04. Good Girls, Bad Guys

Voltei para a mesa onde Tory e os outros estavam rindo e conversando como se o resto do bar não existisse. O lugar estava começando a encher mais, mas eu mal percebia. Minha cabeça ainda estava presa naquele momento no balcão, e algo dentro de mim insistia em ficar remoendo a situação.

— Quem eram? — Tory perguntou, inclinando-se para mim com curiosidade. — Você conhece eles?

— Não. — Respondi, rápido demais, talvez até um pouco irritado. — E nem quero conhecer.

Ela levantou uma sobrancelha, claramente surpresa com o tom da minha resposta, mas não insistiu. Apenas deu de ombros e voltou sua atenção para os outros.

Por dentro, eu estava lutando contra uma pontada de raiva que parecia ter surgido do nada. Não fazia sentido. Eles não tinham feito nada de mais, não diretamente, pelo menos. Mas a forma como o garoto asiático me encarou, como se estivesse me desafiando sem dizer uma palavra, era o suficiente para me fazer sentir o sangue ferver.

E aquela garota... Ela não estava ajudando em nada.

Meu olhar voltou involuntariamente para o balcão. Lá estavam eles, conversando. O garoto asiático parecia tenso, o maxilar travado, ainda lançando olhares duros na minha direção. Era como se ele estivesse medindo cada movimento meu, analisando, calculando, como se já estivéssemos no tatame prestes a lutar.

A garota, por outro lado, parecia mais calma, mas havia algo na postura dela que me incomodava. Ela estava tentando amenizar a situação, ou pelo menos parecia ser isso. Dizia algo para o garoto enquanto gesticulava levemente com a mão, mas, mesmo assim, vez ou outra, seus olhos voltavam para mim.

Era um olhar direto, frio, como se estivesse me estudando. Aquilo só serviu para me deixar ainda mais inquieto. Que droga eles queriam, afinal?

— Hey. — A voz de Tory me trouxe de volta à mesa. Ela me observava com atenção, inclinando-se novamente. — Tá tudo bem?

— Tá. — Respondi automaticamente, em um tom quase seco, mas não convenci nem a mim mesmo.

Ela estreitou os olhos, cruzando os braços, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, um dos outros começou a contar uma história idiota que desviou sua atenção. E eu fiquei em silêncio, olhando para o copo na minha frente, mas minha mente não estava mais ali.

Por que esses caras já estavam criando tanto alarde? Mal chegaram e todo mundo já parecia obcecado com eles. E agora isso. Um simples olhar trocado e, de repente, parecia que estávamos prestes a iniciar uma rivalidade épica.

Não era isso que eu queria. Eu entrei para o Cobra Kai para recomeçar, para deixar o passado para trás e construir algo novo. Não para entrar em brigas estúpidas com um dojô que mal conheço.

Mas, ao mesmo tempo, algo dentro de mim dizia que isso não ia acabar ali. Que aquele garoto e aquela garota — especialmente ela — iam ser mais do que apenas competidores no tatame.

Eu odiava admitir, mas já estava esperando pelo próximo encontro amigável.

⋆౨˚ ˖

Depois do treino intenso no dojô, parecia que ninguém tinha mais energia para continuar falando de karatê, ou, pelo menos, eu não tinha. Meus músculos estavam exaustos, e minha mente, ainda mais. Kenny, por outro lado, parecia incapaz de desligar.

— Então, tipo... Se a gente encontrar esses caras do Fierce Dragons, o que acha de desestabilizá-los um pouco? — Kenny disse enquanto caminhávamos pelo estacionamento em direção ao shopping. — Nada muito sério, só o suficiente pra eles entrarem no regional com a cabeça bagunçada.

Eu revirei os olhos e soltei um suspiro pesado.

— Kenny, por favor. — Minha voz saiu mais cortante do que eu pretendia, mas eu estava cansado demais para me preocupar com isso. — Vamos fazer um trato, nas próximas duas horas, a gente não toca no assunto de karatê. Nada de dojôs, nada de regionais, nada de planos mirabolantes pra ferrar com os adversários.

Ele piscou, surpreso, e depois deu de ombros, levantando as mãos em rendição.

— Beleza, beleza. Tô calado.

Tory, que caminhava ao meu lado, soltou uma risadinha baixa.

