#1

🥀⛓️

Ouvir uma dezena de garotas histéricas falando exageradamente sobre um garoto com certeza não era o que Hana estava planejando para o seu primeiro tour no seu novo campus. Era degradante vê-las se contentando apenas com um rosto bonito, Hana se pegava ora ou outra as observando com desdém, se perguntando como podem falar tanto.

Enquanto o presidente do corpo estudantil não chegava, que por sinal, estava quinze minutos atrasado, Hana observava ao redor.

O refeitório ao ar livre com diversas mesas e veteranos escandalosos mexendo com as novas calouras, o extenso corredor das salas artísticas, a incrivel planta ornamental dos prédios de estruturas antigas contrastavam a imensidão de árvores espalhadas por todo o ambiente. As cerejeiras talvez fossem as únicas coisas que Hana gostava dentro daquele campus.

­— Me desculpem pelo atraso, senhoritas - um garoto de cabelos considerados por Hana, uma ofensa a física, apareceu abotoando sua camisa social branca — Sou Kuroo Tetsuro, o presidente do corpo estudantil - O sorriso do garoto já entregava absolutamente tudo o que ele era, um canalha.

Kuroo mais respondia as perguntas das garotas do que de fato apresentava os lugares, o garoto mantinha o sorriso ladino dando trela para qualquer pergunta imbecil. Cordial, mas ainda sim contido, como quem preferia mostrar apenas aquilo que sabia que gostariam de ver.

Hana já havia desistido de prestar atenção naquele tour, talvez mais tarde fizesse um por conta própria, obviamente ela iria gostar bem mais do que ouvir um garoto convencido se gabar para outras calouras. Era amarga, tinha plena consciência disso, mas não podia simplesmente deixar de ser.

Andava juntamente a seu grupo pelos corredores da faculdade, parando consecutivamente em todas as aulas práticas do caminho, Kuroo explicava sobre como funcionava e quais eram os projetos principais de cada curso.

Sinceramente aquela foi a parte mais interessante, Hana prestou atenção sem filtros, com interesse genuíno pairando em seus olhos.

— Esse é o curso de fotografia - Kuroo bateu na porta sendo recebido por uma mulher de vestido longo e sorriso gentil — Senhora Yachi, posso dar só uma olhadinha com as calouras? Apresentação do primeiro dia. - A senhora o respondeu calorosamente que sim, avisando os alunos para se ajeitarem.

Todos estavam em meio a uma montagem de um estúdio experimental para um portifólio sobre a influência da moda no meio artístico. Refletores, tripés com câmeras auxiliares e alguns painéis estavam sendo organizados pelos alunos, que agora, sorriam gentilmente para as calouras.

Seus olhos vagaram por toda a sala até parar perto das janelas onde um garoto de olhos amarelados arrumava um refletor.

O que fez Hana levar sua atenção a ele foi o simples fato de que ele a encarava.

Usava uma blusa de gola alta preta com uma calça jeans delavê escura, mas o que mais a chamou foi os olhos amarelados e a intensidade a qual eles transmitiam.

Por um milésimo segundo seus olhares se cruzaram mas não por muito tempo já que Hana apenas desviou sua atenção para a explicação da senhora.

Todos daquele curso foram extremamente gentis e acolhedores, menos o garoto de olhos amarelados, que havia ficado afastado encarando sem filtro algum Hana, que notoriamente fingia não perceber.

Ao sair pôde ouvir alguns murmúrios sobre ela, Hana já tinha o rosto conhecido. Mesmo que não gostasse nem um pouco disso.

E lá se foi uma tarde quase toda desperdiçada. Não iria mentir, foi um grande desaponto já que mal conseguiu ver os lugares que mais desejava, mas pelo menos as amostras dos projetos dos cursos fora interessante.

O sol já se escondia em meio a uma imensidão de nuvens, deixando apenas os seus fios alaranjados como último resquício de sua existência, a brisa primaveril misturada com o cheiro de gardênias espalhadas pelo campus trazia um frescor agradável, frio, mas mesmo assim, reconfortante.

Hana agora caminhava calmamente pelos corredores do prédio no qual achava que ficava os dormitórios femininos, ia estudando os lugares para memorizar e futuramente conseguir achar seu quarto com facilidade.

— Ei, você! - Hana parou no meio do corredor, suspirando fundo antes de se virar para a voz que ouvira o dia inteiro.

