03. Wash your mouth
Depois da aula, me encontrei vagando pelos corredores da escola, tentando limpar a mente do ruído constante que parecia me cercar. Era exaustivo. As pessoas aqui pareciam incapazes de disfarçar o fascínio, ou talvez a curiosidade, em relação a mim e a Lauren. Olhares furtivos, cochichos abafados e alguns até tentando se aproximar com perguntas bobas ou comentários sem sentido. Tudo isso porque fomos exibidas em algumas competições mundiais. Patético.
Se eu não fosse ninguém, uma aluna comum, eles sequer notariam minha existência. Não olhariam duas vezes. Mas o momento que alguém ganha um mínimo de reconhecimento, tudo muda. É como se as pessoas tivessem uma necessidade insaciável de se agarrar ao brilho dos outros, esperando, talvez, que um pouco da luz refletisse sobre elas. Eu odiava isso. Sempre odiei.
Eu não estava ali para fazer amigos. Não vim para a Califórnia com a intenção de socializar ou me integrar. Meu propósito era claro, fazer meu trabalho. Liderar nossa equipe com eficiência. Yama e Kumiko confiaram a mim essa responsabilidade, e eu sabia que meu pai estava de olho, mesmo a milhares de quilômetros de distância.
O peso disso tudo parecia esmagador às vezes. Cada movimento meu era avaliado, cada decisão analisada. Não era apenas sobre representar o Fierce Dragons, era sobre manter o legado que nos trouxe até aqui. Não havia espaço para erros.
Depois de algumas horas naquela escola, já estava claro que a Califórnia era tudo aquilo que eu imaginava e mais um pouco, superficial, ruidosa e cheia de distrações. Mas eu não podia me dar ao luxo de me distrair.
"Avalie seus oponentes." A voz de Yama ecoava na minha mente. Ele sempre repetia isso. Não se tratava apenas do que acontecia dentro do tatame. Estudar fraquezas não era limitado às regras de uma luta. Havia muito mais a se observar, como as pessoas se moviam, falavam, reagiam. Tudo era uma pista, uma oportunidade.
Mikan tinha mencionado o Cobra Kai mais cedo. Disse que eram "durões". Eu não sabia ao certo o que ele quis dizer com isso, mas se Yama e Kumiko consideravam esses lutadores dignos de atenção, eu não podia ignorá-los. Era meu trabalho conhecer nossos oponentes, entender o que os fazia fortes e, mais importante, o que os tornava fracos.
Decidi começar agora. A lembrança do grupo que encontramos mais cedo, os alunos do Cobra Kai, ainda estava fresca na minha mente. Eles eram fáceis de identificar. A garota loira, Tory, eu acho, tinha uma atitude agressiva e um jeito de quem não se importa em brigar por qualquer coisa. Parecia impulsiva. E impulsividade era uma fraqueza fácil de explorar.
Mas foi o garoto ao lado dela que chamou minha atenção. Ele tinha algo diferente. Não era só a aparência, cabelos castanhos claros, um porte confiante, mas contido. Era o olhar dele. Durante o breve momento em que nossos olhares se cruzaram, ele não desviou. Não havia nada de hesitante ou submisso nele. Pelo contrário, havia algo que me intrigava.
Ele parecia carregado. Como se estivesse tentando provar algo, para os outros ou talvez para si mesmo. Era familiar demais. Eu reconhecia isso porque via a mesma coisa todas as vezes que me olhava no espelho.
"Ele hesitaria sob pressão?" me perguntei, enquanto andava pelos corredores, observando os rostos ao meu redor. Era isso que eu precisava descobrir. As fraquezas nem sempre eram óbvias. Às vezes, elas ficavam escondidas, esperando o momento certo para aparecer.
Sentei-me em um banco perto do pátio, deixando a mochila deslizar do meu ombro enquanto olhava para o céu claro acima. A Califórnia era diferente da Rússia em todos os sentidos possíveis. O clima, as pessoas, o ritmo. Tudo parecia mais leve, mais solto. Mas eu sabia que isso era apenas a superfície. Por trás disso, havia força.