— Quem diria que o nosso líder do Cobra Kai ia precisar de um tempo de descanso? — Provocou, arqueando uma sobrancelha.

— Não é descanso. — Respondi, tentando não soar defensivo. — É sanidade.

Ela riu de novo, mas não disse mais nada, e seguimos nosso caminho.

O shopping estava cheio, como sempre, mas ainda assim era um alívio estar longe do tatame, mesmo que por pouco tempo. Era quase como se aquele lugar tivesse o poder de me fazer esquecer, nem que fosse por alguns minutos, toda a pressão que estava acumulada nos meus ombros.

O regional estava cada vez mais perto, e todo mundo sabia o que isso significava. Para o Cobra Kai, para Kreese, para mim.

Eu sabia que não podia decepcioná-los.

Kenny correu até uma vitrine de tênis, desviando-me de meus pensamentos e apontando para um par extravagante com cores neon.

— Olha isso, Robby! Se eu ganhar o regional, vou comprar esses aqui!

— Boa sorte gastando metade do prêmio nisso. — Comentei, sem muita emoção, mas ele não pareceu se importar.

Tory parou ao meu lado, segurando um milkshake que ela comprou em um quiosque no caminho.

— Tá com cara de quem tá pensando demais. — Ela disse, me observando com atenção. — Achei que a regra era esquecer o karatê por duas horas.

Soltei um suspiro, dando um meio sorriso.

— É mais fácil falar do que fazer.

Ela me deu um leve empurrão com o ombro.

— Relaxa, Keene. Você vai dar conta.

Queria acreditar nisso. Mas a verdade é que, mesmo naquele momento, cercado pelo barulho do shopping e pelas risadas de Kenny, eu sentia o peso daquela responsabilidade me puxando de volta para a realidade. Eu sabia o que esperavam de mim.

E sabia que não podia falhar.

Enquanto caminhávamos na direção do boliche, o clima parecia mais leve, finalmente. O corredor que levava até lá era menos movimentado, quase deserto, e o silêncio dava um estranho alívio depois do barulho constante do shopping. Eu estava começando a relaxar, mas é claro que isso não durou muito.

No meio do caminho, bem ali, parados como se estivessem nos esperando, estavam eles, o trio do Fierce Dragons.

O garoto asiático estava mais à frente, com uma postura tensa, como se estivesse preparado para qualquer coisa. A garota russa estava ao lado dele, os braços cruzados, a expressão séria como sempre. A outra garota asiática permanecia um pouco mais atrás, observando tudo com olhos atentos, mas sem dizer nada.

Tory riu, uma risada seca e cheia de indignação.

— Mas é claro. Não podemos ter um minuto de paz sem esses idiotas aparecendo.

Kenny deu um passo à frente, cerrando os punhos, o olhar fixo no garoto asiático.

— Se eles quiserem brigar, não vou hesitar. — Ele disse, com a voz carregada de desafio.

Eu ergui a mão, sinalizando para ele parar, antes que as coisas saíssem do controle. Senti meus próprios punhos se fecharem, mas forcei-me a respirar fundo, tentando manter a calma.

— Não estamos aqui pra brigar. — Falei, minha voz firme, mas controlada. — Não agora.

O garoto asiático, que eu tinha aprendido a reconhecer como Mikan, e também já tinha aprendido a odiar, ergueu uma sobrancelha, dando um passo à frente.

— Engraçado ouvir isso de um Cobra Kai. Achei que vocês sempre estivessem prontos para brigar. Como é que dizem mesmo? — Ele riu, um tom de sarcasmo se formando em sua voz — "Sem compaixão", o mantra mais tolo que já ouvi em toda minha vida.

A garota russa lançou um olhar rápido para ele, quase como se estivesse o alertando para não ir longe demais, mas não disse nada. Seu olhar, no entanto, encontrou o meu, e por um momento, tudo pareceu parar.

Havia algo nos olhos dela que era difícil de decifrar, e por um momento eu quase escrevi da afronta direta daquele maldito cara. Havia frieza, sim, mas também uma espécie de curiosidade. Como se ela estivesse tentando me ler, tentando entender o que eu faria.

Tory bufou, cruzando os braços.