— Sim? - respondeu indiferente, cruzando os dedos para que ele não lhe fizesse perguntas idiotas.

O garoto estava ofegante, como se tivesse corrido bastante até encontrá-la.

— Você é a Hana... - ele parecia em uma confusão mental para lembrar seu sobrenome.

— Só Hana. Não uso meu sobrenome.

— Ok, Hana. - um sorriso gentil cresceu em seus lábios — Desculpe por não ter te dado sua atenção necessária, e muito menos um tour decente.

— E por que eu precisaria de atenção?

— Porque você foi a bolsista que ficou em primeiro lugar, o diretor gosta que seus premiados sejam mimados.

— Não me importo em receber atenção, não se preocupe em dar tratamento especial - Hana respondeu completamente inexpressiva, porém, educada — Agora se já acabou, vou voltar procurar o meu quarto. Boa noite.

Se virou pelos calcanhares voltando a andar pelo corredor vazio e enorme mas logo ouviu passos apresados atrás de si.

— Já que estou aqui, pode me dizer se precisa de algo? - Kuroo perguntou gentil, se colocando ao lado dela com uma distância respeitosa, a acompanhando em sua caminhada. — Gosto de ser eficiente.

Eficiência, ou apenas um truque para conquistar uma caloura? Hana não quis saber a resposta mas precisava achar o seu quarto o mais rápido possível, seus pés estavam doloridos.

— Quero encontrar o meu dormitório mas não o acho.

— E qual é o número do seu prédio?

— 02, dormitório 22.

Kuroo prendeu uma risada, que fez Hana o fuzilar com olhar.

— Qual é graça? - a garota fez questão de não esconder o tom rude na voz.

— Meu bem... O dormitório 22 fica no outro prédio. - Hana franziu o cenho, agradecendo pelo os corredores serem pouco iluminados, senão, o garoto com certeza zombaria de suas bochechas coradas.

Se virou em direção a saída do prédio batendo os pés, ouvindo uma gargalhada tão esquisita que quase a fez rir. Kuroo ria feito uma hiena.

— Vamos lá, eu te levo.

E assim se foi uma longa caminhada até o prédio 2. Kuroo tagarelava sobre tudo, praticamente um novo tour, Hana respondia apenas com murmúrios ou fragmentos de resposta.

Kuroo já havia percebido no pouco tempo em que passou, que Hana não gosta de conversar. Mas lá no fundo quis continuar falando.

Não era como se ele não soubesse lidar com pessoas assim.

Agora na travessia da área aberta vendo os cursos do corredor artístico sair, todos estavam eufóricos por algo que Hana não sabia. Algumas pessoas gritavam em cumprimento a Kuroo, o que já era de esperar, todos sempre adorando o presidente.

Hana observava o curso de fotografia sair do térreo do prédio 1, e o garoto de olhos amarelados estava lá, carregando o refletor e outras duas peças. Por um instante teve a impressão de também ser encarada, despertando um interesse repentino a procurar por ele mas logo deixou prestar atenção quando Kuroo sussurrou algo em seu ouvido.

— Achou alguém interessante? - perguntou ao pé do ouvido de Hana, o que a fez dar dois passos recuando pelo susto.

— Não faça mais isso. - Kuroo gargalhou em resposta, voltando a andar.

— Se quiser que eu te apresente alguém, não hesite em pedir - disse convencido com um sorriso malicioso nos lábios.

— Não e nem pense que eu vou agradecer pela sua oferta.

— Você é interessante, Hana, gostei de você - Hana franziu o cenho não respondendo nada — Você é parecida com um amigo meu.

Hana não se lembrava da última vez que ouviu alguém dizer que gosta dela e muito menos que a acha interessante.

Era sempre "aberração" ou "maluca".

O silêncio se estabeleceu até chegarem na porta de seu dormitório. Hana memorizou o caminho rapidamente, para não ter que ser guiada novamente por Kuroo.

— Agradeço. Tenha uma boa noite. - Hana pegou as chaves colocando-a na fechadura logo abrindo a porta, mal se despedindo moreno.

— Até mais, Hana! - Deu um curto aceno de despedida com um sorriso gentil.

Talvez Hana o tivesse julgado mal, ele não era um canalha.