Força que eu precisava entender, estudar e superar.
Lauren chegou alguns minutos depois, trazendo duas garrafas d'água, entregando uma para mim sem dizer nada. Ela era assim, ia logo direto ao ponto, sem se importar com formalidades desnecessárias.
— Eles são bons, mas não o suficiente. — Ela disse, como se continuasse uma conversa que tínhamos começado mais cedo. — Vi o treino deles na semana passada. Força bruta, mas pouco controle.
Assenti, girando a tampa da garrafa sem beber.
— Controle é o que faz a diferença. — Respondi, ecoando as palavras de Yama, que ela também conhecia muito bem.
Ela sorriu de lado, mas não disse mais nada. Sabíamos o que precisávamos fazer. Nosso trabalho aqui era claro. E eu não iria falhar.
⋆౨ৎ˚ ⟡˖ ࣪
Mikan estava encostado na porta do carro, mexendo no celular enquanto me esperava. O sol já começava a descer no horizonte, tingindo o céu com tons dourados e laranjas, uma cena bonita o suficiente para me distrair brevemente enquanto me aproximava dele. Ele usava uma jaqueta de couro preta sobre a camisa do dojô, o logotipo dourado brilhando sob a luz do fim de tarde.
— Demorou, hein? — Ele comentou com um sorriso irônico, guardando o celular no bolso. — Achei que tinha sido engolida pelos novos "admiradores".
Revirei os olhos, puxando minha mochila para ajustar no ombro.
— Mal consegui respirar hoje. É um milagre ter escapado inteira. — Respondi, e ele riu, abrindo a porta do carro para mim com um floreio exagerado.
— Sua carruagem te espera, princesa.
Ignorei o comentário, entrando no carro e jogando minha mochila no banco de trás. O conversível dele estava impecável como sempre, um brilho que mostrava o quanto ele cuidava daquele veículo como se fosse uma extensão de si mesmo. Para Mikan, o carro era seu orgulho, seu único luxo. Ele não ligava para roupas de marca ou tecnologia cara, mas para o carro... Esse era seu tesouro.
Ele deu a volta, entrando no lado do motorista, e colocou os óculos de sol antes de ligar o motor. O ronco do carro ecoou pelo estacionamento vazio, um som que ele adorava ostentar.
— E Lauren? — Perguntei, enquanto ele ajeitava o retrovisor.
— Foi reencontrar a irmã, Jean. Faz anos que não se veem, né? Achei melhor não atrapalhar. — Ele respondeu, dando de ombros enquanto manobrava para sair do lugar. — Sobrou só eu pra te aguentar hoje.
— Como sempre. — Respondi com um leve sorriso. Apesar da provocação, eu realmente apreciava a companhia de Mikan. Ele era como um irmão mais velho, sempre perto quando eu precisava, sempre pronto com uma piada ou comentário sarcástico para aliviar a tensão.
O vento começou a soprar no carro assim que ele pegou a estrada, e eu apoiei o braço na lateral da porta, deixando a mão sentir o ar frio enquanto olhava para a paisagem passar. Por um momento, o som do motor e o vento foram tudo o que se ouviu. Então ele quebrou o silêncio.
— E o Cobra Kai? — Ele perguntou, lançando um olhar rápido na minha direção antes de voltar a atenção para a estrada. — Conheceu alguém interessante?
Soltei um suspiro leve, o sarcasmo já aflorando antes mesmo de abrir a boca.
— Não houve interação direta, digamos assim. Mas, sim, alguns olhares intensos, se é que você entende. — Sorri de canto, ironizando o momento.
Ele franziu os lábios numa careta, claramente descontente com a resposta. Depois, revirou os olhos dramaticamente enquanto ajeitava os óculos de sol no rosto.