— Por que não dão meia-volta e voltam pro buraco de onde saíram?

A garota russa finalmente falou, sua voz calma, mas carregada de um tom cortante.

— Não sabíamos que o shopping era território do Cobra Kai. Já estávamos aqui, se não notou.

Havia sarcasmo na maneira como ela disse isso, mas também uma certa tranquilidade que me incomodava. Era como se ela estivesse completamente no controle, como se soubesse exatamente o que dizer para nos provocar sem realmente cruzar a linha.

Kenny deu outro passo à frente, mas eu o impedi, segurando seu braço.

— Vamos. — Disse, mais para o grupo do que para qualquer outra pessoa.

Me virei e continuei andando, esperando que os outros me seguissem. Tory hesitou, claramente contrariada, mas acabou vindo atrás de mim, murmurando algo sobre "não deixar isso barato".

Enquanto nos afastávamos, senti o olhar dela em mim de novo. A garota russa. Não precisei olhar para saber. Era quase como se ela estivesse me desafiando em silêncio, e isso só me deixou ainda mais determinado a provar que eu não ia ceder.

Não agora. E, com certeza, não no tatame.

E enquanto nos afastávamos, senti a tensão crescendo. Estávamos quase virando o corredor quando ouvi o garoto asiático, Mikan, gritar atrás de mim.

— Mas é um converse mesmo. — Ele zombou, a voz cheia de desdém. — É isso que o Cobra Kai ensina, então? A fugir como cães acuados?

Parei no mesmo instante. Meu sangue ferveu, mas antes que pudesse me virar, ouvi outra voz, firme e irritada, interrompendo-o.

— Cala essa boca, Mikan. — Era a garota russa, Yelena. Havia algo afiado no tom dela, uma ordem que parecia carregar peso.

Mas Mikan ignorou completamente, é claro que ele ignoraria, porque aparentemente há algo em mim que ele repudia com todo seu ser, e estou começando a sentir que é recíproco.

— O quê? — Ele respondeu, rindo. — Não posso me divertir com o menino prodígio do Cobra Kai? Aposto que ele é mais conversa do que ação. Não é, garoto? — Ele gritou na minha direção.

Minha respiração ficou pesada. Nem eu sabia por que ele tinha essa birra comigo, mas isso não importava mais. Aquelas palavras eram como um fósforo jogado num barril de gasolina.

Me virei rápido, não hesitei nem por um segundo, e avancei na direção dele.

— Ah, finalmente! — Ele exclamou, abrindo os braços como se estivesse me recebendo.

Os outros tentaram me parar, mas era tarde demais. Quando cheguei perto o suficiente, ele foi o primeiro a agir, disparando um soco direto. Eu desviei por pouco, girando o corpo e contra-atacando com um gancho que ele bloqueou facilmente.

— É isso que você tem? Que fofo. — Ele zombou, um sorriso convencido se formando no rosto.

Eu não respondi. Meu foco estava nos movimentos dele. Ele era rápido, e cada golpe que ele lançava tinha técnica. Claramente, ele não era qualquer um. Quando tentou um chute alto, consegui agarrar sua perna e empurrá-lo para trás, mas ele girou no ar com agilidade, usando o movimento para me atingir com o outro pé.

O impacto me fez recuar alguns passos, mas eu recuperei o equilíbrio rapidamente.

— Não pense que vou cair nessa. — Falei entre dentes, avançando de novo.

Ele tentou outro soco, mas dessa vez fui mais rápido, desviando e acertando um direto no abdômen dele. Mikan cambaleou para trás, o sorriso se desfazendo um pouco.

— Parece que o Cobra Kai ensina alguma coisa, afinal. — Ele comentou, com uma risada seca, enquanto limpava a boca.

Mas, em seguida, ele veio com mais força, lançando uma combinação de golpes que me colocou na defensiva. Seu estilo era diferente do que eu estava acostumado a enfrentar. Cada movimento parecia calculado, como se ele estivesse testando minhas reações, procurando brechas.

Eu bloqueei o máximo que pude, mas ele conseguiu acertar um chute lateral na minha costela que me fez ranger os dentes de dor.

— Já tá sentindo, não é? — Ele provocou, dando mais um passo à frente.

