de corpos suados e elétricos presentes na casa, Hana finalmente teve algo semelhante a paz invadindo seu corpo quando de relance, por uma janela, pôde ver seu irmão irritado entrando em seu carro. Um sorriso de alívio cresceu em seus lábios quando se deu conta de que estava, relativamente, a salvo de seu passado. Por pelo menos uma noite.

Hana pensou consigo mesma que deveria parar de levar esse lema de que uma noite vale a pena. Seja ela de prazer ou de paz.

Com passos ainda ágeis e tropeços demais, Hana se deu o trabalho de voltar para os fundos, precisava de uma bebida para acalmar os nervos ou de talvez algumas piadas ruins de Mayumi para fazê-la recuperar um pouco do bom-humor que tinha.

Não havia se dado conta de que estava parecendo tão perturbada, e teve apenas uma leve noção disso quando sentiu a mão de Suna em seu pulso, e com os olhos preocupados perguntou se ela estava bem e o que tinha acontecido. Mal tinha percebido que chegara aos fundos.

Seus lábios vacilaram um pouco, se movimentando debilmente sem sair nenhum som, Hana estava em choque? Não era possível, nem ela conseguia compreender o sentimento que se aos poucos estava se alastrando pelo seu corpo, seu coração acelerado, as mãos trêmulas, frias e levemente suadas...

Medo. Era isso o que Hana estava sentindo.

Ela não costumava sentir muitas coisas, para falar a verdade, não se permitia de fato senti-las. Poucas foram as vezes que as deixou escapar, em momentos de fraqueza ou de alegria, ela lhe dava uma folga, mas nunca, em hipótese alguma, deixava elas a flor da pele inconscientemente. Sempre gostava de estar no controle de suas emoções e não estar era sinônimo de perigo.

— Estou bem - agradeceria mais tarde por ninguém, além de Mayumi, estar prestando atenção nos dois, em um situação um tanto quanto constrangedora — Eu-eu só me assustei com algo. - a pose impecável voltou na mesma velocidade em que se fora.

Hana se desvencilhou do toque de Suna, se forçando a não olhá-lo novamente, ela estava com muitas coisas para pensar e ter aqueles olhos âmbar se semicerrando em sua direção não ajudaria muito no processo.

Hana viu sua amiga arrastar um cadeira para ela ao seu lado, Mayumi estava com um sorriso vacilante e estranhamente desconfortável.

— O que foi? - as palavras saíram ríspidas demais da boca de Hana, ela se odiou por isso. Não gostava e não se sentia apta o suficiente para se dar o trabalho de interpretar emoções alheias.

Nunca esteve disposta o suficiente para fazer isso, talvez um dia ela se colocasse em uma situação empática o suficiente para see mais branda e gentil, mas naquele momento definitivamente não era a hora certa.

— Nada. - com um piscar de olhos, a loira voltou ao seu estado comum, sorrindo abertamente para ela, passado o braço em volta de seus ombros lhe entregando com a outra mão um garrafa de cerveja — Que saco, pensei que não conhecesse o Rin.

Suna ainda encarava as duas com uma curiosidade mortal e Hana só conseguia se sentir estranha perto dos dois.

Geralmente se sentia confortável perto de Mayumi e estranhamente acolhida perto de Suna, mas diante de tela situação, ela se sentia deslocada. Como se não era para ela estar ali, e se estivesse, era para estar em uma posição diferente.

Para evitar pensar demais naquela troca de olhares esquisita e íntima entre Suna e Mayumi, as palavras que os dois dirigiam um ao outro a fizeram pensar que estava em um universo paralelo separado dos dois. Hana colocou-se para prestar atenção com afinco devoto a sua própria bebida, afim de não enterrar a própria cabeça no chão.

Ela queria sair dali.

Foi como se Kuroo tivesse escutado seus pensamentos, com sua voz grave e harmoniosa, anunciou a sua própria chegada para os garotos da Inarizaki que estavam sentados ali perto. Em algum momento, eles se desencontraram e Kuroo deve ter ido a outro canto da festa, mas agora, ele estava ali e Hana nunca se sentiu tão aliviada por ter visto o garoto.

A garota rapidamente levantou-se, atraindo o olhar de Mayumi que tentou chamá-la e com prazer, foi ignorada, indo em direção ao amigo.

— Gatinha! - ele passou o braço pelo ombro dela e Hana com pesar recostou sua cabeça no ombro dele — Ei, o que aconteceu?

— Nada, nada e mais nada. Um monte de nada sem nexo algum - a voz dela saiu fria e inexpressiva, mas Kuroo não podia ser o alvo de sua onda de mau-humor — Quero beber Kuroo, tipo, muito mesmo.