— Espero que você não esteja pensando em confraternizar com o inimigo. — Disse com uma seriedade fingida, mas havia uma ponta de preocupação verdadeira em seu tom.
— Esse está longe de ser o meu objetivo, Mikan. — Respondi firme, mantendo meu tom frio enquanto olhava para ele. — Quero massacrá-los.
Ele sorriu, mas havia algo satisfeito naquele sorriso, como se minha resposta tivesse sido exatamente o que ele queria ouvir.
— Isso soa mais como a Yelena que eu conheço. — Ele comentou, acelerando um pouco mais enquanto pegávamos a avenida principal.
— Não estou aqui para brincadeiras, Mikan. Eu sei o que tenho que fazer. Não importa quantos olhares cruzados ou comentários desnecessários eu tenha que aguentar. Meu foco é claro. — Meu tom era mais sério do que pretendia, mas era a verdade.
Mikan não respondeu imediatamente. Ele apenas dirigiu por alguns segundos, o vento bagunçando seu cabelo e o sol refletindo em seus óculos escuros. Quando finalmente falou, sua voz era um pouco mais leve.
— Bom. Porque, de tudo que você faz, focar é a única coisa que você não pode errar. Eles são bons, Lena. Talvez até melhores do que esperamos. — Ele lançou outro olhar breve na minha direção. — Mas nós somos Fierce Dragons. Não só bons... Somos melhores.
Eu não precisava de lembretes, mas as palavras dele ainda assim me trouxeram uma pontada de motivação. Era verdade. Nossa equipe era construída para vencer, e eu não ia ser a peça que falharia nisso.
Enquanto o carro seguia pelas ruas da Califórnia, pensei no que tinha visto hoje. O garoto, o grupo deles, os cochichos no corredor. O Cobra Kai era uma ameaça, disso eu sabia. Mas, para mim, eram mais um obstáculo. Mais um degrau.
E eu estava pronta para esmagar qualquer um que ficasse no meu caminho.
Enquanto o carro deslizava pelas ruas iluminadas pelo crepúsculo, Mikan quebrou o silêncio com uma de suas habituais sugestões inesperadas.
— Sabe, tem um bar ali perto. Nada muito extravagante, mas a música é boa. E, sério, depois de tudo que você já enfrentou no exército, lidar com umas doses de bebida vai ser moleza pra você. — Ele me lançou um sorriso provocador, claramente esperando alguma reação.
Eu ri, mas não o deixei escapar ileso. Dei um soco no ombro dele, nada muito forte, mas o suficiente para ele fingir que doeu, levando a mão ao local como se tivesse sido atingido por um soco de verdade.
— Engraçadinho. — Retruquei, ainda rindo. — Mas, quer saber? Aceito o convite. Vamos ver se esse bar é tudo isso mesmo.
Ele abriu um sorriso satisfeito, ajustando os óculos de sol novamente antes de virar a direção para uma rua mais estreita.
— É disso que eu gosto, Lena. Você sabe viver. — Ele disse, com a voz carregada de sarcasmo teatral.
O carro finalmente parou em frente a um prédio discreto com uma fachada de madeira envelhecida. Um letreiro de neon piscava com o nome do lugar, algo genérico como The Rusty Note. De dentro, dava para ouvir o som abafado de uma banda ao vivo, tocando algo entre blues e rock. Mikan estacionou e saltou do carro com a animação de quem estava prestes a entrar no próprio paraíso.
Eu desci mais devagar, observando o lugar. Não era exatamente um cenário sofisticado, mas parecia acolhedor, o tipo de lugar onde ninguém ligaria para quem você era ou de onde vinha. Isso já era um alívio.
Assim que entramos, o cheiro de madeira velha, cerveja e fumaça tomou conta do ambiente. O som da banda ao vivo era melhor do que eu esperava, e o clima parecia animado, com pessoas conversando em mesas espalhadas ao longo do salão e algumas reunidas perto do palco.