Eu não respondi. Não queria dar a ele o doce gosto de me ver afetado por suas provocações. Em vez disso, usei a raiva dentro de mim para avançar de novo, disparando uma série de golpes rápidos. Ele bloqueou alguns, mas um soco cruzado acertou sua mandíbula, fazendo-o recuar de novo.

Havia suor escorrendo pelo meu rosto, mas eu não podia me dar ao luxo de parar. Minha respiração estava pesada, e a dor na costela latejava, mas eu sabia que não podia perder. Não ali, não na frente deles.

Mikan veio para cima outra vez, mas dessa vez consegui prever o movimento. Quando ele tentou outro chute, me abaixei e o desequilibrei com um golpe baixo na perna, fazendo-o cair de lado no chão.

— Você não sabe nada sobre o cobra kai, e muito menos sobre mim, seu grande imbecil. — Falei, minha voz cheia de determinação e um sorriso brotou no canto de meus lábios.

Mikan se levantou rapidamente, limpando o ombro e encarando-me com os olhos estreitos.

— Talvez você seja mais interessante do que eu pensava. — Ele admitiu, mas havia algo em sua voz que ainda carregava um tom de desafio.

A essa altura, eu estava exausto, mas não podia deixar que ele percebesse. O silêncio no corredor era quase ensurdecedor, exceto pelas respirações pesadas.

— Chega. — A voz de Yelena cortou o ar como uma lâmina.

Ela se colocou entre nós dois, com uma expressão dura no rosto.

— Mikan, vamos embora. Agora. — Ela ordenou, com uma autoridade que não deixava espaço para discussão.

Mikan hesitou por um segundo, mas acabou recuando, embora seus olhos ainda estivessem fixos em mim.

— Isso ainda não acabou. — Ele murmurou antes de virar as costas e seguir Yelena e a outra garota.

Eu fiquei parado ali por um momento, respirando fundo, tentando controlar a adrenalina que ainda corria pelo meu corpo. Tory e Kenny se aproximaram, parecendo tão tensos quanto eu.

— Você tá bem? — Tory perguntou, o tom mais preocupado do que eu esperava. — Aquela piranha russa e seus dois comparsas ainda vão se ver comigo no tatame.

— Eu estou bem. — Respondi, enxugando o suor da testa e ignorando sua nítida provocação.

A tensão no corredor explodiu em segundos. Yelena avançou como um raio em Tory, o movimento rápido e preciso. Era óbvio que ela tinha escutado o comentário agradável de story. Seu chute acertou a lateral do rosto de Tory com tanta força que ecoou pelas paredes vazias do corredor. Tory cambaleou, mas não caiu, gritando.

Sua vadia!

Ela se lançou contra Yelena com um soco direto, mas Yelena desviou com facilidade, agarrando o pulso de Tory e torcendo-o enquanto a empurrava contra a parede com força.

— É só isso que você tem? — Yelena provocou, a voz baixa e cheia de desprezo. — Você é fraca.

Tory rugiu de raiva, girando o corpo para se soltar, mas Yelena manteve o controle.

Enquanto isso, o caos tomava conta do corredor. Kenny tentou pular em Mikan, mas o asiático girou em um movimento rápido, esquivando-se e desferindo um chute baixo que fez Kenny tropeçar e cair de joelhos. A outra garota asiática, Lauren, estava enfrentando dois oponentes ao mesmo tempo, bloqueando golpes com uma técnica impecável e contra-atacando com socos e chutes que os obrigavam a recuar.

Eu não podia deixar aquilo continuar. Avancei para tentar separar Yelena e Tory, mas antes que pudesse alcançá-las, Mikan apareceu no meu caminho.

— E aí, garoto prodígio? Pronto para a segunda rodada? — Ele zombou, os olhos brilhando com desafio.

— Sai da minha frente. — Eu rosnei, tentando passar por ele.

Mikan riu, balançando a cabeça.

— Não tão rápido. Vamos ver do que você realmente é feito.

Ele veio com um soco direto que bloqueei com o antebraço, mas o impacto foi forte o suficiente para me fazer recuar um passo. Ele não perdeu tempo, girando o corpo para desferir um chute giratório que eu mal consegui desviar. O movimento dele era fluido, mas não me deixaria intimidar.