Ele com atenção prestou atenção ao redor, e meio que teve uma própria interpretação da situação, então apertou ainda mais o abraço e disse ao seu ouvido:

— A noite é sua, gatinha. Pago tudo o que você quiser.

[...]

Nekoma, Inarizaki e uma tal de Shiratorizawa estavam sentados reunidos em um conversa inerte, em meio a jogos com um teor totalmente duvidoso quando Hana finalmente acordou, descendo as escadas ela pôde vê-los, todos reunidos na sala, e agradeceu por não notarem sua presença.

Ela havia acordado em um quarto aleatório, coberta por uma manta com cheiro de baunilha e com um moletom de basquete por cima do vestido que usava na noite anterior. Já era domingo, Hana bebeu tanto, que acabou desmaiando, presumiu, e só teve noção de que se passou quase um dia quando se deu conta do próprio celular alarmando sobre uma vídeo aula que deveria estar vendo neste exato momento.

Maldito fraco para bebida. Uma das péssimas coisas que acabou herdando da falecida mãe.

Sem se importar muito, já que já havia visto Kuroo, Kenma e Mayumi sentados na roda, Hana foi até o armário pegando um copo e o enchendo com água. Entornou com tanta vontade, que suspirou um pouco alto demais ao encerrar o líquido.

Ninguém percebeu, a não ser o infame Suna. Que voltou seus olhos desinteressados a ela, que teve a leve impressão de vê-los se arregalar um pouco.

Com esperteza, fingiu não perceber que ele a fitava agora, e com um impulso fraco voltou a subir as escadas minuciosamente, sem fazer nenhum ruído diante das risadas fervorosas das pessoas presentes na casa, mas acelerando o passo para se trancar.

Quando ela finalmente voltou ao quarto de onde saiu originalmente, um suspiro de alívio saiu. Ela fechou os olhos força tentando se recordar o máximo de coisas possíveis, mas seus pensamentos foram interrompidos quando vira a decoração do quarto.

Alguns troféus de vôlei na prateleira, alguns pôsteres de bandas, polaroid... E a merda de um tripé ao canto, duas câmeras na mesa de cabeceira, material de book disposto a mesa e muitas outras coisas que remetam a Suna.

Mal teve tempo de pensar quando a porta se abriu revelando o dito cujo, fazendo-a dar passos para trás, o encarando com cuidado.

Ele fechou a porta atrás de si, olhando-a de cima a baixo com atenção, cruzando os braços dando um sorriso ladino e malicioso em sua direção.

— Boa noite, Hana.

— B-boa noite, Suna. - merda, ela quis arrancar a própria língua por ter gaguejado diante dele.

Não queria admitir mas estava bem mais que nervosa perto dele. Pensou com tanta credibilidade que poderia simplesmente ignorá-lo e agir como se absolutamente nada tivesse acontecido que não se tocou que isso era impossível.

— Não sabia que era o seu quarto. - a morena só conseguiu dizer isto enquanto levava a mão instintivamente até a manga do moletom, torcendo os dedos nela e mexendo para tentar se distrair da ansiedade crescente e o rubor que sentia subir por suas bochechas.

— Não esperava que soubesse, estava morta de bêbada quando veio pra cá - Suna soltou uma risada descontraída, tirando os tênis e os empurrando para o canto, indo em direção a cama, sentando nela sem escrúpulos, já que era afinal, o quarto dele.

— Eu já vou indo então - Hana disse com o máximo de dignidade que conseguiu reunir.

— Não vai devolver? - ela franziu o cenho para ele, que sem muita importância sinalizou o moletom — Se bem que você fica muito atraente vestindo minhas roupas.

O sorriso que ele deu a ela no mesmo instante em que as palavras saíram de sua boca...

Hana soube que ele estava pensando nela vestindo sua camisa social, sem nada por baixo enquanto pedia manhosa para ele fazer coisas das quais gostaria de esquecer por ora.

— Sinto muito. - ela não iria dá-lo o prazer de vê-la se encolher pelas memórias, ia ameaçando tirar a peça quando ele a interrompeu.

— Pode ficar. - ela se surpreendeu pela suposta gentileza — Mas só como recompensa por não ter não ter me dado trabalho ontem a noite.

Merda, o rubor o qual tanto lutou para evitar subir apareceu, pôde sentir até seu pescoço esquentando pela vergonha.

— Eu fiz algo... Algo demais? - Suna percebeu a preocupação em sua voz e relaxou a expressão, suspirando ao se jogar de costas na cama.

— Deita aqui e eu te conto.

O garoto de fato disse da boca pra fora, não porque não a queria ali, e sim porque tinha plena certeza de que ela viraria de costas e iria ir embora, mas não, ele quase se engasgou quando sentiu o corpo relativamente menor que o dele deitando ao seu lado.