Mikan foi direto ao balcão, e eu o segui, já me acostumando com o ritmo descontraído do lugar. Ele fez o pedido antes mesmo de perguntar o que eu queria, o que não era surpresa.
— Duas cervejas. — Disse ao barman, piscando para mim em seguida. — Não se preocupe, Lena. Eu sei o que estou fazendo.
— Você sempre age como se soubesse o que está fazendo. — Respondi, cruzando os braços e me encostando no balcão enquanto esperávamos.
Ele riu, pegando as duas garrafas quando elas chegaram e me entregando uma. Eu aceitei, sentindo o vidro gelado na mão, mas ainda não bebi de imediato. Em vez disso, deixei meu olhar vagar pelo lugar.
A banda começou outra música, o ritmo mais acelerado agora, e o som parecia vibrar nas paredes. Era estranho estar ali, tão longe da Rússia, de tudo que era familiar. Mas, ao mesmo tempo, eu me sentia mais livre do que nunca. Ainda que houvesse a pressão do dojô, do meu pai, de Yama e Kumiko, pelo menos aqui eu tinha um pouco de espaço para respirar.
Mikan deu um gole longo na cerveja antes de se virar para mim, inclinando a cabeça com curiosidade.
— Então, o que acha? Melhor que ouvir os dramas adolescentes da escola, né?
Eu ri, balançando a cabeça.
— Nem se compara. Você sabe que eu odeio aquele lugar.
— Ah, claro. — Ele respondeu, com um sorriso zombeteiro. — Não me diga. A grande Yelena Ivanov, líder dos Fierce Dragons, foi jogada em um mar de... Crianças?
— Praticamente. — Respondi com um suspiro, dando meu primeiro gole na cerveja. O gosto amargo era mais familiar do que eu esperava, quase reconfortante. — É surreal. Tenho dezenove anos, Mikan. Não deveria estar cercada por um bando de adolescentes preocupados com quem vai levar quem ao baile ou quem disse o quê no corredor.
Eu odiava o fato de que meu pai me forçou a me alistar quatro meses antes de terminar o ensino médio. Graças à suas pequenas exigências, tive que vir para uma escola com um bando de adolescentes, outra vez, repetindo o último ano outra vez, mesmo quando eu já o terminei há um ano atrás, ou pelo menos, quase terminei. Se não fosse a guerra.
Mikan riu alto, balançando a cabeça.
— Ah, Lena. Você tem que aprender a relaxar. Não são todos como nós, sabe? Nem todo mundo tem um histórico militar ou a pressão de um dojô nas costas.
— Exatamente. — Respondi, mais séria agora, olhando para ele. — Por isso é tão difícil me conectar com qualquer um deles. Eles são crianças, Mike. E eu não tenho paciência para dramas adolescentes.
Ele ergueu a garrafa num gesto como se estivesse fazendo um brinde.
— E é por isso que você me tem. — Disse, com um sorriso presunçoso. — Sempre aqui para garantir que você não enlouqueça.
Eu ri, mas não consegui evitar de concordar em silêncio. Mikan era uma das poucas pessoas com quem eu realmente me sentia à vontade, além de Lauren, e vez ou outra, sensei Kumiko. Talvez fosse porque ele era só três anos mais velho do que eu, o suficiente para ser mais maduro, mas não tão distante que parecesse paternalista. Ou talvez fosse porque ele sabia exatamente quando me provocar e quando me levar a sério.
Eu apoiei o braço na lateral do banco, olhando para a banda no palco.
— Pelo menos aqui, ninguém liga para quem eu sou. — Disse, quase num murmúrio.
Mikan me olhou por um momento, mas não disse nada. Ele sabia. Sempre soube o quanto eu odiava os holofotes.
— E, por isso, vamos brindar. — Ele disse, levantando a garrafa novamente e tocando a minha levemente antes de tomar mais um gole.