Avancei com um soco na direção do abdômen dele, mas Mikan se moveu rápido, desviando e agarrando meu braço para tentar me puxar para fora de equilíbrio. Usei o impulso para girar o corpo, liberando o braço e desferindo um cotovelo que acertou seu ombro. Ele recuou, estreitando os olhos.

— Até que melhorou um pouco. — Ele admitiu, limpando a boca com as costas da mão. — Mas não o suficiente.

No entanto, antes que ele pudesse atacar de novo, eu o surpreendi com um chute frontal que o fez tropeçar para trás.

— Vai precisar mais do que provocações para me derrubar. — Disse, a voz cheia de raiva.

Ele sorriu de canto, como se aquilo o divertisse.

Enquanto isso, do outro lado do corredor, Tory finalmente conseguiu desferir um soco que acertou o queixo de Yelena, mas a garota russa parecia mal se abalar. Ela segurou Tory pelo colarinho e a empurrou contra a parede novamente, desferindo um golpe com o joelho na costela dela.

— Chega com essa merda! — Eu gritei, desviando de mais um soco de Mikan e avançando em direção às duas.

Mikan tentou me segurar, mas eu o empurrei para o lado com força e cheguei perto o suficiente para agarrar o braço de Yelena, afastando-a de Tory.

— Já chega. Solta ela. — Repeti, encarando Yelena diretamente.

Ela puxou o braço, me encarando com um olhar tão frio que parecia me congelar no lugar.

— Não estou aqui para brincar. — Ela disse, a voz baixa, quase um rosnado. — E eu sugiro que me solte agora.

Antes que eu pudesse responder, Mikan me puxou para trás, acertando um golpe no meu ombro que me fez soltar Yelena.

— Nunca vira as costas para o seu oponente. — Ele provocou, mas havia algo de sério na voz dele agora.

Olhei ao redor. Kenny estava tentando se levantar, enquanto Tory segurava as costelas, ofegante. Lauren ainda enfrentava dois oponentes, parecendo mal cansada.

Eu sabia que não poderíamos continuar assim. Precisávamos sair dali antes que as coisas piorassem ainda mais. Mas parte de mim, aquela parte cheia de raiva e frustração, queria continuar. Queria mostrar a eles que não éramos fracos.

No entanto, grito de "Aí!" ecoou pelo corredor, a voz diferente cortando o caos por um momento. Olhei na direção do som e vi Eli, acompanhado por Miguel e Demetri, entrando na cena. Ótimo. Como se já não fosse confuso o bastante, agora parecia que a coisa toda ia escalar para uma briga generalizada.

— Ei, olha só quem chegou. O do moicano patético. Veio atrás de levar uma surra também?— Provoquei Eli, o sangue fervendo dentro de mim, o tom de sarcasmo claro na minha voz.

Os olhos de Eli se estreitaram imediatamente, e ele avançou sem pensar duas vezes, acertando um soco no meu lado que fez meus músculos gritarem de dor. Não tive tempo para hesitar. Reagi automaticamente, empurrando-o para trás e desferindo um golpe direto no ombro dele.

A briga começou de novo, agora mais intensa. Enquanto eu trocava golpes com Eli, vi Miguel avançando para defender Demetri, que já estava reclamando em alto e bom some

— Por que sempre acaba nisso? Eu nem queria estar aqui!

Mas ele não teve escolha. Quando um dos caras que estavam com a gente, avançou para cima dele, Demetri deu um chute desajeitado que o afastou por alguns segundos, mas não por muito tempo.

— Bem-vindo ao inferno, Demetri. — Miguel gritou, tentando bloquear um chute vindo de Lauren. — Tudo graças ao nosso querido amigo Falcão.

Enquanto isso, Eli e eu estávamos quase nos engalfinhando. Ele era forte e rápido, mas minha raiva me impulsionava. A cada soco, a cada chute, eu sentia como se estivesse despejando toda a frustração acumulada dos últimos meses.

— Sabe, Keene, você fala muito, mas luta pouco. — Eli provocou, acertando um golpe direto no meu queixo.

Senti o gosto metálico de sangue na boca, mas não recuei. Girei o corpo, desferindo um chute baixo que fez Eli perder o equilíbrio por um instante.

— E você, Eli, fala demais para quem já perdeu tudo. — Respondi, a voz cheia de veneno.