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As primeiras aulas foram um total desperdício de tempo, mal teve explicações, e sim apresentações comuns. Foi mencionado sobre os tópicos aulas posteriores, Hana aproveitou para estudar sobre eles afim de se adiantar. Passou o dia inteiro sozinha, almoçando embaixo de uma cerejeira perto dos muros que rondavam todo o campus, lendo um livro de poesias que vinha adiando a meses a leitura.


Esperou durante muito tempo seu celular tocar ou receber uma simples mensagem de seu pai, mas não havia nada, apenas um lembrete de sua agenda.

Hana queria que aquilo não a afetasse, que ela tratasse com irrelevância assim como fazia com todos a sua volta, mas não dava. Ainda doía.

Afim de espantar o mau-humor que seu pai lhe causou, Hana decidiu ir a biblioteca adiar os tópicos passados.

Caminhava pelo campus tendo o destino traçado a biblioteca agora.
A parte aberta do refeitório era lotada, muitos alunos comendo, estudando, ou simplesmente deitados observando as nuvens.

Via todos com seus amigos, ou pares românticos, sentindo algo estranho em seu coração. Talvez solidão? Hana não gostava de como isso ainda a afetava, já esteve tanto tempo sozinha que deveria ter se acostumado.

Por que todos tinham alguém e ela não?

Evitava pensamentos como este, porque só a levavam a outro poço de questionamentos, para eles sempre tinham uma única resposta.

Não importa.

Não importa que Hana não suporte ficar sozinha, que tem vezes que parece que vai enlouquecer por seu coração gritar para ter algo, para sentir algo.

Mas não importa. Nunca importou.

E iria continuar assim.

Ignorou todos e seguiu caminho, fingindo que não existia outras pessoas ao seu redor.

A biblioteca era simplesmente enorme, diversas estantes especializadas a cada curso, e cada uma dividida por suas categorias de acordo com cada assunto. Aquele de longe era o lugar favorito de Hana.

Depois de vinte minutos procurando seus livros, Hana finalmente se sentou para ler.
Fazia suas anotações, focada totalmente nos livros, repassando e memorizando os tópicos importantes, até perceber que alguém se sentou em sua frente.

Para evitar comentários, não ousou olhar para ver quem era, apenas deu continuidade aos seus estudos.

— Hmm, teoria medicinal... Legal - uma voz rouca e grave chamou sua atenção. Hana apenas levantou o olhar dando de cara com o garoto dos olhos amarelados, ele tinha o queixo apoiado em uma das mãos e a fitava com um sorriso indecifrável no rosto.

Continuou a prestar ao seu livro, dando um total de zero atenção ao garoto.

— Me chamo Suna, e você?

— Hana. - disse simplista, sem desviar o olhar de seu livro.

— Qual o seu curso? -

Hana soltou uma risada anasalada. — Achei que o livro já fosse autoexplicativo.

Ele riu fraco se ajeitando na cadeira — Tem razão. Sou péssimo em puxar assunto.

O que diabos ele queria ali? Hana não fazia a mínima ideia. E também não queria descobrir.

— Vi você saindo do prédio um ontem. Estava perdida?

— Não. - Hana torcia para que ele desiste do quer que esteja tentando fazer e fosse embora de uma vez por todas — O que quer?

O garoto sorriu, não respondendo nada, apenas se inclinou na cadeira a balançando algumas vezes. Hana franziu o cenho, aquele garoto era completamente inexpressivo, mas não da maneira como ela era e sim como uma máscara.

Hana bufou em descontentamento, apenas negando com a cabeça voltando a atenção ao seu livro.
Até sentir algo sendo empurrado em suas mãos.

— Deveria deixar de ser distraída.

Era o livro de poesias que estava lendo está tarde, não se lembrava de ter esquecido, mas a possibilidade de ter deixado lá enquanto atualizava seu aplicativo de mensagens era real.

— De nada. - ele se levantou dando alguns passos antes de se virar novamente — Até mais Hana, espero te ver sábado a noite.

E assim se foi, sumindo diantes das enormes estantes da biblioteca, deixando Hana plantada sem nem dar tempo de processar ou agradecer.

Seus olhos intensos transmitiam uma imensidão de pensamentos, como uma orquestra, diversos instrumentos emitindo diferentes sons se tornando uma sintonia perfeita, entrando diante de sons irreconhecíveis em sua mistura perfeita. Essa era sensação que Hana sentia quando o encarava, a confusão de sua mente quando assistiu a uma orquestra pela primeira vez, foi uma completa confusão. O garoto era um incógnita.

E Hana odiava incógnitas.

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