𝕊𝕃𝔼𝔼ℙ 𝕆ℕ 𝕋ℍ𝔼 𝔽𝕃𝕆𝕆ℝ

"Pack yourself a toothbrush, dear
Pack yourself a favorite blouse
Take a withdrawal slip
Take all of your savings out
'Cause if we don't leave this town
We might never make it out"

***

   Você sentia seus dedos trêmulos, as palmas das mãos suadas, as passava incansavelmente pelo tecido grosso da saia do vestido longo e rodado que usava, tentava ter toda a coragem inabalável que a Alteza Leopoldina possuía — sua personagem que naquele momento não parecia nenhum pouco com você —, levou o olhar ansioso até Lia ao seu lado que parecia calma demais, não estavam se falando muito nos últimos dias, tudo culpa sua.

   Tudo era sempre culpa sua. Inacreditável. A mulher de cabelos cacheados e longos nem ao menos levava o olhar em sua direção, ela parecia estar com muita coisa na cabeça nos últimos dias também, seu relacionamento com Osamu não parecia o melhor do mundo naquele momento, havia a escutado gritar no celular minutos antes de começar a se preparar para entrar no palco.

   Pensou em abrir os lábios para dizer algo pelo menos umas três ou cinco vezes, sem sucesso, quando finalmente tomou coragem seu corpo deu um pulo involuntário de susto, se agarrou ao braço de Lia automaticamente, um som agudo se fazendo presente nas caixas de som, uma sirene de incêndio, os olhos de sua irmã mais velha encontraram os seus de maneira apavorada. 

   O que diabos estava acontecendo?

   "Atenção evacuem o teatro, todos evacuem o teatro, andem pelas saídas luminosas em direção a saída de emergência, estamos com risco eminente de incêndio, por favor mantenham a calma... Atenção evacuem o teatro..."

   A voz continuava falando e falando sem parar fazendo com que seu coração batesse quase que desesperado contra o próprio peito, todos os outros artistas começaram a correr por trás do palco em direção a saída de emergência dos fundos, sentiu a mão fina de Lia sobre a sua, ela parecia tremer, entrelaçou os dedos aos seus, você sentia que tudo estava longe demais, como se a respiração simplesmente não quisesse chegar aos seus pulmões, seus olhos caíram sobre sua irmã gêmea.

   — Tudo bem, pode respirar, nós vamos sair daqui, está bem?

   Ela disse com a voz calma e suave mesmo que as mãos dela tremessem sem parar, você engoliu em seco antes de concordar de maneira assustada, Lia apertou mais forte a palma contra a sua enquanto as guiava da maneira mais rápida que seus pés travados conseguiam pelo corredor luminoso dos fundos, seus olhos avistaram a saída de emergência a frente, estava aberta, alguns de seus colegas de trabalho do lado de fora completamente ofegantes, foi quando um estrondo alto se fez presente alguns metros atrás, como se algo houvesse acabado de explodir, ouviu gritos de desespero e passos correndo amontoados em sua direção.

   — Lia!

   Você gritou desesperada apertando a mão de sua irmã ao ver a multidão de pessoas correndo pelo corredor que dava para a saída de emergência, Lia soltou um grito sufocado enquanto segurava sua mão com mais força para que não lhe perdesse, começaram a correr o mais rápido que conseguiam com os vestidos rodados e pesados que usavam, você grunhiu de dor ao o que seu pé foi simplesmente esmagado por umas duas ou três pessoas mas mesmo assim não parando de correr por um segundo sequer. Finalmente seus corpos estavam do lado de fora do teatro, estava ofegante, a mão de Lia ainda agarrada a sua, ela respirava descompassadamente, o corset apertado fazendo com que o ar não alcançasse seus lábios.

   — Merda.