Ele grunhiu, avançando de novo, mas dessa vez consegui bloquear o golpe e empurrá-lo para longe.

Enquanto isso, Miguel estava tentando lidar com dois ao mesmo tempo. Lauren era ágil, cada movimento dela parecia calculado, como se estivesse coreografando uma dança mortal. Mikan, por outro lado, era força bruta, tentando acertar golpes que fizessem Miguel cair de uma vez só.

Demetri, do outro lado, estava fazendo o possível para sobreviver. Ele bloqueou um soco de Rick com o antebraço e tentou contra-atacar com um chute desajeitado.

— Isso é ridículo! Não podemos simplesmente conversar como pessoas civilizadas? — Ele reclamou, desviando de mais um golpe.

— Demetri, não tem mais escapatória. Agora já era. — Miguel gritou, desviando de um chute giratório de Lauren.

Eu não sabia quanto tempo mais poderíamos continuar. Meus músculos queimavam, o suor escorrendo pelo meu rosto. Olhei ao redor e vi que ninguém ali estava disposto a recuar.

Yelena ainda estava trocando golpes com Tory, um chute após o outro, ambas exalando fúria. Miguel estava ficando sobrecarregado, Demetri estava claramente em pânico, e Eli parecia disposto a me derrubar de qualquer jeito.

Mas eu não podia parar. O ódio dentro de mim não deixava. Era como um fogo que queimava mais forte a cada segundo, me obrigando a continuar lutando, mesmo que eu não soubesse exatamente por que tudo aquilo começou.

Talvez fosse pelo torneio. Talvez fosse pelas provocações. Ou talvez fosse por algo muito mais profundo que ninguém ali conseguiria entender.

O chute de Eli acertou meu peito com força, me jogando para trás até eu cair no chão com um baque pesado. Tentei recuperar o fôlego, mas a dor pulsava em cada músculo. Antes que eu pudesse me levantar completamente, vi Eli se afastando em direção à garota asiática, Lauren.

De relance, notei Tory ao lado, passando a mão pelo canto da boca, limpando o sangue que escorria. O ódio ferveu ainda mais dentro de mim. Olhei para frente, e foi aí que a vi.

Yelena.

Ela vinha em minha direção com passos firmes, os olhos castanhos queimando com algo que parecia diversão cruel e determinação inabalável. Meu corpo ficou tenso, e eu senti um aperto estranho no estômago. Não era medo, mas algo parecido com ansiedade. Ela parecia diferente de todos ali, mais calculista, como se já tivesse decidido que ia me destruir.

— Hora do verdadeiro líder mostrar do que é capaz. — A voz dela saiu como um desafio, o tom gélido, mas com uma ponta de sarcasmo que me fez cerrar os punhos.

— Eu não vou lutar com você. — Respondi, a raiva misturada com cansaço. Não ia cair no jogo dela.

Ela riu. Não um riso leve, mas algo seco, quase debochado.

— Mas eu vou. — Foi tudo o que disse antes de girar o corpo com uma precisão mortal, desferindo um chute giratório que acertou minha lateral com tanta força que me derrubou no chão novamente.

A dor irradiou pela minha costela, mas dessa vez não hesitei. Me levantei num pulo, agora completamente irritado, sentindo a adrenalina tomar conta.

— Tá bom boneca russa, você pediu. — Disse entre dentes, avançando nela com um soco direto.

Ela desviou com facilidade, inclinando o corpo para o lado e usando o movimento para me acertar com um chute baixo no joelho. Perdi o equilíbrio por um segundo, mas consegui me recompor e girar, tentando acertá-la com um golpe na lateral.

Yelena bloqueou com os antebraços, os olhos dela fixos nos meus, cheios de foco e intensidade. Ela não parecia estar apenas lutando, ela estava analisando cada movimento meu, como se fosse um quebra-cabeça que ela já sabia resolver.

— Isso é tudo o que você tem, principezinho do Cobra Kai? — Ela zombou, dando um passo para trás antes de avançar novamente, tentando me acertar com um soco direto.

Bloqueei o golpe e consegui segurá-la pelo braço, empurrando-a para trás com força. Ela tropeçou, mas se recuperou quase imediatamente, usando o movimento para girar o corpo e tentar um chute alto.

