#14

Não foi surpreendente quando acordou e se deu conta de que Hana não estava mais lá, até porquê, ele já havia dormido com essa certeza na mente, mas uma pontada de decepção feriu seu coração, que lá no fundo nutriu esperanças dela ficar.

Sentou-se na cama apoiando as mãos no colchão sentindo o lado da cama onde ela dormiu na noite passada frio, ela deveria ter ido logo após o amanhecer. Suna se esticou com os braços para cima soltando um suspiro longo e cansado, a noite o deixou completamente desgastado.

Mas daria muitas coisas para poder repeti-lá.

Com os ombros cansados arrastou seus pés até a cozinha na intenção de beber uma quantidade obscena de café para afastar o cansaço e dar energia o suficiente para editar as fotos, concluir a parte teórica e reorganizar dezenas de documentos com diversos outros trabalhos, ele teria um domingo muito agitado.

Suna gostaria muito de estar focando em cada matéria da faculdade, de pensar nos problemas que tinha para resolver mas era impossível, era de maneira literalmente irônica o fato de Hana ser inesquecível.

Ainda se lembrava da noite anterior e mesmo contra sua vontade ainda sentia o cheiro do perfume dela que, infelizmente, permanecia impregnado nos lençóis. A voz dela infestava sua mente como uma música viciante e o beijo da garota era doce e inebriante, ele não conseguia parar de pensar nela.

A primeira coisa que vou ao chegar na cozinha foi um pequeno bilhete marcado com o batom levemente avermelhado de Hana em um beijo delicado junto as seguintes palavras:

Perdão por sair sem avisar, prefiro evitar manhãs constrangedoras. Não fique ofendido com isso. Sei como seu ego é frágil, mas se te conforta, vou me permitir dizer que foi uma noite muito agradável. Até mais Suna Rintarou.

Atenciosamente, Hana.

Foi inevitável não sorrir diante do bilhete extremamente formal na opinião dele mas ainda sim irônico. Era totalmente a cara de Hana fazer algo assim, principalmente a marca de beijo, ela sabia que o iria deixar nervoso por não tê-la ali consigo e tudo o que restava era um simples beijo num papel.

Virou o bilhete e se surpreendeu com o que viu, era o número de celular de Hana.

Talvez ele não fosse o único que quisesse esquecer aquela noite.

(...)

Suas pernas doíam junto as suas costas, se não estivesse completamente sóbria naquela noite, não duvidaria que tivesse participado de uma briga de rua. Hana estava dolorida, com o cabelo semelhante a um ninho de passarinhos e com olheiras, o depois sempre é mais triste do que o durante. Teve que passar em uma farmácia para comprar uma pílula do dia seguinte, odiava tomar essas coisas mas prefira isso a um filho.

Desejava apenas chegar em seu dormitório, tomar um longo e gelado banho, se jogar na cama e acordar na segunda-feira de manhã mas seus sonhos foram interrompidos ao abrir a porta do quarto e se deparar com Kenma, Kuroo e Mayumi espalhados.

Kenma estava sentado no chão jogando o seu teu amado Psp, o presidente lendo uma revista sobre tatuagens - que julgava ser de Mayumi - e a loira estava preparando sua bolsa para o estúdio em que trabalhava.

— Olá, Hana - A loira disse em tom malicioso, se virando para a porta largando a bolsa na cama -
— Noite longa?

— Cala a boca - Hana resmungou se arrastando para dentro do quarto — E o que vocês dois estão fazendo aqui?

— Sentimos a sua falta e viemos te ver mas descobrimos que nossa doce e amada Hana havia saído... - Kuroo dramatizou totalmente — Me sinto traído.

A morena revirou os olhos logo levanto o olhar nervoso para Mayumi — O que você falou para eles?

No meio da madrugada, por volta das três, Mayumi voltou para o quarto e estranhou o fato de Hana não estar nele, preocupada ligou para a amiga e se deparou com a mesma ofegante e incrivelmente animada ao atender. Hana poderia ser muitas coisas, mas irresponsável não era, não importava a hora ela iria atender o telefone.