Sorri de leve, dando mais um gole na minha também. Talvez essa nova vida na Califórnia fosse mais complicada do que eu esperava, mas, pelo menos por enquanto, eu tinha momentos como esse para equilibrar as coisas.
O ambiente no bar parecia mais descontraído do que nunca. O som da banda ao vivo preenchia o ar, misturado às risadas e conversas animadas ao redor. Eu e Mikan estávamos numa bolha própria, tentando, por uma noite, manter nossas mentes longe do karatê, dos dramas escolares, e do fardo que eu carregava como líder dos Fierce Dragons.
— Tá vendo? É isso que você precisava. — Ele disse, apontando para mim com um meio sorriso, a garrafa de cerveja na outra mão. — Beber, relaxar, e ouvir um bom som.
— Relaxar? — Ri, arqueando a sobrancelha. — Com você por perto, Mikan, isso é um desafio.
Ele fingiu um olhar ofendido, colocando a mão no peito como se eu tivesse acabado de ferir profundamente seu ego.
— Você é cruel, Lena. Mas sabe que não vive sem a minha presença iluminando sua vida sombria.
Eu revirei os olhos, rindo. Ele sempre sabia como quebrar meu humor sério, e, às vezes, eu realmente precisava disso. Estávamos nesse ritmo, rindo e trocando provocações, quando Mikan subitamente bateu o copo no balcão.
O som ecoou, cortando a conversa, e seus olhos se estreitaram na direção da porta. Eu segui o olhar dele e os reconheci na mesma hora.
— Cobra Kai. — Disse, mantendo o tom firme, mas baixo o suficiente para não chamar atenção.
Mikan franziu as sobrancelhas, virando-se para mim com uma expressão quase desinteressada.
— Esses aí são o tal oponente perigoso? — Ele perguntou, apontando discretamente o queixo para o grupo.
— Sim. — Respondi, encarando o grupo que entrava como se fosse minha obrigação memorizar cada detalhe.
À frente deles estava o mesmo garoto de antes, o que eu tinha visto mais cedo na escola. Seu andar era confiante, quase desafiador, e os outros seguiam atrás como se ele fosse o líder. Tory estava ao lado dele, claramente a segunda em comando, e mais dois garotos completavam o grupo.
— Não parecem tão amedrontadores assim. — Mikan riu, inclinando a cabeça e os analisando de cima a baixo como se eles fossem pouco mais do que distração para ele.
Eu não ri. Continuei observando, os olhos fixos no grupo enquanto eles se aproximavam do balcão.
— Podem não parecer. — Respondi calmamente, meus dedos tocando a borda da garrafa de cerveja. — Mas a aparência não é tudo. O que importa é o que fazem. E, até agora, não provaram nada.
Mikan deu de ombros, claramente não impressionado.
— Então é só questão de tempo até vocês acabarem com eles no tatame, né? — Ele piscou, voltando a beber sem tirar os olhos do grupo.
O garoto na frente parecia distraído, mas foi impossível ignorar quando nossos olhares finalmente se cruzaram. Ele parou por um momento, quase imperceptivelmente, mas foi o suficiente para eu sentir o peso daquele contato.
Involuntariamente, endireitei a postura, meu corpo respondendo como se fosse um instinto. Meu olhar não desviou. Não pisquei. Fitei-o diretamente, sem ceder, como um predador analisando sua presa.
Ele hesitou. Pude ver a tensão se formar em seus ombros, mesmo que tentasse disfarçar. Sua confiança vacilou por um segundo, e ele desviou o olhar, como se tivesse algo mais interessante para observar do outro lado do bar.
Satisfeita, deixei um sorriso lento se formar nos meus lábios.
— É. — Disse baixinho, voltando minha atenção para a bebida. — Eles ainda não provaram nada.
Mikan observou a interação com um olhar curioso, mas não disse nada imediatamente. Quando o grupo do Cobra Kai finalmente se acomodou no bar, ele olhou para mim com um meio sorriso.