Dessa vez, bloqueei o chute com o antebraço, mas a força foi suficiente para me fazer recuar alguns passos.

— Você é irritante. — Falei, a raiva escorrendo nas palavras.

— E você é previsível. — Ela respondeu com um sorriso provocador, avançando de novo.

Nossos golpes se encontraram no ar, um soco contra o outro, e o impacto reverberou pelo meu braço. A luta parecia mais feroz a cada segundo, e eu sabia que ela estava testando os meus limites.

Yelena era rápida, cada movimento dela fluía com uma graça quase letal. Mas eu tinha minha raiva, minha determinação, e não ia deixar que ela me derrubasse.

Avancei com um chute giratório, acertando a lateral dela, finalmente fazendo-a recuar alguns passos. Ela colocou a mão na costela onde o chute acertou, mas não perdeu o sorriso.

— Talvez você não seja tão ruim assim. — Ela admitiu, o tom ainda carregado de ironia.

— Você ainda não viu nada. — Respondi, avançando de novo, a adrenalina me impulsionando.

A luta continuava, os golpes cada vez mais rápidos e intensos. Eu sabia que ela era uma adversária formidável, mas também sabia que não podia recuar. Não agora. Não com todos assistindo.

Yelena logo me derrubou com um golpe que fez meu corpo inteiro se chocar contra o chão duro. A dor percorreu minha coluna, mas o que me pegou de surpresa mesmo foi a rapidez com que ela se colocou em cima de mim, prendendo meu braço com uma técnica impecável. Eu me debati, tentando soltar o braço, mas a pressão que ela exercia me imobilizou completamente.

— O que você vai fazer agora, príncipe? — Ela perguntou, com o rosto próximo o suficiente para que eu visse a determinação nos olhos castanhos dela. O tom provocador era cheio de confiança, quase como se ela já soubesse a resposta.

Minha respiração estava pesada, meu coração batendo tão rápido que eu sentia o eco no peito. Era como se meu corpo estivesse em um conflito interno entre a raiva e... Algo que eu não conseguia identificar. Dei uma risadinha nervosa, não pelo humor da situação, mas porque eu simplesmente não sabia como reagir. Minhas bochechas estavam quentes, algo que eu esperava que ela não notasse.

Queria xingá-la, queria me soltar, queria ao menos ter uma resposta à altura da provocação dela, mas nada saiu.

Abri a boca para dizer alguma coisa, qualquer coisa, mas antes que eu pudesse, um grito ecoou pelo corredor.

EI! PAREM COM ISSO AGORA OU EU CHAMO A POLÍCIA! — O segurança do shopping estava a poucos metros, a expressão furiosa e o tom autoritário.

Yelena soltou meu braço imediatamente, mas não sem antes me empurrar com força no peito, como se estivesse marcando um ponto final nessa disputa. Eu senti o impacto do empurrão enquanto ela se levantava, o rosto dela se iluminando com um sorriso cheio de arrogância.

— Isso ainda não acabou. — Ela murmurou, me lançando um olhar que era metade aviso, metade provocação, antes de se virar e se afastar rapidamente, chamando o resto do grupo com um gesto.

Fiquei no chão por um instante, tentando recuperar o fôlego. Minha mão foi instintivamente para o peito, onde ela me empurrou. Meu coração ainda estava disparado, e eu não sabia dizer se era pela luta, pela raiva, ou pela sensação inexplicável que ela me deixou.

— Robby, vamos! — A voz de Tory me trouxe de volta à realidade. Ela já estava me puxando pelo braço antes que eu pudesse protestar, praticamente me arrastando enquanto corríamos na direção oposta ao segurança.

— Anda logo, antes que ele chame os reforços! — Kenny gritou, já alguns metros à frente.

Eu não tinha tempo para processar o que aconteceu. Só sabia que precisávamos sair dali antes que as coisas ficassem ainda piores. Mas, mesmo enquanto corria, minha mente ainda estava presa naquele momento. No rosto de Yelena. No jeito como ela me desafiou e depois me empurrou, como se tivesse marcado território.

E, pela primeira vez, me perguntei o que exatamente estava sentindo. Raiva? Humilhação? Ou algo que eu preferia não admitir?


Obra autoral ©

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