#11
Hana caminhava pelo campus imersa em suas anotações das aulas diárias, teve um dia relativamente produtivo, além de estudar, conseguiu comer bem e não teve aquelas dores de cabeça insuportáveis de sempre, dando ênfase em resultados satisfatórios em seus estudos. Adiantou qualquer que fosse o trabalho, independente se fosse apenas para o mês que vem, e agora, não havia mais nada para fazer.
O sol já havia se posto e nem um resquício do pôr sobrou, ela queria ter visto já que acabou virando um costume olhar o pôr do sol no terraço do prédio dois junto a Kuroo e Kenma, aqueles que não vira a tarde inteira.
Seu telefone começou a tocar e habilidosa trocou o braço com os livros pelo celular que estava enterrado bem no fundo do bolso do cardigã - Alô?
- Oi gatinha - A voz animada de Mayumi soou pelo telefone.
- Olá Mayumi, o que quer?
- Só quero avisar que vou dormir fora hoje a noite. Pode trancar a porta e não esqueça de jantar!
Algumas semanas haviam se passado desde a mudança dela e sinceramente, a garota era o completo oposto de Yachi.
Enquanto a menor sempre desistia por conta da teimosia da morena, Mayumi batia de frente com a birra e sempre, sem exceções, conseguia o que queria.
Ela cuidava de Hana instintivamente, porque a morena era descuidada consigo mesmo.
Não demorou nem três dias para sacar que Hana tinha dificuldades para comer e que se sustentava com as balinhas de gelatinas, Mayu odiava ver ela com olheiras e cansada então começou a discutir para obriga-la a comer.
Mayumi era intrometida, teimosa e eufórica mas era simplesmente incrível, era sempre bem humorada e muito dedicada, tinha uma disciplina admirável e nunca deixava que seus problemas afetarem a pessoa radiante que ela era.
O completo oposto dela.
- Tudo bem - Hana tentou não parecer chateada, ela havia acostumado tanto a jantar com ela que era meio solitário a essa altura - Tome cuidado e não abuse.
E outra coisa preocupante que descobriu sobre a loira era sobre seu terrível problema com álcool.
Mayumi descontava quaisquer que fosse seus problemas com uma bebedeira descontrolada, em alguns finais de semana ela chegava capotada e Hana observava entre os lençóis ela se esforçar para entrar no banheiro.
Isso a fazia lembrar de tempos difíceis.
- Não vou, relaxe. Kuroo estará lá hoje, com certeza não vai deixar eu passar dos limites - ela suspirou no telefone - Tem certeza de que não quer ir? Vai ser legal!
- Não. Tenho certeza absoluta. - Hana ouviu um murmúrio de choro através da linha arrancando um riso interno - Até mais Mayu.
A loira se deu por vencida - Até, gatinha.
E o som que restou no ambiente silencioso foi o som da linha do telefone fixo se cortando, onde quer que ela estivesse, era uma residência privada, Hana suspirou fundo inclinando sua cabeça levemente para trás, fechando os olhos com força processando tudo.
Sua vida estava entrando nos eixos depois de muito tempo.
Mas a culpa vinha.
Sua mãe havia morrido sem realizar o seu sonho, ainda tinha ódio por seu irmão e pelo seu pai, tinha partido o coração daquele que um dia já chamou de melhor amigo...
Como uma pessoa como ela poderia ficar em paz? Hana se culpava diariamente por estar bem enquanto tantas coisas ruins foram deixadas em sua trajetória.
Hana não se permitia ser feliz.
Ela não queria ir para o dormitório, ficar sozinha quando finalmente fez amigos era um tanto quanto deprimente mas ela tinha que entender que eles não gostavam dela do mesmo jeito que ela gosta deles.
Hana não demonstra, mas agradece cada dia por aquele idiota tê-la seguido no seu primeiro dia de aula, pelo loiro ter-lhe oferecido o psp, pela Nekoma ter achado que ela já era médica, pela Mayumi empurrar para ela comida mexicana toda sexta a noite... E por ele.
Ele a mostrou mesmo que indiretamente, apesar de tudo, ela pode sim seguir em frente. Começando com passos pequenos, como comer besteira, dormir até tarde e até mesmo se permitir rir.
Porque nossos erros não nos definem e tentar muda-los nos fazem uma pessoa melhor por simplesmente tentar.
E arranjar amigos a fez pela primeira vez tentar ser algo melhor.
Talvez essas pequenas coisas não tenham tanto significado para outras pessoas mas para Hana o simbolismo era imenso.
Porque pequenas coisas sempre foram tudo para ela. Que nunca recebeu nada ao extremo.
Mas parecia que coisas simples assim não entravam na cabeça dela.