— Eles estavam do meu lado quando você atendeu - a loira deu de ombros — Você parecia ter corrido uma maratona, quem foi o campeão?

Hana não conseguiu evitar corar arrancando olhares curiosos dos três, a garota rapidamente correu até o banheiro se trancando lá dentro. Morreria no banheiro mas não responderia nenhuma pergunta idiota.

— Quando sair daí vai estar ferrada! - a loira a provocou fazendo-a revirar os olhos. — E aliás, se arrume porque vamos sair!

A morena estava louca por um banho, tudo em seu ser implorava por um mas o universo conspirava contra ela, pois segundos depois de uma tentativa de tirar a blusa o seu celular toca, com o barulho repetitivo ameaçando esgotar a última gota de sanidade que restava em sua cabeça.

— Alô? - disse curta e grossa, geralmente era a operadora que ligava para ela, não esperava que dessa vez seria alguém de verdade.

Filha?

Podia ter jurado que seu coração errou a contagem das batidas ao ouvir a voz do homem de meia idade.

— Oi pai! - Hana, contra sua própria vontade, sorriu, ela sentia tanto a falta dele que era inevitável não ficar feliz quando o homem a ligava — O senhor está bem?

Estou sim minha querida, e espero que esteja bem também - ela não estava de fato, andava sim tendo diversos moments bons mas se parasse para pensar iria achar coisas as quais queria evitar a todo custo. — Estou trabalhando agora e queria te perguntar uma coisa...

Ótimo, qual viria agora? Onde está seu irmão ou se viu ele pelo campus?

Era horrível a maneira como uma simples frase fez sua garganta apertar — Não. Eu não vi o-

Não iria te perguntar sobre onde está seu irmão - ouviu risada franca soando pelo celular — Queria te perguntar se teria algum tempo livre na semana que vem para vir me visitar. Sei que não estou sendo tão presente quanto gostaria e queria me redimir pelos últimos meses.

E talvez pelos últimos... 19 anos?

— Você é muito ocupada com a faculdade e tenho certeza que tem muitas responsabilidades mas eu gostaria muito que viesse passar uma tarde comigo.

Hana não conseguia parar de sorrir. Seu coração estava tão acelerado e suas mãos suavam em ansiedade, a quanto tempo não passava uma tarde com ele? Talvez a última vez tivesse sido no seu aniversário de 13 anos.

— Sim! - ela pigarreou contendo a animação — Sim, eu vou sim. Não tenho nada pra fazer.

Hana tinha muitas coisas para fazer mas não era como se fossem mais importante que seu pai.

— Mas vai ser só nós dois... Não é?

Sim, meu amor. - o homem disse em seu tom gentil costumeiro — Estou louco pra saber sobre seu curso. Medicina em, não é qualquer um que consegue, estou muito orgulhoso de você.

Hana se odiava. Odiava seu pai por ter sido tão ausente e se odiava ainda mais por amá-lo tanto, pois sentiu vontade de chorar apenas por ter recebido um elogio. Ele estava orgulhoso dela, por uma conquista que ganhou depois de tanto esforço...

Orgulho. Ninguém nunca sentiu orgulho dela.

— Estou ansiosa pai, nos vemos então no domingo?

Com toda certeza, princesa - Ela ouviu o telefone tocar provavelmente no escritório em que ele estava — Tenho que ir, te vejo no domingo!

Hana não percebeu quando a linha cortou pois estava apoiada com a mão espelho olhando para pia controlando a vontade avassaladora de chorar, era um motivo idiota e infantil, que não condizia com a personalidade dela, que com toda certeza a fazia parecer uma criança mimada mas era... Tão bom, a sensação de ser de uma certa forma amada. Prestigiada talvez.