   Balbuciou com a voz baixa soltando a mão de Lia e se sentando no chão com cuidado, levantou a saia do vestido até seus joelhos retirando o saltinho preto de seu pé direito com cuidado grunhindo de dor ao ver a situação do mesmo, estava inchado e uns dois dedos estavam roxos, provavelmente quebrados, gotículas de suor frio se acumulavam em sua testa, respirava com dificuldade, escutou Lia soltar um ofego de pânico ao ver o estado em que seu pé se encontrava.

   — Nós precisamos de um médico, porra, (Nome), está doendo muito? — ela perguntou afobada batendo as mãos contra as coxas por cima da saia grossa do vestido, bufou irritada antes de estapear a própria testa — Merda, deixei meu celular no armário, alguém tem um celular aí?!

   Ela gritou olhando para os colegas de trabalho que permaneceram em silêncio, escutaram uma voz ao longe e passos firmes, você respirou fundo tentando manter a calma enquanto seus dedos latejavam como o inferno, olhou para frente se detendo com um homem alto, seus ombros eram largos e vestia uma camiseta vermelha e calças pretas com coturnos, os cabelos acinzentados e espetados para o alto, tinha uma expressão apreensiva em rosto.

   — Algum ferido aqui?

   Ele disse elevando a voz e todos ficaram e, silêncio com exceção de Lia que gritou de maneira fina dando alguns pulos enquanto sacudia os braços como se estivesse perdida em uma ilha deserta.

   — Aqui, minha irmã está machucada!

   Ela disse de maneira desafinada fazendo com que suas bochechas esquentassem gradativamente, os olhos do bombeiro caíram sobre você, ele sorriu fraco enquanto se aproximava devagar com uma maleta grande em mãos, se abaixou ao seu lado.

   — Hey.

   Ele disse de maneira risonha como se quisesse aliviar um pouco da tensão que estava sentido naquele momento.

   — Hey hey.

   Respondeu de maneira fraca sentindo sua garganta arranhar.

   — Alteza Leopoldina, né? Vi o seu cartaz mais cedo — ele murmurou com a voz baixa, você engoliu em seco antes de concordar com a cabeça devagar, encolheu os ombros, ele sorriu, as orbes amareladas fitando cada detalhe de seu rosto —, onde está doendo?

   — Meu pé.

   — Meu deus, parece péssimo.

   — Eu sei.

   — Vamos te levar para o médico, está bem? Uma ambulância já está a caminho.

   Ele sussurrou enquanto retirava uma bolsinha de gelo da maleta a pressionando com cuidado contra seus dedos fazendo com que você respirasse fundo, seu peito preso ao corset subindo e descendo, se sentia meio sem ar, o bombeiro abaixou o olhar para sua cintura, curvou o corpo sobre o seu com cuidado passando os braços por trás de sua cintura levando os dedos até o nó do corset que estava por cima do vestido, você travou sentindo seu coração bater quase que desesperado contra o próprio peito, ele soltou seu corset com cuidado o afrouxando fazendo com que conseguisse finalmente respirar com facilidade, o homem se afastou devagar com os olhos amarelos fixos aos seus.

   — Obrigada.

   Balbuciou com a voz fraca, ele sorriu, negou com a cabeça devagar.

   — Está mesmo agradecida? — ele indagou de maneira baixa, você assentiu confusa — Saia para jantar comigo então, leve sua irmã junto também, meu amigo achou ela bonita.

   Você arregalou os olhos devagar sentindo seu coração acelerar de maneira desesperada, Lia soltou uma risada alta demais, seus lábios tremeram.

   — O que?

***

   Havia quebrado dois dedos do pé no fim das contas.

   Estava sentada na mesa de uma lanchonete local com o pé apoiado em um dos bancos, seus dedos estavam envoltos de esparadrapo e gaze, não havia muito o que pudesse ser feito naquele momento, apenas evitar esforço segundo o médico. Você engoliu em seco enquanto girava o canudo no milk-shake que havia pedido, seus olhos caíram sobre o homem de cabelos acinzentados.