Ela sentou em uma das mesas de pedra do campus observando de longe as pessoas passagem pela trilha a caminho da fraternidade Inarizaki, gritaria e risos acompanhando cada grupo que passava.
Colocou o celular sem fone a cima da superfície gelada abrindo o aplicativo de músicas clicando no aleatório ouvindo Riptide, Vance Joy, soando do aparelho logo em seguida, murmurando a música enquanto escrevia ideias aleatórias em um caderninho encapado com veludo rosa.
- Está frio, não está? - Hana se sobressaltou ao ver Suna parado em frente a mesa.
- Quando você vai aprender a chegar como uma pessoa comum? - Hana suspirou fundo fechando os olhos - Não gosto de sustos.
- E eu gosto de entradas dramáticas - Ele sorriu para ela mas logo levando o olhou para o caderno a frente dela - O que é is-
O pequeno objeto foi tirado de sua visão tão rápido que o fez arregalar os olhos.
- Não pergunte. Não insista. Mude de assunto. - a morena o fuzilou com o olhar.
- Tudo bem - ele levantou as mãos como se estivesse se rendendo - Por que não está na Inarizaki?
- Porque tinha a intenção de não te ver hoje.
- Ah então pretendia me ver outro dia? - ele disse apoiando o cotovelo na superfície de pedra descansando o rosto sobre a palma da mão dando aquele sorriso costumeiro.
- Sabe que não foi isso que eu quis dizer.
- Mas foi isso que eu entendi - ele sorriu mais amplo ainda quando a viu revirando os olhos - Cortou o cabelo?
- Sim.
- Esse repicado na curvatura do pescoço combina mais com você do que o alinhamento no ombro - ele colocou uma mecha atrás da orelha dela - Ficou ótimo. Está linda.
Hana se controlou para não corar, ele falava coisas assim com tanta facilidade que a fazia ter raiva, mas com a calma sobrenatural de sempre, ela disse - Obrigada. Você não deveria estar na sua casa, na sua festa?
- Eu não moro lá - ele riu anasalado - Sabe, é complicado dividir o teto com Atsumu, desisti no terceiro mês de faculdade e comprei um apartamento.
Hana sorriu se lembrando de Kuroo e Hinata, ambos já convidaram ela para morar nas fraternidades e sem pensar duas vezes ela negou.
- E respondendo sua pergunta, eu não estou lá porque fiquei de fechar o estúdio e entregar as chaves para a professora.
Hana estava entediada de qualquer forma, não iria ferir seu ego se fizesse uma pergunta.
- No que está trabalhando?
- Portifólio de cores em contraste no branco - Suna disse simplista - É pra uma matéria sobre colometria, é eletiva mas tenho que terminar. Vai ter destaque no mural do campus.
- E em qual etapa está?
Suna respirou fundo se inclinando para trás dizendo com a voz triste - Na etapa zero.
- Não deveria deixar as coisas para fazer de última hora - Hana franziu o cenho - Vai se sobrecarregar, e colocar muitas coisa sobre suas costas pode fazer mal.
- Autocrítica?
Ela revirou os olhos guardando o celular no bolso - Cala a boca.
Ele a analisou por segundos a fio, imaginando que cor a deixaria em destaque, Hana tinha os olhos e os cabelos em tons que se caracterizavam pela sobreposição em tons quentes, mas se deixasse escapar a deixaria saturada ou apagada.
Tinha de ser algo quente e marcante mas que elevasse os traços dela em perímetros frios .
Dourado.
Hana iria ficar lindo em contraste com o dourado.
- Hana - Ela o olhou estranhando o tom manso e sincero - Ficaria ofendida ou incomodada se eu te pedisse um favor?
- Depende. Bom, sim, ficaria - ela o olhou de cima a baixo - Vindo de você dificilmente é algo confiável.
Ele riu vendo a pitada de humor na voz dela. - Gostaria de me ajudar com meu portifólio senos minha modelo? Uma vez. Uma sessão e nunca mais te perturbo.
Ele esperou que ela risse ou que jogasse o celular nele mas ela apenas arregalou os olhos deixando a vergonha se espalhar pelas bochechas pálidas.
- O que foi?
- Você... Quer mesmo isso? - ela perguntou sussurrando, envergonhada demais para sequer se manter arrogante.
- Desde o dia em que coloquei os olhos em você.
Ela estava sozinha a noite, não queria estudar e não sentia-se na obrigação de se cobrar... Hana queria companhia, queria se sentir viva e não se trancar.
Então com a coragem desconhecida ela engoliu em seco recuperando a postura o olhando de cima a baixo dando um sorriso de canto - Okay. Quando vamos?
Suna não conteve o sorriso de felicidade, um suspiro de alívio saiu de seus lábios olhou para ela novamente.
- Agora. Vamos agora.
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