— Sabe, você tem essa coisa assustadora. — Disse, apontando para mim com a garrafa. — Tipo, aquele olhar que você dá? Faz até eu me sentir desconfortável às vezes.
Eu ri, mas continuei observando o grupo de relance, agora mais relaxada.
— Eles são nossos rivais, Mikan. Não estou aqui para fazer amigos.
— Não, claro que não. — Ele respondeu, tomando mais um gole da cerveja antes de voltar a falar. — Mas, sério, você acha que eles têm alguma chance contra você?
— Não é sobre ter chance. — Respondi, olhando para ele com seriedade. — É sobre não subestimá-los. Eu fui ensinada a nunca fazer isso.
Mikan assentiu lentamente, como se estivesse considerando minhas palavras pela primeira vez.
— Bom ponto. — Disse, apoiando a garrafa no balcão. — Mas, ainda assim, se depender de você, esses caras estão ferrados.
Eu não respondi, apenas deixei meu olhar vagar novamente para o grupo do Cobra Kai. Havia algo naquele garoto que me deixava intrigada, mas não era o tipo de curiosidade amigável. Era uma determinação silenciosa, um lembrete de que ele era mais do que parecia.
E eu? Eu seria quem mostraria a ele o que realmente significava estar no tatame contra os Fierce Dragons.
O ambiente do bar parecia mudar quando a banda começou a tocar mais altoThe Time of My Life. A melodia icônica parecia trazer uma energia nova ao lugar, algo nostálgico, leve, e até um pouco irônico, considerando o quanto minha vida estava longe de algo parecido com o título da música.
Mikan, sentado ao meu lado, lançou um olhar sugestivo na minha direção. Seus olhos brilhavam com aquela mistura de diversão e malícia que eu já conhecia bem.
— Nem pense nisso. — Disse, estreitando os olhos, já antecipando a próxima besteira que ele diria.
Ele inclinou a cabeça, fingindo uma expressão inocente, mas seus lábios já se curvavam num sorriso.
— Ah, vamos lá, Lena. — Ele estendeu a mão na minha direção, teatralmente, como se estivéssemos numa cena de filme. — Não me diga que vai desperdiçar a oportunidade de ter o momento mais épico da sua vida.
Revirei os olhos, tentando não rir.
— Você tá ridículo nessa pose, sabia?
— É um dom. — Ele respondeu, com um encolher de ombros.
Quando percebi que ele não ia desistir, cruzei os braços e fitei a mão estendida dele, considerando por um segundo se eu realmente ia ceder àquela palhaçada. O sorriso dele se ampliou, e antes que eu pudesse recusar, ele adicionou.
— Ou será que você tem medo de eu te derrubar na pista?
Franzi o cenho, tentando não mostrar que ele me desafiava de propósito.
— Medo? — Rebati, finalmente segurando a mão dele. — Você tá brincando com fogo, japonês.
Ele deu uma risadinha baixa pelo apelido que eu costumava chamá-lo, enquanto me puxava para perto com um movimento firme, quase ensaiado.
— Então vamos lá, comandante. Mostre pra todo mundo o que uma Fierce Dragon consegue fazer.
Fiz uma careta para o apelido, mas logo zombei dele.
— Você tem pegada, hein?
Ele riu outra vez, dessa vez mais alto, antes de me guiar pela mão até o centro da pista de dança, onde algumas pessoas já estavam aproveitando a música. O espaço não era enorme, mas o suficiente para criar uma atmosfera descontraída e animada.
Apesar de toda a cena, algo em mim relaxou naquele momento. O peso das expectativas, das obrigações, da liderança que eu precisava carregar, tudo parecia se dissipar por algumas míseras horas. Era aliviador estar ali com Mikan, alguém que não esperava nada além de diversão e risadas.