Agora foi a vez de Suna corar olhando para os olhos verdes incandescentes, que com tanto afinco, pareciam querer destruí-lo.

E ele não tinha dúvidas de que se Hana quisesse, ela conseguiria.

— Anda, Suna. Fala logo.

A voz ríspida e inexpressiva, mas com um timbre tão doce e suave, calmo e lento. Hana dizia palavras tão frias tendo uma voz tão dócil e confortável.

Suna pôde apreciá-la de várias maneiras, queria ouvi-la novamente.

— Você dançou um pouco com... - ele deu uma pausa dramática tentando recapitular os fatos —  Literalmente todo mundo que chegava perto, bebeu do copo do Ushijima Wakatoshi, beijou uma garota ruiva e ameaçou matar o Kuroo... - ele fingiu contar movendo os lábios com os números — Umas 99 vezes.

Hana por um segundo o encarou com os lábios entreabertos, piscando algumas vezes para processar o que acabara de ouvir.

— E não posso esquecer! - ele prendeu a risada — Você xingou o seu curso de merda imprestável que serve para dar trabalho para os psicólogos.

Um silêncio ensurdecedor se instalou no quarto até Hana quebra-lo com a voz distante.

— Se eu me matar aqui, você vai ser acusado de homicídio?

— Provável ser um dos suspeitos, mas é só dizer que você é estudante de medicina que os policiais vão entender sua decisão.

O garoto se encantou por ter escutado a risada de Hana, mais alta que os ruídos que já a ouviu fazendo quando dava aqueles projetos de risada.

Foi surpreendente vê-la rir, já vira antes, mas era retraída, agora ele conseguia ouvi-la de verdade. Quase uma gargalhada.

— Que merda - Hana suspirou — Eu sou uma imbecil.

— Não é não. Fizeram coisas bem piores se quer saber.

— Eu não sou outras pessoas, eu sou eu. - ela disse antagônica, olhando para o teto enquanto respirava profundamente. — Não importa o quão merda sejam as atitudes das pessoas, as minhas sempre vão pesar como se eu tivesse matado alguém. O que será que vão pensar...

— Acho que todos nós explodimos quando descobrimos que o que nós fazemos, de certo modo, é o equivalente a porra nenhuma, porque absolutamente ninguém liga. - Suna repetiu o mesmo que ela, fitando o teto do próprio quarto — Vai ser melhor pra você quando se ligar que pode fazer muitas coisas que mesmo assim as pessoas não vão mudar seu pensamento sobre você, sejam eles bons ou ruins, vão continuar o mesmo até que você faça algo realmente catastrófico para que percebam que vale a pena mudar."

"Mas tirando isso, todos estão muito preocupados com o próprio nariz para se importar verdadeiramente com as atitudes alheias, sabe, o pesar dessas coisas geralmente só vem da nossa parte. Por isso eu digo que o melhor é meio que ligar o foda-se para algumas coisas para conseguir de fato viver. E eu não estou falando de abandonar os amigos ou de irresponsabilidade afetiva, estou falando de alegrias que nos privamos de cometer com medo do que vão pensar."

Ele virou o rosto para encará-la e se surpreendeu quando viu ela o observando , estava prestando atenção no que ele dizia, com muita propriedade.

Suna por impulso levou sua mão ao cabelo dela, acariciando e brincando com uma mecha lisa.

— Então quer dizer que ninguém liga?

— Em atitudes cotidianas suas? Não. Ninguém liga, o egocentrismo no ser humano as vezes pode ter sido dado de bom grado, já que você pode desmaiar de tanto beber que no final as pessoas em volta ainda sim vão se preocupar mais com estão vestindo, ou o que vai acontecer de bom para compartilhar com um outro alguém. - Suna acariciou o rosto dela distraidamente com o polegar — Mas isso não quer dizer que você não é importante para um grupo seleto de pessoas. Eu por exemplo faço diferença na vida de umas 6 pessoas no máximo e estou ótimo com isso e você também deveria estar. Já que são pessoas legais que gostam de você.

Hana desviou os olhos dos dele por tempo o suficiente para entender que havia ficado cabisbaixa.

— Não sei se estou certa disso. Geralmente, não se importam comigo por tempo o suficiente para eu ficar.

— Você ficaria se descobrisse que tem uma só pessoa se importando com você?

Hana mordeu o lábio inferior, pensando na resposta, mas ela já sabia, se enganava com tudo isso para no fim saber que permaneceria em um lugar só caso tivesse alguém que realmente se importava com ela.

— Sim, Suna. Eu ficaria neste lugar.

— Então... Fique aqui, comigo.

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