   — Não está com vergonha de estar em uma lanchonete com uma garota com vestido do século passado e o pé enfaixado? 

   Indagou com a voz baixa o escutando soltar um riso chiado.

   — Não, é o meu tipo ideal de encontro pra falar a verdade.

   — Cale a boca. 

   Murmurou em meio a um riso enquanto levava o canudo aos lábios.

   — Qual o seu nome?

   — (Nome) — disse com a voz baixa, correu os olhos pelas feições alegres do bombeiro —, e o seu?

   — Bokuto Koutarou, é um prazer conhecer você, Rainha Leopolda.

   Ele disse arqueando uma das sobrancelhas de maneira divertida, você franziu o cenho.

   — É Alteza Leopoldina — murmurou abrindo um sorriso curto em lábios —, também é um prazer te conhecer, senhor bombeiro.

***

   — Vamos, Lia, você precisa se animar!

   Você praticamente implorou enquanto andava de um lado para o outro no quarto da irmã enquanto procurava o par de saltos que ela havia acabado de comprar, a mulher de cabelos cacheados fungou baixinho enquanto negava com a cabeça devagar afundando o rosto no travesseiro, você fez uma careta, a fronha agora provavelmente estava cheia de lágrimas e meleca.

   — Não quero me animar.

   — Lia, não é porquê o Osamu é um babaca que você tem que parar com a sua vida, vamos você vai se sentir melhor se sair.

   A mulher levantou o rosto rapidamente lhe lançando um olhar mortal.

   — Não quero ficar vendo você e o seu namoradinho de chamego do meu lado justo quando fui traída, (Nome).

   — Não vamos ficar de chamego, palavra de gêmea.

   Disse levantando uma das mãos, ela sorriu fraco antes de concordar com a cabeça devagar socando os pés para fora da cama, você respirou aliviada enquanto assistia a irmã andando até o banheiro do quarto se trancando lá dentro, não havia acreditado quando Lia entrou em seu quarto aos prantos dizendo que havia encontrado mensagens de outra mulher no celular do seu agora ex-namorado, você estava se segurando a horas para não ir até a casa dos Miya e matar Osamu com as próprias mãos. Seu celular apitou, o pegou rapidamente de cima da cômoda e o desbloqueando.

   

   [Senhor Bombeiro]

>>> Hey, princesa.

>>> Como a Lia está?

   [Você]

>>> hey hey

>>> consegui convencer ela a ir para a festa do kuroo

>>> quero matar o osamu

   [Senhor Bombeiro]

>>> Já contou para o Atsumu?

   [Você]

>>> ainda não, preciso ir, ela está saindo do banheiro

>>> eu. amo. você

   [Senhor Bombeiro]

>>> Eu. amo. você. mais.


   Você sorriu de maneira boba antes de jogar o celular com tudo contra o acolchoado ao o que a porta foi aberta, seus olhos caíram em Lia, ela cerrou os olhos lhe encarando.

   — Estava de chamego, né?

   — Eu não estava de chamego!

   Gritou aos risos fazendo com que sua irmã explodisse em uma risada alta, sentia sua barriga doer, naqueles momentos podia dizer com exatidão que amava a sua vida, no fim das contas havia sim ficado de chamego com Bokuto na festa e Lia havia sumido por horas com Kuroo por entre os corredores daquela casa gigantesca.


***

   — E se um dia nós fingíssemos nossa morte e irmos para alguma ilha que quase ninguém conhece.

   Bokuto murmurou com a voz baixa enquanto lhe puxava para mais perto, você riu baixinho encostando o rosto contra o peitoral do homem, estavam deitados no chão de madeira da casa de praia do mais velho, conseguia escutar as ondas do lado de fora, a lareira acesa a sua frente, suspirou pesadamente, se sentia calma, calma demais.

   — Só nós dois?

   — Sim.

   — Não íamos nos sentir solitários demais?

   — Só a gente ter um monte de filhos, eles nos fazem companhia e cuidam de nós quando envelhecermos. 