Ele começou com movimentos exagerados, obviamente tentando me fazer rir, girando ao meu redor como se fosse um dançarino profissional. Cruzei os braços, observando com uma expressão de falso desdém.
— Tá me fazendo passar vergonha. — Comentei, balançando a cabeça.
— Vergonha? — Ele repetiu, fingindo estar ofendido. — Isso aqui é arte, minha querida Lena.
Ri, finalmente cedendo à leveza da situação, e comecei a acompanhá-lo. Claro, sem nenhuma técnica, porque, sinceramente, quem precisava disso? O importante era o momento.
Em algum ponto, ele me segurou pela cintura e girou comigo, quase nos fazendo esbarrar em outro casal que dançava ao lado.
— Cuidado, idiota! — Disse, rindo, enquanto ele fazia um movimento dramático de se desculpar para o casal.
— Você tá ótima nisso, admito. — Ele disse, ajustando a mão na minha cintura antes de dar mais um giro. — Talvez o karatê não seja sua única habilidade escondida.
— Você fala demais. — Respondi, ainda rindo, mas secretamente apreciando o elogio.
E assim continuamos, movendo-nos ao ritmo da música, com a leveza que eu raramente permitia para mim mesma. A pressão do meu pai, do Fierce Dragons, da escola, dos meus próprios medos e inseguranças... Tudo isso parecia tão distante naquele momento.
Por algumas horas, não havia torneios, rivais ou obrigações. Só havia eu, Mikan, e a sensação de que talvez fosse possível encontrar pequenos pedaços de felicidade no meio de toda a confusão que minha vida tinha se tornado.
Quando a música chegou ao fim, ele deu um passo para trás, curvando-se dramaticamente como se tivesse acabado de apresentar um espetáculo digno de um Oscar.
— E aí? Gostou? — Perguntou, com o mesmo sorriso convencido de sempre.
Revirei os olhos, mas não pude deixar de sorrir.
— Você é insuportável.
— É, mas você adora, não é?
Dessa vez, não neguei. Apenas ri e voltei para o balcão, sentindo que, por mais caótico que o futuro parecesse, talvez ainda houvesse momentos como esse para me ajudar a suportar.
E assim que voltamos para o balcão após a música terminar, ambos ainda rindo da cena absurda que acabáramos de protagonizar na pista. Mikan passou a mão pelos cabelos, jogando-os para trás de forma casual antes de pedir mais duas bebidas ao barman. Eu me sentei no banco alto, apoiando os cotovelos no balcão enquanto olhava ao redor. Era uma daquelas noites em que o bar estava cheio o suficiente para criar uma boa energia, mas não tão lotado a ponto de ser sufocante.
— Tá vendo? Eu te disse que precisava se soltar mais. — Mikan comentou, com aquele sorriso convencido, enquanto empurrava um copo em minha direção.
— Tá, eu admito, foi divertido. — Respondi, pegando o copo e girando-o em minhas mãos. — Mas você ainda dança como um pato manco.
— É meu charme, Lena. — Ele piscou, e eu revirei os olhos, rindo.
Então, o clima descontraído foi levemente interrompido. Percebi a postura de Mikan mudar sutilmente quando alguém se aproximou do balcão, parando ao nosso lado.
Virei levemente a cabeça e o reconheci de imediato. O garoto do Cobra Kai.
Ele estava a menos de um metro de distância, esperando sua vez de pedir uma bebida, com aquele olhar que parecia vagar entre nós dois por alguns segundos antes de fixar-se no cardápio colado na parede. O garoto parecia mais jovem de perto, mas ainda assim tinha uma presença intensa. Aquele tipo de energia que não era agressiva, mas te fazia notar que ele estava ali.
Mikan, por sua vez, ficou em silêncio, analisando-o de maneira fria, o maxilar travado enquanto dava um gole preguiçoso em sua bebida. Ele era assim quando queria medir alguém. Um observador natural, mas com um quê de intimidação que parecia vir do simples fato de estar presente.