A garota cresceu com a mãe, aquela que nunca estave satisfeita, nada se comparava aos próprios feitos, para a mulher que morreu com o pensamento de que Hana era um fracasso.

E ter uma mínima atenção daquele que sempre procurou a aprovação foi demais para ela.

Hana se reegueu, respirando fundo colocando um sorriso no rosto.

— Não seja idiota - ela repetiu para si mesma — É só uma tarde qualquer, não é grande coisa.

Mas não adiantava mentir.

Era sim. Tudo para ela.

(...)

Suna balançava sutilmente a garrafa de cerveja enquanto se perdia nos milhares pensamentos que turbilhavam sua mente, a música não passava de uma trilha sonora coadjuvante em meio a tanto caos que se passava em sua cabeça, as conversas paralelas não passavam de murmúrios desconexos atravessando seus ouvidos e a fumaça de cigarro e outras substâncias não o incomodavam, por mais que particularmente não gostasse de ambas.

O único capaz de tirar de seu transe foi Atsumu, que apareceu ao seu lado passando o braço por seus ombros — Onde estava na noite passada amigão? Você sumiu no caminho pra festa, fiquei preocupado.

— Relaxa - Suna suspirou se recostando no sofá velho — Tive uns imprevistos com a faculdade... Não deu pra adiar.

Era tão fácil mentir para Atsumu, sabia que ele não iria desconfiar.

— Ah tudo bem então - ele repetiu o movimento do amigo — Sabe quem estava aqui ontem...?

Pelo tom de voz do loiro Suna ergueu uma sobrancelha já tendo em mente quem seria
— Não brinca... Ele não é tipo um playboy que odeia tudo e todos?

— Sim, mas por alguma razão ele apareceu aqui e estava procurando o Kuroo, mas ai a Karasuno se estranhou com ele. - Atsumu bebeu da própria garrafa, virando metade em um piscar de olhos — Cara, você tinha que ver, até o Daichi olhou de cara feia pra ele.

— Uau - Suna estava genuinamente surpreso — O que será que ele-

Os dois pararam de falar quando o assunto se aproximava calmamente, com aquele sorriso odiavel nos lábios, o garoto estava junto a outros membros da Inarizaki, rindo e conversando. Provavelmente se gabando.

— Oikawa! - o loiro o chamou, com um tom tão falso na voz que quase fez Suna rir — Como vai a vida gatão?

O moreno riu se sentando em frente a eles, os cumprimentando batendo as mãos — Está indo bem, faz um tempão que não vejo vocês!

Os três começaram a conversar, bobagens de colegas que não se viam desde o ensino médio, Oikawa não era tão esnobe, bem no colégio ele era mas agora parecia mais, gentil? Ou talvez manipulador, Suna não sabia ao certo mas sempre teve um pé atrás com ele.

— Olha, a Nekoma chegou - Atsumu apontou para o grupo — Sua gatinha tá ali, Suna.

Rin se virou no automático, vendo Hana junto a seus amigos, tão linda mesmo de longe... Ele se sentiu nervoso, apenas por ter a possibilidade de falar com ela. Ele realmente estava se perdendo no personagem.

— Cara, a Hana é realmente gata - O loiro disse, numa tentativa frustada de fazer ciúmes a Suna mas quem realmente se afetou com o nome foi o garoto que estava sentado a frente deles.

Com os olhos vidrados rapidamente na garota, algo indecifrável pairou sobre os olhos castanhos de Oikawa e Suna tentou compreender.

Hana tinha dito que havia mais um caso seu mal resolvido, uma espécie de ex. A garota tentava não falar bem dele naquela noite e Suna a provocou por isso, será que era Oikawa.

— Conhece a Hana? - O moreno, sem filtro algum perguntou, quando Suna queria saber sobre algo ele não media esforços para descobrir.

Mas reposta não foi bem o que estava esperando.

Oikawa soltou um riso anasalado voltando a olhar para Suna — Está perguntando se eu conheço minha irmã?

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