   — Quer envelhecer comigo?

   Você murmurou com a voz baixa, Koutarou sorriu antes de concordar com a cabeça devagar, lhe apertou mais forte por entre os braços fortes.

   — Quero viver tudo com você, princesa, quero ver seus primeiros fios brancos e nossos filhos crescendo.

   — Me amaria mesmo se eu engravidasse? Gravidez não parece uma ficção alienígena? 

   — Nah, você seria uma grávida linda.

   — Pare de ser puxa saco, Kou.

   Disse por entre um riso baixo, Bokuto sorriu colocando a mão no bolso.

   — E se nós ficássemos juntos para sempre, você aceitaria? — você riu baixinho antes de concordar com a cabeça devagar, o viu retirar algo do bolso deixando sobre a própria barriga, era uma caixinha azul marinho, você piscou devagar sentindo seu coração bater quase que desesperado contra o próprio peito, Bokuto a abriu devagar e um anel dourado com uma pedra brilhante em cima se fez presente, você arfou sentindo seus olhos encherem de lágrimas — Aceitaria ficar comigo para sempre, (Nome)? Quero ser completamente seu. Eu amo você.

   — Claro que eu aceito!

   Você gritou pulando sobre ele fazendo com que ele soltasse uma risada alta, seus lábios se encontraram de maneira delicada enquanto o homem colocava o anel brilhante em seu dedo com cuidado, sentia seu coração cheio de alegria, estava completa, ao lado de Bokuto Koutarou estava plenamente completa, afastaram seus lábios com cuidado, ele pressionou a testa sobre a sua.

   — Eu amo você mais do que tudo nesse mundo, (Nome).

   Ele sussurrou, você fungou sentindo seus olhos se encherem de lágrimas.

   — Eu amo você ainda mais.

   Bokuto lhe abraçou mais forte, voltaram a se deitar no chão da casa de praia, a lareira esquentando seus corpos, você fechou os olhos devagar sentindo seu coração quente, estava segura, segura nos braços de Koutarou, não demorou muito para que pegasse no sono.

    Seu corpo estava quente, quente demais, quase como se estivesse queimando de dentro para fora, um vento forte atingiu seu corpo com força, abriu os olhos rapidamente, estava ofegante, tudo estava escuro, apenas algumas velas acesas ao chão, olhou ao redor perdida, se sentou sobre o chão de madeira sujo.

   — Kou?

   Chamou com a voz fraca, olhando ao redor, estava na casa de ópera, olhou para o chão se detendo com a carta de Bokuto, aos poucos caindo na própria realidade, a realidade em que Bokuto Koutarou não estava mais vivo, sentiu um nó se formando novamente em sua garganta, sentia frio, seus olhos enchendo de lágrimas, enfiou a mão no bolso tirando de lá o celular, o ligou cegando sua vista temporariamente, suspirou pesadamente ao ver as repletas chamadas perdidas de Sugawara, o ligou novamente, não demorou muito para que escutasse a voz do marido do outro lado da linha.

   — (Nome), onde você está?! Estou tentando te ligar a horas!

   Ele disse de modo quase que desesperado, você suspirou, encolheu os ombros, se sentia perdida, quase como se não tivesse lugar para ir.

   — Estou indo para casa, desculpa te preocupar.

   Balbuciou com a voz fraca, aquelas foram as mentiras mais doídas que já havia contado, você no fim das contas não tinha mais uma casa para onde pudesse retornar. 

   Quem sabe, talvez em sua próxima vida, pudesse finalmente... encontrar sua casa.

   Encerrou a ligação e fechou os olhos com força, um sorriso curto em seus lábios, se você se esforçasse conseguia escutar a voz do homem ao longe.

   "Hey".

   — Hey hey.

   E daquele modo conseguia se sentir nem que fosse por alguns poucos segundos em casa.

   Sua casa.

   Fim.

   


   

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