— O que foi? — Perguntei baixo, voltando minha atenção para ele por um momento.
— Nada. — Ele respondeu, sem tirar os olhos do garoto. E então, com uma expressão que misturava humor e sarcasmo, ele murmurou — Acho que senhor contato visual resolveu se aproximar.
Soltei uma risada contida, mas precisei disfarçar com um gole da minha bebida.
— Você tá exagerando.
— Tô nada. O cara não para de te encarar. — Ele balançou a cabeça, agora com um sorriso divertido, mas ainda mantendo aquele tom defensivo que eu conhecia tão bem.
Tentei ignorar o comentário dele e voltei meu olhar para o copo à minha frente, mas não pude evitar dar uma olhada discreta na direção do garoto. Ele estava pedindo alguma coisa ao barman, a voz baixa e firme, mas sem ser rude. Mesmo assim, a tensão entre ele e Mikan parecia perceptível, pelo menos para mim.
O barman colocou uma lata de refrigerante na frente do garoto. Ele agradeceu com um leve aceno e virou-se ligeiramente, encontrando meu olhar por um breve segundo antes de olhar de volta para a lata em suas mãos.
Levantei uma sobrancelha, tentando decifrar se aquilo era intencional ou se era apenas impressão minha. Mas logo balancei a cabeça e decidi ignorar, levando o copo aos lábios e dando um gole mais longo dessa vez.
Mikan, no entanto, não parecia disposto a deixar passar.
— Então... — Ele começou, sem direcionar exatamente a quem falava, mas com a voz claramente audível o suficiente para o garoto ouvir. — Os Cobra Kai fazem espionagem agora?
Engasguei levemente com a bebida, dando um tapa no ombro dele.
— Para, Mikan. — Murmurei, num tom de advertência.
O garoto, por outro lado, não respondeu imediatamente. Ele apenas olhou para Mikan de relance, com uma expressão neutra que eu não consegui decifrar. Não parecia querer conflito, mas também não parecia intimidado.
— Não sabia que era proibido pedir uma bebida. — Ele respondeu, finalmente, num tom calmo, mas carregado de um certo desafio.
Eu podia sentir a tensão aumentar entre os dois, e, por um momento, considerei me meter para cortar aquele clima antes que escalasse.
— Não é. — Interrompi, num tom firme, olhando de Mikan para o garoto. — Mas talvez seja melhor todo mundo ficar na sua, certo?
Mikan relaxou um pouco, mas ainda lançou um olhar de lado, enquanto o garoto pegava a bebida e dava um passo para trás, pronto para ir embora. Ele hesitou, no entanto, como se quisesse dizer algo mais, mas acabou apenas balançando a cabeça antes de se afastar, desaparecendo novamente na multidão do bar.
Quando ele saiu do nosso campo de visão, Mikan soltou um suspiro exagerado, apoiando os cotovelos no balcão.
— Esses caras não parecem grande coisa. — Disse ele, tomando outro gole da bebida.
— Talvez. — Respondi, pensativa, enquanto girava o copo entre os dedos. — Mas eu ainda não vi o suficiente pra julgar.
Ele me lançou um olhar, e por um instante, parecia querer dizer algo mais. Mas, em vez disso, apenas deu de ombros e mudou de assunto, tentando trazer de volta o clima descontraído que tínhamos antes. Mesmo assim, minha mente ficou vagando, pensando no garoto e naquele breve instante em que nossos olhares se cruzaram.
Alguma coisa nele parecia... Familiar. Não pelo rosto ou pela postura, mas por algo que eu não conseguia explicar. E, de repente, a ideia de enfrentá-lo no tatame parecia ainda mais interessante.
Obs: O tanto que eu passei raiva com a inteligência artificial pra gerar algo decente e ainda achei meio mequetrefe, mas life que follow, pelo menos deu pra deixar a cena um tiquinho mais real 🙏🏻.
Obra autoral ©
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top